nasceu em Fevereiro de 1950, na localidade da Fazenda, concelho de Santa Cruz das Flores. Reside na ilha Terceira desde 1983.
Iniciou a sua vida profissional aos 19 anos e desempenhou diversos cargos de chefia administrativos na administração pública. Aposentada desde 2005, passou a dedicar-se ao coleccionismo e à escrita. Autora de imensos poemas, escritos ao longo da vida.
Maria de Lurdes de Mendonça Ramos de Freitas
nasceu em Fevereiro de 1950, na localidade da Fazenda, concelho de Santa Cruz das Flores. Reside na ilha Terceira desde 1983.
Iniciou a sua vida profissional aos 19 anos e desempenhou diversos cargos de chefia administrativos na administração pública. Aposentada desde 2005, passou a dedicar-se ao coleccionismo e à escrita. Autora de imensos poemas, escritos ao longo da vida.
Profanadores de todos os
saberes, eles sabem que as palavras se corrompem no comércio quotidiano das
gentes. Por isso recuperam, transfiguram e subvertem essas palavras. Porque
sabem que a poesia não explica, implica; o poema não afirma, sugere. O
significado da imagem poética remete-nos sempre para um esfíngico segredo e
para uma forte ambiguidade. Nesta perspectiva, a poesia será sempre uma
tentativa de compreender o incompreensível.
Bilhete Postal Máximo |
Ao leitor é
lançado um desafio: o de descortinar o lado de lá da neblina do verso. Isto é, ele terá de ser capaz de
decifrar e descodificar o(s) sentido(s) do poema, para que assim aconteça a
fruição do texto. Ao poeta cumpre o ofício de
lapidar a palavra exacta e essencial, e nela encontrar os ritmos e as
pulsações, os silêncios e as sonoridades. Sendo um (incansável) trabalhador da
palavra, ele não deixará nunca de
observar e dissecar a sua vida (a sua alma) – como Vernet agarrado ao mastro
do navio para estudar a tempestade…
Selo comemorativo |
Florentina de
há muito radicada na ilha Terceira, Lurdes Freitas é uma “andarilha”
contemplativa e impressionista que, qual outro Vernet, empreende neste livro de
estreia poética, De basalto e mar (2019), uma viagem interior numa espécie de
inquérito ao subconsciente. E, “alma divagante”, colhendo impressões do que vê,
sente e pensa, ela procura na viagem não o destino, mas a sua própria natureza.
Isto é: a viagem como forma de procura e de descoberta, sendo a errância a
busca do sonho e da felicidade possível.
Livro de
sonhos e memórias, de olhares e impressões, de entimentos, emoções e estados
de alma, estamos perante uma poética da intimidade, da expressão lírica, com
versos certeiros e harmoniosos, de boa ressonância musical.
“À deriva” e a contas com a usura do tempo (cf. o poema
“Eternidade”), o sujeito da
enunciação fala-nos de uma inquietação metafísica e existencialista, de que é exemplo o poema “Dúvida” e que
assim começa: “Hoje dei por mim a pensar/ se existo, como supunha,/ se estou
no fim, no início,/ ou no meio de coisa nenhuma” (pág…..). Por outro lado,
estamos perante um jogo de máscaras e espelhos em que se questiona o enigma, o
mistério e as contradições da existência humana. (Cf. “Circo de fogo”,
excelente poema).
Todas as ilustrações são do artista Helder Tavares |
De resto, a
poesia tem, na sua origem, uma vocação cantante. Foi assim com os Gregos. Foi
assim com a poesia trovadoresca. E, nesta matéria, carradas de razão tem Paul
Eluard: “A poesia é a linguagem que canta”.
Numa escrita insulada e telúrica, De basalto e mar é atravessado por
três grandes linhas de força: a ilha (enquanto terra-mater insular), a solidão e o amor.
Espaço
imagético e afectivo, a ilha, geradora de mitos, mistérios e fascínios, está
sempre presente nos versos desta autora, que estabelece com a ilha uma identidade, uma identificação e uma
comunhão. E, através do acto de nomeação, ela dá verdade e simbolismo poético à
ilha: “mar”, “maré cheia”, “vazante”, “espuma”, “basalto”, “lava”, “cais”,
“praia”, “búzios”, “conchas”, “nuvens”, “gaivota”, “garajau”, “ganhoa”… Todos
estes elementos não estão aqui a servir de mero
décor – funcionam como uma celebração
poética da vida.
Carimbo comemorativo |
Para além
desta captação sensorial da ilha, há também um sopro de solidão, silêncio e
saudade que atravessam as páginas deste livro. À solidão está associada o amor
perante o qual o eu poético é um ser solitário. Buscando o inatingível e
aspirando ao impossível estado de alma, a poeta idealiza o amor como um
sentimento absoluto; depara, porém, com um amor perdido, sempre interiorizado e
pressentido…
De
basalto e mar remete-nos para a consciência do próprio acto poético
(cf. o poema “Ideal”) em que “Outono” rima com “abandono”, numa poética que
dialoga com outros autores (Fernando Pessoa, António Aleixo, Vitorino Nemésio)
e se confronta e defronta com as quotidianas vicissitudes do mundo – renúncia
às verdades ilusórias, denúncia dos males que nos rodeiam (Cf. o “Poema a uma
baleia que comia plástico”).
Bilhete Postal |
São versos bem
carpinteirados, forjados à luz do real e da fantasia, do vivido e do sentido.
Gostei incondicionalmente desta poesia despojada, espontânea e emotiva,
iluminada e fascinante, de grande serenidade, sem artifícios e sem desvios, com enorme
poder de irradiação e encantamento. Apreciei, como acima referi, a incidência
no elemento vocal e sonoro desta linguagem poética (sobretudo a musicalidade
das sílabas tónicas). Acima de tudo encontrei, neste livro, o lado silencioso
de Lurdes Freitas, que escreve com os cinco sentidos e com os olhos da memória.
Temos
Poeta!
Victor
Rui Dores
Bilhete Postal comemorativo
Rubricado por:
Dr. Victor Rui Dores - Que prefaciou e foi o apresentador
Sr. José Gaspar de Lima - Vice-presidente da CM de Angra do Heroísmo
Sr. Alcino Meneses - Presidente da Direcção da AHBV de Angra do Heroísmo
Sra. Maria de Lurdes Freitas - autora do livro
02-02-2020
(Sessão de Autógrafos)
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