domingo, 12 de dezembro de 2021

Ernesto do Canto (1831-1900)

 

Ernesto do Canto
nasceu a 12 de dezembro de 1831 em Prestes, Ponta Delgada Açores
 e faleceu na mesma cidade a 21 de Agosto de 1900.


Ernesto do Canto (1831 – 1900)






Ernesto do Canto nasceu em S. Roque, Ponta Delgada. Filho mais velho do segundo casamento do morgado José Caetano Dias do Canto e Medeiros, acabou por ser o administrador e proprietário dos bens patrimoniais da casa do pai, utilizando proveitosamente parte desses rendimentos ao serviço de uma notável obra cultural cuja expressão máxima é sem dúvida a coleção de 12 volumes do Arquivo dos Açores (1878-1892), cujo projeto nasceu em 1876, das conversas mantidas entre Ernesto do Canto e João Teixeira Soares de Sousa.

Acho que uma provável explicação para os bilhetes-postais expedidos para França em 1907, terá sido feita pelo seu neto, que tinha os primeiros nomes do seu avô (curioso que ambos tenham a mesma assinatura e letra). Teriam estes bilhetes postais sido escritos e assinados ainda em vida por Ernesto do Canto e então, 7 anos depois, expedidos pelo neto? MISTÉRIO!
Outra curiosidade, para sustentar a minha explicação são as estampilhas usadas. O selo de 10 réis, D. Carlos, Ponta Delgada, Açores, circulou a partir de 1897, mas o outro selo de 10 réis Açores, D. Carlos (A, H, PD), só foi emitido em 1906.


Desenvolveu ainda assinalável atividade no domínio dos estudos bibliográficos, genealógicos, naturalistas e agrícolas, pelo que a avaliação completa do seu labor intelectual não deve apenas circunscrever-se ao campo dos trabalhos no campo da História.

Ocupou tarefas importantes na administração pública, distrital e municipal, nomeadamente em associações recreativas, filantrópicas, agrícolas e culturais, assegurando ainda pesadas responsabilidades patrimoniais, familiares e económicas a partir da morte do pai (1858) e do seu próprio casamento (1859).

Bilhete-postal de 1907, expedido de São Miguel para França, que tinha como destinatária uma Senhora de nome Marcelle Cottin, que foi enfermeira de Ernesto do Canto quando este esteve em Paris para se tratar de doença grave. Acontece que Ernesto do Canto faleceu em 1900 e não poderia ter expedido os presentes bilhetes postais.


Genealogista, historiador e bibliógrafo. Apenas na década de 70 é que começam a tornar-se visíveis sinais do seu crescente entusiasmo pelo estudo do passado local.

Em 1888, Ernesto do Canto publica o seu primeiro grande trabalho no domínio da bibliografia portuguesa, intitulado Ensaio Bibliographico: catalogo das obras nacionaes e estrangeiras relativas aos sucessos politicos de Portugal nos anos de 1828 a 1834.




Segue-se aquela que é, sem dúvida alguma, a sua melhor obra de sistematização bibliográfica, a Biblioteca Açoriana, impressa em 1890.


Ao contrário de seu irmão José do Canto (cuja rica Biblioteca compreendia uma livraria camoniana de exceção), Ernesto era mais um bibliógrafo do que um bibliófilo. Efetivamente, quer o Arquivo dos Açores quer

os trabalhos bibliográficos publicados, confirmam-no como um divulgador (e não colecionador) de obras e edições raras.



Por decisão testamentária, Ernesto do Canto deixou “os livros compreendendo impressos e manuscritos, os livros que comprei em leilão pertencentes à Alfândega de Ponta Delgada, as coleções de jornais açorianos, os meus cadernos de extractos, os volumes de genealogias do Doutor Gaspar Frutuoso, do Padre Manuel Luis Maldonado, etc. e bem assim muitos cadernos de extractos dos registos paroquiais de batizados, casamentos e óbitos”. Ainda deixava os exemplares do Arquivo dos Açores, Biblioteca Açoriana Ensaio Bibliográfico para serem vendidos ou trocados por obras sobre os Açores. Deixou ainda as respectivas estantes “caso a Biblioteca delas necessitasse”.

Apenas pretendia que “todos estes livros se conservem juntos, e separados dos que formam o fundo da Biblioteca”.

Esta livraria (acompanhada do respectivo inventário/catálogo preparado pelo irmão mais novo, Eugénio do Canto), simboliza bem o valor de uso (e não de tesouro) que para este investigador da História Açoriana, tinham os livros por si reunidos.

O acervo desta livraria, constituída por 2805 monografias, 321 periódicos, 291 documentos cartográficos, manuscritos e correspondência literária e científica (1851 cartas), não só reflete o amplo universo das suas leituras e preocupações intelectuais, como traduz a incessante preocupação de preservar arquivos (como o da Alfândega de Ponta Delgada) e fundos documentais (como o da Casa Miguel Canto e Castro) de enorme relevância para a memória colectiva do arquipélago.





ARCHIVO DOS AÇORES


O Arquivo dos Açores (na grafia original Archivo dos Açores) é uma obra originalmente em quinze volumes, publicada em Ponta Delgada (Açores), de Maio de 1878 a 1959.

É composta por uma vasta coletânea de documentos e estudos relativos à História dos Açores, reunidos e editados por iniciativa de Ernesto do Canto (1831-1900).

A publicação, que apareceu em volumes organizados sob a forma de um periódico, é hoje uma obra de referência na historiografia açoriana. Neles reúnem-se, ainda que de forma avulsa, os documentos mais importantes sobre os Açores, recolhidos nos arquivos açorianos, na Torre do Tombo e noutros arquivos.

A obra foi reeditada por iniciativa da Universidade dos Açores. De 1980 a 1984 reedita-se a primeira série, composta por quinze volumes, numa versão facsimilada da edição das edições do século XIX.

Ernesto do Canto faleceu em 21 de agosto de 1900.

  • (Volume 13, 1920)
    Publicado em memória de Ernesto do Canto; edição financiada pelo marquês de Jácome Correia.
  • (Volume 14, 1927)
    Publicado no rescaldo das «Comemorações do Quarto Centenário do Nascimento de Gaspar Fructuoso».
  • (Volume 15, 1959)
    Colectânea de documentos e notícias referentes à ilha de Santa Maria, organizada pelo Dr. Manuel Monteiro Velho Arruda e mandada publicar pela Câmara Municipal da Vila do Porto em sessão de 28 de Fevereiro de 1958.

 

  • Fonte: Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada.

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