domingo, 24 de novembro de 2019

Carreiro da Costa (1913-1981)



Francisco Carreiro da Costa

Faleceu a 29 de Junho de 1981 na Clínica do Bom Jesus, em Ponta Delgada, aos 68 anos de idade, Francisco Carreiro da Costa, professor, intelectual, dirigente cultural e político açoriano.
Nasceu a 6 de Março de 1913 na Lagoa, onde fez a sua instrução primária. Ingressou em 1923 o Liceu de Ponta delgada onde terminou o seu curso liceal em 1932, época em que já era conhecido como dinamizador de várias actividades culturais, incluindo o teatro, e como colaborador dos jornais de Ponta Delgada. Em 1932 iniciou os seus estudos na faculdade de direito da Universidade de Lisboa, no entanto em 1934 transferiu-se para a Faculdade de Letras dessa mesma universidade e onde veio a concluir a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas em 1940, com a tese: O descobrimento e o reconhecimento dos Açores. Durante o seu percurso académico esteve ligado às actividades do Grémio dos Açores, instituição que precedeu a actual Casa dos Açores em Lisboa, onde colaborou com Armando Narciso na organização e condução do Primeiro Congresso Açoriano.
Regressou aos Açores e iniciou uma intensa carreira político-administrativa, científica e educativa, sendo, ainda em 1940, nomeado secretário particular do capitão Rafael Sérgio Vieira, que naquele ano assumiu o cargo de governador civil do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Assim, na área político-administrativa foi vogal (1940-1941), procurador eleito da Comissão Administrativa (1943), integrando a respectiva comissão executiva, e vereador da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Foi também presidente da Câmara Municipal da Lagoa (1942-1943), vice-presidente (1952-1955) e presidente (1955) da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Foi ainda vice-presidente e, posteriormente, presidente da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores (1944-1972), para além de muitos outros cargos e comissões de menor relevo.

Para além das actividades de carácter oficial e associativo, dedicou-se apaixonadamente ao estudo da etnologia dos Açores, realizando, apesar dos vários cargos que ocupou, uma obra exaustiva de descoberta, recolha e coordenação dos valores da tradição regional, que trabalhou com método e pertinácia e que divulgou largamente. Neste sentido, foi co-director e editor do semanário «A Ilha» (1940-1941), director do jornal «Correio dos Açores» (1941), colaborador assíduo nas revistas «Açoreana» e «Instituto» e co-director do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, do qual foi redactor principal e editor, desde a sua fundação em 1945.
Na área científico-cultural, foi membro fundador do Instituto Cultural de Ponta Delgada (1943), direcção da qual fez parte até à sua morte, e do Instituto Açoriano de Cultura (1956), sócio-fundador da Sociedade de Estudos Afonso Chaves (1941), do Núcleo Cultural da Horta (1956), e do Instituto Açoriano da Cultura, sócio do Instituto Histórico da Ilha Terceira e presidente da delegação da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Ponta Delgada. Paralelamente, foi ainda, nomeado, em 1959 pelo Secretariado Nacional de Informação, para o cargo de presidente da Comissão Regional de Turismo das ilhas de São Miguel e Santa Maria. Exerceu estas últimas duas funções durante 10 anos, ocupando-se, principalmente, da propaganda e do apetrechamento turístico das duas ilhas.
No âmbito das suas funções como presidente da Comissão Regional de Turismo entre Abril de 1945 e Maio de 1974, produziu semanalmente uma palestra aos microfones do Emissor Regional dos Açores, publicando-as no dia imediato na imprensa local. Efectuou 1528 palestras, subordinadas ao tema geral Tradições, Costumes e Turismo nos Açores, nas quais divulgou múltiplos aspectos da etnografia, história, geografia e história natural dos Açores, e proferiu conferências em Ponta Delgada e em Lisboa. Participou no simpósio sobre Tradições Orais Luso-Espanholas que se realizou em Los Angeles, Califórnia, e na 1ª, 3ª e 4ª Semana de Estudo dos Açores, eventos realizados nos anos de 1961, 1964 e 1965 respectivamente. Nestas últimas apresentou comunicações intituladas «Religiosidade do povo açoriano através do seu folclore», «Potencialidades turísticas dos Açores» e «Breve história das manifestações culturais dos Açores». Colaborou na Enciclopédia Verbo e no dicionário de História Portuguesa, manteve correspondência assídua com personalidades e instituições culturais de diversos países e colaborou em diversas obras de referência, fornecendo o conteúdo de verbetes sobre os Açores.
No campo pedagógico, foi professor e director da Escola Industrial e Comercial Velho Cabral, em Ponta Delgada. Foi convidado a integrar a comissão instaladora da Escola Normal Superior de Ponta Delgada, aquando da sua criação em Agosto de 1973, tendo sido um dos seus membros mais activos, chegando mesmo a leccionar naquele estabelecimento universitário, quando este se transformou em Instituto Universitário dos Açores, a disciplina Sociedade e Cultura Açorianas, cujas lições autorizadas foram editadas e publicadas em 1978 com o título «Esboço Histórico dos Açores».
Cultivou as artes, fazendo estatuetas em barro que cozia na Lagoa, e desenhos de temática etnográfica. Deixou também um pequeno livro de poesias intitulado «Confidências», publicado ainda enquanto estudante, e um de contos regionais com o título «Contos Largos».
Em 1973 foi condecorado com a insígnia de comendador da Ordem Infante D. Henrique, durante a presidência de Américo Tomás. O seu nome permanece ainda hoje na toponímia das cidades de Ponta Delgada e da Lagoa, como homenagem a um incansável e meticuloso professor, político, dirigente cultural e etnógrafo açoriano.


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