sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

A Ilha Graciosa



Ilha Graciosa


É incerta a data do seu descobrimento embora seja provável que tenha ocorrido por iniciativa de mareantes vindos da vizinha ilha Terceira. 

De seguro sabe-se que recebeu gado por ordem do infante D. Henrique e que, em meados do séc. XV, já tinha povoadores, tendo sido Vasco Gil Sodré, natural de Montemor-o-Velho, acompanhado pela família e criados, o pioneiro e desbravador da Iha. 

Ergueu a sua casa no Carapacho, local onde aportou. Apesar de diligências de Vasco Gil Sodré para que lhe fosse feita a doação da ilha e de ter construído uma alfândega, a capitania da parte norte da ilha veio a ser entregue a Pedro Correia da Cunha, concunhado de Cristóvão Colombo, e a da parte sul a Duarte de Barreto. 
Carapacho (Termas)

O aumento da população, vinda, segundo alguns historiadores, das Beiras e do Minho e também da Flandres, e a prosperidade da ilha levam a que Santa Cruz receba foral de vila em 1486 e que igual mercê seja dada à Praia, em 1546. Os nomes das grandes famílias que contribuíram para o povoamento e crescimento da ilha ainda hoje estão presentes entre os habitantes da ilha. 

Dedicando-se desde o início à agricultura e ao plantio da vinha, a Graciosa exporta já no século XVI trigo, cevada, vinho e aguardente. Com uma economia predominantemente agrícola, realizando todo o seu comércio com a Terceira, que dispunha de porto frequentado por navios de grande porte e era o centro económico e administrativo, a Graciosa sofre ataques e pilhagens por corsários nos sécs. XVI e XVII. 

Furna do Enxofre
Figuras históricas passaram pela Graciosa no decorrer dos séculos, A primeira foi o padre António Vieira, que, em 1654, tendo naufragado, perto da ilha do Corvo, o navio em que seguia para Lisboa, foi recolhido por um corsário holandês e lançado na Graciosa, onde esteve dois meses. Segue-se-lhe o escritor francês Chateaubriand, que aporta à ilha na sua fuga da Revolução Francesa, em direcção à América, e se refere em algumas obras à sua estada. Almeida Garrett vive na Graciosa, em 1814, quando tinha 15 anos e visita um seu tio, que era juiz de fora, e aqui escreve versos já reveladores do talento de poeta. Finalmente. em 1879, o príncipe Alberto de Mónaco, que se distinguiu pelos seus trabalhos de hidrografia e estudo da vida marinha, aponta à Graciosa no iate «Hirondelle», tendo visitado a furna da Caldeira. 

Igreja Matriz de Santa Cruz (Altar)

Voltada para a agricultura, pecuária e lacticínios, a Graciosa mantém as suas características de ilha rural e tranquila, acompanhando e participando no progresso dos Açores. 

Um "sermão" de Garrett. Realizava-se na matriz de Santa Cruz da Graciosa a primeira missa de um novo sacerdote. A igreja estava apinhada de fiéis. A meio da cerimónia, um jovem desconhecido, envolto numa -capa preta, sobe ao púlpito e faz um brilhante discurso sobre os deveres do sacerdócio e a importância do acto que todos presenciavam.







Ao descer do púlpito é reconhecido pelo tio, que, encolerizado, o repreende severamente e o quer castigar com o rigor da lei. O jovem era Almeida Garrett que aos 15 anos demonstrava as suas qualidades de futuro tribuno.








PATRIMÓNIO CLASSIFICADO

Ao longo da sua história a vila nunca sofreu qualquer grande sismo, uma vez que a maioria dos sismos registados afectaram essencialmente o sudoeste da ilha. Desse modo, o património edificado na freguesia chegou quase intacto aos nossos dias, fazendo com que o centro histórico da vila se constitua num dos mais bem conservados conjuntos urbanos do arquipélago. Para protegê-lo e preservá-lo foi criada a Zona Classificada de Santa Cruz da Graciosa, um conjunto classificado como de interesse público pelo Decreto Legislativo Regional nº. 10/88/A, de 30 de Março.






A zona classificada de Santa Cruz compreende algumas das mais significativos edificações da ilha, a saber:

Igreja Matriz de Santa Cruz
  • Igreja Mariz de Santa Cruz
  • Igreja de Santo Cristo da Misericórdia
  • Torre da Igreja de Nossa Senhora dos Anjos, é uma torre de igreja localizada no tardoz da biblioteca municipal, no lado sul do Rossio. A igreja a que a torre pertencia foi construída entre 1700 e 1708, com missa inaugural a 22 de Agosto de 1708. Incorporava uma capela de Santa Bárbara construída em 1670. A igreja era parte do convento franciscano de Santa Cruz, também com construção iniciada em 1700 e benzido a 18 de Julho de 1724, erguido para substituir outro, fundado em 1609, considerado inadequado.


  • Torre
    Painel de Azulejos (Torre)
  • François-René de Chateaubriand, que foi hóspede do convento na sua passagem pela ilha Graciosa em 1791, descreve o imóvel como cómodo e bem iluminado. O convento foi extinto pelo decreto da Regência de Angra de 30 de Maio de 1834, tendo os frades abandonado a Graciosa a 30 de Setembro daquele ano. O imóvel teve vários usos públicos, mas foi progressivamente abandonado, tendo o conjunto sido demolido em 1946, deixando a torre isolada.






Ermida de Nossa Senhora da Ajuda
  • Monte da Ajuda e as suas ermidas, é um conjunto incluído na Zona Classificada e decretado como zona onde a edificação é proibida, que abrange todo o cone vulcânico do Monte da Ajuda acima dos 30m de altitude, hoje quase integralmente florestado, e as três ermidas que o coroam. O Monte da ajuda é um pequeno cone vulcânico, com 129m de altitude máxima e uma forma quase perfeitamente tronco-cónica, encimado por uma pequena cratera onde hoje se anicha uma praça de toiros. Coroam o monte três ermidas: a Ermida de Nossa Senhora da Ajuda, que dá o nome ao Monte, um exemplar de arquitectura religiosa fortificada do século XVI, tendo anexa uma ‘’casa dos romeiros’’, destinada a acolher os peregrinos que ali se deslocavam em oração; a Ermida de São Salvador, construída entre 1709 e 1715; e a Ermida de São João, referenciada pela primeira vez em 1557. A vista do local é soberba, cobrindo todo o norte da ilha. Infelizmente um conjunto de estruturas de telecomunicações, algumas desactivadas, desfiguram a solenidade e beleza do local.
    Rossio - Santa Cruz
  • Os Pauis e o Rossio de Santa Cruz são o maior espaço público urbano de qualquer das vilas açorianas, com dois grandiosos tanques descobertos, os pauis, escavados do lado norte e uma vasta praça com um coreto no seu centro (o Rossio) do lado sul. O actual coreto, construído em 1945 em substituição de um que ali existia desde 1886, é apelidado de açucareiro. A praça está ladeada por um notável conjunto de araucárias. e metrosíderos seculares, datando o plantio de algumas da árvores da década de 1880, então iniciativa do Manuel Simas, futuro conde de Simas. No lado leste dos pauis existe um fontanário em basalto, ali colocado em Novembro de 1959 e um monumento ao emigrante inaugurado no ano 2000.

Casa senhorial do Sr. Francisco Barcelos, Sta. Cruz Graciosa



Casa do Conde de Simas é uma das muitas casas senhoriais existentes na Zona Classificada, um bom exemplo da sobriedade e equilíbrio da arquitectura da vila. Pertenceu a Manuel Simas, feito conde de Simas, um rico comerciante, político e benemérito local, que a ofereceu à Câmara Municipal que a usa, desde 21 de Fevereiro de 1940, como paços do concelho.



Cruz da Barra
  • A Cruz da Barra, ou de São Sebastião (nome da ermida em cujo adro esteve durante três séculos), é um esbelto cruzeiro, em estilo manuelino, esculpido num longo bloco de granito, com 13,64 m de comprimento, sobre o qual assenta uma esfera e uma cruz com 1,38 m de altura. Embora a origem em Guimarães pareça pouco provável, dada a dificuldade em transportar uma peça em pedra com aquelas dimensões pelas difíceis estradas da época, reza a tradição que terá sido trazida daquela cidade por António de Freitas (nome que se encontra gravado na esfera onde assenta a cruz) no ano de 1520 (o granito de que é feita indicia uma origem no norte da Península Ibérica, provavelmente na cidade do Porto). Reza ainda a tradição local que um barco teria partido de Portugal com três cruzes idênticas em pagamento de uma promessa: uma ficou em Santa Cruz da Graciosa, outra na ilha de Tenerife e a terceira algures na costa de África. Alguns autores afirmam que foi esta cruz que deu o nome à vila, o que implicaria que seria anterior a 1480. Ao certo, sabe-se que desde 1520 se encontra no lugar da Barra, primeiro no adro da Ermida de São Sebastião, que terá existido no lugar da antiga central eléctrica, sendo retirada desse local em 1867. Um dos mais antigos e espectaculares elementos escultóricos dos Açores, a Cruz está agora colocada no entroncamento da estrada da Barra com a estrada que conduz à Praia da Graciosa, com o alto plinto onde assenta parcialmente soterrado.

Baleação na Graciosa
  • O património baleeiro, ligado à actividade de baleação introduzida nas ilhas em meados do século XIX por marinheiros açorianos que tinham trabalhado nos navios baleeiros da Nova Inglaterra, é diversificado e encontra-se um pouco por todo o litoral graciosence. Na vila de Santa Cruz ele está presente no bote baleeiro, dos quais chegou a existir mais de 12 na ilha, exposto na colecção do Museu da Graciosa com toda a sua palamenta, no barracão dos botes, junto ao porto, e na vigia da baleia sito no topo do Monte da Ajuda. O Museu também guarda binóculos e transmissores utilizados nas vigias e múltiplos instrumentos utilizados na caça ao cachalote. O Clube Naval da Graciosa recuperou e opera a lancha baleeira (gasolina) Estefânia Correia, uma embarcação que fez história na caça ao cachalote e que, simultaneamente, salvou a vida a muitos graciosenses, transportando-os até à Terceira para receber cuidados médicos quando não havia outro transporte disponível. No Porto da Barra existem os restos da antiga desmancha da baleia, com os seus traióis, pertença da extinta Companhia Baleeira da Graciosa, Lda, uma empresa fundada em 1932.

O Centro Cultural da Ilha Graciosa é um moderno edifício sito na Rua Mercado, no limite da Zona Classificada, dotado de um grande auditório, foyer e sala de exposições temporárias. Construído pelo Município de Santa Cruz, o projecto é da autoria do arquitecto Miguel Cunha.

  • Os antigos paços do concelho (até 1940, e actual biblioteca pública municipal, é um edifício sito no lado sul do Rossio, onde até recentemente funcionou o Tribunal da Comarca de Santa Cruz da Graciosa. O edifício foi reconstruído em 1757, ficando então a Câmara e o tribunal instalados no primeiro piso e a cadeia nos baixos. Sobre a fachada existiu um sino, usado para anunciar as reuniões camarárias. Depois de obras de adaptação, desde Março de 2005 funciona no imóvel a Biblioteca Municipal de Santa Cruz, tendo sido dotado de uma moderna sala de reuniões e conferências.

    Museu da Graciosa
    10º aniversário

  • A Biblioteca Municipal foi instituída a 16 de Setembro de 1950, funcionando durante décadas nos baixos da Câmara Municipal. Promove diversas actividades lúdico-pedagógicas e exposições mensais, tendo secções de audiovisuais, periódicos, infanto-juvenil e de exposição temporária.
  • O Museu da Graciosa, instalado numa casa assolarada da Rua das Flores, frente à rampa de varagem das Fontaínhas, foi oficialmente criado em 1977, pelo Governo Regional dos Açores. Em 1978 iniciou-se o processo de constituição efectiva do Museu, escolhendo-se e adquirindo-se um edifício apropriado para a sua instalação e iniciando-se a recolha e o levantamento de espécimes etnográficas da ilha. O Museu foi inaugurado a 6 de Dezembro de 1978.








Para além de exposições temporárias, o Museu da Graciosa alberga numerosas colecções ligadas à etnografia da ilha e à história económica da Graciosa, incluindo colecções de brinquedos, loiça, mobiliário e recordações enviadas pelos emigrantes que partiram para os Estados Unidos em busca de melhor sorte. 



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