sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Carlos Enes (Historiador)




 



CARLOS ENES




Nasceu na Vila Nova, ilha Terceira, a 10 de Março de 1951.

Nessa altura, a freguesia do Ramo Grande ainda nem sequer tinha energia elétrica.

Filho de um funcionário dos militares norte-americanos da Base das Lajes, Carlos Enes começou a ir cedo para a escola, uma vez que o avô era professor. 



Prossegue os estudos no Liceu de Angra do Heroísmo, frequentando os primeiros seis anos nas antigas instalações do Convento de São Francisco e o sétimo no novo edifício da Praça Almeida Garrett. A partir do segundo ano do ensino secundário passa a residir com a família em Angra.



Quando termina os estudos no Liceu de Angra, a atividade cultural da cidade contava com forte participação estudantil, com a publicação do jornal "Vida Académica" e um conjunto de iniciativas em diferentes áreas das artes.




Em 1970, parte no navio "Angra do Heroísmo" para Lisboa, para frequentar o curso de Direito. A entrada para a Faculdade de Direito surge numa altura em que os reflexos da contestação de Maio de 68 ainda se faziam sentir.



"Foram tempos difíceis, com muita violência da polícia em relação aos estudantes, que carregou sem dó nem piedade em toda a gente que encontrava pelo caminho", recorda.




Numa altura em que a guerra colonial estava a decorrer em várias frentes, decide alistar-se como voluntário na Força Aérea para evitar que fosse mobilizado para o Ultramar.


"Alguns dos meus antigos colegas de liceu estavam a chegar aos hospitais militares sem um bocado de um braço ou de uma perna e entendi que não queria que me acontecesse o mesmo quando mais tarde fosse mobilizado para o serviço militar obrigatório", refere.

Antes de terminar o serviço militar na Força Aérea decide mudar para o curso de História seduzido com a perspetiva de poder desenvolver atividades relacionadas com a investigação histórica.

Participa como militar na revolução do 25 de abril em algumas assembleias do Movimento das Forças Armadas (MFA) e a 25 de novembro de 1975 é "saneado" com o encerramento da unidade militar de Monsanto a que pertencia.


Depois de terminar o curso de História vai para Moçambique como cooperante, onde fica mais de três anos como professor na Universidade Eduardo Mondlane.

Regressa a Portugal, em 1984, para prosseguir a sua carreira como docente e dedicar-se à investigação histórica e, mais tarde, conclui o curso de mestrado. Exerce as funções de professor na Universidade Aberta de Lisboa, entre 1996 e 2003.

Para além de participar em conferências, publica alguns trabalhos de investigação histórica e, em 2005, estreia-se na escrita de ficção com a publicação do romance "Terra do Bravo".

Nos últimos anos, Carlos Enes tem-se dedicado à recolha e publicação de fotografias antigas sobre diversos aspetos que marcaram a Terceira, desde o início do século passado.


"O interesse pelas fotografias antigas surgiu na sequência de uma oferta de um espólio que me fizeram. Nessa altura percebi a importância da fotografia para se perceberem determinados percursos da nossa história recente", afirma.

Essas imagens têm sido o suporte dos seus livros mais recentes que têm como objetivo entender melhor um determinado contexto histórico em que a imagem assume um papel de relevo em relação às palavras.

Por outro lado, a evolução da tecnologia no que se refere ao suporte e tratamento de fotografias tem facilitado a recolha de imagens e desta forma aumentar o número de acontecimentos que podem ser "contados" sobre diversos momentos do século XX.




Dois acontecimentos marcaram o distrito de Ponta Delgada na fase final do regime Marcelista. Em 1969, a oposição democrática obteve uma expressiva votação nas eleições, apesar de todas as pressões exercidas e falcatruas na contagem dos votos.


Venceu em várias mesas eleitorais, quer na cidade quer no campo, obtendo o segundo melhor resultado a nível do país, com a sigla da CDE. Destacaram-se nesta jornada Melo Antunes, Borges Coutinho, o padre Weber Machado, Júlio Quintino, Manuel Barbosa, Eduardo Pontes e tantos outros, a que não faltou o entusiástico apoio da juventude.

No ano seguinte, foi fundada a cooperativa cultural Sextante, que abriu sedes e livrarias em Ponta Delgada, Ribeira Grande e Angra do Heroísmo. Sempre vigiada pela polícia política (PIDE), recebeu várias visitas e extorsões de livros, sendo encerrada em 1972.










No dia 7 de julho de 2023, pelas 17h00 no balcão de Velas, sito na Rua Maestro Francisco  Lacerda nº 30, houve o lançamento desta obra que contou com a presença do autor Dr. Carlos Enes, um vulto da  investigação da história açoriana, que muito nos honra com mais esta obra de produção  do conhecimento da nossa Região. 

A crise sismo-vulcânica de 1964 na ilha de São Jorge foi um acontecimento marcante na  vida dos Jorgenses, pelo que recordar esta parte da história, com o maior rigor, antes que  se perca, com o passar dos anos e com o fim daqueles que a viveram, é algo que urge assegurar e que a CEMAH teve todo o gosto em se ter associado.



O IHIT acaba de divulgar a 2ª edição do livro do Dr. Carlos Enes "A MEMÓRIA LIBERAL NA ILHA TERCEIRA".
Porque a 1ª edição de 2001, Coleção Garajau, Edições Salamandra, encontrava-se esgotada, é de louvar esta iniciativa do IHIT.
Registo que a capa desta 2ª edição é do ilustre artista terceirense Emanuel Félix











Da vasta obra do autor, foram selecionados alguns artigos bem oportunos pelo seu conteúdo pioneiro na historiografia açoriana ou pelo ensaio interpretativo que foge às visões tradicionais.
Assim acontece com a análise do período de resistência à entrada de Filipe II na ilha Terceira, em que o historiador vai para além da abordagem sequencial dos factos, aprofundando as lutas políticas e sociais internas que caracterizaram o único momento verdadeiramente revolucionário na ilha.

A ascensão e queda de heróis locais constitui outra abordagem inovadora, inserindo-as nas respetivas dinâmicas políticas, em torno de Brianda Pereira, Teotónio Bruges e Francisco Ornelas da Câmara.
A unidade e identidade regional mereceu uma longa análise, lançando pistas para uma interpretação mais alargada, buscando as suas raízes nos finais do século XIX. Esta dinâmica teve expressão prática na organização do lóbi açoriano.

A oposição ao Estado Novo, com a revelação de dados constantes dos ficheiros da PIDE, constitui um tema inovador, a que o autor dedica especial atenção em vários artigos.

A Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo (CEMAH)
editou esta mesma obra (200 exemplares) para oferecer aos seus Clientes.


Finalmente, a análise da evolução da economia açoriana no século XX, até à implantação do regime autonómico, está condensada numa síntese que realça não só os problemas estruturais herdados do passado, como a sucessão das diversas conjunturas que foram introduzindo lentos percursos de modernização, sem que os níveis de pobreza sofressem grandes alterações.

No seu conjunto, esta é uma obra que vem enriquecer o panorama da historiografia açoriana, numa perspetiva científica.

Fonte: Bertrand


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