A localização geográfica das Ilhas dos Açores no Oceano Atlântico Norte fez deste Arquipélago um ponto fulcral e geoestratégico, crucial no aprovisionamento de matérias primas e de víveres a navios
A correspondência entre os homens transportam o pensar e agir de quem transpôs para o papel o que transmitir ao destinatário. Nos seus textos encontramos amor - quem nunca escreveu a sua primeira carta de amor! - e desventuras; informações simples, dum quotidiano que se pretende partilhar, e relatórios que decidem do futuro dos reinos; uma grande vontade de comungar alegrias e uma ansiedade de receber informações que nos deem força para viver.
Imaginem marinheiros encerrados por tempo indeterminado num barco ou submarino. A crescente autonomia de navegação dispensava-os cada vez mais de abastecimento nos portos. Estava-lhes coartada a possibilidade de enviar e receber correspondência, pelo menos com a frequência que desejariam e pelas formas que lhes permitissem expressar em plenitude os seus sentimentos. Em período de guerra toda esta situação se agravava.
Os dias são longos, plenos de ansiedade e vontade de comunicar com familiares e amigos. Vai-se escrevinhando palavras que são sentimentos em brasa. Ignora-se quando esses gritos cravados no papel poderão chegar ao seu destinatário. Em períodos de guerra sê-lo-ia sempre difícil porque nesses tempos conturbados as cartas perdem-se em acidentes, extraviam-se com a desorganização, são sujeitas a censura.Se as anedotas mostram frequentemente um habitante isolado numa minúscula ilha enviando a sua mensagem dentro de uma garrafa, porque não haveriam esses marinheiros que utilizar um procedimento semelhante?
Imaginem agora os pescadores açorianos, praticando uma pesca tradicionalmente difícil e pobre. Qual não teria sido o seu espanto quando encontraram a flutuar uma carta e algum dinheiro. Já que o acaso assim os levava a tão estranha descoberta e o amor ao próximo está acima das querelas que os homens fomentam, porque não colocá-la, como deve ser, no correio.
Se os tempos vão maus e a prática de por aqui deixar cartas se está a tornar hábito, se as formas de sinalização permitem uma descoberta cada vez mais fácil e o dinheiro deixado a mais dava tanto jeito nas parcas economias domésticas, porque não estar atento e entre dois lançamentos dos aparelhos, fazer a sua procura? Recolher cartas, quando a fortuna lhes sorria, tornou-se boa pesca.
Este sistema de enviar correio por meio de bóias nos Açores manteve-se desde o início da década de 30 até 1996/97."
O artigo de Leão refere ainda dois outros factos curiosos:
Este correio de bóia nos mares dos Açores tornaram-se uma das coleções mais interessantes de História Postal recente. De curiosidade que um ou outro procurava estudar transformou-se num acontecimento filatélico mundial. Sobre esta matéria foi editado um livro, (GASPAR, Manuel Vieira, As Bóias de Correio no Mar dos Açores e outras Histórias, 2ª Edição, Revista e Aumentada, 2000, Ponta Delgada, Núcleo Filatélico "O Milhafre", 2 Volumes).
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