1580 - D. António I 20 Reais |
1582 - D. António I Real de Angra |
*** ANGRA CAPITAL DO REINO DE PORTUGAL ***
Há exatos 440 anos, a 5 de agosto de 1580, Angra foi declarada sede do Governo em nome de D. António, em virtude do apoio terceirense à causa do Prior do Crato e do seu reconhecimento como Rei de Portugal, em detrimento de Filipe II de Espanha.
Quando D. Sebastião morreu em 1578, em Alcácer Quibir, sucedeu-lhe o seu parente mais próximo, neste caso, o tio-avô Cardeal D. Henrique, já idoso, que morreu, em 1580, sem herdeiros diretos, abrindo, assim, uma crise de sucessão.
Houve 3 principais herdeiros, D. Catarina, Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. Este último foi aclamado rei em Santarém, a 24 de julho de 1580, contra a vontade da Alta Nobreza, apoiante de Filipe II.
Para este, Portugal era um reino muito importante para a estratégia do Império Espanhol. Filipe II acabou então por enviar o seu exército, que mais bem preparado venceu os apoiantes de D. António. O Prior do Crato acabou por refugiar-se na Terceira, onde Angra tinha-se tornado a sede do governo do Prior do crato. D. Violante do Canto, que herdara uma grande fortuna em 1577, apoiou a causa de D. António, sustentando as tropas anglo-francesas estacionadas na ilha. A Terceira passou a ser, então, alvo das atenções espanholas.
D. António desembarcou em São Sebastião em dia de Sant’Ana, onde era esperado, depois da derrota contra a armada do marquês de Santa Cruz, ao largo de Vila Franca. Foi recebido com arcos triunfais e uma ponte de cedro. Depois passou a Angra, recebendo um discurso de receção cheio de portugalidade por Frei António de Merens, onde foi aclamado “Pela Graça de Deus, António I, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc”.
O Prior do Crato foi morar nos palácios onde vivia o Conde Manuel da Silva, um homem de sua confiança, nomeado novo corregedor dos Açores, substituindo Ciprião de Figueiredo, por estarem suficientemente mobilados os edifícios. Alguns destes palácios já haviam pertencido ao Marquês Cristóvão de Moura, casado com Margarida Corte Real, herdeira da capitania de Angra, enquanto trineta de João Vaz Corte-Real, assumindo Cristovão a capitania. Este era um fiel apoiante de Filipe II, vivendo em Espanha por largos anos e visto como um traidor por larga maioria de terceirenses. Ciprião de Figueiredo continuava a estar na Terceira e a lutar por D. António. Este, quando estava em Paris a procurar apoio junto de Catarina de Médicis, rainha de França, chamou Ciprião e agraciou-o com o título de Conde da Vila de São Sebastião, localidade onde se travou a Batalha da Salga, na qual Ciprião teve um papel de estratégia e de reorganização dos locais muito importante.
A substituição de um mais carismático Ciprião de Figueiredo, por um mais impetuoso Conde Manuel da Silva não resultou bem. O povo não gostou da escolha, pois sentia-se mais longe do seu novo governador. Ciprião sempre tivera uma relação próxima com a população terceirense. Aos poucos, a tensão entre o corregedor e os terceirenses foi aumentando.
A pressão espanhola e o desembarque da Baía das Mós, com a sua vitória, um ano depois da chegada de D. António, entre os dias 26 e 27 de julho de 1583, o afastamento de D. Violante do Canto, principal financiadora do Prior do Crato (e o seu exílio para Madrid a mando de Filipe II) e o afastamento dos apoios estrangeiros, com as consecutivas vitórias espanholas, obrigaram o pretendente ao trono português a partir da Terceira e de Portugal. Os seus objetivos lograram. Nos anos seguintes, vai tentar conquistar Portugal, mas sem resultados, uns por motivos circunstanciais, outros pela força militar das tropas filipinas e ainda alguns apenas pela importância de Filipe II para a Cristandade.
D. António levou consigo para França, onde se exilou, o fiel servidor Ciprião de Figueiredo, que, em 1601, fez uma viagem à Itália, onde conseguiu a estima do rei de França e do Grão-Duque da Toscânia, pois foi um homem de princípios e que sempre defendeu aquilo em que acreditava.
D. António morreu, em Paris, a 26 de agosto de 1595.
Dr. Francisco Nogueira, Historiador (Francisco Miguel Nogueira)
A 26 de Julho de 1582, no dia de Sant'Ana, chegava o príncipe D. António, Prior do Crato, aclamado e mantido como rei de Portugal, na Ilha Terceira, desembarcando na Vila de S. Sebastião, duas léguas distante da cidade de Angra onde era esperado, recusando-se a desembarcar ali em consequência do grande desgosto que trazia pelo desastre da sua armada, em águas de S. Miguel.
A cidade havia-se preparado para o receber, com arcos triunfais e uma ponte de cedro que conduzia ao cais, determinando que D. António fosse habitar os palácios em que residia o Conde Manuel da Silva, os quais se encontravam ricamente mobiliados, no entanto o Prior do Crato preferiu desembarcar assim, num modesto porto, fugindo a festas e alegrias que não suportava seu ânimo abatido.
Acompanhavam-no mil homens de pé e de cavalo e vários cavalheiros que o seguiam desde França. Querendo a Vila de S. Sebastião fazer-lhe festivas manifestações, se limitou a consentir apenas uma missa rezada na igreja principal, a que assistiu com a sua comitiva, marchando em seguida, por terra, com a sua guarda, para a cidade até chegar ao portão de S. Bento onde se demorou, por ali virem, a beijar-lhe a mão, os oficiais e pessoas de representação, logo abraçando o governador Ciprião de Figueirêdo, a quem pôs à sua direita e o conde à esquerda.
Ali o foram cumprimentar, o senado, com um luzido cortejo, falando um religioso, Fr. António Merens, seguindo D. António, montando um pequeno cavalo.
In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 232, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935
1582 - D. António I Carimbo AÇOR |
1582 - D. António I Cruzado - Carimbo Açor |
1582 - Carimbos Açor |
1582 - Carimbo Açor |
1582 - Carimbos Açor |
1582 - D. António I O Calvário (2 Reais) |
1583 - D. António I Cruz de Santiago (4 Reais) |
Antes morrer livres que em paz sujeitos
*** A CAÍDA DA TERCEIRA ***
~ O ÚLTIMO LUGAR DE PORTUGAL LIVRE QUINHENTISTA ~
A esquadra do Marquez de Santa Cruz rondava a Ilha estudando os seus pontos de desembarque, até que na manhã de 25 enviou emissários com promessas, os quais não foram recebidos, respondendo a ilha com descargas de seus fortes.
Reunido o conselho a bordo, resolveu o Marquez de Santa Cruz, comandante em chefe, assaltar a terra na madrugada de 27, o que realizou, fazendo desembarcar uma fôrça de quatro mil homens comandados por D. Francisco de Bobadilha e Agostinho Iniguez, no porto das Môs, sem serem apercebidos pelos de terra. Estabelecendo-se uma luta medonha nos fortins e areias, não podendo obstar a que continuassem a desembarcar tropas que chegaram a atingir o número de 16.000 soldados! Em terra só havia 8.000, na defesa da ilha e, pertencentes a várias nações, não se unificando um plano de defesa, pela deficiência de um homem que tudo mandava, sem competência e sem ânimo – Manuel da Silva, que assim entregou a ilha aos inimigos.
Pela cobardia do Conde Manuel da Silva perdeu D. António a Ilha Terceira em 1583, como perdera já a de S. Miguel, em igual dia de 1582, pela traição de Saint-Soline, vendido aos espanhóis por 64.000 ducados, como afirmam vários historiadores, e cita Camilo Castelo Branco, em crónicas referentes a esta época.
Neste dia caiu a Terceira em mãos dos espanhóis sob reinado de Filipe I, que vingaram cruamente os excessos praticados pelos nossos na vitória da Salga.
In Gervásio Lima, Breviário Açoreano, p. 233, Angra do Heroísmo, Tip. Editora Andrade, 1935
Brianda Pereira nasceu provavelmente na cidade de Angra (ou alternativamente no Porto Judeu ou na vila de São Sebastião, conforme a tradição popular), filha de Álvaro Anes de Alenquer e de Maria Pereira de Sousa. O pai foi juiz ordinário da Câmara de Angra em 1553 e descendia de Pero Anes de Alenquer, um dos primeiros colonos da ilha Terceira e, tal como a mãe, tinha ascendentes nobres.
Casou com Bartolomeu Lourenço, indo residir para o vale da Salga, na zona litoral da vila de São Sebastião, onde o casal era dono de terras e tinha uma abastada casa agrícola. Residiam nesse local quando a 25 de Julho de 1581, no contexto da luta entre partidários de Filipe II de Espanha e de D. António I de Portugal, se travou na baía da Salga, em cuja arriba se situava a casa do casal, a batalha da Salga.
A batalha iniciou-se pelo desembarque de uma força espanhola que de imediato incendiou as searas e as casas existentes nas imediações, entre as quais muito provavelmente a de Brianda Pereira, aprisionando os homens que encontrou. Entre os prisioneiros figurava Bartolomeu Lourenço, que se encontraria ferido.
Vivia ali um Bartolomeu Lourenço com mulher e filhos; a mulher andava em corpo, sendo mulher nobre e moça, e seu marido lavrador rico entre a gente da terra, dizendo que ela fugira de entre as mão deles [os soldados do partido espanhol] cuidando que seu marido fizera o mesmo, e que o já tinham cativo ferido, fugindo um seu filho que o viera contar. A pobre mulher andava como doida, e os soldados da armada de posse de sua casa e de toda a sua fazenda [...]
Quando a pobre mulher, por nome Ângela Pereira, viu arder a sua casa e os frescais da eira, e seu marido cativo e ferido, e sua casa e fazenda em poder dos soldados, e ela com pressa em saia escapou, parecia uma doida e com as lástimas que dizia animava os portugueses para que melhor pelejassem, e a tinham por mão porque se queria ir meter em sua casa: e porque era moça e nobre e bem parecida, e mulher muito galharda, sem falta sua honra e vida por resistir seria acabada. E a fizeram recolher, com outras mulheres a cima a uma igreja de São João.
Foi a partir desta descrição, já que o outro relato contemporâneo dos acontecimentos que se conhece, devido a frei Pedro de Frias, a não menciona, que se iniciou a mitificação da heroína Brianda Pereira.
... onde se achava, e ainda existe, a quinta, ou casa, de Bartolomeu Lourenço, lavrador abastado, que nela vivia com sua mulher Brianda Pereira, moça nobre e assaz formosa, da qual tinha filhos. Parece que a sua beleza fora nos dias antecedentes objecto da curiosidade dos castelhanos, porque foi o primeiro despojo que eles quiseram saquear de sua casa. Felizmente pode esta nova Lucrécia escapar-se às mãos dos soberbos Tarquínios que a pretendiam, e já levavam prisioneiro ao marido, a quem haviam ferido gravemente, e a um filho; e achando-se já senhores da casa, e de tudo que nele havia, saqueavam, destruíam e convulsavam à sua vontade todos os móveis, chegando finalmente ao excesso de largarem fogo aos frescais de trigo que estavam na eira..
A partir daqui estava lançado o mote: Brianda Pereira era a heroína, a ela se atribuindo os mais diversos feitos, desde participar na peleja até ter sido a autora da estratégia de enviar vacas em tropel sobre os espanhóis. José Joaquim Pinheiro, nas suas Épocas Memoráveis da Ilha Terceira, já diz que Brianda Pereira:
1980 - Medalha comemorativa do 4º. centenário da resistência à ocupação filipina na Terceira |
Durante os anos todas as referências à história e a heroicidade da Terceira, incluíam obrigatoriamente uma vénia a Brianda, o arquétipo da heroína da portugalidade. Foram escritas e representadas algumas centenas de peças de teatro popular e danças de Carnaval tendo como assunto a acção de Brianda Pereira. Embora na Terceira, o assunto tenha caído num relativo esquecimento, nas comunidades de origem açoriana parece continuar a ser popular, com o seu apelo nacionalista e ao bairrismo terceirense.
Brianda Pereira deu o nome a uma das escolas do Porto Judeu (no Porto Judeu de Cima, hoje extinta) e a uma das sociedade recreativas daquele freguesia, com a respectiva filarmónica.
No contexto da crise de sucessão de 1580, distinguiu-se entre os principais apoiantes de António I de Portugal na luta contra Filipe II de Espanha.
Recorrendo à sua grande fortuna e prestígio social, financiou o partido Antonino em Angra, proporcionando-lhe os recursos e a credibilidade necessários para o manter dominante na fase mais adversa da resistência angrense à união com a Espanha.
1584 - Primeiro Mapa conhecido com todas as Ilhas dos Açores |
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