terça-feira, 19 de março de 2024

Alfredo Luís Campos (1856-1931)



ALFREDO LUÍS CAMPOS


A 19 de março de 1856, nascia o terceirense Alfredo Luís Campos, um professor, escritor e jornalista reconhecido, que teve uma carreira impressionante como dramaturgo.

Alfredo Luís Campos nasceu em Angra do Heroísmo, filho natural de Frederico Ferreira Campos e de Maria Carlota Martins. Foi colocado na roda dos expostos, sendo apenas legitimado em 1859. O pai, Frederico Ferreira Campos, foi um importante político que fez carreira em Angra do Heroísmo.



Frederico Ferreira Campos, um liberal de convicções, foi para a Terceira com o posto de alferes conferido por D. Pedro (IV) em nome de sua filha, a rainha D. Maria II. Esteve sob o comando do Duque da Terceira, D. António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, tendo estado ao lado de D. Pedro na Guerra Civil (1832/1834). Participou num dos corpos nacionais do exército comandado pelo Duque da Terceira que, a 24 de julho de 1833, “libertou” Lisboa do Miguelismo/Absolutismo. Ferreira Campos foi agraciado com a medalha nº 2 das Campanhas da Liberdade.

Depois do fim das lutas liberais, Ferreira Campos regressou a Angra, onde fez carreira, primeiro como delegado da Real Companhia dos Tabacos, depois como político ativo, sendo então Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e, posteriormente, Governador interino do Distrito de Angra do Heroísmo (1 a 26 de junho de 1891), substituindo António da Fonseca Carvão Paim da Câmara, barão do Ramalho. Foi durante estes anos que Ferreira Campos conheceu Maria Carlota Martins, com quem teve o filho Alfredo Luís Campos. Frederico Ferreira Campos faleceu em Angra do Heroísmo, terra que adotara como sua, a 9 de dezembro de 1892, já o seu filho se distinguia na Cultura açoriana.


Alfredo Luís Campos teve uma educação voltada para os valores do Liberalismo, que o pai sempre defendera. Todos estes valores vão marcar para sempre a personalidade de Ferreira Campos. 


Preocupado não só com a Cultura, mas também com a Educação, Alfredo Luís Campos foi Professor de Português na Escola de Desenho Industrial do Distrito de Angra do Heroísmo. Em termos políticos, Alfredo Luís Campos foi vogal da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, sendo um forte apoiante de Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara e do seu filho Jácome de Ornelas Bruges de Ávila Paim da Câmara, respetivamente o 1º e o 2º Condes da Praia.




O lado jornalístico de Alfredo Luís Campos foi desenvolvido ao longo dos anos, com a fundação de jornais como O Heroísmo (2ª versão), ao lado de Alfredo Pamplona Machado Corte Real, O Lutador, conjuntamente com Casimiro Mourato e João José de Aguiar, O Industrial e depois o Ateneu, ambos com o apoio de vários jornalistas. Dirigiu, em substituição de José da Fonseca Abreu Castelo Branco, o jornal Angrense. Teve importantes colaborações em variados jornais locais: Artista; Voz do Artista; Luís de Camões; União; Gazeta de Notícias; Terceira; Imparcial e Liberal, além de ter escrito para o jornal micaelense Diário dos Açores. Foi diretor do "semanário São Miguel e Terceira", em 1895, ano em que se comemorava a Confraternização da Autonomia proclamada pelo governo do açoriano Hintze Ribeiro, procurava-se assim aproximar os habitantes das diferentes Ilhas dos Açores e consequentemente incentivar a fraternidade entre açorianos.



Alfredo Luís Campos notabilizou-se, indelevelmente, como dramaturgo, um nome essencial no Teatro terceirense, com uma longa obra, da qual destacamos apenas alguns títulos (embora haja muitos mais e outros que nem foram editados): Fidalgos e Plebeus (1892), uma comédia-drama em quatro atos; Cenas da Vida (1917), comédia-drama em quatro atos; Alda, a Filha do Sargento (1897), comédia-drama em quatro atos; O Segredo de Albertina, comédia ornada de música com versos do jornalista e poeta António Casimiro Mourato, com quem trabalhou no periódico O Lutador; Em Família, comédia em um ato, ornada de música com versos de Azevedo Cabral; Um Quarteto de Amor (1928), comédia em um ato; O Dominó Vermelho, comédia em um ato.



Há um título na obra de Alfredo Luís Campos que é essencial a quem quiser estudar a História dos Açores, o livro "Memória da Visita Régia à Ilha Terceira" de 1903, pois além de contar os episódios da visita régia do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia à Terceira em julho de 1901, faz uma excelente síntese da História do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo (ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge). Alfredo Luís Campos foi também um membro ativo de várias associações e da preparação de vários festejos locais, sendo, por isso, um dos organizadores da visita dos Reis de Portugal à Ilha, que contou, entre vários momentos, com a realização duma feira agropecuária no Paúl, na Praia da Vitória e a participação dos Reis em uma tourada à corda, em Angra do Heroísmo, na zona de São João de Deus, onde as ruas se encheram de gentes, vestidas a rigor, com os seus trajes domingueiros, procurando mostrar a popularidade das touradas à corda na Ilha. No ano seguinte, foi um dos organizadores das festas liberais realizadas a 22 de junho de 1902 com o objetivo da perpetuação da Memória Liberal da luta contra o absolutismo na Ilha, celebrando a revolta liberal de 22 de junho de 1828.


Segundo Gervásio Lima, Alfredo Luís Campos fundou um Museu regional, que os seus inimigos políticos acabariam por destruir e apagar da memória local, para que o seu feito em prol da Cultura fosse esquecido. Apesar da indicação de Gervásio Lima, não encontrei mais nenhuma informação sobre este Museu. Algo a estudar e a investigar mais a fundo, mas é possível que tal tenha acontecido, pois os traços e a vida de Alfredo Luís Campos foram de alguém que sempre defendeu as suas convicções.
Alfredo Luís campos foi casado com Carlota Augusta de Sousa Pinto. Morreu na sua terra natal a 13 de janeiro de 1931.


São as Histórias de vida de homens como Alfredo Luís Campos que nos dão a certeza que lutar pelo que acreditamos é essencial, que mesmo que se caía ao primeiro obstáculo, se tivermos força, aprendermos com a queda, conseguimos arranjar forma de ultrapassar o obstáculo. Os terceirenses têm de continuar a ter a garra, o ADN de bravos, que sempre marcou os nossos egrégios avós e que é um traço da personalidade de todos nós. Não nos esqueçamos disso. Defender o que acreditamos, mesmo que se navegue contra a maré.


Texto de: Francisco Miguel Nogueira

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