O culto da Senhora dos Milagres da Serreta
A freguesia da Serreta é palco de um dos mais populares cultos católicos dos Açores, nela se realizando uma peregrinação que
atrai anualmente cerca de 10 000 fiéis que a partir de todos os pontos da ilha Terceira para ali se
dirigem a pé, em longas caminhadas que em geral se prolongam pela noite
dentro.
A peregrinação realiza-se na sexta-feira e sábado anteriores ao domingo da
festa da Serreta, o qual corresponde ao segundo domingo do mês de Setembro,
excepto quando calhe no dia 8 daquele mês, coincidência que obriga ao adiamento
da festa para o domingo imediato. Esta regra destina-se a impedir que a festa da
Serreta coincida com a festividade em louvor da Senhora do Livramento de Angra,
outrora também promovida pelos fidalgos angrenses que tinham à sua conta a festa
da Serreta. E embora os elementos promotores das duas celebrações há muito já
não sejam os mesmos, o uso conservou-se.
No domingo realiza-se uma procissão, a qual ainda mantém o brilho
tradicional, atraindo milhares de forasteiros. Na segunda-feira imediata
realiza-se a famosa toirada da praça do Pico da Serreta, tão concorrida que o
dia é considerado feriado não oficial em toda a ilha, com tolerância de ponto
concedida nas escolas e ao funcionalismo público.
As origens da devoção à Senhora dos Milagres
A origem da devoção a Nossa Senhora dos Milagres remonta aos finais do século XVII, quando o
padre Isidro Fagundes Machado (1651-1701) se considerou
vítima de injusta perseguição e se refugiou no local chamado Queimado, no
território da actual Serreta. Naquele local, então dos mais remotos da ilha,
construiu por suas mãos, em cumprimento de um voto, uma pequena ermida dedicada
Nossa Senhora, na qual colocou uma pequena imagem de Nossa Senhora com o Menino
Jesus (a actual imagem de Nossa Senhora dos Milagres). Pedro de Merelim dá a seguinte versão da lenda
que passou a rodear a origem do culto:
- Um padre velhinho, boa e santa alma, vendo-se em grande atribulação e desiludido do mundo, procurou um lugar ermo, onde, sem mais ninguém, se pudesse entregar à contemplação das verdades eternas. Seduziu-o a Serreta, junta da rocha, a um boa légua da igreja. Sítio tranquilo e pitoresco, paisagens de arvoredos e fragas, bem próprio para escutar as vozes da natureza entoando um hino à criação – e aí se quedou. Estaríamos no século XVI. Levava consigo uma pequena imagem da Virgem, para a qual, por suas mãos, imperitas no ofício, edificou tosca capelinha, na Canada das Vinhas, Queimado, em reconhecimento do milagre que lhe fizera de o livrar do perigo. E o minúsculo templo serviu-lhe também de abrigo. As preclaras virtudes do venerando sacerdote tiveram o condão de, ao lugar da Serreta, levar subido número de pessoas. Morto o humilde e solitário clérigo, a singela ermidinha ficou abandonada, breve se arruinando. Outra se ergueu em local diferente. E esta segunda, igualmente carecida de assistência, além de sujeita às irreverências de alguns pseudo-romeiros, não terá oferecido por muito tempo as condições indispensáveis ao culto, pelo que o prelado mandou recolher a imagem da Senhora dos Milagres à paroquial de Doze Ribeiras.
A fama de santidade que passou a rodear o padre eremita e a localização
remota da ermida, associada à beleza da localidade, passou a atrair ali
numerosos romeiros.
Falecido o padre Isidro Fagundes Machado, a ermida ficou ao abandono,
passando a ser palco de acções menos conformes à ortodoxia católica
protagonizadas pelos romeiros que ali continuaram a afluir. Em consequência, foi
ordenada a recolha da pequena imagem de Nossa Senhora para a Igreja de São Jorge
das Doze Ribeiras, então
sede de um curato da freguesia de Santa Bárbara que incluía o território da
actual freguesia da Serreta.
Instalada na igreja das Doze Ribeiras, a imagem continuou a atrair
considerável culto, passando a ser designada como Nossa Senhora dos
Milagres em resultado dos milagres que eram atribuídos à sua intercessão.
O culto sofreu forte incremento quando a zona oeste da ilha Terceira passou a ser
utilizada, dada a altitude e a beleza da paisagem, como destino de veraneio da
aristocracia angrense. A fama de que aquela zona de montanha da ilha tinha ares
salubres, capazes de curar a tísica e de evitar os miasmas dos meses mais quentes, levou a que
a partir de meados do século XVIII fosse comum, durante algumas
semanas de Verão, a presença nas Doze Ribeiras e Serreta de membros da
aristocracia angrense em veraneio ou em cura de ares. Esta situação levou a que
o culto da Senhora dos Milagres encontrasse importantes patronos entre os
veraneantes, os quais foram progressivamente assumindo a organização da
respectiva festa.
A institucionalização do culto teve origem num voto feito em 1762, quando em resultado de uma comunicação oficial informando que tropas franco-espanholas tinham
entrado em Portugal (dando origem à Guerra Fantástica) o medo de uma
invasão militar se espalhou pela ilha. Pouco depois, um grupo de cavalheiros,
militares, eclesiásticos, autoridades e algumas damas fez voto solene
na Igreja de São Jorge das Doze Ribeiras de se tornarem escravos de Nossa Senhora dos
Milagres se a ilha não sofresse qualquer investida militar estrangeira. O voto
incluía a formação de uma irmandade e a obrigação de promoverem uma festa anual
em honra da senhora dos Milagres.
In: Wikipédia
ORAÇÃO
Bendita sejas Maria,
Ventre sagrado de Amor!
Na alegria e na dor
És a nossa companhia.
Peregrinos da romaria
Seguem fiéis Teu andor;
Por seres Mãe do Redentor
És a nossa estrela-guia!
Rosto lírico de fé
E de quem crê que assim é
És a flor da esperança.
Ó linda Mãe verdadeira
Da Serreta padroeira:
Contigo tudo se alcança!
Rosa Silva ("Azoriana")
Setembro 2013
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