quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Turismo Certificado nos Açores

Alameda - Altares
(Ilha Terceira)
Foto de Fernando Pavão


Açores já são o primeiro arquipélago no mundo com o 'selo' de turismo sustentável






Ilhas portuguesas são as únicas do globo a obter a certificação de prata da Earthcheck, acreditada pelo Conselho Global de Turismo Sustentável ligado às Nações Unidas. 


É oficial: os Açores já têm a certificação internacional de destino turístico sustentável. O anúncio da obtenção do certificado de prata Earthcheck foi feito na abertura da conferência anual do Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC na sigla original), organismo que integra várias agências das Nações Unidas e é responsável por este processo de certificação - que começou esta quinta-feira em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, e decorre até 6 de dezembro.

"Somos o primeiro e único arquipélago do mundo com esta certificação, somos a única região de Portugal com esta certificação, estamos na linha da frente", salientou Marta Guerreiro, secretária regional de Energia, Ambiente e Turismo, frisando que "chegar hoje a esta certificação como destino turístico turístico sustentável foi um processo que levou dois anos, e já tínhamos muito trabalho de casa feito para chegar até aqui".

O selo de destino sustentável é válido por um ano e sujeito a reavaliação. Segundo a responsável de Turismo dos Açores, o objetivo é "não perder esta certificação e evoluir para patamares superiores", o que significa atingir o selo de ouro da Earthcheck.

"O certificado hoje recebemos não é um fim em si mesmo, pelo contrário: um destino certificado em termos de sustentabilidade nunca pode considerar que o seu trabalho está feito", sublinhou Marta Guerreiro. O presidente do Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC) enfatizou que atingir o certificado de prata da Earthcheck já foi "um feito", relativamente à um processo de certificação que está, ele próprio, em construção, defendendo que "os Açores são um exemplo para o mundo do que é o bom lado do turismo ".

Os Açores obtiveram a exclusiva certificação da GSTC (ainda só aplicada em oito países e 13 regiões a nível mundial) após um processo de auditorias e de avaliações que durou dois anos, de forma a cumprir as metas dos mais de 40 critérios estabelecidos por este organismo, que envolvem uma série de indicadores ambientais, mas também impactos sociais ou económicos gerados pelo turismo na região, analisando-se inclusivamente as taxas de desemprego, só para citar um exemplo. O retorno que o turismo dá à população local é um dos indicadores mais valorizados nesta certificação do GSTC, que se compromete a fazer uma avaliação periódica das metas assumidas pelos Açores após a atribuição do selo de destino turístico sustentável.

Na sequência deste processo de certificação, os Açores já tinham obtido em agosto o estatuto bronze da ‘EarthCheck’ (entidade certificadora de destinos turísticos sustentáveis) e lançado uma "Cartilha de Sustentabilidade ", com 300 objetivos que foram subscritos por 100 empresas em todas as ilhas. E em 2018 foi criada na região a Açores DMO (Estrutura de Gestão da Sustentabilidade do Destino Turístico Açores), entidade responsável por este dossiê e na dependência do orgão competente do turismo do Governo regional. A Açores DMO assume o compromisso de "garantir que o desenvolvimento do destino é suportado nos objetivos de desenvolvimento sustentável no contexto da Agenda 2030", envolvendo toda a atividade do Turismo dos Açores e os seus colaboradores, sendo as suas iniciativas "coordenadas com a população, com membros do sector privado e do sector público", além de associações e órgãos não-governamentais (ONG).

"NÃO SOMOS, NEM QUEREMOS, SER UM DESTINO TURÍSTICO DE MASSAS"
2005- Bloco filatélico
Açores - Região de Turismo
(os 6 selos abaixo são da mesma série)

Na conferência do GSTC que decorre na Terceira, a responsável de Turismo dos Açores lembrou que esta certificação internacional de destino sustentável ocorre num momento de grande crescimento turístico para a região, que nos primeiros nove meses de 2019 atingiu um aumento de 17% e prevê fechar o ano próximo dos 3 milhões de dormidas (quando em 2018 teve 2 milhões).
"Queremos continuar a crescer em quantidade, porque temos condições para isso, mas também em qualidade e em valor, de forma a trazer valor e qualidade de vida para a população. O turismo só é bom para os Açores se for bom para os açoreanos", garantiu Marta Guerreiro. "Temos uma certeza: não somos, nem queremos ser, um destino de turismo de massas".
Na conferência do GSTC que decorre em Angra do Heroísmo, Marta Guerreiro frisou ainda que os Açores são "uma das duas únicas regiões do mundo que possui todas as classificações atribuídas pela UNESCO: 4 reservas da biosfera, 13 sítios 'ramsar', um Geoparque que compreende 121 geossítios dispersos por todas as ilhas e 2 designações de património mundial ".
Tendo "condições de natureza e ambiente ímpares, os Açores posicionam-se na perfeição no segmento turístico que tem registado um dos mais acelerados crescimentos a nível mundial, o turismo de aventura e de natureza ativa", destacou também a responsável, dando como exemplos no arquipélago as atividades de observação de baleias, birdwatching, mergulho, percursos pedestres ou de BTT.
Lembrando que os Açores duplicaram os resultados turísticos nos últimos anos, e que são uma das regiões de Portugal a liderar o crescimento neste sector, Marta Guerreiro realçou que "o turismo trouxe novas oportunidades de negócio à região, temos hoje mais emprego e mais empresas, mas sem comprometer o nosso património natural, o que é o mais importante".


Sobre a necessidade de criar restrições face ao rápido crescimento do turismo nos Açores, a responsável salientou que "trabalhamos sobretudo com públicos respeitadores da natureza e da cultura", mas deixou claro que "se for necessário criar restrições, cá estaremos para o fazer".


O Conselho Global de Turismo Sustentável é uma organização não-governamental e independente que reúne agências das Nações Unidas, ONG, governos nacionais e regionais, além de hotéis, operadores turísticos, comunidades ou pessoas a título individual que se assumam envolvidos com objetivos de turismo sustentável.


2001 - Angra do Heroísmo
Cidade Património da Humanidade


Na conferência que decorre na Terceira, onde participam vários especialistas internacionais e sob o mote "Navigating the way forward in sustainable tourism", vão ser debatidos uma série de temas ligados à sustentabilidade, como a adaptação dos destinos turísticos às alterações climáticas, a gestão da energia, água e resíduos em turismo, repensar a utilização dos plásticos, 'slow travel' e as novas tendências da procura, entre outros.

2017 - Geoparques dos Açores

In: Expresso (05-12-2019)
Jornalista

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