terça-feira, 28 de março de 2023

SABRINA (a 10.ª Ilha)

 

A erupção da ilha Sabrina, desenhada a 19 de junho de 1811, pelo tenente John William Miles, da guarnição do HMS Sabrina. Note-se a tromba de água a ré do navio.

Um Vulcão Inglês nos Açores

Artigos » Victor Hugo Forjaz » 29:11:02

A colonização de algumas das ilhas dos Açores foi notavelmente perturbada pelo “reacordar” de diversos vulcões terrestres e submarinos.

A atividade vulcânica, apesar de temporalmente mais espaçada do que a sísmica, conduziu a sociedade insular a períodos dolorosos registados nos mais variados documentos.

Porém algumas dessas trágicas épocas encontram-se recheadas de eventos pitorescos sendo um deles as aventuras e desventuras dos tripulantes da fragata inglesa Sabrina, em 1811, comandada pelo capitão Tillard, homem de escassos receios , de algum gosto pela aventura mas também pouco consciente dos perigos duma erupção submarina.


Aguarela mostrando a erupção com o perfil e planta da ilha Sabrina.
 A 
abertura do anel estava voltada para a costa de São Miguel.



A fragata Sabrina, um belo veleiro da frota imperial, arribou a Ponta Delgada no dia 12 de Junho de 1811, bordejando a ilha de S. Miguel por sudoeste. Os tripulantes observaram fumarada á superfície do mar por fora do Pico das Camarinhas e as águas do oceano encontravam-se decerto descoloridas e manchadas com peixe morto.

Mr Tillard desembarcou nesse mesmo dia e foi visitar o consul inglês Mr Read entidade que o informou dos sismos sentidos na ilha, especialmente na região sudoeste das Sete Cidades, na erupção do ano anterior e nas fendas abertas nos Mosteiros, fenómenos que colocaram a ilha em pânico e a população em longas rezas e promessas.

Tillard não se atemorizou pois, no dia 14 de Junho, desembarcou novamente, arranjou cavalos e partiu para os Ginetes, não se esquecendo de almoço e de escolta. Observou o fenómeno, interrogou as gentes e ainda teve tempo para abancar pois dizem as crónicas que, enquanto almoçava, aconteceu abalo tão violento que uma parte importante da falésia que estava próxima do repasto se foi pelo mar abaixo…


2009 - Selo Personalizado
Emissão do Museu Luso-Alemão
 ( Rainer Daehnnardt)



Tillard deve ter ficado excitadíssimo com os cheiros fedorentos de enxofre, com as descargas elétricas e com os altos rolos de cinzas e de vapores pois, no dia seguinte, quinze, levantou ferro e foi ver o vulcão de noite com uns amigos, operação arriscada que não teve sucesso devido ao tempo. O capitão não esmoreceu e manteve-se informado sobre o vulcão, fenómeno que nunca dantes vira e que agora o apaixonava.


2009 - Bilhete-postal com o Selo Personalizado
Emissão do Museu Luso-Alemão
 ( Rainer Daehnnardt)



A 4 de Julho o vulcão parou subitamente e deixou de existir o tremor contínuo e pouco acelerado que havia nos Ginetes desde inícios de Junho. O tempo também se encontrava favorável a mais uma expedição. Desse modo Tillard convidou os cônsules seus amigos para a fase seguinte, ou seja, rodear a ilha, desenhá-la e …conquistá-la!!

Assim se fez; arriaram um bote, remaram em águas ainda quentes, encalharam o bote numa praia de areias negras e fumegantes, abalançaram-se terra dentro e ali fincaram, o mais alto possível, a bandeira inglesa, símbolo do Império e marco miliário de mais uma conquista.

2009 - Bilhete-postal
Emissão do Museu Luso-Alemão
 ( Rainer Daehnnardt)




A ilhota estava a cerca de 1 milha náutica de terra, tinha quase 50 braças de altura, uma milha de perímetro e a forma de anel rebaixado para a ilha-mãe (S. Miguel) tal como hoje o ilhéu de Vila Franca.

Há 4 anos localizei, com exatidão o baixio da ex-ilha britânica Sabrina, apenas com 75 de água, sobressaindo de fundos de 350 metros inclinados para sudoeste, libertando densas bolhas de gases.


2011 - Selo personalizado
Farol da Ferraria
(Ginetes - São Miguel)



A história da Sabrina (exemplo da ganância inglesa…) é bem mais apaixonante e deixou marcas para a posteridade...Só desse modo se explica porque Urbano Carrasco, famoso jornalista do Diário Popular e Carlos Peixoto, faialense dos quatro costados, arriaram um pequeno bote no porto do Comprido e, em manobra tresloucada, mas emocionante, foram espetar a bandeira portuguesa na ilhota dos Capelinhos, numa manhã de Outubro de 1957.


2007 - Vulcão dos Capelinhos (Faial)
Bloco filatélico (emissão CTT)


Receavam que a denominada Ilha Nova se tornasse estrangeira, tal como a Sabrina.


Eu ia fazer 17 anos, assisti a tudo e ainda hoje pergunto como escaparam!!




Victor Hugo Forjaz





1 comentário:

  1. E a ilhota de 1720-23, hoje conhecida como bando D joão de castro

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