terça-feira, 5 de novembro de 2019

O Banco dos Açores



BANCO MICAELENSE
(Memória)


1912 -  Banco Michaelense, SARL
Título de uma acção

Açores
Por imperativos de financiamento da sua actividade, os exportadores micaelenses de ananás criam, em 22 de Março de 1912 por escritura pública e aprovação dos estatutos, o Banco Micaelense. Este sofre as consequências da grande depressão de 1929, como todo o sistema económico e financeiro mundial, mas consegue sobreviver. No período da segunda Guerra Mundial o banco Micaelense, usufruindo da sua participação accionista na Companhia de Navegação Carregadores Açorianos vê crescer fortemente os seus negócios.

Ilha do Pico

Na década de 1960, o Banco Micaelense passa a propriedade da Casa Bensaúde (1) que promove o aumento de capital perspectivando a expansão geográfica e a modernização do banco.



Ilha de São Miguel
Em conformidade com a política económica e financeira da revolução de Abril dá-se a 15 de Março de 1975 a nacionalização dos bancos no país, pelo que o Banco Micaelense, na sequência do Estatuto da Autonomia dos Açores passa a banco regional, sob a tutela do Governo Regional dos Açores, adoptando em 1976 a designação de Banco Comercial dos Açores (BCA).

Ilha Terceira
Com o objectivo de responder aos interesses da economia regional, nos anos de 1980, o banco abre agências em todas as ilhas dos Açores, à excepção do Corvo e ainda um escritório de negócios em Fall River, satisfazendo por efeito as necessidades da comunidade emigrante. Em 1992 compra parte da Companhia de Seguros Açoriana para dois anos mais tarde adquirir a totalidade da seguradora.

1992 - 80º aniversário
em todos os Concelhos da RAA
Em consequência da sua política expansionista o BCA torna-se a instituição de crédito de referência regional e detentora da maior quota de mercado. Segundo fonte da Associação Portuguesa de Bancos de 2002 a 2007 era superior a 30% do mercado financeiro da Região Autónoma dos Açores, encontrando-se numa posição de destacada liderança, com uma rede de negócios de 45 balcões, seguindo-se a Caixa Geral de Depósitos (26 balcões) e o Montepio Geral (20 balcões).

1980 - Banco Comercial dos Açores
Com o propósito de melhorar a performance e adaptar-se aos novos modelos de filosofia económico-financeira decorrentes da globalização e mundialização dos mercados, em 1996, dá-se a reprivatização do banco passando a ser propriedade do Banif - Banco Internacional do Funchal, mantendo a sua sede nos Açores e não renunciando às suas raízes de banco regional. Posteriormente muda o nome para Banif – Açores e em 2009 é integralmente absorvido pelo Banif – Banco Internacional do Funchal.

1987 - Flâmula do BCA
O Banco Comercial dos Açores, antes Banco Micaelense e depois Banif-Açores, no âmbito do crescimento da rede de agências/balcões, que iniciou em 1968 com a abertura de um posto de câmbios no aeroporto de Santa Maria, passou por três fases distintas:

1992 - Apoio às Juntas de Freguesia
A primeira fase – de 1912 a 1975 o então Banco Micaelense, sob a administração da Casa Bensaúde (1), alarga a sua actividade e área de actuação, ultrapassando o contexto de banco de ilha. Neste período, o banco abre agências na Vila das Velas em São Jorge, Ribeira Grande em São Miguel, Vila do Porto em Santa Maria e abre ainda uma delegação em Lisboa, funcionando nos escritórios da Casa Bensaúde. O número de pessoas ao serviço do banco quase que triplica.


1989 - Apoio às Jornadas Médicas no Faial
A segunda fase - De 1976 a 1996. Em 1976 de banco privado transforma-se em banco público, passando a propriedade da Região Autónoma dos Açores.

Esta transformação é fundamentada na necessidade dos Açores terem um Banco Regional que os ajudasse a dinamizar a sua economia. A sua dimensão populacional mais que quadruplicou neste período de vinte anos. Completou-se a sua dimensão regional, ficando o banco com agências em todas as ilhas, assim como em Lisboa, Porto e Fall-River. Em consequência do elevado número de admissões de pessoas para os seus quadros, a média etária é bastante baixa, sendo 71,3 % da população inferior a 35 anos de idade. É neste período, mais precisamente no ano de 1994 que o banco atinge o máximo populacional com 558 pessoas: 407 homens (a maioria com menos de 39 anos) e 151 mulheres (a maioria com menos de 34 anos) e assume destacadamente a liderança do mercado regional não só a nível populacional como também a nível de actividade e quota de mercado.

1995 - Apoio às Jornadas Médicas na Terceira
A terceira fase - Inicia-se em 1996 com a reprivatização do banco até 2008. O banco reestrutura-se, reorganiza e moderniza os seus serviços, criando novos produtos financeiros. Encerra alguns balcões, desfaz-se dos existentes no continente, mantendo somente a rede de balcões nos Açores que vai crescendo até atingir o total de 45 balcões. A nível populacional dá-se um acentuado decréscimo de 30 por cento da sua população, que de 547 empregados passa para 383 empregados (234 homens e 149 mulheres). A maioria dos homens com idade inferior a 54 anos, enquanto a maioria das mulheres com menos de 44 anos. Neste período observa-se o aumento das qualificações académicas dos seus recursos humanos onde os colaboradores com ensino superior atingem 18,50% do total da população geral do banco.

De um modo geral, verifica-se que ao longo da evolução da população do banco há um progressivo aumento percentual do número de mulheres relativamente aos homens, denotando-se assim uma tendência para a feminização da população do banco.

O desaparecimento do Banco ocorre em 31 de Dezembro de 2008, quando ainda mantinha a liderança do mercado Açoriano. É absorvido pelo Banif, desaparecendo assim a mais representativa e mais antiga instituição de crédito Açoriana que neste ano de 2012 comemora o centenário do seu nascimento que ocorreu em 22 de Março de 1912.

Autor do texto: João Cordeiro in "Correio dos Açores"




Medalhas Comemorativas
do Banco Comercial dos Açores
(Inauguração de Novas Agências)



1984 - Lisboa e Fall River

1987 - Ribeira Grande

1989 - Calheta - São Miguel


1990 - Angra do Heroísmo

1991 - Lagoa

1991 - Vila Franca do Campo

1991 - Vila da Calheta

1993 - Porto

1995 - Horta - Faial


                                                  (1) A CASA BENSAÚDE

1871-1971
Medalha comemorativa do centenário da

Empresa Insulana de Navegação







Quando Abraão Hassiboni chegou a São Miguel em 1825 não falava uma palavra de português. Na altura em que morreu, muitos anos mais tarde, continuava sem saber construir uma frase em português escorreito.

Falava árabe marroquino e um espanhol arcaico. Mesmo assim, mal pousou o pé nos Açores adoptou um apelido luso - Bensaúde,  por ser o nome do seu padrinho e protector da família.

1930 - Rotas da EIN nos Açores

Como outros judeus, os Hassiboni tinham chegado a Marrocos fugidos da Península Ibérica vítimas das perseguições dos Reis Católicos, de D. Manuel e de D. João III. No Norte de África a sua vida não foi, no entanto, mais pacata. A população odiava-os e eram saqueados a torto e a direito. Valia-lhes a protecção do sultão, que só não os desprezava porque os judeus lhe engordavam as finanças.

O pior foi quando o sultão morreu: a mulher de Abraão enterrou as jóias de família no quintal e a família aguardou os saques inevitáveis. Depois, fugiram para os Açores, onde o ambiente era de maior tolerância.


Trabalhador incansável, Abraão dedicou-se à venda de tecidos de alta qualidade, mas a inveja de outros vendedores mais antigos de tecidos de menor qualidade quase lhe custou o negócio. Na senda do pai, Jacob Bensaúde fundou a firma Jacob Bensaúde Abraão & C.ª, que importava fazendas e exportava cereais e laranjas para o Reino Unido. Morreu cedo, com apenas 28 anos e foi o seu irmão Judah - o primeiro dos Bensaúde a saber falar português - que manteve o negócio das fazendas vivo. Quando não havia clientes, Judah ficava sentado ao balcão a ler e a estudar, o que lhe valeu um "alto nível cultural", conforme é contado no livro Subsídios para a Genealogia da Família Bensaúde.

Geração após geração, os negócios dos Bensaúde proliferaram: José Bensaúde fundou a Fábrica de Tabaco Micaelense e foi também um homem de cultura que deixou uma biblioteca com mais de 1200 volumes. O seu filho Joaquim formou-se em Engenharia na Alemanha, pertenceu à Academia das Ciências de Lisboa e à Academia Portuguesa de História.

Navio Hortense adquirido pela
Parceria Geral de Pescaria
Teve ainda um papel relevante na investigação da história da astronomia peninsular e dos instrumentos náuticos primitivos. Ainda no século XIX, a família criou a Parceria Geral de Pescaria, especializada na pesca do bacalhau, e a Empresa Insular de Navegação. Fundou ainda o Banco Lisboa Açores, as fábricas de tabaco, álcool e açúcar, bem como a Companhia de Seguros Açoreana. Foram ainda os responsáveis pela criação da SATA (Sociedade Açoriana de Transportes Aéreos) e pelo Banco Micaelense, actual Banif. A partir de 1916, os Bensaúde começaram a importar, armazenar e fornecer carvão para a navegação, mas depois da II Guerra Mundial, quando o carvão perdeu grande parte do seu valor, adquiriram uma instalação para armazenamento de combustíveis líquidos em São Miguel. Foi nesta altura que o clã se converteu ao catolicismo, provavelmente com medo da expansão do anti-semitismo de Hitler.


Pioneiros, na década de 30, os Bensaúde construíram o primeiro campo de golfe dos Açores, onde mais tarde edificaram um hotel. O 25 de Abril não foi brando para os negócios da família. Após as turbulências pós-revolucionárias, em 1976, a sede da empresa saiu de Lisboa para regressar a São Miguel, onde a família consolidou, até hoje, três áreas de negócios: a hotelaria, os transportes e os combustíveis. Quase 300 anos depois de o primeiro Bensaúde chegar a Portugal, o grupo mantém-se como no início da sua aventura empresarial: 100% familiar.


Autora do texto: Rita Roby Gonçalves in "DN PESSOAS"


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