BANCO MICAELENSE
(Memória)
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1912 - Banco Michaelense, SARL Título de uma acção |
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Açores |
Por imperativos de financiamento da sua actividade, os exportadores
micaelenses de ananás criam, em 22 de Março de 1912 por escritura pública e
aprovação dos estatutos, o Banco Micaelense. Este sofre as consequências da
grande depressão de 1929, como todo o sistema económico e financeiro mundial,
mas consegue sobreviver. No período da segunda Guerra Mundial o banco
Micaelense, usufruindo da sua participação accionista na Companhia de Navegação
Carregadores Açorianos vê crescer fortemente os seus negócios.
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Ilha do Pico |
Na década de
1960, o Banco Micaelense passa a propriedade da
Casa Bensaúde (1) que promove o
aumento de capital perspectivando a expansão geográfica e a modernização do
banco.
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Ilha de São Miguel |
Em conformidade com a política económica e financeira da revolução de
Abril dá-se a 15 de Março de 1975 a nacionalização dos bancos no país, pelo que
o Banco Micaelense, na sequência do Estatuto da Autonomia dos Açores passa a
banco regional, sob a tutela do Governo Regional dos Açores, adoptando em 1976 a
designação de Banco Comercial dos Açores (BCA).
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Ilha Terceira |
Com o objectivo de responder
aos interesses da economia regional, nos anos de 1980, o banco abre agências em
todas as ilhas dos Açores, à excepção do Corvo e ainda um escritório de negócios
em Fall River, satisfazendo por efeito as necessidades da comunidade emigrante.
Em 1992 compra parte da Companhia de Seguros Açoriana para dois anos mais tarde
adquirir a totalidade da seguradora.
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1992 - 80º aniversário em todos os Concelhos da RAA |
Em consequência da sua política
expansionista o BCA torna-se a instituição de crédito de referência regional e
detentora da maior quota de mercado. Segundo fonte da Associação Portuguesa de
Bancos de 2002 a 2007 era superior a 30% do mercado financeiro da Região
Autónoma dos Açores, encontrando-se numa posição de destacada liderança, com uma
rede de negócios de 45 balcões, seguindo-se a Caixa Geral de Depósitos (26
balcões) e o Montepio Geral (20 balcões).
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1980 - Banco Comercial dos Açores |
Com o propósito de melhorar a
performance e adaptar-se aos novos modelos de filosofia económico-financeira
decorrentes da globalização e mundialização dos mercados, em 1996, dá-se a
reprivatização do banco passando a ser propriedade do Banif - Banco
Internacional do Funchal, mantendo a sua sede nos Açores e não renunciando às
suas raízes de banco regional. Posteriormente muda o nome para Banif – Açores e
em 2009 é integralmente absorvido pelo Banif – Banco Internacional do
Funchal.
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1987 - Flâmula do BCA |
O Banco Comercial dos Açores, antes Banco Micaelense e depois
Banif-Açores, no âmbito do crescimento da rede de agências/balcões, que iniciou
em 1968 com a abertura de um posto de câmbios no aeroporto de Santa Maria,
passou por três fases distintas:
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1992 - Apoio às Juntas de Freguesia |
A primeira fase – de 1912 a 1975 o então
Banco Micaelense, sob a administração da
Casa Bensaúde (1), alarga a sua actividade
e área de actuação, ultrapassando o contexto de banco de ilha. Neste período, o
banco abre agências na Vila das Velas em São Jorge, Ribeira Grande em São
Miguel, Vila do Porto em Santa Maria e abre ainda uma delegação em Lisboa,
funcionando nos escritórios da Casa Bensaúde. O número de pessoas ao serviço do
banco quase que triplica.
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1989 - Apoio às Jornadas Médicas no Faial |
A segunda fase - De 1976 a 1996. Em 1976 de
banco privado transforma-se em banco público, passando a propriedade da Região
Autónoma dos Açores.
Esta transformação é fundamentada na necessidade dos Açores
terem um Banco Regional que os ajudasse a dinamizar a sua economia. A sua
dimensão populacional mais que quadruplicou neste período de vinte anos.
Completou-se a sua dimensão regional, ficando o banco com agências em todas as
ilhas, assim como em Lisboa, Porto e Fall-River. Em consequência do elevado
número de admissões de pessoas para os seus quadros, a média etária é bastante
baixa, sendo 71,3 % da população inferior a 35 anos de idade. É neste período,
mais precisamente no ano de 1994 que o banco atinge o máximo populacional com
558 pessoas: 407 homens (a maioria com menos de 39 anos) e 151 mulheres (a
maioria com menos de 34 anos) e assume destacadamente a liderança do mercado
regional não só a nível populacional como também a nível de actividade e quota
de mercado.
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1995 - Apoio às Jornadas Médicas na Terceira |
A terceira fase - Inicia-se em 1996 com a reprivatização do
banco até 2008. O banco reestrutura-se, reorganiza e moderniza os seus serviços,
criando novos produtos financeiros. Encerra alguns balcões, desfaz-se dos
existentes no continente, mantendo somente a rede de balcões nos Açores que vai
crescendo até atingir o total de 45 balcões. A nível populacional dá-se um
acentuado decréscimo de 30 por cento da sua população, que de 547 empregados
passa para 383 empregados (234 homens e 149 mulheres). A maioria dos homens com
idade inferior a 54 anos, enquanto a maioria das mulheres com menos de 44 anos.
Neste período observa-se o aumento das qualificações académicas dos seus
recursos humanos onde os colaboradores com ensino superior atingem 18,50% do
total da população geral do banco.
De um modo geral, verifica-se que ao longo
da evolução da população do banco há um progressivo aumento percentual do número
de mulheres relativamente aos homens, denotando-se assim uma tendência para a
feminização da população do banco.
O desaparecimento do Banco ocorre em 31 de
Dezembro de 2008, quando ainda mantinha a liderança do mercado Açoriano. É
absorvido pelo Banif, desaparecendo assim a mais representativa e mais antiga
instituição de crédito Açoriana que neste ano de 2012 comemora o centenário do
seu nascimento que ocorreu em 22 de Março de 1912.
Autor do texto: João Cordeiro in "Correio dos Açores"
Medalhas Comemorativas
do Banco Comercial dos Açores
(Inauguração de Novas Agências)
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1984 - Lisboa e Fall River |
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1987 - Ribeira Grande |
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1989 - Calheta - São Miguel
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1990 - Angra do Heroísmo |
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1991 - Lagoa |
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1991 - Vila Franca do Campo |
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1991 - Vila da Calheta |
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1993 - Porto |
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1995 - Horta - Faial
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(1) A CASA BENSAÚDE
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1871-1971 Medalha comemorativa do centenário da
Empresa Insulana de Navegação |
Quando Abraão Hassiboni chegou a São Miguel em 1825 não falava uma palavra de
português. Na altura em que morreu, muitos anos mais tarde, continuava sem saber
construir uma frase em português escorreito.
Falava árabe marroquino e um
espanhol arcaico. Mesmo assim, mal pousou o pé nos Açores adoptou um apelido
luso - Bensaúde, por ser o nome do seu padrinho e protector da família.
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1930 - Rotas da EIN nos Açores |
Como outros judeus, os Hassiboni tinham chegado a Marrocos fugidos da
Península Ibérica vítimas das perseguições dos Reis Católicos, de D. Manuel e de
D. João III. No Norte de África a sua vida não foi, no entanto, mais pacata. A
população odiava-os e eram saqueados a torto e a direito. Valia-lhes a protecção
do sultão, que só não os desprezava porque os judeus lhe engordavam as finanças.
O pior foi quando o sultão morreu: a mulher de Abraão enterrou as jóias de
família no quintal e a família aguardou os saques inevitáveis. Depois, fugiram
para os Açores, onde o ambiente era de maior tolerância.
Trabalhador incansável, Abraão dedicou-se à venda de tecidos de alta
qualidade, mas a inveja de outros vendedores mais antigos de tecidos de menor
qualidade quase lhe custou o negócio. Na senda do pai, Jacob Bensaúde fundou a
firma Jacob Bensaúde Abraão & C.ª, que importava fazendas e exportava
cereais e laranjas para o Reino Unido. Morreu cedo, com apenas 28 anos e foi o
seu irmão Judah - o primeiro dos Bensaúde a saber falar português - que manteve
o negócio das fazendas vivo. Quando não havia clientes, Judah ficava sentado ao
balcão a ler e a estudar, o que lhe valeu um "alto nível cultural", conforme é
contado no livro Subsídios para a Genealogia da Família Bensaúde.
Geração após geração, os negócios dos Bensaúde proliferaram: José Bensaúde
fundou a Fábrica de Tabaco Micaelense e foi também um homem de cultura que
deixou uma biblioteca com mais de 1200 volumes. O seu filho Joaquim formou-se em
Engenharia na Alemanha, pertenceu à Academia das Ciências de Lisboa e à Academia
Portuguesa de História.
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Navio Hortense adquirido pela Parceria Geral de Pescaria |
Teve ainda um papel relevante na investigação da
história da astronomia peninsular e dos instrumentos náuticos primitivos. Ainda
no século XIX, a família criou a
Parceria Geral de Pescaria, especializada na
pesca do bacalhau, e a
Empresa Insular de Navegação. Fundou ainda o
Banco Lisboa
Açores, as fábricas de tabaco, álcool e açúcar, bem como a
Companhia de Seguros
Açoreana. Foram ainda os responsáveis pela criação da SATA (Sociedade Açoriana
de Transportes Aéreos) e pelo
Banco Micaelense, actual Banif. A partir de 1916,
os Bensaúde começaram a importar, armazenar e fornecer carvão para a navegação,
mas depois da II Guerra Mundial, quando o carvão perdeu grande parte do seu
valor, adquiriram uma instalação para armazenamento de combustíveis líquidos em
São Miguel. Foi nesta altura que o clã se converteu ao catolicismo,
provavelmente com medo da expansão do anti-semitismo de Hitler.
Pioneiros, na década de 30, os Bensaúde construíram o primeiro campo de golfe
dos Açores, onde mais tarde edificaram um hotel. O 25 de Abril não foi brando
para os negócios da família. Após as turbulências pós-revolucionárias, em 1976,
a sede da empresa saiu de Lisboa para regressar a São Miguel, onde a família
consolidou, até hoje, três áreas de negócios: a hotelaria, os transportes e os
combustíveis. Quase 300 anos depois de o primeiro Bensaúde chegar a Portugal, o
grupo mantém-se como no início da sua aventura empresarial: 100%
familiar.
Autora do texto: Rita Roby Gonçalves in "DN PESSOAS"
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