Naufrágios de
São Miguel
Os naufrágios ocorridos na ilha de São
Miguel localizam-se, essencialmente, nos séculos XIX e XX.
A
importância crescente da ilha de São Miguel nas rotas de navegação atlânticas é
reflectida no número de naufrágios ocorrido ao longo dos séculos nas suas
costas. A navegação inglesa, baseada no comércio da laranja, é a grande vítima
dos temporais do século XIX que, mais uma vez, fizeram sentir a falta tremenda
que havia - e há - em São Miguel de um porto abrigado.
Século
XVI
Em
1542 afunda-se a nau espanhola San Juan,
sem que se saiba algo sobre o local do sinistro. O mesmo sucede, em 1567, com a
nau Nuestra Señora de la Concepción.
Um ano depois, a 17 de Fevereiro de 1568, uma caravela carregada de trigo dá à
costa na Relva após ter permanecido 8 dias virada sobre si própria. A 4 de
Agosto do mesmo ano, dá de través uma nau Almirante, a cerca de 3 léguas de
Vila Franca.
No
ano de 1580 soçobra outra nau espanhola algures na costa micaelense. A 4 de
Agosto de 1582, dão à costa duas naus da Armada do Marquês de Santa Cruz. Em
Setembro do ano seguinte dá também à costa, próximo de Vila Franca do Campo, a
nau Santa Catalina, provinda da Nova Espanha. Desta nau conseguiu-se, mais
tarde, salvar a artilharia.
Dois
anos depois, em 1585, são afundadas por dois navios ingleses cinco embarcações
que se encontravam surtas no porto da cidade. A 8 de Junho de 1587 naufraga o
galeão São Filipe, da armada de 1586,
proveniente da Índia. No ano de 1591 naufragam a nau de Pero de Martin e o
navio Vengeance. Dois anos mais tarde
o mesmo sucede às naus de Cristobal de Eraso e de Francisco de Leyva. Em 1595,
encalha uma nau de Índia - comandada por Vasco Borges - como último recurso na
sua fuga desesperada aos piratas ingleses.
Um
ano depois, afunda-se a nau Madalena
e, em Novembro de 1597, a nau São
Francisco vara em terra e é queimada pelos ingleses.
Século
XVII
Em
1600 naufraga a nau San Gregório. Três
anos depois, o mesmo sucede à nau espanhola Nuestra
Señora de los Reyes. Em 1615,
afunda-se uma outra nau e, em 1632, o mesmo acontece com a embarcação São Nicolau Tolentino. Em 1644, perde-se
na costa de São Miguel um patacho português. A 3 de Janeiro de 1651, naufraga
na Ponta da Galera o galeão português da Armada do Brasil, São Pantaleão. Deste naufrágio resultam cerca de 300 mortos,
salvando-se 30 pessoas. Os naufrágios no século XVII terminam com o
afundamento, em 1686, do navio Saint
Andre.
Século
XVIII
Em
1713 naufraga a embarcação francesa La
Louise, provinda da Martinica e comandada pelo capitão Bennoist Gomme. Em
1722 o mesmo sucede a outro navio francês. Em 1724 perde-se o navio Aurengzeb e, em 1736, soçobra o Lazare Resuscité. Em 1737, dá à costa o Saint Michel, comandado pelo capitão
Michel Giraudel.
Em
Janeiro de 1779, dão à costa dois navios. A 25 de Agosto do mesmo ano, um
temporal violento ocasiona o naufrágio de cinco embarcações dando uma delas -
uma escuna - à costa a leste da baía do Forte da Salvação, em Ponta Delgada.
Finalmente,
em 1793, naufragam um navio e um bergantim, algures na costa da ilha de São
Miguel.
Século
XIX
Os
naufrágios de século XIX
iniciam-se com o afundamento, a 13 de Fevereiro de 1807, da embarcação Woodcock, com 4 peças de artilharia a
bordo. A 10 de Agosto de 1831, naufraga no porto de Ponta Delgada, o paquete do
Pernambuco, morrendo todos os oficiais da sua guarnição. A 27 de Janeiro de
1841, dá à costa da freguesia da Relva uma chalupa inglesa, a Jane. A 25 de Março do mesmo ano, o
mesmo sucede à escuna inglesa Mariana.
A 8 de Maio, soçobra uma embarcação local que se dirigia para Vila Franca do
Campo, morrendo 9 pessoas.
A
10 de Abril de 1843, naufraga sobre a bateria Duque de Bragança, em Ponta
Delgada, o iate Paquete dos Açores. A
15 de Fevereiro de 1844, dá à costa no areal da ponta do paredão de São
Francisco, o iate Nova Sociedade.
Um
ano depois uma tempestade que se inicia a 20 de Abril de 1845 faz afundar na
restinga do Cerco, em Ponta Delgada, a escuna inglesa Gem. Um dia depois, a mesma tempestade provoca o afundamento pelas
16.00 horas, no Areal do Rosto de Cão em São Roque, do iate costeiro Melitão.
A
24 de Dezembro de 1846, a escuna inglesa Herbert
dá à costa na calheta do Corpo Santo, em Ponta Delgada. A 30 de Janeiro de 1847
afunda-se o iate Tio e Sobrinhos. A
30 de Dezembro de 1849, o patacho português Novo
Viajante dá à costa nos calhaus do mercado do Corpo Santo.
A18 de Julho de 1850 naufraga na Lagoa, mais precisamente no Porto dos
Carneiros, o vapor Luso. A 4 de Maio
de 1853 dá à costa, na Praia de Vila Franca do Campo, o iate português Boa Esperança. A 1 de Novembro do mesmo
ano, Vila Franca volta a assistir a um naufrágio, desta feita o do brigue
inglês Jan Berd ocasionado por uma
tempestade que irá ainda provocar uma outra vítima um dia mais tarde, fazendo
soçobrar nos calhaus da vila outro brigue inglês, o Sane Berel, que provinha de Calcutá.
A
14 de Março de 1856, dá à costa no Castelinho de São Pedro, um brigue
português, tendo sido arrematados os seus salvados. A 13 de Setembro do mesmo
ano, a galera americana Kentucky naufraga
no areal de São Roque. Também no mesmo ano, mas a 30 de Novembro, afunda-se no
Faial da Terra o brigue francês Beffrei,
comandado pelo capitão Lupé.
A
24 de Agosto de 1857, afunda-se nos rochedos de Santa Clara, o palhabote São Salvador, junto a Ponta Delgada. A 3
de Dezembro do mesmo ano, naufraga na costa da Relva a barca S. Slick, com derrota de Boston para
Liverpool. A 10 de Fevereiro de 1858, afunda-se em Ponta Delgada a escuna
inglesa Ariel, comandada pelo capitão
Blamay. A 30 de Novembro do mesmo ano, perde-se o iate Três Amigos, devido ao seu abalroamento pelo navio King Arthur. Um mês depois, uma explosão
a bordo faz soçobrar, defronte de Vila Franca, o vapor Kearsage. A 4 de Junho de 1859, naufraga em frente da Maia, um
barco de pesca, morrendo 10 homens. A 21 de Maio de 1860 dá à costa, no Calhau
do Laguim, em Ponta Delgada, o patacho
Liberdade, comandado pelo Capitão
Urbano José Teles.
Continuamos,
no artigo desta edição, a relação dos naufrágios ocorridos na ilha de São
Miguel. A 26 de Janeiro de 1861, uma tempestade inusitada provoca uma
verdadeira hecatombe entre os navios que estavam ancorados em Ponta Delgada
Assim, devido à agitação do mar e à direcção do vento perde-se nos penedos do
Castelo de São Pedro a escuna Bijou,
nos calhaus de Belém em São Roque naufraga a escuna Orange Blossom, na Lagoa, junto a uma rocha, deu à costa Escuna Fanny Gann morrendo toda a tripulação,
no areal do Rosto de Cão perde-se a escuna
Blue Jacket, no calhau do Corpo Santo naufraga a escuna Frolie, no Calhau do Laguim, em Ponta Delgada, destroça-se a
escuna Serpent e, finalmente, dá à
costa, na Rocha Quebrada do Pópulo a escuna
Mignon, naufragando assim, de uma só assentada, sete navios. A 12 de
outubro do mesmo ano, perde-se no Laguim a escuna portuguesa Rainha dos Açores.
Dois anos mais tarde, a 31 de Outubro de 1863, soçobram defronte de Rabo de
Peixe duas embarcações de pesca. Quatro meses depois, a 1 de Janeiro de 1864
uma outra tempestade provoca o afundamento em Ponta Delgada do brigue Joanna e na Ponta da Galera da escuna Alfred. A mesma tempestade provoca
também a perda a cerca de dez milhas a leste de Ponta Delgada da escuna Inglesa Alfred Bridgewater, morrendo os 7
tripulantes.
A
6 de Janeiro de 1871 soçobra em Ponta Delgada o lugre Alfred. Será também nesse ano que se perderá o iate Sympathia junto a Vila Franca do Campo.
A 31 de Março de 1872 desaparece junto à praia do Porto Formoso, a barca Jane A. Bishop, salvando-se 10 pessoas de um total de 11 tripulantes. A 6
de Janeiro de 1877, naufraga no Baixio de São Pedro, em Ponta Delgada, a escuna
inglesa Queen. A 22 de Fevereiro do
mesmo ano, afunda-se no Cais da Alfândega a barca Mistletoe, com um carregamento de ferro e petróleo.
A
25 de Junho de 1877 naufraga no Ilhéu de São Lourenço a embarcação Algorna. A 30 de Setembro de 1880
perde-se no mar alto um barco de pesca, desaparecendo os sete tripulantes. A 2
de Outubro de 1880, uma tempestade afunda na bacia da doca de Ponta Delgada os
vapores ingleses Benalla -
posteriormente recuperado, Robinia e Stag. A 21 de Dezembro de 1885,
afunda-se defronte de Vila Franca do Campo a barca alemã Maria, comandada pelo capitão Fack's. A 19 de Março de 1892,
perde-se na Baixa de São Pedro, Ponta Delgada, o brigue português São Tomé. A 15 de Março de 1893, morrem
sete pessoas no naufrágio de embarcação junto das Feteiras. A 8 de Dezembro de
1894 afunda-se junto ao Castelo de São Pedro, em Ponta Delgada, o patacho
alemão Adlheid, morrendo duas
pessoas. A 1 de Fevereiro de 1895, naufraga defronte das Alcaçarias de São
Pedro o vapor Inglês Ituni,
afundando-se a meio da bacia da doca. A 28 de Janeiro de 1897, perde-se no
calhau do Laguim o vapor inglês Oakfield.
No mesmo ano, a 19 de Outubro, naufraga na Vila do Nordeste o patacho Rolando. A 23 de Janeiro, afunda-se nos
calhaus situados entre o cais da Alfândega e a igreja, o vapor inglês Cromarty. Finalmente, o século XIX
encerra-se com o naufrágio, a 3 de Setembro de 1899, da barca portuguesa Helena em Ponta Delgada.
Século
XX
A
26 de Janeiro de 1902 afunda-se a cinquenta milhas náuticas da ilha de São
Miguel a barca Portuguesa Nova Lide.
A 2 de Março de 1905 naufraga na Baixa do Tufo - situada entre Vila Franca do
Campo e a Ribeira Quente - o vapor costeiro
Maria Amélia, pertencente a Laurénio Tavares. A 14 de Fevereiro de 1912,
perde-se a galera norueguesa de 1237 toneladas Sterling, junto a Ponta Delgada. A 5 de Abril do mesmo ano,
afunda-se defronte da Ponta Garça a embarcação de pesca 144 P. S, morrendo quatro homens. A 6 de Julho de 1914 outro barco
de pesca se afunda, defronte de Rabo de Peixe, fazendo desta vez 3 mortos.
A
8 de Agosto de 1916 naufraga na Atalhada, costa do Pópulo, a galera Langdale, com um carregamento de farinha
para França. A 9 de Março de 1917, incendeia-se em Lombo Gordo, concelho do
Nordeste, o iate inglês Maggie Belle.
A 16 de Dezembro de 1920, encalha junto ao Gazómetro, na Calheta, o vapor
americano Yellowstone de 4270
toneladas de arqueação. Quinze dias depois, a 2 de Janeiro de 1921, perde-se
nos rochedos da Calheta, em Ponta Delgada, outro vapor americano, o Faraby de 3659 toneladas e com 324 pés
de comprimento. A 25 de Setembro de 1922 afunda-se na Vila do Nordeste uma
embarcação de pesca, salvando-se três dos sete pescadores.
A 8 de Dezembro de 1923 naufraga na
costa da Ribeira Grande, o iate Cabo
Verde. A 6 de Fevereiro de 1927, encalha defronte do Porto de Ponta
Delgada, junto à Calheta, o vapor italiano M.
T. Cicerone, de 6333 toneladas e com 34 tripulantes a bordo. A 30 de
Dezembro do mesmo ano, desaparece no mar, junto a Vila Franca do Campo, uma
embarcação de pesca morrendo dez pessoas. A 25 de Março de 1929, afundam-se na
Ponta Gorda os barcos de pesca dos Arrais Manuel Subica e José da Vila.
A
15 de Setembro de 1945, um golpe de mar faz soçobrar, junto das Capelas, um
barco de pesca, morrendo 3 dos 13 tripulantes. A 16 de Janeiro, afunda-se a
cerca de 800 metros a sul da Igreja de São Roque, o cargueiro liberiano Dori, encontrando-se actualmente a cerca de a 18 metros de profundidade. Finalmente, e
para encerrar o rol dos naufrágios ocorridos na ilha de São Miguel, falta
apenas referir o naufrágio, a 18 de Março de 1973, na Ponta da Ajuda, costa dos
Fenais, do barco de pesca Alexandrina
que se despedaçou e originou 6 mortos.
Texto de Paulo Monteiro
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