Foi isso que se passou em Angra – chamava-se assim, apenas –, durante a guerra civil que atravessou Portugal entre 1828 e 1834, pondo o país a ferro e fogo e transformando esta pequena e orgulhosa cidade do Atlântico, quase da noite para o dia, em capital do Reino de Portugal, partidária da causa Constitucional e de uma jovem rainha, D Maria II e numa base militar.
Por detrás de tudo isso estavam dois príncipes irmãos, Pedro e Miguel, semelhantes, em muito, nos modos de ser, mas diferentes na estrutura de pensamento e ideais.
Pedro conseguira a independência do Brasil, que transformara em Império e a quem outorgara uma Constituição. Agora tinha sido chamado a defender os mesmos princípios constitucionais e liberais, no velho reino de Portugal, onde fervilhavam as consequências das invasões francesas e da presença, abusiva, das tropas inglesas.
Miguel era, por sua vez, fervoroso defensor de um governo mais tradicional, na linha dos partidários do antigo regime, regressados em força após a queda de Napoleão. Em Portugal o povo, sobretudo rural, mas onde se incluíam muitos intelectuais de pensamento monárquico absolutista, estava completamente do seu lado.
Miguel toma o poder em Lisboa, em Junho de 1828 e, de súbito, muitos defensores das ideias liberais e constitucionais começam a arribar à Terceira, apoiados localmente por um núcleo liberal decidido e mesmo sabendo que a generalidade da população era “miguelista”.
Serão cinco anos de batalhas e escaramuças, alterações legislativas profundas, moedas feitas de sinos, conventos extintos, militares aboletados, quartéis por todo o lado, guerrilhas aventurosas, um cerco inglês sem fácil explicação, casas queimadas para servir de exemplo a quem se opunha, saraus literários.
Angra e a ilha Terceira foram, assim, arrastadas para o centro de uma luta que envolveu Portugal, Brasil, e os interesses de potências estrangeiras como a França e a Inglaterra. Ao final acabaria por mudar de nome, passando a ser Angra do Heroísmo e a Praia passaria a ser Praia da Vitória.
A “ratoeira”, como lhe chamavam os miguelistas e descrentes, transformara-se no “rochedo da liberdade”. A pirâmide amarela, ao cimo do outeiro, é “Memória” do que foram esses anos verdadeiramente loucos e de como a liberdade Constitucional foi alcançada, em Portugal.
Fonte: Explore - Terceira
Postais: Coleção particular
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