terça-feira, 26 de novembro de 2019

Victor Rui Dores

Victor Rui Dores


Victor Rui Ramalho Bettencourt Dores  nasceu em Santa Cruz, ilha Graciosa, a 22 de Maio de 1958.

É um professor, escritor, actor, encenador, poeta, ensaísta e crítico literário açoriano, que também se dedica à etnomusicologia e aos estudos etnográficos e linguísticos.


Biografia

Victor Rui Ramalho Bettencourt Dores nasceu no dia 22 de maio de 1958, na vila de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Açores.
Em 1968 mudou-se com a família para a ilha Terceira, onde permaneceu até 1978. Em 1977 concluiu os estudos liceais no então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo.
Em 1982, obteve a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Ingleses e Alemães), pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Cumpriu o serviço militar obrigatório na Força Aérea entre 1983 e 1985 nas Bases militares da OTA, Tancos e Lajes, com as patentes de aspirante e alferes.
Possui Certificado de Estatuto de Formador, conferido pela Direcção Regional da Educação e Formação, nas áreas: Didácticas Específicas (Inglês/Alemão) e Expressão Dramática.


Actualmente desempenha a função de professor do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), na cidade da Horta.


No dia 21 de maio de 2018 foi-lhe atribuída a Insígnia Autonómica de Reconhecimento.

Funções Públicas e Colaborações

Entre Setembro de 1997 e Julho de 2004 exerceu o cargo de Presidente da Comissão Executiva Provisória do Conservatório Regional da Horta.
É representante da Região Autónoma dos Açores, desde 1998, no Conselho Nacional de Educação. Também desde 1998, exerce o cargo de Presidente da Assembleia Geral da "Azórica", Associação de Defesa do Ambiente.
No campo da linguística, pesquisa, há mais de 20 anos, os sotaques, as pronúncias e as variantes dialetais das nove ilhas açorianas.
Colabora frequente com crónicas publicadas em jornais e revistas regionais, nacionais e da Diáspora. É autor e colaborador de vários programas de índole cultural no centro regional dos Açores (RTP Açores), bem como em outros meios de comunicação social e açorianos.


Está ligado à arte teatral como actor, estando integrado no grupo de teatro "Carrocel", ocupando igualmente o cargo de Presidente da Direcção. Desde 1988 é autor de peças e encenador no grupo de teatro "Sortes à Ventura", da Escola Secundária Manuel de Arriaga.


Entre 2004 e 2007 foi membro da comissão editorial do Boletim do Núcleo Cultural da Horta.



Em 2010, escreveu o documentário "Um Idealista Chamado Manuel de Arriaga", produzido pela delegação do Faial da RTP Açores. No documentário que assinalou o centenário da República Portuguesa, Victor Rui Dores interpretou a figura do primeiro Presidente da República Portuguesa.




É frequentemente convidado a escrever, em parceria com Antero Ávila, letra e música de marchas que desfilam nas Festas Sanjoaninas de Angra do Heroísmo. 


Foi o responsável pela introdução da Marcha da Semana do Mar, aquando da realização desta festa que anualmente decorre na cidade da Horta. Assumiu, por diversas vezes, a autoria da letra da referida marcha.

A escrita de Victor Rui Dores

A sua estreia literária fez-se com um livro de poesia. Esta voltaria com Entre o Cais e a Lancha (1990), onde está patente um lirismo construído sobre uma rede de signos de referência insular, e com À Flor da Pele (1991), obra aberta à expressão da vertente erótica.
Na narrativa, Grimaneza revela-se como uma incursão no género contista, com um balanceamento entre a crónica e a ficção à mercê de um universo de pequenos acontecimentos de uma regularidade quotidiana quebrada, às vezes, por inesperadas manifestações de violência. Esses dois registos são também observáveis em Histórias com Peripécias (1999), em que se assiste ao reconto de episódios de cariz anedótico e onde é possível encontrar memórias da infância e da adolescência do autor, mas também elementos de um passado colectivo associado às vivências da Graciosa e de Angra do Heroísmo dos anos 60 e 70. A temática da memorização está presente também em Em Bons Tempos (2000).
Num plano diferente enquadra-se Sobre Alguns Nomes Próprios Recolhidos na Ilha Graciosa, que resulta de uma pesquisa e inventário de uma parte da onomástica graciosense, articulando um pendor arcaizante com uma influência brasileira por via da emigração açoriana dos séculos XVIII e XIX, e cujo declínio começa a manifestar-se a partir de meados do século XX.

Obras

  • Poemas de Fogo e Mar (poesia), 1978
  • Grimaneza (contos), 1987
  • Entre o Cais e a Lancha (poesia), 1990
  • À Flor da Pele (poesia), 1991
  • Sobre Alguns Nomes Próprios Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio), 1991
  • Histórias com Peripécias (crónicas), 1999
  • Bons Tempos (crónicas), 2000
  • Açores, as Ilhas Ocidentais – Azores, the Western Islands (álbum fotográfico), 2000
  • A Valsa do Silêncio (romance), 2005
  • A Graciosa Ilha (álbum fotográfico), 2009
  • O Ouvido que Escreve (poesia), 2017

Antologias

  • Cadernos Colectivos de Poesia – Antologia organizada por Emanuel Jorge Botelho, 1979
  • O lavrador de ilhas, de Santos Barros, 1981
  • Toda e qualquer escrita, de João de Melo, 1982
  • A questão da literatura açoriana, de Onésimo Teotónio Almeida, 1983
  • Antologia Poética dos Açores, 2.º Volume, de Ruy Galvão de Carvalho, 1984
  • Os Nove Rumores do Mar, de Eduardo Bettencourt Pinto, 1999
  • On a Leaf of Blue: Bilingual Anthology of Azorean Contemporary Poetry, tradução e organização de Diniz Borges, 2003
  • Nem Sempre a Saudade Chora – Antologia de Poesia Açoriana sobre Emigração, Seleção, Introdução e Notas de Diniz Borges, 2004
  • “XX3X20” 20 pinturas/20 melodias/20 poemas, 2005
  • Voices from the Islands, an Anthology of Azorean Poetry, John M. Kinsella, 2007



Distinções

  • Cidadão Honorário da Ilha Graciosa (Agosto de 2004)
  • Homenagem pública Câmara Municipal da Horta (Julho de 2006)
  • Insígnia Autonómica de Reconhecimento (Maio de 2018)




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*** ARTE DE SER TERCEIRENSE ***

Assim escreveu Victor Rui Dores, in DI (09-SET-2012).
"Um dia saí da Terceira, mas a Terceira não saiu de mim. Gosto incondicionalmente desta ilha, porque foi aqui que dei os passos decisivos da minha vida.
A Terceira é muito mais do que o Monte Brasil, o Castelo de S. João Baptista, o Algar de Carvão, a Serra do Cume, a Base das Lajes, o jardim Público de Angra de Heroísmo ou o vasto areal da Praia da Vitória. Esta ilha não é só a alcatra, a belíssima doçaria conventual ou o delicioso vinho dos Biscoitos. A Terceira é um estado de espírito, um modo de ser, um sentimento. Talvez de amor. Porventura de paixão. Certamente de afeto.
O terceirense cultiva a alegria, é acolhedor e comunicativo, vibrante e afável, sincero e solidário. Ele é a sentinela de atalaia ao seu passado histórico e heroico, revelando um pátrio amor à sua ilha. E é óbvio: o terceirense orgulha-se da sua "muito nobre, leal e sempre constante cidade de Angra", de cunho senhorial e bela traça renascentista, duas vezes capital do Reino, porque aqui já foi só Portugal: na resistência ao domínio filipino, e durante as lutas liberais. Hoje Angra do Heroísmo é património mundial e capital histórica e cultural dos Açores.
Contrariamente ao micaelense, mais afeito à tristeza dos romeiros da Quaresma ou à carga penitencial do culto de Santo Cristo, o temperamento do terceirense é lúdico e dionisíaco.
Com efeito, não conheço povo mais exuberante, festivo e festeiro. A sociabilidade é, na Terceira, uma arte com refinado estilo. O terceirense atira-se de alma e coração ao convívio. Mais do que qualquer outro açoriano, ele tem um espírito festivo. E a alma da Terceira encontrou no toiro embolado e amarrado pelo pescoço o pretexto para a festa, sobretudo o 5º toiro... Sim, a tourada à corda é a festa coletiva da ilha Terceira e é o espaço de todas as conversas, de todos os afetos e de todos os reencontros.
Quem é da Terceira faz a festa não para a interpretar, mas para a viver. Identifica-se incondicionalmente com a festa taurina (touradas de corda, de praça e "espera de gado"), e com as festividades do povo e para o povo: as festas do Espírito Santo, o despique das cantorias, a comicidade hilariante dos bailinhos de Carnaval, o frémito das Sanjoaninas e das Festas da Praia e tudo o que sejam eventos religiosos e profanos. O que ele quer é festa porque a festa está-lhe na alma e corre-lhe nas veias. E o seu amor é "firme e constante", como diz a moda regional. Gosta de música e de teatro popular e, entre folias e folgas, prefere as folgas...
De resto, a Terceira, ilha agropecuária, é a hospitalidade da porta aberta e luz acesa - a casa aonde chego, vou abrindo e entrando: "Dão licença"? Resposta: "É entrar p´ra dentro". Como eu gosto e me identifico com esta brava gente da fraterna simpatia: os Andrades, os Barcelos, os Bettencourts, os Bretões, os Borbas, os Borges, os Coelhos, os Cotas, os Coutos, os Drummonds, os Fagundes, os Fourniers, os Godinhos, os Linhares, os Machados, os Martins, os Mendes, os Menezes, os Monjardinos, os Noronhas, os Pamplonas, os Pains, os Parreiras, os Regos, os Rochas, os Sieuves, os Silvas, os Sousas, os Valadões, os Vieiras, entre muitas outras famílias terceirenses.
Mas o "rabo torto" também tem lá as suas artimanhas: é pagão quando lhe interessa e religioso quando lhe dá jeito... No seu estudo "O Açoriano e os Açores" (1), escreve Vitorino Nemésio: "O que no micaelense é aspereza, índole tenaz mas tosca, no terceirense é amenidade, alguma manha, e principalmente uma bizarria que trai a coabitação com o castelhano durante meia centúria". Ou seja, o terceirense tem as qualidades dos seus defeitos...
Dotado dessa "bizarria", o terceirense é galante, tem um jeito marialva e resquícios de alguma nobreza perdida. Um ditado açoriano muito antigo assim reza: "S. Miguel, burgueses ricos; Terceira, fidalgos pobres; Faial, contrabandistas espertos".
E as terceirenses? São afoitas e literalmente bonitas, aliás, a Terceira tem justa fama de possuir as mulheres mais belas dos Açores. É discutível, mas é verdade. No Verão de 1924, tirando notas para o seu magnífico livro As Ilhas Desconhecidas (2), Raul Brandão fala da beleza da mulher terceirense nos seguintes termos: "Foi aqui que vi as mais lindas figuras de mulheres dos Açores - tipos peninsulares, de cabelos negros e olhos negros retintos".
(Vai para 40 anos que também eu, na "ilha de Jesus", me apaixonei por uns olhos negros, negros...).
Posso estar muito enganado, mas sinceramente continuo a achar que o melhor que a Terceira tem são os terceirenses."
(1) Sob os Signos de Agora, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1995.
(2) Edição de Artes e Letras, Nova Gráfica, 2009.
Ao Victor Rui Dores roubo-lhe as palavras, são minhas também.
Foto de Duarte Diniz. A Memória. O símbolo que exprime o conceito de um povo livre e bravo, não submisso.





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