Brasão de Armas dos Condes da Praia da Vitória |
Os Condes da Praia da Vitória
1º. Conde da Praia da Vitória |
Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara (Angra, Palácio de Santa Luzia, 25 de Abril de 1807 - Angra do Heroísmo, Palácio de Santa Luzia, 25 de Outubro de 1870), 1.º Visconde de Bruges e 1.º Conde da Praia, de seu nome completo Teotónio Simão
de Ornelas Bruges Paim da Câmara de Ávila e Noronha Ponce de Leão Borges de
Sousa e Saavedra, foi um notável vulto da história local terceirense e da
história nacional que desempenhou um papel determinante no sucesso da causa
liberal nos Açores e no arranque do processo que levaria à vitória do
liberalismo na guerra civil portuguesa.
Sendo um rico terratenente da
ilha Terceira, a sua adesão foi
determinante no sucesso da causa liberal na ilha. Liderou, com apenas 21 anos de
idade, o movimento político-militar de 22 de Junho de 1828 que restaurou o liberalismo na Terceira e abriu
caminho para que a ilha se transformasse no trampolim a partir do qual a causa
liberal se imporia em Portugal. Encarregue de diversas missões determinantes
para o sucesso da causa e seu principal financiador, foi por duas vezes
Secretário de Estado dos Negócios da Guerra do governo da Regência de Angra. Posteriormente, ocupou diversos
cargos governativos nos Açores, entre os quais presidente da Câmara Municipal
de Angra do Heroísmo, sendo nessa função o primeiro presidente de Câmara eleito
no país, e administrador-geral do Distrito de Angra do Heroísmo.
Fragata "Amazona" |
Foi
eleito deputado às Cortes para a legislatura de 1834 A 1836 pela Província Ocidental dos Açores,
sendo entretanto feito Par do Reino a 1 de Outubro de 1835, um dos primeiros a receber tal distinção após a
implantação da Monarquia Constitucional. Era figura destacada da Maçonaria.
Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara nasceu na freguesia de Santa Luzia, da cidade de Angra, a 25 de Abril de 1807, filho de André Eloy Homem da Costa Noronha e de
Rita Pulquéria de Ornelas Bruges Paim da Câmara, ambos da melhor aristocracia
açoriana.
1810 - Relação dos Deportados |
A sorte fez de Teotónio o herdeiro de pelo menos 25 vínculos diversos,
criando nele o maior morgado terceirense e o mais rico terratenente da ilha.
Esta posição transformou-o no mais influente homem da ilha, já que contava entre
os seus rendeiros e foreiros boa parte dos lavradores terceirenses.
Cedo aderiu à causa liberal, provavelmente por convívio com os deportados
trazidos para Angra pela fragata Amazona. A sua riqueza permitindo-lhe
ocupar rapidamente lugares de liderança entre os poucos liberais da ilha. Essa
posição permitiu-lhe, com apenas 21 anos de idade, ser o líder incontestado da revolta liberal de Angra, um
movimento político-militar que com a colaboração do Batalhão de Caçadores nº. 5, então
aquartelado no Castelo de São João Baptista do Monte
Brasil, restaurou a 22 de Junho de 1828 o liberalismo na Terceira.
D. Maria II |
Quando a Terceira ficou isolada como único bastião liberal da monarquia portuguesa, com um governo totalmente desprovido de recursos, empenhou toda a sua fortuna na defesa da causa do liberalismo, sustentando à sua custa as tropas aquarteladas na ilha e mantendo o funcionamento da estrutura administrativa até que fosse possível a chegada de reforços. Apesar da sua juventude, foi-lhe por duas vezes confiado cargo de Secretário de Estado dos Negócios da Guerra do governo da Regência de Angra, sendo nessas funções responsável pela manutenção das forças sitiadas na ilha.
Quando em 1831 se tornou necessário enviar uma
deputação a Paris, onde se encontrava então a jovem rainha D. Maria II, para lhe jurar fidelidade em nome dos
liberais acantonados na Terceira, a presidência coube a Teotónio Paim de Bruges.
Empreendeu então a perigosa viagem, sempre com risco de apresamento pelas forças
portuguesas afectas a D. Miguel I, tendo-se havido brilhantemente na sua missão,
convidando D. Pedro IV a assumir pessoalmente o comando das forças liberais.
Deixou uma impressão tal junto do soberano que terá contribuído para a sua
decisão de partir para aos Açores e dali lançar a sua ofensiva.
D. Pedro IV |
Durante a sua missão a Paris, esteve em Inglaterra e França e a acompanhar o exército liberal emigrado e o
próprio D. Pedro IV.
Após o seu regresso a Angra, desempenhou as funções de membro da Junta
Consultiva e recebeu no seu palácio de Santa Luzia (sito no local onde hoje
existe o Observatório Meteorológico José Agostinho) o imperador D. Pedro IV,
sendo o principal apoio local na organização da recepção real.
Por decreto real de 7 de Dezembro de 1831 foi nomeado presidente da comissão encarregada de
contrair nos Açores um empréstimo de um milhão de réis para apoio ao exército
liberal. No dia seguinte foi-lhe concedido o título de Visconde de Bruges.
1832/1982 - O embarque dos Bravos do Mindelo |
Terminada a guerra civil, logo em 1834 foi eleito deputado às Cortes Gerais Extraordinárias da Nação pelo círculo da então Província Ocidental dos Açores, mas não consta que tenha prestado juramento. No ano seguinte, por decreto de 1 de Outubro de 1835, foi nomeado Par do Reino, entre os primeiros nomeados do novo regime. Tomou posse na Câmara dos Pares a 26 de Fevereiro de 1836, passando, durante as suas idas a Lisboa, a frequentar a Câmara onde se dedicou essencialmente à defesa dos interesses do seu círculo.
Em 1836 foi nomeado administrador-geral do Distrito de Angra do Heroísmo,
funções que exerceu até 1839. No ano de 1847, no contexto da Patuleia, foi eleito Presidente da Junta Governativa de
Angra pela Nação e Rainha, ligada à Junta do Porto.
1849 - Câmara Municipal de Angra do Heroísmo |
Desempenhou, por várias vezes, as funções de Presidente da Câmara Municipal
de Angra, sendo nessas funções, logo em 1833, o primeiro presidente eleito de um município
português.
Optou pela ala setembrista do liberalismo, sendo líder do respectivo
partido na ilha Terceira. Aderiu ao Partido Histórico, sendo o seu líder no Distrito de Angra do Heroísmo até ao
seu falecimento.
Por carta régia de 6 de Agosto de 1863 foi-lhe concedido o título de Conde da Vila da Praia da Vitória.
Era também fidalgo cavaleiro da Casa Real, comendador da Ordem de Cristo e tinha o posto
honorário de Coronel Comandante do Batalhão de Voluntários da Rainha.
Foi condecorado com a Medalha n.º 9 das Campanhas da Liberdade.
11 de Agosto de 1829 - Batalha da Praia |
O processo de desagregação da poderosa Casa
dos Condes da Praia terminaria duas gerações depois com a renúncia ao título de
3.º Visconde de Bruges, por insuficiência económica, feita
pelo seu neto Teotónio Octávio de Ornelas Bruges que nasceu em Lisboa a 10 de Março de 1861 e faleceu em Angra do Heroísmo a 2 de Novembro de 1906.
Atestando a enorme influência e popularidade de
que gozava, o seu funeral foi a maior manifestação popular da história da ilha,
juntando cerca de 20 000 pessoas, um número jamais batido.
O conde da Praia tinha casado duas vezes, a primeira, a 16 de Março de 1833, com Elvira Esmeraldo Monteiro, filha de um
abastado comerciante da Madeira, e a segunda, a 25 de Abril de 1853, com Emília Amélia de Almeida Tavares do Canto,
filha de um destacado morgado miguelista. Teve filhos de ambos os
casamentos.
2º Conde da Praia da Vitória |
Seu filho, Jácome de Ornelas Bruges de Ávila Paím da Câmara, 2º Visconde de Bruges e 2º Conde da Praia da Vitória, nascido em Angra a 14 de Dezembro de 1833 e falecido no Funchal a 20 de Janeiro de 1889, sucedeu-o na liderança do Partido Histórico, sendo eleito deputado, continuando
a sua obra política.
Foi governador civil do Distrito de Ponta Delgada durante o
período que decorreu de 13 de Setembro de 1869 a 11 de Outubro de 1877, num total de mais de oito anos, uma proeza notável
num período marcado pela instabilidade política.
Por decreto de 24 de Dezembro de 1864 foi feito 2.º Visconde de Bruges, título que havia
pertencido a seu pai e que este tinha trocado pelo de Conde da Praia.
Foi adido à legação de Portugal em Bruxelas.
Em 1886, foi sócio fundador da Sociedade Promotora das Artes e Letras da cidade de Angra do Heroísmo.
23-SET-1875 - Carta expedida de Londres,via Lisboa, Franca de Porte de Lisboa para São Miguel e, posteriormente, Terceira, endereçada ao Conde da Praia da Vitória |
Após a morte de seu pai, ocorrida em Outubro de 1870, herdou a posição de líder do Partido Histórico no Distrito de Angra do Heroísmo, cargo que manteve, após o Pacto da Granja, no Partido Progressista.
Recebeu também em herança a grande casa vincular paterna, a
maior da ilha Terceira, mas já muito afectada pelas enormes despesas
que aquele fizera no apoio à causa liberal durante a Regência de Angra.
Por esta altura foi confirmado, por decreto de 9 de Novembro de 1870, no título de 2.º Conde da Vila da Praia da Vitória, sucedendo também no título a seu pai.
Brasão de Armas do 2º Conde da Praia da Vitória |
Voltou a ser eleito deputado para a legislatura de 1884-1887, tendo prestado
juramento nas Cortes a 28 de Fevereiro de 1885. As suas intervenções parlamentares versaram apenas
questões relativas ao seu círculo eleitoral, tendo apoiado outros deputados
açorianos em projectos relativos a obras públicas, navegação e fiscalidade no
arquipélago.
Faleceu no Funchal a 20 de Janeiro de 1889. Durante a sua carreira
foi agraciado com a grã-cruz da Imperial Ordem de Francisco José da Áustria e feito comendador da Ordem Militar de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Era ainda oficial da Academia
de França.
No salão nobre dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo existe um retrato a óleo de Teotónio de Ornelas Bruges,
visconde de Bruges, executado pelo pintor italiano Giorgio Marini. O retrato foi
descerrado em cerimónia realizada a 1 de Janeiro de 1874, recordando aquele que, logo após a instauração do
regime constitucional, foi o primeiro Presidente de Câmara eleito em
Portugal.
25 de Abril de 1907 Auto comemorativo do centenário natalício |
O centenário do nascimento do Conde da Praia foi celebrado a 25 de Abril de 1907 com grande pompa e circunstância, merecendo edição especial dos periódicos angrenses e larga cobertura pela imprensa de todas as ilhas açorianas.
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