sábado, 23 de março de 2024

Lendárias Heroínas (A Geminação)



Lendárias Heroínas
Brites de Almeida (1385) - A Padeira de Aljubarrota
Brianda Pereira (1581) - A Guerreira da Batalha da Salga

(Aguarela do artista terceirense Virgílio Toste
)


GEMINAÇÃO DAS VILAS

 DE ALJUBARROTA E SÃO SEBASTIÃO

9 de Junho de 2023




Praticamente separadas por dois séculos de existência, Brites de Almeida é associada à vitória dos portugueses contra as forças castelhanas, na batalha de Aljubarrota (1385), e Brianda Pereira, é associada à Batalha da Salga contra os espanhóis, na então Vila de São Sebastião (1581). Ambas são lendas femininas romantizadas da história de Portugal.



Nos conflitos históricos os heróis abundam e as heroínas escasseiam, por isso há que juntá-las porque as lendas são livros na memória dos povos que representam algo que não está no mesmo lugar nem no mesmo tempo. Brites de Almeida e Brianda Pereira são neste caso a mesma ideia de portugalidade contra uma hegemonia hispânica.


As geminações juntam património material e imaterial comum e dele cuidam em conjunto. Das heroínas de Aljubarrota e de São Sebastião delas sabem cuidar essas vilas, do património material de natureza histórico-medieval as estratégias podem e devem ser partilhadas. Claramente que o estabelecimento dos laços de geminação entre essas duas vilas de áreas geográficas distintas, decorre da existência de características semelhantes e de referências históricas comuns.


Texto do Dr. António Félix Rodrigues





Aljubarrota é uma vila antiquíssima, o seu nome está ligado à célebre batalha que deu a vitória ao rei D. João I, em 14 de Agosto de 1385, contra o invasor castelhano. Tornou-se um dos mais fortes símbolos de independência, coesão e orgulho nacional.





A situação de Aljubarrota, numa linha de alturas que se prolongava até aos campos de S. Jorge tornou privilegiada a sua geografia para ser escolhida como palco da famosa batalha, tendo na retaguarda as terras férteis do Mosteiro de Alcobaça e situando-se na encruzilhada de estradas que vão dar a Lisboa.




A povoação conserva a traça antiga de natureza histórico-medieval, com prédios caracterizados pelo uso de cantaria, colunas, janelas de geometria vária, cor branca nas paredes e volumetria que não ultrapassa o primeiro andar.

Aljubarrota foi sede de concelho até à reorganização administrativa de 1855. O seu território dividia-se em duas freguesias: S. Vicente e Nª Sª dos Prazeres. Após a reorganização administrativa do território das freguesias (Lei n.º 11-A/2013, de 28 de janeiro), as freguesias de S. Vicente e de Nª Sª dos Prazeres, foram extintas, dando lugar apenas à Freguesia de Aljubarrota, cujo edifício sede, na Praça do Pelourinho, constitui um dos mais belos conjuntos do País, no género.



Teve Carta de Foral antigo outorgado pelo Abade de Alcobaça D. Martinho I, renovado pelo rei D. Manuel I em 1514. Foi uma das treze vilas que constituíram os Coutos da Abadia Cisterciense de Alcobaça.

A Vila é rica em motivos arquitetónicos, memórias históricas e pedras ancestrais, que constituem um museu vivo da História portuguesa.

Nos tempos atuais Aljubarrota voltou à categoria de Vila, sendo, para além do seu peso histórico, o centro de uma zona rica pela sua atividade económica, não só agrícola (vinhos e fruta de grande qualidade), como também industrial, tendo relevo as prósperas unidades de porcelanas, cerâmicas de construção, bem como a extração e laboração de pedras, de designação consagrada, tais como "Ataíja" e "Moleanos".




Brites de Almeida - A Padeira de Aljubarrota



Não é fácil escrever algumas páginas exatas e concretas sobre a Padeira de Aljubarrota, mas sem dúvida que ela representa uma das tradições populares arraigadamente preservadas pelo povo português.





O laborioso historiador Herculano, resume o seu depoimento nos seguintes termos:

«Se a padeira de Aljubarrota é um mito, uma invenção popular do século XV, nem por isso a desprezemos. Um povo que dá a uma mulher ódio bastante contra os opressores estranhos para haver de matar a sangue frio sete desses inimigos; um povo que assim simbolizava o seu modo de sentir a tal respeito devia saber sustentar a independência nacional. Todavia não seremos nós que desterremos para o mundo dos fantasmas a famosa Brites de Almeida, forneira de Aljubarrota.»

Diz a tradição que esses sete inimigos foram executados com a pá de fornear.




Referem vários autores que Brites de Almeida, ou Beatriz de Almeida, era natural de Faro. Segundo uns, era feia, alta e corpulenta, com força varonil, um verdadeiro virago de olhos muito pequenos, donde lhe veio a alcunha de Pisqueira. Acrescentam outros, ter revelado desde criança um génio irascível, temerário e desordeiro. No romance «A Padeira de Aljubarrota», de Faustino da Fonseca, é apresentada como mulher de certa beleza física. Pinho Leal diz que ela tinha em cada uma das mãos um dedo supra-numerário (hexadáctila).

Seu pai era estalajadeiro e possuía uma casa de pasto em Faro, onde a moçoila trabalhava, servindo os fregueses e os hóspedes. O filho do alcaide de Faro, que frequentava a estalagem, requestava a rapariga e não encontrando facilidades no seu desígnio, procurou conquistá-la pela força; vendo-se ofendida e desrespeitada, atirou-lhe à cabeça uma bilha de barro, que bastante o feriu. Brites de Almeida com medo de qualquer perseguição saiu de Faro e fugiu para Lisboa. Tendo-lhe mais tarde morrido o pai, regressou à estalagem de que era a herdeira e arrendou uma quintarola, parece que em Loulé, onde passou a viver.




Por motivo de amor, que se conta de várias maneiras, lutou com um seu pretendente e como era forte e decidida, matou-o nessa briga. Para evitar a prisão fugiu novamente, num barco, mas o vento levou-o para o mar largo onde ficou cativa dum mouro; já se encontravam na embarcação dois portugueses também prisioneiros. O muçulmano, dono do barco, levou-a ao mercado das mulheres em Argel, aí foi vendida a um mouro rico, referindo outros que se destinava ao próprio sultão. Ao que corre impresso, resistiu a muita violência, defendendo-se com coragem e sorte, tendo passado por grandes lances e sobressaltos. Os pormenores do projeto da sua fuga do harém imperial devem estar bastante fantasiados no romance de Faustino da Fonseca. Brites de Almeida conseguiu libertar-se com mais dois portugueses que estavam ao serviço do mesmo senhor e disfarçada em traje mourisco, embarcou numa lancha, tendo chegado à Ericeira ao fim de quatro dias de tormentosa viagem.

Receando que a reconhecessem e lhe pedissem contas da morte que tinha feito, vestiu-se de homem e começou a fazer serviço de almocreve. A sua vida de condutora de bestas de carga foi também bastante acidentada. Neste seu novo mester envolveu-se, ou foi envolvida, em várias desordens e tendo sido acusada de outro morticínio, a Justiça tomou conta dela, encarcerando-a em Lisboa. Por se não ter provado o crime, ou por qualquer outro motivo, foi posta em liberdade. Depois de tantas agitadas aventuras, esta heroína popular foi parar a Aljubarrota, onde se ajustou como criada duma padeira. Segundo narra Faustino da Fonseca. Brites de Almeida deu notícias à sua ama do paradeiro do marido dela, revelando-lhe ter sido feito também cativo por piratas argelinos. Grata por esta revelação, a ama afeiçoou-se à serva e, quando morreu, Brites de Almeida herdou o forno, passando assim à História com o nome de Padeira de Aljubarrota.




Já antes de ir para esta vila estremenha, Brites de Almeida havia manifestado fervor patriótico e ódio aos castelhanos. Diz-se que apedrejou, junta com a turba desordenada, o Paço de S. Martinho, em Lisboa, quando do ilícito casamento de D. Fernando; consta ainda que vibrou de indignação contra Leonor Teles ao ter conhecimento do seu adultério e que aplaudiu o Mestre de Avis quando este matou o Conde de Andeiro. Tinha Brites de Almeida uns quarenta anos quando se deu a Batalha de Aljubarrota; não entrou propriamente nesta batalha, pois foi após a vitória que a tradição assinala o seu patriótico feito. A padeira não estava no campo da refrega; estaria em Aljubarrota e a gloriosa batalha deu-se a onze quilómetros desta povoação. Relata Eduardo Marrecas Ferreira na sua monografia «Aljubarrota» (1931):




«Durante a batalha de Aljubarrota, Brites de Almeida, por entre o povo da vila, assistia ansiosa ao desenrolar da batalha de qualquer ponto elevado das cercanias, e muito folgou ao ver a derrota dos espanhóis.»

Foi após a vitória que os soldados castelhanos, na sua fuga desordenada, passaram pela povoação de Aljubarrota e neste transe a padeira empunhando a sua pá, matou uns soldados e perseguiu outros. Segundo outros historiadores, os sete castelhanos que ela matou estavam escondidos dentro do seu forno. A este respeito escreve Pinho Leal:






Consta que os tais sete castelhanos, vendo tudo perdido, e para escaparem à geral carnificina, achando a casa da Pisqueira abandonada (por a padeira andar entretida a caçar castelhano) se foram esconder dentro do forno. Foi ela ali dar com eles e agarrando na pá— quantos vivos rapuit, omnes esbarrigavit.»





A «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» narra o episódio histórico do seguinte modo:


«Na tarde da batalha de Aljubarrota, já derrotados os castelhanos, o povo perseguiu os fugitivos e Brites de Almeida capitaneou um troço de populares que se dedicaram a essa tarefa; diz a tradição que a padeira ao cair da noite encontrou escondidos no forno, que estava apagado, sete castelhanos que tentaram fugir ao populacho e que os matou.»


Verifica-se que o povo de Aljubarrota se insurgiu contra os castelhanos e se a padeira foi um mito, não o foi o povo da região. Com realidade ou sem ela. o nome de Brites de Almeida, simboliza o ardor patriótico do povo de Aljubarrota, porque não era uma mulher sozinha, por muito destemida que fosse, e mesmo com seis dedos em cada mão, que podia enfrentar tantos fugitivos. Perto de Alcobaça. na ponte de Chiqueda, os castelhanos, na debandada, também foram perseguidos pelo povo. Diz Fr. Manuel dos Santos que nesta ponte, entre outros fugitivos, foi morto um fidalgo cuja mulher que nesse mesmo local foi presa era cuvilheira (Mulheres encarregadas de limpar e perfumar os vestidos dos reis) ou cubiculária-mor do rei inimigo.





Alexandre Herculano que esquadrinhou o assunto, referindo-se à padeira escreveu :

«Este sucesso tradicional, quer real, quer fabuloso, tem em qualquer dos casos, um valor histórico, porque é um símbolo, uma expressão da ideia viva e geral aos portugueses daquele tempo, o ódio ao domínio estranho, o rancor com que todas as classes de indivíduos guerreavam aqueles que pretendiam sujeitá-los a esse domínio.»

Referem alguns escritores, possivelmente com fantasia, que a atestar esse ódio aos invasores existiu em Aljubarrota uma pequena calçada formada com os ossos de castelhanos mortos na batalha, calçada que foi desaparecendo; e diz-se que para manterem essa calçada por mais tempo foram colocadas ossadas de animais nos sítios mais danificados.

Segundo Herculano, a memória escrita mais antiga acerca da padeira de Aljubarrota é aquela a que alude Fr. Manuel dos Santos. Diz este que Fr. Francisco Brandão, no ano de 1642. isto é, dois séculos e meio depois da batalha, "fez tirar um sumário de testemunhas na vila de Aljubarrota em que juraram as pessoas mais antigas daqueles sítios e de qual consta ter-se aí conservado inalterável a tradição daquele sucesso, guardando-se a pá nos Paços do Concelho, a qual era de ferro com um cabo mais moderno de pau».

Rezam as crónicas que a pá foi escondida numa das paredes dos Paços do Concelho quando mais tarde os espanhóis nos dominaram e embora insistentemente procurada e requisitada, nunca a descobriram, nem lhes foi entregue, como tanto desejaram, alegando-se sempre não se saber que destino tinha levado.

A pá esteve assim oculta durante os sessenta anos do domínio filipino e só tornou a aparecer à luz do dia depois da gloriosa revolução que aclamou D. João IV, Rei de Portugal.

Ainda hoje. em Aljubarrota, se mostra essa pá ao turista que a deseje ver.

O digno professor primário de Aljubarrota, Sr. João António Dias, escreveu no número especial do «Ecos do Alcoa», de 14 de Agosto de 1935 (550º aniversário da Batalha de Aljubarrota), que Mouzinho de Albuquerque - o herói de Chaimite e Preceptor do Príncipe Real D. Luís Filipe e tio Infante D. Manuel - quando uma vez passou em Aljubarrota acompanhado destas altas entidades, então ainda crianças, lhes fez uma alocução patriótica, evocando um passado glorioso, acabando todos por beijar a pá com enternecido respeito.


BERNARDO VILLA NOVA
In: Junta de Freguesia de Aljubarrota



Sem exageros e sem falsas modéstias, podemos afirmar que a Vila de São Sebastião é Histórica. Esta é uma afirmação que não pode ser contestada.



No entanto, é importante sublinhar que a Vila de São Sebastião não é Histórica só pelo passar do tempo, também o é. Não se pode contar a História da Ilha Terceira, sem primeiro se começar a contar a História da Vila de São Sebastião, pois os primórdios do povoamento deste bonito pedaço de terra centrado no arquipélago, aconteceram aqui.

Matriz da Vila de São Sebastião
(Aguarela do artista terceirense Emanuel Félix)


Aqui se rezou a primeira missa, aqui nasceu a primeira igreja, aqui se batizou o primeiro terceirense, assim como todos os outros passos de um primeiro lugar, dos mais humildes aos mais importantes.
Mas tendo esta condição de primogénita, a Vila de São Sebastião tem também o condão, de ao longo da sua existência terem acontecido dentro das suas fronteiras, eventos de indiscutível relevo, tanto para a Ilha, como para a Região, o país e o mundo.

Bilhete-postal comemorativo
(Matriz da Vila de São Sebastião)


Foi este lugar que em 1503, D Manuel I, do alto da sua sabedoria e com fundamentos válidos, elevou a Vila. Dando-lhe a relevância territorial e política de ser uma cunha entre os dois concelhos já existentes e assim também, uma afirmação Real.

Bilhete-postal comemorativos
(As Lendárias Heroínas)




Foi aqui que Portugal manteve a sua afirmação independente, na Batalha da Salga em 1581, um momento tal que trouxe ânimo e força para voltar a acreditar, a todo um país que já quase se tinha rendido.



Foi aqui em 1582, que D. António, o Prior do Crato, desembarcou e se foi ajoelhar e rezar na igreja Matriz, agradecendo ao único ponto do país que ficou do seu lado e tendo antes criado o condado da Vila de São Sebastião, entregue a Ciprião Figueiredo.
Foi também aqui, depois da Batalha da Baía das Mós em 1583, que primariamente se perdeu, se sofreu, se sentiu na pele a força da vingança, contra quem sempre quis ser português.
Foi aqui que em 1919, foi construída a Estação Radiotelegráfica das Faleiras, que para além de suportar as telecomunicações da ilha, prestou um muito importante serviço à navegação oceânica, com registo de contatos até ao Brasil e à África do Sul. Sendo de realçar um importante papel de prestação de serviços de comunicações a longa distância, à famosa Travessia do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922.
Sim, Histórica por ter História.

Texto do Sr. Guilherme Bizarro, Presidente da Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião




Brianda Pereira - A Heroína da Batalha da Salga

Brianda Pereira terá nascido no Porto Judeu c. 1550 — Jurisdição do extinto Concelho da Vila de São Sebastião, c. 1620) foi uma mulher açoriana elevada pela historiografia da Batalha da Salga e dos acontecimentos que a rodearam ao papel de heroína da resistência da ilha Terceira contra Filipe II de Espanha. Embora sem base histórica que o sustente, a figura de Brianda Pereira foi mitificada pelo movimento romântico a partir de finais do século XIX, sendo elevada ao estatuto de heroína pela propaganda do Estado Novo, no contexto da afirmação do nacionalismo português dos açorianos. 




Brianda Pereira nasceu provavelmente na cidade de Angra ou alternativamente no Porto Judeu então Concelho da da Vila de São Sebastião, conforme a tradição popular, filha de Álvaro Anes de Alenquer e de Maria Pereira de Sousa. O pai foi juiz ordinário da Câmara de Angra em 1553 e descendia de Pero Anes de Alenquer, um dos primeiros colonos da ilha Terceira e, tal como a mãe, tinha ascendentes nobres.




Casou com Bartolomeu Lourenço, indo residir para o vale da Salga, na zona litoral do Porto Judeu na Jurisdição do extinto Concelho da vila de São Sebastião, onde o casal era dono de terras e tinha uma abastada casa agrícola.

Residiam nesse local quando a 25 de Julho de 1581, no contexto da luta entre partidários de Filipe II de Espanha e de D. António I de Portugal, se travou na Baía da Salga, em cuja arriba se situava a casa do casal, a  Batalha da Salga.




A batalha iniciou-se pelo desembarque de uma força espanhola que de imediato incendiou as searas e as casas existentes nas imediações, entre as quais muito provavelmente a de Brianda Pereira, aprisionando os homens que encontrou. Entre os prisioneiros figurava Bartolomeu Lourenço, que se encontraria ferido.





As fontes da época são omissas quanto ao papel de Brianda Pereira na contenda, havendo apenas menção a uma Ângela Pereira (Brianda tinha uma irmã com este nome) numa relação coeva, de autor anónimo, a qual diz:


Vivia ali um Bartolomeu Lourenço com mulher e filhos; a mulher andava em corpo, sendo mulher nobre e moça, e seu marido lavrador rico entre a gente da terra, dizendo que ela fugira de entre as mão deles [os soldados do partido espanhol] cuidando que seu marido fizera o mesmo, e que o já tinham cativo ferido, fugindo um seu filho que o viera contar. A pobre mulher andava como doida, e os soldados da armada de posse de sua casa e de toda a sua fazenda […] Quando a pobre mulher, por nome Ângela Pereira, viu arder a sua casa e os frescais da eira, e seu marido cativo e ferido, e sua casa e fazenda em poder dos soldados, e ela com pressa em saia escapou, parecia uma doida e com as lástimas que dizia animava os portugueses para que melhor pelejassem, e a tinham por mão porque se queria ir meter em sua casa: e porque era moça e nobre e bem parecida, e mulher muito galharda, sem falta sua honra e vida por resistir seria acabada. E a fizeram recolher, com outras mulheres a cima a uma igreja de São João.



Foi a partir desta descrição, já que o outro relato contemporâneo dos acontecimentos que se conhece, devido a frei Pedro de Frias, a não menciona, que se iniciou a mitificação da heroína Brianda Pereira.






A construção do mito deve-se em boa parte a Francisco Ferreira Drummond, que nos "Anais da Ilha Terceira", aparentemente fazendo fé na tradição oral da sua vila natal, já a descreve como uma nova LUCRÉCIA.





… onde se achava, e ainda existe, a quinta, ou casa, de Bartolomeu Lourenço, lavrador abastado, que nela vivia com sua mulher Brianda Pereira, moça nobre e assaz formosa, da qual tinha filhos. Parece que a sua beleza fora nos dias antecedentes objeto da curiosidade dos castelhanos, porque foi o primeiro despojo que eles quiseram saquear de sua casa. Felizmente pode esta nova Lucrécia escapar-se às mãos dos soberbos Tarquínios que a pretendiam, e já levavam prisioneiro ao marido, a quem haviam ferido gravemente, e a um filho; e achando-se já senhores da casa, e de tudo que nele havia, saqueavam, destruíam e convulsavam à sua vontade todos os móveis, chegando finalmente ao excesso de largarem fogo aos frescais de trigo que estavam na eira..






A partir daqui estava lançado o mote: Brianda Pereira era a heroína, a ela se atribuindo os mais diversos feitos, desde participar na peleja até ter sido a autora da estratégia de enviar vacas em tropel sobre os espanhóis. José Joaquim Pinheiro, nas suas Épocas Memoráveis da Ilha Terceira,  já diz que Brianda Pereira:

… mostrou o seu ânimo varonil, armando com dardos as mulheres que tinham corrido à peleja com seus maridos e filhos, e persuadindo com argumentos de virtuosa esposa e mãe desvelada a gente terceirense, leva as do seu sexo a carregarem sobre o inimigo com tal denodo que puderam alcançar a salvação do prisioneiro ancião e de se filho, ambos bastante feridos. Só não pôde esta heróica espartana evitar o incêndio que lavrava na casa e na eira…





O capítulo final da glorificação de Brianda Pereira é escrito por Gervásio Lima, que na sua prosa inflamada a alpendura aos píncaros da virtude e da heroicidade nacionalistas. Os escritos de Gervásio Lima, que gozaram de grande popularidade até meados do século XX, com a posterior ajuda da bem oleada máquina de propaganda do Estado Novo, fizeram de Brianda Pereira um figura popular, particularmente por apelar à heroicidade dos habitantes da ilha Terceira e assim alimentar o sentimento bairrista que ali se viveu.




Durante os anos todas as referências à história e a heroicidade da Terceira, incluíam obrigatoriamente uma vénia a Brianda, o arquétipo da heroína da portugalidade. 


II SEMANA CULTURAL DA
VILA DE SÃO SEBASTIÃO









Diário Insular (01-06-2023)



*** ABERTURA DA EXPOSIÇÃO ***

Integrado na II Semana Cultural da Vila de São Sebastião (Terceira), abrirá amanhã, 5 de junho, pelas 15:00, na Sede da Junta de Freguesia, uma exposição comemorativa da Geminação das Vilas de Aljubarrota e São Sebastião. A assinatura da Geminação ocorrerá no dia 9 de junho, pelas 20:00, dia do lançamento do bilhete-postal e carimbo comemorativo.
Iremos recordar as duas Lendárias Heroínas, Brites de Almeida (1385) - A Padeira de Aljubarrota, e Brianda Pereira (1581) - A Guerreira da Batalha da Salga.
Estão todos convidados!





*** ABERTURA EXPOSIÇÃO ***

Sr. Guilherme Bizarro - Presidente da Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião
Dr. Guido Teles - Vice-presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo
António Armindo Couto - Presidente da Direção do Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo




SÃO SEBASTIÃO (520 ANOS)

Abertura da Exposição Comemorativa

A fotorreportagem
(clicar no link abaixo)



O vídeo
(clicar no link abaixo)



ATIVIDADES CULTURAIS




Assinatura do Protocolo
Geminação entre as Vilas de Aljubarrota e São Sebastião
Sr. José Severino, Presidente da Junta de Freguesia da Vila de Aljubarrota
Sr. Guilherme Bizarro, Presidente da Junta de Freguesia da Vila de São Sebastião


Sessão Solene do lançamento dos bilhetes postais comemorativos
da Geminação das Vilas de Aljubarrota e São Sebastião


Dr. Álamo de Meneses - Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo
Sr. Guilherme Bizarro - Presidente da JF da Vila de São Sebastião
Sr. José Severino - Presidente da JF da Vila de Aljubarrota
Dr. António Félix Rodrigues - Autor do texto dos bilhetes-postais
Sr. Rui Castro - Representante dos CTT - Correios de Portugal
Sr. Emanuel Félix - Autor da aguarela da Matriz de São Sebastião
Sr. Virgílio Toste - Autor da aguarela das Lendárias Heroínas
António Couto - Presidente do NFAH


O vídeo

Clicar aqui -> Sessão Solene







MENSAGEM DE AGRADECIMENTO
(Recebida por e-mail a 12/06/2023)

Amigos da Direção do Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo

Terminada a II edição da Semana Cultural da Vila de São Sebastião, gostaríamos de expressar a nossa mais profunda gratidão pela excelente exposição que organizaram e que trouxe um acréscimo significativo de qualidade ao nosso evento, enriquecendo-o de forma única. 
A exposição por Vós organizada foi verdadeiramente impressionante. Cada elemento exibido contava uma história fascinante, representando a riqueza cultural e histórica quer da Vila de São Sebastião quer da Vila de  Aljubarrota.
O  Vosso cuidado e a atenção aos detalhes foram evidentes em cada peça exposta, o que só demonstrou o enorme empenho e dedicação com que nos presentearam nesta nossa semana. Através da Vossa fantástica interatividade e das informações compartilhadas,  conseguiram transmitir não apenas conhecimento, mas também uma paixão que a todos nós contagiou.

Agradecemos o Vosso tempo, agradecemos o Vosso conhecimento, agradecemos a Vossa inspiração e agradecemos a confiança que depositaram em nós, trazendo peças únicas e de valor incalculável.

Estamos completamente ao Vosso dispor para colaborar convosco em tudo o que acharem pertinente.

A nossa mais profunda e sincera gratidão

O executivo da JF
Vila de São Sebastião

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