sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Luís da Silva Ribeiro (1882-1955)



Dr. Luís da Silva Ribeiro

[N. Angra do Heroísmo, 4.1.1882 ,m. idem, 24.2.1955] Etnógrafo. Concluídos os estudos secundários em Coimbra, bacharelou-se em Direito, em 1907, tendo declinado o convite para se doutorar. Regressado à Terceira, ocupou vários cargos: Delegado-Procurador da Coroa na Relação dos Açores, lugar obtido por concurso, mas recomendado pelo Partido Regenerador local; Administrador do Concelho e Comissário da Polícia de Angra (4 de Julho a 2 de Setembro de 1910); Juiz Administrativo (alvará de 19 de Dezembro de 1910), Chefe da Secretaria da Câmara Municipal de Angra (2 de Abril de 1925 a 4 de Dezembro de 1952). Foi ainda, num curto espaço de tempo, professor do Curso Complementar de Letras e de Canto Coral, no Liceu de Angra.

Devido à sua militância republicana e ligação ao Partido Democrático andou envolvido na administração local, quer por nomeação quer por eleição. Foi nomeado presidente da Câmara de Angra, em 1911; governador civil substituto, em 1913; presidente da Junta Geral, em 1914-1915, por eleição; manteve-se como procurador em anos seguintes, até se desligar do Partido Democrático, em 1919, do qual havia sido líder. Manteve o seu espírito independente e liberal, embora tivesse colaborado com os organismos locais do Estado Novo, em tarefas muito concretas de carácter cultural. Em 1931, foi punido com 150 dias de suspensão, com perda de vencimentos, por ter sido acusado de facilitar a ocupação de aposentos camarários por parte dos deportados que se haviam revoltado.
Bilhete Postal (IP) expedido em 29-09-1944, de Ponta Delgada, com destino a Angra do Heroísmo, pelo Instituto
Cultural de Ponta Delgada, ao então Presidente do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Dr. Luís da Silva Ribeiro.
 BP censurado e com carimbo S.MIGUEL.


Verso do BP (IP)
- Assinado por Armando Côrtes-Rodrigues -

O Instituto Cultural de Ponta Delgada nasceu no final do ano de 1943, pela vontade de um grupo de intelectuais das ilhas de São Miguel e Santa Maria, que, sob os auspícios das autoridades políticas e administrativas do então distrito de Ponta Delgada, se reuniram no Governo Civil – no dia 30 de Novembro de 1943 – e nomearam uma comissão para elaborar os estatutos, que foram aprovados pelo governador civil, por alvará de 4 de Dezembro de 1943.

 A 18 desse mês foi eleita a sua primeira direção, composta por Humberto de Bettencourt de Medeiros e Câmara (presidente), Rodrigo Rodrigues (tesoureiro), Francisco Carreiro da Costa (secretário), José Bruno Tavares Carreiro e Armando Côrtes-Rodrigues (vogais).
 
Foi membro de várias instituições que reflectiam as suas preferências culturais: sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa; membro do Instituto de Coimbra-Academia Científica e Literária; Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia; Sociedade Portuguesa de Antropologia; Consejo Superior de Investigationes Cientificas (Espanha); Instituto de História e Geografia do Rio Grande do Sul; Sociedade Tucumana de Folclore (México); Clube Internacional de Folcloristas (Brasil); Academia de Mendonza (Universidade de Cuyo); Academia de Jurisprudência e de Legislação (Madrid); Instituto Açoriano de Cultura; Sociedade de Estudos Açorianos «Afonso Chaves» e Instituto Histórico da Ilha Terceira. Pertenceu à maçonaria, tendo feito a regularização ainda em Coimbra, na Loja Pró Veritate. Transitou para a Loja União e Liberdade, em Angra, em 1907, tendo atingido pelo menos o grau 20.
O Palacete Silveira e Paulo (1) localiza-se na rua da Conceição, no centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo. Construído ao gosto do fim de século XIX, o Palacete é um dos mais notáveis exemplares da arquitectura civil açoriana da transição do século XIX para o século XX.


A Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro
 viu as suas novas instalações inauguradas no passado dia 16 de setembro, sob a égide do ilustre terceirense Luís da Silva Ribeiro, personalidade que esteve diretamente ligada à criação da Biblioteca, do Arquivo e do Museu da cidade de Angra do Heroísmo. Esta instituição compreende uma diversidade de valências considerável, integrando uma biblioteca pública, com uma destacada secção infantojuvenil, uma biblioteca documental e um arquivo de significativa importância, sendo a única biblioteca nos Açores que beneficia do estatuto de depósito legal, recebendo por essa via um exemplar de cada publicação impressa no país, à semelhança da Biblioteca Nacional de Portugal.
 
A intensa actividade intelectual de Luís Ribeiro levou-o a desenvolver estudos na área da História, procurando evidenciar a forte ligação histórico-cultural das ilhas açorianas a Portugal continental; sobre a jurisprudência, publicou trabalhos que mereceram referências de autores consagrados; no campo da Etnografia, deixou uma vasta e diversificada obra com análises profundas da vida açoriana. Um trabalho minucioso e seguro que mereceu a consideração de etnógrafos portugueses e estrangeiros. Na área política, publicou variadíssimos artigos onde ficaram expressas as suas discordâncias com os separatistas, pronunciou-se sobre a defesa do regionalismo e alvitrou uma série de propostas administrativas que se distanciavam das provenientes de São Miguel, de cariz autonómico mais alargado. Neste aspecto, Luís Ribeiro foi mais contido: defendeu uma descentralização municipalista, mas como não conseguiu que o projecto se concretizasse, optou pela manutenção das Juntas Gerais Autónomas, dotadas de poderes administrativos, mas fiscalizadas para evitar esbanjamentos. Uma certa descrença na capacidade dos açorianos serem capazes de se governarem a si próprios, levou-o a tomar posições que serviram os objectivos do poder centralizador. Em 1938, recebeu Marcelo Caetano e em boa medida o terá influenciado nas linhas mestras que vieram a integrar o Estatuto Administrativo de 1940.
 
No Correio dos Açores, jornal fundado em 1920, deixou uma vasta colaboração que se debruça sobre as temáticas acima referidas. Naquele periódico publicou uma série de artigos sobre o *açorianismo, a construção da unidade e identidade regional e, em 1936, os Subsídios para um ensaio sobre a *açorianidade. Pela lucidez e profundidade do seu pensamento, Nemésio escreveu que era «a alma e consciência da nossa ilha (Terceira) e dos Açores». Parte da sua obra foi reunida em volumes temáticos, mas existem ainda muitas dezenas de artigos dispersos pela imprensa.
 

 
. Carlos Enes
Obras principais. (1982), Obras I, - Etnografia Açoriana (coordenado por João Afonso). Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1983), Obras II ? História (coordenado por José G. Reis Leite), Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1983), Obras III, Vária (coordenado por João Afonso e Reis Leite). Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação e Cultura. (1996), Obras IV ? Escritos político-administrativos (estudo introdutório e coordenação de Carlos Enes). Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação e Cultura.
Bibl. Enes, Carlos (1996), Vida e obra de Luís Ribeiro ? Biografia, in Obras IV ? escritos politico-administrativos (estudo introdutório e organização). Angra do Heroísmo, Instituto Histórico da Ilha Terceira/Secretaria Regional da Educação e Cultura: 15-31. In Memoriam de Luís da Silva Ribeiro (1982). Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura. Lopes, A. (s.d.), A maçonaria portuguesa e os Açores ? 1792-1935 (inédito).
In: Direção Regional da Cultura


Desenho de Emanuel Félix
Contra-capa do livro


(1) HISTÓRIA
O palacete Silveira e Paulo foi construído por iniciativa do comendador João Jorge da Silveira e Paulo, um rico fazendeiro e negociante de cacau que fizera fortuna como proprietário da roça Colónia Açoreana da ilha de São Tomé, depois de comprar um dos Solares da Família Noronha que se localizava no mesmo local e que foi a última residência de Manuel Homem de Noronha.

Apesar de originário de uma modesta família de pedreiros e trabalhadores agrícolas de Santo Amaro do Pico, o comendador Silveira e Paulo associou-se com quatro dos seus irmãos e formaram uma importante sociedade, proprietária da roça Colónia Açoriana em São Tomé e grandes negociantes de cacau no mercado internacional. Sob a sua direcção e influência, a família conseguiu grande prosperidade económica no negócio iniciado por um irmão mais velho, Domingos Machado da Silveira e Paulo.

João Jorge acabou por assumir a liderança da família, consolidando uma enorme fortuna. Regressou aos Açores, depois de agraciado, no final do século XIX, com uma comenda e o título de fidalgo-cavaleiro da Casa Real. Escolheu fixar-se na cidade de Angra do Heroísmo, tendo para tal adquirido o solar dos Noronhas, junto à igreja da Conceição, que mandou demolir para ali construir o seu palacete.

A construção, dirigida pelo mestre-de-obras micaelense João da Ponte, iniciou-se em Abril de 1900, ficando concluído dois anos depois.

O imóvel permaneceu na posse da família apenas por algumas décadas, já que em 1937 foi comprado pelo Estado e sujeito a obras de reparação e adaptação para o funcionamento da Escola Industrial e Comercial de Angra do Heroísmo. A escola começou a funcionar no palacete em 1939, ali se mantendo até à sua extinção em 1978. Com a integração da Escola Industrial e Comercial no Liceu Nacional de Angra do Heroísmo, o imóvel passou a acolher o ciclo preparatório, anexo à então formada Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade. A partir do terramoto de 1980, passou também a albergar o Conservatório Regional de Angra do Heroísmo.
 


Desenho de Emanuel Félix
Capa do livro

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