segunda-feira, 25 de novembro de 2019

F. d'Athayde M. de Faria e Maya (1876-1959)


Brasão de Armas de Família
Faria e Maya (Séc. XVI)





Francisco d'Athayde Machado de Faria e Maia


Francisco de Ataíde Machado de Faria e Maia (Ponta Delgada, 22 de Setembro de 1876 — Ponta Delgada, 29 de Abril de 1959), frequentemente grafado F. d'Athayde M. de Faria e Maya, foi um intelectual e historiador açoriano. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi inspector escolar, professor liceal e político. Entre outras funções, presidiu à Câmara Municipal de Ponta Delgada e foi senador eleito para o Congresso da República. Deixou publicada uma extensa obra historiográfica.

Biografia

Concluiu os seus estudos secundários no Liceu de Ponta Delgada, matriculando-se no ano de 1896 no curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se em 1901. Nos seus tempos de estudante conviveu com alguns dos futuros vultos da cultura portuguesa, entre os quais Teixeira de Pascoaes e Afonso Lopes Vieira.
Regressou a Ponta Delgada onde foi nomeado inspector escolar distrital e depois professor do Liceu Nacional de Ponta Delgada.
Viajou com a família por diversos países europeus, com destaque para a Suíça, publicando um interessante relato de viagem que o coloca entre os melhores autores açorianos de literatura de viagens.
Republicano e democrata convicto, na sequência da proclamação da República Portuguesa, em 1910, foi nomeado presidente da comissão administrativa encarregue de governar a Câmara Municipal de Ponta Delgada, iniciando uma carreira política ligada ao campo republicano mais conservador.



Faria e Maia esteve ligado ao 2.º movimento de autonomia, de tendência conservadora e sobretudo oposto à hegemonia do Partido Republicano Português, iniciado em 1918, onde era um dos poucos republicanos, ao lado dos monárquicos Aristides Moreira da Mota e José Bruno Carreiro.




Na legislatura de 1921 foi eleito senador independente no Congresso da República, do qual fez parte em representação do Circulo Eleitoral do distrito de Ponta Delgada, revelando-se um acérrimo defensor da autonomia açoriana.




Apresentou um arrojado projecto de lei para a Autonomia Administrativa dos Distritos Açorianos o mais marcante nessa matéria em todo o período da Primeira República Portuguesa.
Apoiou o golpe de 28 de Maio de 1926, considerando-o uma solução ordeira transitória para a instabilidade da Primeira República, mas rejeitou a institucionalização da ditadura e o Estado Novo. No período imediato ao golpe, quando ainda acreditava no rápido retorno da democracia, publicou diversos escritos retomando as temáticas autonomistas.
Com a consolidação do Estado Novo, passou a aceitar o novo regime, por entender não ser contrário, na sua essência aos princípios e valores democráticos que defendia, procurando justificar a sua posição na palestra radiofónica, depois publicada em opúsculo, Estado Novo - Como o Devemos Compreender, proferida em 23 de Janeiro de 1937. Nesta sua palestra sustenta, de forma comparativa, a compatibilidade dos princípios democráticos, consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, expoente da Revolução Francesa de 1789, com a Constituição de 1933. A sua argumentação desagradou aos adeptos mais anti-democráticos do regime, tendo motivado a um destes, precisamente Armando Cândido, uma demagógica e violenta palestra de resposta, Teatro Anatómico - Dissertando Uma Palestra, também publicada em opúsculo, em que este sustenta a proscrição dos valores da democracia liberal como estando na essência do Estado Novo. Faria e Maria responderia com outra palestra, também publicada em opúsculo, Contenda... em Boa Paz, onde mantém os pressupostos anteriores, citando o próprio Salazar. O exemplar conservado na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada assinala os cortes da censura, manuscritos pelo próprio Faria e Maia.




Foi um dos participantes mais activos no Primeiro Congresso Açoriano, realizado em Lisboa no ano de 1938. Esteve ligado à Sociedade «Terra Nostra», sendo também autor de um relatório da Comissão para o Aproveitamento Turístico da Ilha de São Miguel, que depois de aprovado pelo Ministro do Interior deu origem aos diplomas que enquadraram as primeiras iniciativas no campo do turismo nos Açores.


Em 1943 foi escolhido para o cargo de presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Foi um escritor incansável e jornalista, deixando uma vasta obra publicada, com destaque para o campo da História, embora de forma humilde e conscienciosa. Também deixou importante contribuição dispersa por numerosos periódicos açorianos.

Obras publicadas

  • 1909 - Em Prol da Instrução. Ponta Delgada, Typ. A. Medeiros.
  • 1912 - Kodaks (Impressões de viagem). Lisboa, Ferin.
  • 1927 - Pela Suíça e pelo reino. Paisagens, escolas e aspectos. Ponta Delgada, Tip. de Artes Gráficas.
  • 1931 - Um deportado da Amazonas (Época liberal nos Açores) (1810-1834). Ponta Delgada, Tip. Casa F. D’Alcântara.
  • 1932 - Em Prol da Descentralização. Livre administração dos Açores pelos açoreanos. Colectânea de artigos de propaganda da descentralização administrativa de S. Miguel. Ponta Delgada, Tip. da Casa F. D’Alcântara.
  • 1937 - Estado Novo - Como o Devemos Compreender. Ponta Delgada, Tipografia do Diário dos Açores.
  • 1937 - Contenda... em Boa Paz. Ponta Delgada, Tipografia do Diário dos Açores.
  • 1937 - A minha velha pasta. Tempos de Coimbra gente do meu tempo (1896-1901). Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores.
  • 1942 - Capitães dos Donatários. Subsídios para a história de S. Miguel (1439-1766). Ponta Delgada, Of. Diário dos Açores.
  • 1943 - Capitães Generais (1766-1831). Subsídios para a História de S. Miguel e Terceira. Ponta Delgada, Typografia Regional. [2.ª ed., Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988].
  • 1947 - Novas Páginas Micaelenses (Subsídios para a História de S. Miguel) (1832-1895). Ponta Delgada, Tip. Insular.

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