INCM - Letras e Marcas Monetárias

A série «Tesouros Numismáticos Portugueses» produzida pela Casa da Moeda foi um grande sucesso. O Museu da Casa da Moeda aproveitou estes lançamentos e deu a conhecer algumas das mais raras moedas em ouro que fazem parte do seu acervo.
Hoje, o Museu Casa da Moeda inicia um novo ao ciclo de divulgação de peças: «Letras e Marcas Monetárias Portuguesas». A partir de moedas produzidas entre o final do século XVII e o final do século XIX vamos falar sobre elementos iconográficos das faces das moedas.




D. AFONSO I (1139-1185)

O dinheiro cunhado por D. Afonso Henriques foi a primeira moeda a ser batida em Portugal
após a independência face à Galiza e a Leão. Por esse motivo foram gravadas marcas que apontam para a ideia de soberania como é o caso do pentalfa. Uma estrela com cinco vértices e um ponto ao centro, formando um símbolo já presente nalgumas moedas islâmicas cunhadas em meados do século xıı.
No reverso, uma cruz latina com base peraltada.




D. DINIS (1279-1325)

Durante o reinado de D. Dinis registou-se uma revalorização monetária graças ao aumento do comércio interno e externo. São conhecidas as suas medidas de apoio à agricultura, fomento económico sem esquecer a educação.
No anverso do tornês — a primeira moeda de prata — foi esculpida uma cruz composta por cinco escudetes. No verso, uma cruz pátea ou cruz dos Templários, cujo património foi integrado na Ordem de Cristo por iniciativa do monarca.



D. JOÃO I (1385-1433)

D. João I, Mestre de Avis, é o primeiro monarca a investir na expansão do reino para o Norte de África, conquistando Ceuta aos mouros. É reconhecido o seu papel fundamental na vitória de Portugal na guerra com Castela. Com o apoio de D. Nuno Álvares Pereira, consegue assegurar a independência do país.
O real de 10 soldos, cunhado nesta altura, mostra a inicial coroada alusiva ao nome do rei e o brasão de armas do reino. Também é visível a letra monetária «L» que indica a oficina onde foi cunhada: Lisboa.


D. João II (1481- 1495)

O «Cruzado» de D. João II
Durante o reinado de D. João II são cunhadas as últimas moedas com a inscrição «IOHANES II R P». Estas mostram duas marcas de gravador claramente distintas: uma, que remonta aos cruzados de D. Afonso V, apresenta um ponto isolado sob o braço inferior da cruz e poderá ser atribuída a Vasco Gonçalves; a outra, por sua vez, consiste em três pontos no mesmo local e poderá ser atribuída a um seu ajudante que alterou a marca sem autorização.


D. Manuel I (1495-1521)

A partir do reinado de D. Manuel I as moedas passam a evidenciar marcas dos capatazes das diferentes fornaças do ouro. Primeiro foi cunhada uma estrela ao centro da cruz. Mais tarde, aparecem duas estrelas intercaladas nos braços da cruz. Mas não só. É comum, durante este reinado, encontrarmos moedas cunhadas com a cruz da Ordem de Cristo, o escudo real de Portugal ou outros símbolos associados à dinastia de Avis. Estes elementos são marcas da autoridade do rei.
Na moeda «Cruzado» de D. Manuel I (MCM 4908) surge ainda uma outra marca que aponta para o gravador de cunhos, entre 1497 e 1523, Diogo Rodrigues: três pontos por cima do braço superior da cruz.


D. João III (1521-1557)

Durante o reinado de D. João III ocorrem dois acontecimentos determinantes na cunhagem da moeda. Por um lado, deu-se uma revisão completa das gravuras das moedas de ouro e prata. Entre 1525 e 1555 eram utilizados cunhos com muitos ornamentos. É disso exemplo a coroa ou o recorte das letras, como se pode verificar no «vintém» (MCM 4981). Por outro, durante este reinado, a desvalorização da moeda vidrada nesta altura afetou, em primeiro lugar, a emissão de moedas de cobre. De facto, em 1537, a política monetária de depreciação deu maior ênfase às moedas de menor valor. Como consequência os vinténs sofreram uma quebra no peso.


Filipe I (1580-1598)

Em 1584, Filipe I (de Portugal; II de Espanha) manda cunhar novas moedas de ouro com a inscrição: «PHILLIPUS D.G. REX PORTUGALIA» como é o caso da moeda «4 cruzados» (MCM 5108). Esta inscrição era uma forma de afirmar a autoridade e legitimidade do monarca, sobretudo num período em que a união das Coroas de Portugal e Espanha estava a ser contestada por alguns setores da sociedade portuguesa. Para muitos portugueses Filipe I era considerado um monarca estrangeiro pois não descendia da dinastia de Avis.
A cunhagem das moedas com seu nome e título real era uma forma de manter a identidade política e a continuidade do reinado, procurando transmitir estabilidade e legitimidade. Desta forma, o rei relembrava aos seus súbditos que era o único monarca legítimo em Portugal.


Filipe II (1598-1621)

As moedas cunhadas em Portugal durante o reinado de Filipe II de Portugal refletiam uma realidade política particular: a união das coroas de Portugal e Espanha. Durante este período, as moedas cunhadas em Portugal refletiam elementos associados à monarquia espanhola. Contudo, mantinham símbolos da tradição monetária portuguesa. É disso exemplo, a moeda «vintém» de prata. No reverso da moeda apresenta um «F» que aponta para o soberano Filipe II, mas no anverso mantêm o escudo português, à semelhança do que já acontecia antes do domínio Filipino


D. João IV (1640-1656) Nesta moeda de D. João IV é visível a coroa real que o soberano terá oferecido simbolicamente a Nossa Senhora da Conceição após a Restauração da Independência de Portugal em 1640. Este símbolo, uma coroa alta, é composto por florões associados com pedúnculo e diadema.



D. Afonso VI (1656-1683)

Os carimbos utilizados na cunhagem de moedas ajudam não só a entender o processo de cunhagem como oferecem pistas sobre a política monetária e as práticas económicas da época de cunhagem.
A peça «4 cruzados» foi cunhada durante o reinado de D. Afonso VI. Contudo, após ser reavaliada, esta moeda continuou em circulação com D. Pedro II. Produzida antes do início da cunhagem mecânica, em 1678, e da chegada do ouro do Brasil, em 1699, «4 cruzados» apresenta um acabamento mais simples em comparação com outras moedas da mesma época.
No anverso, estão as armas coroadas do reino e o letreiro com a identificação de D. Afonso VI como rei de Portugal e Algarves . O reverso exibe uma cruz e a data de 1663, juntamente com o lema real «neste sinal vencerás». Este exemplar tem três carimbos, incluindo o da esfera armilar coroada e o do valor reavaliado, «4 coroado».






D. Pedro II (1683-1706)

Quando D. Pedro II é coroando rei de Portugal o país vive um período de instabilidade política e económica, em parte provocada pela Guerra da Restauração. Este conflito com Espanha só irá terminar em 1668.
Quando D. Pedro II é coroado rei de Portugal, o país vive um período de instabilidade política e económica, em parte provocada pela Guerra da Restauração – conflito com Espanha que só irá terminar em 1668. A dívida pública preocupava o soberano e por isso era necessário gerar receitas de diversas fontes, incluindo com as moedas. As moedas que eram cunhadas em ouro destinavam-se a transações de grande valor.
A peça «Moeda» em ouro apresenta 2 marcas de interesse numismático. Na legenda do reverso e a separar as palavras «IN» «HOC» «SIGNO» «VINCES» é apresentado um quadrifólio ou tetrapétalos. Na mesma legenda e a separar a data «1689» é visível um trifólio.



D. João V (1706-1750)

O reinado de D. João V correspondeu a um período de grande estabilidade política nacional e um forte impulso económico e cultural do país. A moeda «Quartinho», com um baixo valor, foi criada para facilitar o comércio do dia a dia. A sua emissão teve uma grande importância pois refletia o aumento da circulação monetária no país resultado do crescimento económico gerado pela exploração do ouro das minas do Brasil.

No anverso desta moeda foi cunhada a cruz da Ordem de Cristo. Símbolo da identidade nacional, está associada ao período histórico das grandes navegações. Esta cruz tem também um pendor religioso e moral: acreditava-se que servia de proteção nas rotas comerciais. A utilização deste símbolo na numismática portuguesa demonstra como D. João V era um monarca profundamente ligado à história religiosa e militar do seu país.



D. José (1750-1777)

Durante o reinado de D. José, um dos aspetos mais significativos da política monetária foi a introdução de moedas de cobre. Estas substituíram as antigas moedas de prata de baixo valor, um reflexo das dificuldades financeiras sentidas na época. Esta medida ajudou a que o sistema monetário se mantivesse em funcionamento. A moeda «10 réis» foi uma dessas moedas.
No reverso, foi cunhado dentro de uma coroa de louro, o indicativo do valor da moeda – X – ladeado por 2 florões.





D. Maria I (1777-1816)

D. Maria I, a "Rainha Piedosa", subiu ao trono em 1777, após a morte do seu pai, D. José I. O primeiro ato de D. Maria I foi a demissão e exílio do Marquês de Pombal. Este período ficou conhecido como «A Viradeira», justamente por querer afastar a marca pombalina e responder politicamente ao processo dos Távoras. O seu reinado ficou marcado por um ambiente de maior religiosidade e uma tentativa de estabilização da situação política e económica do país. Nesta época, ainda se faziam sentir as repercussões da Revolução Francesa. Na moeda «3 Vinténs» de D. Maria e D. Pedro III a referência aos 2 monarcas surge na legenda da moeda. No campo do anverso foi cunhada uma coroa alta de 5 arcos e um diadema com losangos.


D. João VI, «Príncipe Regente» (1799-1816)

O reinado de D. João VI foi marcado pelas Guerras Napoleónicas, dificuldades económicas e pela mudança da corte para o Brasil. Todos estes acontecimentos influenciaram a política monetária portuguesa da altura. Embora a moeda «320 Réis» tenha sido cunhada em Portugal, a sua utilização espalhou-se por todo o império, especialmente no Brasil, quando este se tornou o centro administrativo do Império Português.
O reverso apresenta uma esfera armilar, um símbolo heráldico que representa a exploração marítima e a expansão ultramarina portuguesa. Na esfera armilar é possível identificar os seguintes elementos: círculo polar, trópico, equador, zodíaco, meridiano e coluro.

D. Pedro IV (1826)

Quando a moeda «6 Vinténs» de D. Pedro IV foi cunhada, Portugal vivia uma fase de forte instabilidade política, económica e social. O conturbado reinado de D. João VI, seguido da independência do Brasil entre outros acontecimentos, geraram um défice significativo nas finanças públicas. À época, Portugal vivia uma escassez de recursos financeiros e tinha necessidade urgente de ajustar a sua circulação monetária. Com a cunhagem de moedas, como é o caso da «6 Vinténs», procurou-se criar uma moeda mais acessível para as transações quotidianas.

Uma das características distintivas desta moeda foi a serrilha. Este detalhe, implementado em Portugal desde 1678 tinha como propósito evitar o escamoteamento e a fraude, dificultando que fossem aparadas ou limadas, o que era uma prática comum para obter metal precioso de moedas correntes. A serrilha tinha também outra função: a de resistência à degradação do valor monetário, algo que se refletia no esforço governamental para garantir a estabilidade monetária numa fase conturbada da história de Portugal.


D. Miguel (1828-1834)

A moeda «Pataco» de 1828 foi cunhada durante o conturbado reinado de D. Miguel. O monarca assumiu o trono após um período de instabilidade política, marcado pela Revolução Liberal (1820). O Pataco, uma unidade de valor que já circulava em Portugal desde o século XVI, era uma moeda de prata que teve diversas emissões a partir de então.
O «Pataco» de 1828 apresenta a figura do monarca D. Miguel no anverso, evidenciando a sua autoridade. Já no reverso, destaca-se a legenda que contorna a moeda e onde se inserem os florões.
A cunhagem deste tipo de elementos — florões — reflete a tentativa de valorizar a moeda, destacando a força e a continuidade da Casa Real. Existem outras moedas onde é visível este tipo de marca, como é o caso da moeda «Conceição» de D. João IV.

D. Maria II (1826-1828, 1834-1853)

Em 1834, o governo português determinou a aplicação do carimbo do escudo coroado nas moedas de 8 reales, com o intuito de valorizá-las e garantir um valor de circulação de 870 réis. Este carimbo foi uma medida crucial na tentativa de estabilizar a economia num período de desafios financeiros e sociais, enquanto reforçava a confiança nas moedas circulantes. Neste ano, e após a guerra civil, os liberais tinham conquistado o poder em Portugal.

As moedas de 8 reales eram originárias do Império Espanhol. O «duro» — como eram conhecidas — eram moedas em prata com o valor de 8 reales ou 20 bolhões. Além da importante marca do escudo coroado, foi também cunhada a letra "M" com um anelete, que simbolizava a origem da casa da moeda; neste caso, a do México.

Uns anos antes, o «duro» também circulou no Brasil, onde foi carimbada para circular com um valor de 960 réis.


D. Pedro V (1853-1861)

O busto de D. Pedro V, rei de «Portugal e Algarves», foi cunhado na moeda «200 réis». À época, deu-se especial atenção ao detalhe do perfil do jovem monarca. Este detalhe tinha como objetivo reforçar o reconhecimento e a lealdade do povo ao rei. Apesar de não ser um elemento exclusivo desta moeda, nem deste período histórico, sabe-se que elementos como este transmitiam força e respeito ao rei.

Acresce que tecnicamente e nesta altura, já era possível cunhar moedas com grande qualidade, sobretudo ao nível do acabamento. Esta precisão, além da utilização da prata, aumentava a durabilidade da moeda. Hoje a moeda conserva-se bem, apesar de apresentar alguma oxidação.


D. Luís (1861-1889)

D. Luís, conhecido como o «Rei Artista», tinha um particular interesse pelas artes. Durante o seu reinado foram feitas várias reformas e inovações na cunhagem das moedas reflexo de uma busca por uma maior sofisticação estética aplicada à numismática. São conhecidos alguns exemplos de moedas onde o gravador cunhou o seu nome ou o seu acrónimo. A moeda «100 Réis» é um desses casos. Junto ao busto do rei D. Luís pode ler-se «FAC», acrónimo de Frederico Augusto Campos (1814-1895), um dos gravadores da Casa da Moeda na altura. A moeda «100 Réis» com esta marca do gravador tem particularmente importância dado os interesses artísticos do monarca D. Luís.
Frederico Augusto Campos entrou para a Casa da Moeda em 1830 e alcançou em pouco tempo e por mérito próprio, o lugar de 1.º Gravador.


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