Francisco Carreiro da Costa
Faleceu a 29 de Junho de 1981 na Clínica do Bom Jesus, em Ponta
Delgada, aos 68 anos de idade, Francisco Carreiro da Costa, professor,
intelectual, dirigente cultural e político açoriano.
Nasceu a 6 de Março de 1913 na Lagoa, onde fez a sua instrução
primária. Ingressou em 1923 o Liceu de Ponta delgada onde terminou o seu curso
liceal em 1932, época em que já era conhecido como dinamizador de várias
actividades culturais, incluindo o teatro, e como colaborador dos jornais de
Ponta Delgada. Em 1932 iniciou os seus estudos na faculdade de direito da
Universidade de Lisboa, no entanto em 1934 transferiu-se para a Faculdade de
Letras dessa mesma universidade e onde veio a concluir a licenciatura em
Ciências Histórico-Filosóficas em 1940, com a tese: O descobrimento e o
reconhecimento dos Açores. Durante o seu percurso académico esteve ligado às
actividades do Grémio dos Açores, instituição que precedeu a actual Casa
dos Açores em Lisboa, onde colaborou com Armando Narciso na organização e condução
do Primeiro Congresso Açoriano.
Regressou aos Açores e iniciou uma intensa carreira
político-administrativa, científica e educativa, sendo, ainda em 1940, nomeado
secretário particular do capitão Rafael Sérgio Vieira, que naquele ano assumiu o cargo de governador civil do
Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Assim, na área político-administrativa
foi vogal (1940-1941), procurador eleito da Comissão Administrativa
(1943), integrando a respectiva comissão executiva, e vereador da Junta Geral do
Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Foi também presidente da Câmara Municipal
da Lagoa (1942-1943), vice-presidente (1952-1955) e presidente (1955) da Câmara
Municipal de Ponta Delgada. Foi ainda vice-presidente e, posteriormente,
presidente da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores
(1944-1972), para além de muitos outros cargos e comissões de menor relevo.
Para além das actividades de carácter oficial e associativo,
dedicou-se apaixonadamente ao estudo da etnologia dos Açores, realizando,
apesar dos vários cargos que ocupou, uma obra exaustiva de descoberta, recolha
e coordenação dos valores da tradição regional, que trabalhou com método e
pertinácia e que divulgou largamente. Neste sentido, foi co-director e editor do
semanário «A Ilha» (1940-1941), director do jornal «Correio dos Açores» (1941), colaborador assíduo nas
revistas «Açoreana» e «Instituto» e
co-director do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos
Açores, do qual foi redactor principal e editor, desde a sua fundação em 1945.
Na área científico-cultural, foi membro fundador do Instituto
Cultural de Ponta Delgada (1943), direcção da qual fez parte até à sua
morte, e do Instituto Açoriano de Cultura (1956), sócio-fundador da Sociedade de Estudos Afonso Chaves (1941), do Núcleo
Cultural da Horta (1956), e do Instituto Açoriano da Cultura, sócio do
Instituto Histórico da Ilha Terceira e presidente da delegação da Sociedade
Histórica da Independência de Portugal, em Ponta Delgada. Paralelamente, foi
ainda, nomeado, em 1959 pelo Secretariado Nacional de Informação, para o cargo
de presidente da Comissão Regional de Turismo das ilhas de São Miguel e Santa
Maria. Exerceu estas últimas duas funções durante 10 anos, ocupando-se,
principalmente, da propaganda e do apetrechamento turístico das duas ilhas.
No âmbito das suas funções como presidente da Comissão Regional
de Turismo entre Abril de 1945 e Maio de 1974, produziu semanalmente uma
palestra aos microfones do Emissor Regional dos Açores, publicando-as no dia
imediato na imprensa local. Efectuou 1528 palestras, subordinadas ao tema
geral Tradições, Costumes e Turismo nos Açores, nas quais
divulgou múltiplos aspectos da etnografia, história, geografia e história
natural dos Açores, e proferiu conferências em Ponta Delgada e em Lisboa.
Participou no simpósio sobre Tradições Orais Luso-Espanholas que se realizou em
Los Angeles, Califórnia, e na 1ª, 3ª e 4ª Semana de Estudo dos Açores, eventos
realizados nos anos de 1961, 1964 e 1965 respectivamente. Nestas últimas
apresentou comunicações intituladas «Religiosidade do povo açoriano através do
seu folclore», «Potencialidades turísticas dos Açores» e «Breve história das
manifestações culturais dos Açores». Colaborou na Enciclopédia Verbo e no dicionário de História Portuguesa,
manteve correspondência assídua com personalidades e instituições culturais de
diversos países e colaborou em diversas obras de referência, fornecendo o
conteúdo de verbetes sobre os Açores.
No campo pedagógico, foi professor e director da Escola
Industrial e Comercial Velho Cabral, em Ponta Delgada. Foi convidado a integrar
a comissão instaladora da Escola Normal Superior de Ponta Delgada, aquando da
sua criação em Agosto de 1973, tendo sido um dos seus membros mais activos,
chegando mesmo a leccionar naquele estabelecimento universitário, quando este se
transformou em Instituto Universitário dos Açores, a disciplina Sociedade e
Cultura Açorianas, cujas lições autorizadas foram editadas e publicadas em 1978
com o título «Esboço Histórico dos Açores».
Cultivou as artes, fazendo estatuetas em barro que cozia na
Lagoa, e desenhos de temática etnográfica. Deixou também um pequeno livro de
poesias intitulado «Confidências», publicado ainda enquanto estudante, e um de
contos regionais com o título «Contos
Largos».
Em 1973 foi condecorado com a insígnia de comendador da Ordem
Infante D. Henrique, durante a presidência de Américo Tomás. O seu nome permanece ainda hoje na toponímia das cidades de
Ponta Delgada e da Lagoa, como homenagem a um incansável e meticuloso
professor, político, dirigente cultural e etnógrafo açoriano.
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