A Ilha de Santa Maria
Uma historiografia da
história da ilha iniciar-se-á necessariamente pela obra "Saudades da
Terra", do padre Gaspar Frutuoso (1522-1591). O manuscrito, escrito entre 1586 e 1590, divide-se
em seis volumes, e inscreve-se numa história mais ampla, a da região que hoje
referimos como Macaronésia, numa dimensão atlântica. A
ilha de Santa Maria é abordada no Livro III.
Na era Moderna, destacam-se o "Espelho Cristalino em
Jardim de Várias Flores", de frei Diogo das Chagas (1584-1661), as "Crónicas
da Província de S. João Evangelista das Ilhas dos Açores", de frei Agostinho de Monte Alverne (1629-1726), e a "História Insulana das
Ilhas a Portugal Sujeitas no Oceano Ocidental", do padre António Cordeiro (1641-1722).
No século XX destacam-se
a publicação da "Colecção de documentos relativos ao descobrimento e povoamento
dos Açores", com prefácio de Manuel Monteiro Velho Arruda, em
edição comemorativa do V Centenário do Descobrimento dos Açores (1432-1932), e
da "Descripção da Ilha de Sancta Maria por José Carlos de Figueiredo, Tenente
Coronel d'Engenheiros, que em 1815 ali foi em Comissão" na revista Insulana, em 1960.
De uma forma geral, a pesquisa histórica para a ilha é dificultada pela
ausência de fontes documentais, nomeadamente para os séculos XVII e XVIII,
espalhadas por arquivos fora da ilha ou mesmo
perdidas devido a fatores históricos, ambientais, ou mesmo destruição
deliberada. Revestem-se assim, de maior relevância, outras fontes como as
patrimoniais, arqueológicas e linguísticas.
A descoberta, denominação e povoamento inicial da ilha
Embora em termos de historiografia se admita hoje a data do
descobrimento do arquipélago dos Açores por Diogo de Silves em 1427, o cronista Diogo Gomes de Sintra em 1460 referiu a ilha simplesmente como Ilha
de Gonçalo Velho:
- "A mais chegada ylha dos Açores se chama Sancta Maria he ylha pequena e redonda. E tem huas baixas quasi em meo que se chamõ as Formigas por q sõ oyto bicos penedos sobre agoa.
- Jaz esta ylha norte sull cõ a ylha de Sã Miguel e ha no traues 12 legoas e as Formigas quasi no meo.
- Anno de 1444 mãdou ho Iffãte Dom Anrrique por capitã huu caualleyro chamado Gonçalo Velho comêdador da Ordê de Christus a pouorar esta ylha e outras, e pos a esta seu nome. s. ylha de Gonçalo Velho e despois da sua morte lhe poserõ nome ylha de Sancta Maria. Este capitã lançou nella porcos e vacas e ouelhas e cabras. E viueo nesta ylha alguns ãnos."
-
"Pelas informações e notícia que o Infante D. Henrique tinha destas ilhas dos Açores, (...) no ano do Senhor de mil e quatrocentos e trinta e um, (...) tendo o dito Infante em sua casa um nobre fidalgo e esforçado cavaleiro, chamado Frei Gonçalo Velho das Pias, comendador do Castelo de Almourol, que está sobre o Rio Tejo, arriba da vila de Tancos, de quem, por sua virtude, grande esforço e prudência, tinha muita confiança, o mandou descobrir destas ilhas dos Açores a ilha de Santa Maria, ou, porventura, também esta de São Miguel; o qual, aparelhando o navio com as coisas necessárias para sua viagem, partiu no dito ano da vila de Sagres e, navegando com próspero vento para o Ocidente, depois de passados alguns dias de navegação, teve vista de uns penedos que estão sobre o mar e se vêem da ilha de Santa Maria, e de uns marulhos que fazem outros que estão ali perto, debaixo do mar, chamados agora todos Formigas, nome imposto por ele, ou por serem pequenos como formigas, em comparação das ilhas, ou porque ferve ali o mar, como as formigas fervem na obra que fazem; (...).
- Vindo a estas Formigas Frei Gonçalo Velho no novo descobrimento (...), não achando ilha frutuosa e fresca, senão estériles e feios penedos, e, em lugar de terras altas e seguras, vendo somente baixas pedras, tão baixas e perigosas, cuidando e suspeitando ele e os da sua companhia que o Infante seu senhor se enganara, julgando aquela pobre penedia por uma rica ilha, não entendendo todos eles com esta suspeita que havia mais que descobrir, se tornaram desgostosos ao Algarve, donde partiram, sem mais ver outra coisa que terra parecesse, e dando esta nova ao Infante D. Henrique, juntamente dizendo seu parecer, que não havia por este mar outras terras senão aquelas duras pedras que nele somente acharam."
O cronista prossegue, narrando a descoberta da ilha de Santa Mariano (1432) e referindo a de São Miguel (1444):
Diogo de Silves |
"A quantos esta carta virem fazemos saber que o infante D. Henrique, meu
tio, nos enviou dizer que ele mandara lançar ovelhas nas sete ilhas dos Açores e que, se nos
aprouvesse, que as mandaria povoar. E porque a nós isso apraz, lhe damos lugar e
licença que as mande povoar."
O povoamento iniciou-se naquele mesmo ano pela ilha de Santa Maria, seguida
pela de São Miguel. Para incentivá-lo, a carta de 5 de Abril de 1443 concedeu a Gonçalo Velho, comendador do arquipélago,
e aos moradores e povoadores das ilhas a isenção do pagamento da dízima e
portagens "de todas as coisas que delas trouxerem ao reino".
Quanto ao local do primeiro estabelecimento, terá sido o do desembarque
inicial pelos descobridores, erguendo-se a primeira casa e iniciando-se a
lavoura de trigo:
- "Como entraram, e a primeira terra que tomaram, onde saíram, foi, da banda de Oeste, em uma curta praia de uma abra que se faz antre a ponta da terra, que se chama a Praia dos Lobos, e outra ponta, que se chama o Cabrestante, onde vai sair ao mar uma pequena ribeira que corre todo o ano, chamada a ribeira do Capitão, por correr pelas suas terras, que naquela parte depois tomou para si, que são a Faneca, Monte Gordo, Flor da Rosa, Paúl, Roça das Canas, donde nasce aquela ribeira que vai ter ali ao mar, junto do Cabrestante; onde se fez pelo tempo adiante o primeiro coval [sementeira], junto da mesma ribeira, em uma pedra mole, como tufo, e amarela, como barro, que se corta à enxada, a que chamam saibro, no qual saibro, onde quer que o há na ilha, se dá o melhor vinho dela; onde se encovou o primeiro trigo que deu a terra.
- (...) Assim que os primeiros que saíram em terra, ali junto do mar, ao longo daquela ribeira do Capitão, ou desta vez, ou da segunda, fizeram a primeira casa que na ilha se fez, e, depois, pelo tempo adiante fizeram outras pela ribeira acima, e esta foi a primeira povoação da ilha, e por isso escolheu depois ali o Capitão suas terras, que são as melhores da ilha, e dão mais e melhor fruto e trigo, quase como o de Alentejo, quando o ano é temperado e bom."
O padre António Cordeiro, com base em Frutuoso, a seu turno, narra:
- "O descubridor, & Commendador Frey Gonçalo Velho Cabral desembarcou na Ilha pela parte de Oeste, em huma pequena praya, que chamàrao dos Lobos, por o parecerem assim as pontas de tal praya; & aque se fundou depois a primeyra povoação, junto a uma ribeyra que todo o anno corre: logo foy o Commendador correndo a Ilha toda à roda, parte por terra, & parte por mar, por a madeyra da terra não dar lugar a mais; (...)"
Na primeira povoação terá sido erguida ainda uma igreja cuja invocação a
tradição não guardou. Com os
povoadores vieram frades franciscanos que, já em 1446 tinham um pequeno oratório com observância, obtendo licença da Santa
Sé Apostólica por bula do Papa Nicolau V, de 28 de Abril de 1450. Dos nomes desses primitivos povoadores guardaram-se
os de Gonçalo Anes de Semadença, Nuno Velho e Pedro Velho (sobrinhos de Gonçalo
Velho e filhos de Diogo Gonçalves de Travassos e de D. Maria Álvares Cabral,
irmã do descobridor), Pedro Álvares de Sernache (filho ou neto de Álvaro Anes de
Sernache?), Estevão Lopes, e mestre António Catalão, pai de Genes e de Francisco
Curvelo Catalão, que veio para as ilhas ensinar o cultivo e a indústria das canas de açúcar.
Santa Casa da Misericórdia (Hoje Paços do Concelho de Vila do Porto) |
É assente que Vila do Porto foi a primeira vila açoriana a receber Carta de Foral, o qual data
de 1470, constituindo-se no primeiro município dos Açores.
Grandes parcelas da floresta nativa foram derrubadas para dar lugar a terras
agrícolas, nomeadamente na grande planície ocidental (onde se localiza hoje o
Aeroporto), para o plantio do trigo, exportado para o continente e para as
praças portuguesas no Norte d'África.
Santa Bárbara |
Em paralelo, desenvolveu-se a horticultura, a fruticultura (figueiras, macieiras, marmeleiros, amoreiras e outras), enquanto que a vinha encontrava abrigo nas fajãs à beira mar, nos lugares de São Lourenço, da Maia, no Castelo, no Sul, na Rocha alta, em Larache, na Praia e outros.
No século XVI, Santa
Maria já se dividia em três freguesias: Nossa Senhora da Assunção (Vila do
Porto), Santa Bárbara e Santo Espírito, rendendo anualmente cerca de 2.500
cruzados, na forma de sizas, dízimos e vintenas. Inicia-se a extração do barro e a produção de cal, louça e telha,
exportados para as demais ilhas do arquipélago, conforme o testemunho de Gaspar Frutuoso:
Talhão Mariense
Durante a grande fome de 1579 partiram de Santa Maria emigrantes em direção ao Brasil.
Moinhos do Rebentão |
- obrigação de doar sesmarias que, caso não fossem arroteadas ou cultivadas em cinco anos, revertiam para o donatário;
- poder de coutar terrenos (para incentivar o povoamento);
- exclusivo dos fornos de pão, moinhos e atafonas;
- estanco do sal marinho
- nomeação de magistrados
- arrecadação de dízimos das rendas da capitania (o capitão auferia as redízimas dessas rendas)
- alçada de até 15 mil réis na jurisdição cível e, no crime, podia açoitar pessoas e condenar até dez anos de degredo, sem agravo nem apelação.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição (No interior do Forte de São Brás) |
O cronista Gomes Eanes de Zurara informa que o Infante D. Henrique fizera "Gonçalo Velho Cabral comendador da ilha de Santa Maria e que, da ilha de S. Miguel, lhe deixara a metade dos açúcariais", o que sugere ter sido este o primeiro capitão do donatário em Santa Maria e São Miguel. No regimento de Justiça passado pelo Infante D. Henrique, publicado por Frutuoso, Gonçalo Velho é tratado por "(...) capitão por mim em minhas ilhas de Santa Maria e S. Miguel nos Açores".
Na carta de brasão de armas passada ao capitão do donatário João Soares de Sousa a 18 de Junho de 1527, afirma-se expressamente o seu pai, João Soares Velho, herdara a capitania de Santa Maria de Gonçalo Velho, capitão da dita ilha e comendador de Almourol.
O bom andamento do sistema era verificado pelos representantes do monarca,
enviados a título de "alçada" ou "correição". O corregedor fazia-se acompanhar
de meirinho, escrivão e porteiro.
Entre estas, destacaram-se as efetuadas no século XVI, pelos corregedores Manuel de Macedo, Francisco Toscano, Manuel Álvares e Luís da Guarda..
Janela do tempo do povoamento |
Entre estas, destacaram-se as efetuadas no século XVI, pelos corregedores Manuel de Macedo, Francisco Toscano, Manuel Álvares e Luís da Guarda..
Ao longo do tempo, os sesmeiros passaram a contratar colonos para trabalhar
as terras, mediante o pagamento de parte dos rendimentos, a chamada "dimídia",
resultando na prática no estabelecimento de um vínculo.
A reunião de vários vínculos constituía um morgadio. Esse estado de coisas só seria revertido com as leis de desamortização: à época do Marquês de Pombal (1770), com a reforma de Mouzinho de Albruquerque (1832) e com a de Anselmo José Braamcamp (1863).
A reunião de vários vínculos constituía um morgadio. Esse estado de coisas só seria revertido com as leis de desamortização: à época do Marquês de Pombal (1770), com a reforma de Mouzinho de Albruquerque (1832) e com a de Anselmo José Braamcamp (1863).
Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Rua da Conceição em Vila do Porto) |
O comendador tinha o direito de receber, por intermédio de seus feitores, a
pensão dos tabeliães, o dízimo dos produtos (pescarias, moendas e atafonas), e a
vintena sobre o pastel e a urzela. Possuía ainda o senhorio sobre os ilhéus de
São Lourenço e da Ribeira Seca. Em contrapartida, era seu o encargo de custear
as congruas dos
sacerdotes e todas as demais despesas para manter o culto religioso.
Piratas, corsários e razias
Museu de Marinha de Lisboa: âncoras resgatadas em 1960 na baía do Cura (ilha de Santa Maria, Açores), atribuídas presumivelmente à caravela "Ninã", de Cristóvão Colombo. |
Como as demais ilhas do arquipélago, desde cedo Santa Maria foi vítima de
repetidos ataques e razias perpetrados por corsários e piratas da Barbária.
Já em 1480, no contexto da Guerra de Sucessão de Castela, de uma nau Castelhana, desembarcaram cerca de quarenta
homens, armados de arcabuzes, no porto
da Vila. Foram rechaçados por um grupo de moradores, sob o comando do Capitão do
donatário, João Soares de Albergaria, com
tiros de pedreiro, na altura do Calhau da Roupa, afirmando-se que João Soares
foi capturado e levado a ferros para Castela.
Por essa razão Cristovão Colombo, a bordo da Ninã, foi recebido de maneira hostil pela
população da baía dos Anjos, quando de regresso da viagem de descobrimento da América, em
Fevereiro de 1493, registando-se o
aprisionamento de alguns de seus tripulantes e complexas negociações que
conduziram à sua libertação por João da Castanheira, lugar-tenente de
João Soares, capitão do donatário.
Passagem de Cristovão Colombo por Santa Maria Ermida dos Anjos |
Embora relativamente distante das rotas de navegação das naus das Índias, após uma tentativa de ataque por corsários
Franceses em 1553, a ilha foi assaltada por Franceses (1576), Ingleses
da armada de George Clifford de Cumberland (1589) e
piratas da Barbária (1616 e 1675), em busca
de suprimentos e de valores, e que causaram a destruição de igrejas e ermidas,
levaram a que a ilha fosse cercada, a partir do século XVII, por um cordão de fortificações,
no qual se destacavam o Forte de São Brás de Vila do Porto e as ruínas do Forte de São João Batista na Praia Formosa.
Estátua a Cristovão Colombo |
As razias para a escravização de habitantes conduziram à constituição da Confraria dos Escravos da Cadeinha, destinada a reunir fundos para remir os marienses em mãos dos Muçulmanos. A Confraria, recriada em nossos dias, mantém várias atividades culturais.
Da Dinastia Filipina
ao século XVIII
Quando da Crise de sucessão de 1580, a ilha apoiou inicialmente D. António I de Portugal, o Prior do
Crato, na forma de dádivas e de auxílios. Entretanto, com a pressão de Filipe I de Portugal sobre os Açores,
tendo o próprio Capitão do Donatário reconhecido o novo domínio,
D. António declinou desembarcar em Santa Maria.
D. António declinou desembarcar em Santa Maria.
Com a Restauração da Independência (1640), tendo a notícia
chegado à ilha no início de 1641, a
aclamação de João IV de Portugal foi celebrada com
grandes festejos, em que foram gastos grossos cabedais pelo Capitão Brás de
Sousa.
O historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, em
sua "História Geral do Brasil" refere que, em 1621, a Comenda de Nossa Senhora da Assunção foi entregue a Jorge de Lemos Bettencourt pelo transporte, às próprias expensas, de 200 casais de
Açorianos para o Estado do Maranhão.
Em 1648 partiram de Santa Maria cem
casais, mais de seiscentas pessoas, com o mesmo destino, no Brasil.
Segundo os relatos históricos, a vida à época era bastante difícil para o
povo em geral. As terras pertenciam quase na totalidade aos morgados, contando-se na ilha, em 1664, dezasseis morgados para quinhentos fogos e mil e
seiscentos habitantes:
- "A vida na pequena ilha açoriana era difícil e custosa. Não havia empregos, e, portanto as soldadas não chegavam para o mais elementar sustento: meia dúzia de ricaços possuía as terras de pão e de mato, as vinhas e as quintas, os gados e as alfaias: arados, carros, moinhos e lagares. Um deles punha dez carros de bois ao caminho e vinte trilhos na eira da debulha. Os trigos, moios e moios, iam por sua conta, em navios próprios, vender-se no mercado de Lisboa."
Nos séculos XVII e XVIII regista-se um
declínio na produção de trigo da ilha,
devido em grande parte à exaustão dos solos. Declina também a cultura do pastel e introduzem-se a do milho e da laranja. Edificaram-se ainda muitos dos templos da
ilha, assim como alguns conventos. A pobreza da população continuava
generalizada, visível nas habitações e na alimentação deficiente, que nos piores
anos resumia-se a bolos de fetos e papas de carrilhos.
A emigração para o Brasil
prosseguiu, agora para as províncias do Sul, de Santa Catarina ao Rio Grande do Sul e à Colónia do Sacramento, e a ela acrescentou-se, a partir do último quartel do século
XVIII, ainda em carácter esporádico, um novo destino, os Estados Unidos da América.
No interior da ilha extinção das últimas matas nativas, para transformá-las
em terras de cultivo e em pastos, teve como consequência anos de grandes secas,
sendo necessário trazer barcos com pipas de água da ilha de São Miguel, e o trigo ir a moer nas azenhas de Vila Franca do Campo.
O final do período foi introduzida a cultura da batata-inglesa, o que
causou grande descontentamento entre a população. Continuou a exportação de cal,
barro e louça para todas as ilhas do arquipélago.
As Guerras Liberais e o século XIX
Vila do Porto - Fontanário |
No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da ofensiva liberal do 7º Conde de Vila Flor (1831), setores da
ilha tentaram aclamar os direitos de Maria II de Portugal, embora se receasse a
reação do Governador-geral miguelista, então em Ponta Delgada. O Capitão-mor de Santa Maria
chegou a fretar um navio para ir buscar auxílio de armas e munições à Regência de Angra, na ilha Terceira, mas nesse ínterim, a ilha de São Miguel já
havia caído nas mãos dos liberais (2 de Agosto de 1831) e, no mesmo dia, a rainha foi
aclamada em Vila do Porto.
No ano seguinte, daqui partiram muitos jovens para a expedição que desembarcou no Mindelo (Julho de 1832), tendo se
destacado o alferes Floriano Ferreira, condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, e o graduado Francisco Baptista, tio materno do futuro presidente Teófilo Braga.
Desde
junho de 1832 a ilha tornou-se o local de exílio para presos políticos -
oficiais ao serviço de Miguel I de Portugal no arquipélago,
detidos pelo conde de Vila Flor e julgados em Conselhos de Guerra. Sentenciados a
penas que variavam de dois (44 oficiais) a quatro anos (17 oficiais), viriam a
receber amnistia assim que se decidiu a luta no continente.
No segundo quartel do século XIX existiu um estaleiro em Vila do Porto, no Calhau da Roupa, onde
eram construídas embarcações de mais de cem toneladas, galeras, escunas e patachos,, empregando calafates vindos de Vila do Conde.
Com o retorno dos emigrantes dos Estados Unidos, com alguns
recursos, os chamados "Calafonas" o ciclo
da riqueza inverteu-se.
A grande propriedade agrícola começou a dividir-se, de tal modo que, em 1850 existiam apenas quatro morgados para mil e cinquenta e um casais e cinco mil e seiscentos e noventa e um habitantes. Desse modo, o período é marcado por algum progresso em termos de agro-pecuária, com a introdução de novas raças de gado bovino, a melhoria das pastagens e a introdução de novas e variadas plantas, hortenses e frutícolas, do que resultou uma nova fase de progresso e riqueza para a maioria da população.
A grande propriedade agrícola começou a dividir-se, de tal modo que, em 1850 existiam apenas quatro morgados para mil e cinquenta e um casais e cinco mil e seiscentos e noventa e um habitantes. Desse modo, o período é marcado por algum progresso em termos de agro-pecuária, com a introdução de novas raças de gado bovino, a melhoria das pastagens e a introdução de novas e variadas plantas, hortenses e frutícolas, do que resultou uma nova fase de progresso e riqueza para a maioria da população.
Chaminé típica de Santa Maria |
No tocante à cultura da vinha, cujas cepas eram originárias da Europa e da Madeira, à semelhança do que ocorreu no restante do
arquipélago, a segunda metade do século foi marcada pelos ataques do oídio ("Uncinula necator") e da filoxera, sendo necessário substituí-las pela
variedade americana "Isabella" (uma variedade da "Vitris Labrusca"), passando-se a produzir o
chamado vinho de cheiro.
No plano demográfico, continuou a emigração para o Brasil e os
Estados Unidos, iniciando-se um novo fluxo, agora para as ilhas do Havai, em viagens que
duravam seis meses. Em termos urbanísticos, foram abertas as principais estradas
que passaram a ligar as freguesias, assim como construído o cais de Vila do
Porto, único porto comercial da ilha, cujas obras se iniciaram em 1874, sob a direção do engenheiro Jacinto Cabral.
À introdução de novas culturas agrícolas e
à ampliação da rede viária na ilha liga-se o nome do morgado Laureano Jorge Pinto da Câmara Falcão, enquanto deputado às Cortes de Lisboa.
No plano cultural, publicam-se em 1885 os
primeiros periódicos na ilha: o "O Mariense" (9 de Abril) e o "Corrreio
Mariense" (3 de Outubro).
O século XX
Em 1901 a ilha recebeu a visita de Carlos I de Portugal e sua esposa, a rainha D. Amélia, cumprimentados pelo então
Presidente da Câmara Municipal, Comendador Albino Pereira.
Padrão Augusto Castilho |
Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a ilha passou
a acolher, já ao final do conflito, muitos náufragos, vítimas dos ataques de
submarinos alemães, com destaque para os do NRP Augusto de Castilho,
episódio recordado pelo padrão erguido no terrapleno do forte de São Brás em
Vila do Porto.
Em 1929, o periódico local "O Baluarte", registava o sobrevôo do LZ 127 Graf Zeppeling à ilha:
"Ontem à tarde, por cerca de 19h15 minutos, a população desta ilha foi surpreendida pela maravilhosa visão dum Zeppelin que por sobre esta ilha passou na direção leste para sudoeste. O dirigível que seguia numa marcha lenta, dava-nos a impressão de que navegava à altura de cerca de 350 metros. Foi um espetáculo inédito para o povo mariense este da passagem da grandiosa aeronave que sabemos ser o 'Conde Zeppelin' que segue naturalmente para a América."
O Aeroporto de Santa Maria, iniciado em 1944, ao final da Segunda Guerra Mundial, foi inaugurado a 26 de Julho de 1945, tendo transitado para a gestão do Estado português a 2 de Junho de 1946.Foi também apenas na década de 1940 que a ilha foi ligada por telefone à vizinha ilha de São Miguel.
A segunda metade da década de 1950 na ilha foi marcada pela
escala do presidente eleito da República do Brasil, Juscelino Kubitschek (Janeiro de 1956, pela
visita do presidente da República, General Craveiro Lopes (21 de Julho de 1957), e pela tragédia
do navio de cabotagem inter-insular "N. M. Arnel", da Empresa de Navegação Insulana. Na madrugada do dia 18 de Setembro de 1958, cerca de 5:30h, a embarcação encalhou no
baixio dos Anjos. Encontravam-se a bordo 138 passageiros e 25 tripulantes, tendo
o pânico resultante causado a morte de 14 pessoas.
Poucos anos mais tarde, um outro acidente marítimo marcou Santa Maria: o
encalhe, na ponta do Marvão, do petroleiro norueguês "Velma". A embarcação, fretada pela Mobil Oil, transportava da América Central onze milhões de litros de combustível para aviação (JP-1), para abastecimento do Aeroporto de Santa Maria..
A 1 de Fevereiro de 1961, a embarcação encalhou
num baixio à entrada do porto de Vila do Porto,
pelo lado da ponta do Marvão. Esperou-se que com a subida da maré o navio viesse a soltar-se, o que não aconteceu, permanecendo este com a popa sobre a baixa. Dias mais tarde, a 18 de Fevereiro de 1961, com mau tempo, a embarcação começou a derramar óleo no mar, vindo a partir-se em duas.
pelo lado da ponta do Marvão. Esperou-se que com a subida da maré o navio viesse a soltar-se, o que não aconteceu, permanecendo este com a popa sobre a baixa. Dias mais tarde, a 18 de Fevereiro de 1961, com mau tempo, a embarcação começou a derramar óleo no mar, vindo a partir-se em duas.
A tripulação, de 45 homens, foi
evacuada sem incidentes.
Foram recuperados apenas cerca de 300 a 400 mil litros de combustível: o restante perdeu-se no mar. Diante do risco à navegação causado pelos destroços, grande parte dos mesmos foi desmantelado e removido nos anos seguintes, por uma empresa que exportou a sucata que conseguiu recuperar.
Foram recuperados apenas cerca de 300 a 400 mil litros de combustível: o restante perdeu-se no mar. Diante do risco à navegação causado pelos destroços, grande parte dos mesmos foi desmantelado e removido nos anos seguintes, por uma empresa que exportou a sucata que conseguiu recuperar.
A ilha foi palco ainda, em 8 de Fevereiro de 1989, do choque de uma aeronave Boieing 707 contra o Pico Alto, tendo perecido 144 pessoas, sem sobreviventes, no que foi considerado, à época, o "o maior desastre aéreo ocorrido em território nacional".
Em 17 de Janeiro de 2008 foi inaugurada
na ilha uma base operacional da Agência Espacial Europeia (ESA)
com a função de fazer o rastreio de lançamentos a partir do porto espacial
europeu em Kourou na Guiana Francesa.
Fonte:Wikipédia
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