sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Manuel Maldonado (1644-1711)


MANUEL LUÍS MALDONADO




Portão de Armas

Foi condestável, capelão e encarregado do hospital militar da Fortaleza de São João Baptista da Ilha Terceira, nos Açores. É autor da obra "Fenix Angrence", uma das obras de referência da historiografia em História dos Açores.

Forte de São João Batista em 1595



Nasceu um ano após a rendição da guarnição Espanhola na chamada Guerra do Castelo (27 de Março de 1641 - 4 de Março de 1642), na freguesia da , filho de Amaro Luís, condestável da Fortaleza de São João Baptista, e de sua esposa, Isabel Gonçalves.











D. Afonso VI


Desde jovem se interessou por temas de história, já que ele próprio afirma que, em 1669, com apenas 24 anos de idade, quando da chegada à Terceira de Afonso VI de Portugal, desterrado para a Fortaleza do Monte Brasil, estava "(…) apto com todas as diligências necessárias para o sacerdócio, e já no entretenimento das averiguações antigas a título de curioso, sem que nestas totalmente me fossem de impedimento as ciências, ou estudos, de Moral e Especulativo em que lidava com pouco fruto." (Fenix Angrence)

O seu pai faleceu a 27 de Fevereiro de 1670, sendo Manuel Luís Maldonado nomeado para o cargo de Condestável da Artilharia da Fortaleza de São João Baptista, que o pai ocupava, na data de 1 de Março de 1670.


Igreja São João Batista
A 2 de Setembro de 1674 tomou ordens de Epístola, a 8 do mesmo mês de Evangelho, e a 9 de Missa, sendo nomeado, a 23 de Novembro desse ano, capelão-menor da Fortaleza de São João Baptista, altura em que frequentava o nono ano das Escolas Gerais do Colégio da Companhia de Jesus em Angra. Pregou o seu primeiro sermão a 15 de Setembro de 1680.







Hospital Militar da Boa Nova

Por patente de 25 de Julho de 1689, foi nomeado capelão-mor da Fortaleza e administrador do Hospital Militar da Boa Nova, que lhe ficava anexo.






Ao falecer, Manuel Luís Maldonado deixou como legado a um sobrinho o manuscrito da "Fenix Angrence", fruto da sua vida de investigação histórica e uma das fontes essenciais para o estudo da história açoriana.


Ermida da Boa Nova



 Encontra-se sepultado na Ermida da Boa Nova em Angra do Heroísmo.















Fenix Angrence 

é uma obra do padre Manuel Luís Maldonado, que embora verse sobre a genealogia e a história dos Açores em linhas gerais, dedica grande parte da sua atenção à ilha Terceira.

A obra foi escrita entre 1683 e 1711, uma vez que os últimos capítulo encontram-se incompletos, presumivelmente pela morte do autor.
  • Livro Primeiro - Do Século de Quatrocentos, subdividido em alentos, cada um correspondendo a uma década, iniciando-se em 1450;
  • Livro Segundo - Do Século de Mil e Quinhentos, subdividido em alentos, cada um correspondendo a uma ou mais décadas;
  • Livro Terceiro - Do Século de Seiscentos, subdividido em alentos, cada um correspondendo a uma década, terminando na Dezena de 1690.
Além de uma extensa descrição genealógica, que relaciona as principais famílias das ilhas, a obra, na sua parte histórica divide-se em três partes:

A obra termina por um Epítome das Ilhas dos Açores, incompleto. Acompanha a narrativa um largo acervo de transcrições de documentos, muitos hoje perdidos, que vão consubstanciando e integrando o texto do autor.

Após a morte do autor, o manuscrito, apenas assinado com um anagrama, foi legado a um sobrinho, tendo permanecido esquecido durante muito tempo, não havendo notícia segura da sua trajetória.

As primeiras referências impressas a ele surgem ao final do século XVIII, sendo o nome "Maldonado" confundido com "Machado", referido apenas como um genealogista, como em António Caetano de Sousa ("Aparato Genealógico da Casa Real Portuguesa") e Diogo Barbosa Machado ("Biblioteca Lusitana Histórica, Crítica e Cronológica").

É a Francisco Ferreira Drummond ("Anais da Ilha Terceira") que se deve a primeira referência mais aprofundada ao texto da Fenix Angrence, o que contribuiu em muito para o posterior interesse pela obra.

O manuscrito permaneceu inédito até 1989, quando Helder Fernando Parreira de Sousa Lima o transcreveu e o anotou, sendo depois publicado em três volumes, pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira, com o apoio do Governo dos Açores.




quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Dr. Raul Moreira - Diretor Filatelia dos CTT


Esta é uma singela homenagem do NFAH ao amigo que sempre teve para connosco, ao longo dos últimos quinze anos, uma palavra de apreço e disponibilidade contínua. Com a sua ajuda conseguimos concretizar muitos dos objetivos da nossa missão na divulgação da História e Cultura Açoriana através do colecionismo.

O nosso mais profundo e encarecido agradecimento público.


2025-10-09 - Selo Personalizado

Grande homenagem ao Dr. Raul Moreira, Presidente da Fundação Portuguesa das Comunicações, que deixou há pouco tempo a Direção de Filatelia dos CTT, por limite de idade. Os Correios de Portugal nomearam-no Diretor Emérito. Para esta homenagem criaram um selo personalizado com edição limitada para os presentes na cerimónia, uma peça filatélica para recordar um Grande Senhor e o seu trabalho ao serviço da filatelia e dos CTT - Correios de Portugal. Obrigado, Dr. Raul Moreira!

Fonte: O Filatelista (Mário Paiva)


***


Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976.

Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST.


É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991. 




Administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012.




A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses.





Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos.








Actualmente é o Director do Departamento de Filatelia dos Correios de Portugal.





São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa.




Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no "Gerador".


Para ler e saborear as suas crónicas clique no link abaixo.




Link -> Não dê sopa na sopa



O "Gerador" é uma plataforma de acção e comunicação para a cultura portuguesa que acredita que a identidade de um país é a federação de todas as suas culturas pessoais.




Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação.




É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.




Em 2020 os Correios de Portugal fizeram 500 anos. Para comemorar esta efeméride emitiu-se o 1º bloco filatélico do mundo com uma inserção em grafeno, permitindo gravar digitalmente um poema de Miguel Torga sobre a “ Esperança”.

Esperança

Tantas formas revestes, e nenhuma
Me satisfaz!
Vens às vezes no amor, e quase te acredito.
Mas todo o amor é um grito
Desesperado
Que apenas ouve o eco...
Peco
Por absurdo humano:
Quero não sei que cálice profano
Cheio de um vinho herético e sagrado.   

(Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório')

A emissão chama-se “É tempo de Esperança” e o design foi do mestre João Machado.

Parabéns aos Correios de Portugal. Sempre a INOVAR.

Não percamos a ESPERANÇA.


No dia do seu aniversário ( 70 anos)




“Um Adeus Português”

Este título é um plágio descarado de Alexandre O’Neill que, noutro enquadramento da sua vida, escreveu o belo poema homónimo que terminava assim:
“Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser, que já é, o teu desaparecimento
digo-te adeus e como um adolescente tropeço de ternura
por ti.”
E Alexandre nunca mais a esqueceu. A musa inspiradora tem nome: Nora Mitrani, a bela francesa que o deixou louco de amores quando jovem, tendo a família impedido que ele a seguisse para Paris.
Este “Adeus” a que hoje me refiro tem a ver com a inevitável data a partir da qual o funcionário inscrito na Caixa Geral de Aposentações é convidado a retirar-se da vida ativa.
Faço hoje 70 anos de idade, e com eles chega a aposentação compulsiva, segundo a qual (parafraseando Vitorino Nemésio durante a sua última e notável lição) “a lei nos tira o exercício das funções como trabalhadores, mas não como pessoas. A pessoa, a mulher ou o homem, exercem enquanto forem vivos”.
“Exerci” como trabalhador durante 48 anos, 44 dos quais aqui nos Correios.

E, como continuo vivo e a mexer, estou convencido que continuarei a “exercer” por mais algum tempo.

Ainda não é altura de fazer exames de consciência ou de refletir sobre o que foram estes quase 50 anos de trabalho, acumulados entre a Universidade e os CTT, e agora igualmente na Fundação Portuguesa das Comunicações.
Uma coisa vos posso dizer: em todos os locais onde trabalhei saía de manhã de minha casa para entrar outra vez “em casa”, numa morada diferente.
E, talvez por isso, muito me diverti em (quase) todos os dias desta longa aventura… A perceção lúdica da alegria , do “gozo” que as minhas funções me proporcionaram, existiu porque sempre valorizei aquilo que de positivo teve a minha vida, esquecendo rapidamente as facetas menos favoráveis.
Grandes e boas amizades são o que mais relevo nestas cinco décadas. Ter podido ser útil e ter ajudado na consolidação do prestígio da nossa atividade é aquilo que mais me enche o peito.
Todavia, e apesar do escandaloso otimismo com que encaro a vida, mentiria se não reconhecesse que sinto hoje o tal “tropeço de ternura por ti”, a que se refere o amigo O’Neill, acompanhando uma ou outra lágrima furtiva (à moda de Donizetti) que recordarei amanhã, a rir de mim próprio.

Texto do aniversariante in FB


domingo, 5 de outubro de 2025

A Simbologia da Bandeira Portuguesa







 

História

É preciso ter em conta que as bandeiras eram usadas na época medieval para identificar os exércitos de cada senhor feudal. Assim, até o reinado de D. João II (1481-1495) as bandeiras eram armoriais, isto é, eram pedaços de tecidos quadrados que levavam apenas o escudo.

Igualmente, os pavilhões identificavam o soberano reinante. Por isso, cada rei tinha a sua própria bandeira que passavam por modificações quando o monarca falecia ou o reino incorporava novos territórios.

Este foi o caso quando o houve a mudança de estatuto do Brasil. Por decreto de D. João VI (1816-1826), a antiga colônia foi elevada à categoria de reino dentro da monarquia portuguesa.



Deste modo, outra bandeira foi estabelecida, a do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Foi introduzida uma esfera armilar em ouro sobre fundo azul representando o reino do Brasil.

Com a Revolução Liberal do Porto, que inaugura a monarquia constitucional, e a independência do Brasil, outra bandeira portuguesa será criada.

Por decreto de 18 de Outubro de 1830, durante o reinado de Dona Maria II (1834-1853), define-se que o pavilhão fosse bipartido verticalmente em branco e azul, ficando o azul junto da haste e as armas reais colocadas no centro da bandeira.

Com a proclamação da República em 1910, muitos republicanos quiseram apagar alguns símbolos do antigo regime. A bandeira monárquica trazia as cores branca e azul.

Esta bandeira foi usada até a proclamação da República em 1910.





Desta maneira estas cores foram substituídas pelo verde e vermelho que significam a esperança e a coragem, respetivamente.






No entanto, em Portugal remetiam às cores do Partido Republicano Português e a maçonaria que foram aqueles que iniciaram o golpe que derrubou o rei.

É importante ressaltar que o verde ocupa 1/3 da bandeira e o vermelho 2/3, pois isto lembra ao projeto de integralismo ibérico. Assim, o verde seria Portugal e o vermelho, a Espanha, unidos na forma de um federalismo utópico.



Esfera Armilar

A esfera armilar foi introduzida pelo rei D. Manuel I (1495-1521) e representava o monarca como rei dos cinco continentes.




A esfera armilar era a estilização dos antigos globos usados no século XVI. Também era o símbolo pessoal do Infante D. Henrique, o Navegador, que tanto fez pelo desenvolvimento das navegações.



 

Escudo Português


O escudo é o símbolo mais antigo de Portugal e remete à própria origem do país quando este ainda era Condado Portucalense.

 
Na borda vermelha se encontram sete castelos e no centro, em fundo branco, cinco escudos azuis com cinco besantes brancos dispostos em forma de cruz.

Castelos


A origem dos castelos é controversa, pois foram reinterpretados de várias maneiras ao longo da história.


D. Afonso Henriques



Há estudiosos que afirmam que são os cinco reis mouros vencidos pelo primeiro rei português, D. Afonso Henriques (1139-1185).



D. Afonso III


Outros afirmam que sua utilização teria início com o rei Afonso III, sobrinho da Rainha de Castela e que incorporou o símbolo no seu escudo pessoal.
Atualmente são sete castelos amarelos, cada um com três torres, disposto em um fundo vermelho.

Besantes


O termo besante denominava as moedas de ouro usadas no Império Bizantino. Inicialmente foram utilizadas para representar a riqueza do reino de Portugal. Foi o rei Afonso Henriques, que os incorporou no escudo.


Mais tarde com o “Milagre de Ourique”, antes da Batalha de Aljubarrota, foi reinterpretado como as cinco chagas de Cristo. Somente com o rei Afonso III (1248-1279) este escudo ganhou sua forma de cruz ligando Portugal à sua origem cristã.



Texto parcial in:Todamatéria




Há exatos 110 anos, a 5 de outubro de 1910, a Monarquia portuguesa terminava com a implantação da República. Contudo, o processo de descrédito da Monarquia tinha raízes anteriores.

No último quartel do século XIX surgiram dois partidos que incentivaram o descontentamento da população. Assim surgiram os Partidos Republicano e Socialista. O Partido Republicano defendia a implantação da República, uma descentralização política e económica e a dinamização do poder local. Já o Partido Socialista criticava a sociedade capitalista e a não-aceitação da propriedade privada dos meios de produção. Ao mesmo tempo, a imprensa portuguesa atingia o seu auge, e como o jornalismo estava maioritariamente na posse dos republicanos ou de monárquicos crescentemente descontentes com a política em vigor, a Monarquia era fortemente criticada.




A 11 de janeiro de 1890, a Inglaterra apresentou a Portugal o Ultimatum, uma nota entregue ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português pelo Embaixador de Inglaterra em Lisboa (Mr. Petre), onde era exigida a retirada das expedições militares portuguesas das regiões do continente africano que se encontravam sob "proteção britânica". Portugal acedeu ao pedido britânico, embora protestando.

A revolta espalhou-se, então, por Lisboa, um milhar de pessoas percorreu as ruas da capital, em protesto à “submissão” nacional”. O governo foi obrigado a demitir-se e foi criado o hino “A Portuguesa”, da autoria de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça, apelando à revolta dos portugueses em nome dos seus antepassados.

A concessão de Portugal às exigências britânicas foi vista como uma humilhação nacional pelos jovens estudantes. O Rei D. Carlos foi acusado de “britanismo” e de subjugação aos interesses ingleses. Portugal, embora tenha desistido do "Mapa cor-de-rosa", assinou, em 1891, um tratado luso-britânico que conferia ao nosso país a soberania sobre extensos territórios, alguns dos quais até então nunca haviam sido reivindicados. Contudo, os ganhos da Coroa portuguesa foram esquecidos, sobretudo porque a propaganda republicana contra a Monarquia, fez do Ultimatum, um desaire e uma humilhação nacional. Assim, a 31 de janeiro deu-se, no Porto, a primeira revolta falhada de derrube da Monarquia.




Em 1907, o rei D. Carlos formou um governo de ditadura liderado por João Franco, que ganhou fortes inimizades, sobretudo devido ao estabelecimento de censura na imprensa e o envio de presos políticos para as colónias. A 1 de fevereiro de 1908, D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, foram assassinados no terreiro do Paço. Após o Regicídio subiu ao trono D. Manuel II. A primeira medida do novo monarca foi demitir João Franco, enveredando por uma política de tolerância e abertura mas, mesmo assim, esta moderação na política foi incapaz de deter o republicanismo. O fim da Monarquia parecia inevitável. Importa reter que a mais velha aliança europeia, Portugal-Inglaterra, tem servido mais os interesses britânicos do que os nossos, mesmo que existam os que achem que não, seria interessante fazer uma análise profunda do interesse dessa Aliança para Portugal…

Na madrugada de 4 de outubro de 1910, alguns populares e um pequeno número de militares revoltados, armaram-se, deficientemente, e foram até ao cimo da Avenida da Liberdade. As forças fiéis ao Rei, quer militares e civis, não mostraram interesse em defender o rei e as instituições monárquicas. O palácio das Necessidades, onde estava o rei D. Manuel II, foi bombardeado por alguns navios de guerra que apoiavam o movimento republicano. O Rei e a sua família saíram de Lisboa em direção a Mafra, onde no dia seguinte, partiram para a Ericeira onde embarcaram, rumo ao exílio.





Na manhã de 5 de Outubro de 1910, José Relvas, no alto da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, proclamou a implantação da República em Portugal. A República chegou ao resto do país por telégrafo. A Monarquia chegava ao fim sem grandes conflitos, nem mortes.

O regresso do feriado de 5 de outubro acaba por ser o fim de uns anos de ultraje aos nossos antepassados, que tanto deram ao nosso país. Devemos manter a memória de todos aqueles que ajudaram na construção do nosso Portugal. Era bom que os nossos políticos olhassem para o passado e percebessem que temos de fazer mudanças e cedências para que o país se mantenha unido.





quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Tenente-Coronel José Agostinho (1888-1978)

 Tenente-Coronel José Agostinho

Nasceu na cidade de Angra do Heroísmo a 1.3.1888 e faleceu na mesma cidade em 27.7.1978.


Foto de 1945
Fez estudos gerais em Angra do Heroísmo e Lisboa. Alistou-se como voluntário no Grupo de Artilharia de Guarnição. Foi incorporado em 8.6.1904 e serviu até 31.8.1911, sendo promovido a alferes. Após ter concluído o curso de Artilharia, foi sucessivamente tenente (1913) e capitão para o Estado-Maior da sua arma (1916). Mobilizado, fez parte do Corpo Expedicionário Português em França, para onde embarcou em 21.2.1917, comandando, em 1918, a Bateria n.º 1 de Artilharia de Montanha. Desmobilizado em 1919, atingiu os postos de major em 1920 e tenente-coronel em 1931. Entretanto, concluiu o curso de Engenheria Civil (1924). Ainda antes de partir para França esteve colocado no Faial onde, pela sua cultura, despertou o interesse de Afonso Chaves, passando a ser seu colaborador.

Quando regressou da guerra, foi convidado por aquele director do Serviço Meteorológico dos Açores para um lugar no observatório em S. Miguel, iniciando assim o seu trabalho na meteorologia e geofísica, tendo, em 1926, com a morte de Afonso Chaves, sido nomeado director do Serviço Meteorológico dos Açores. Em 1956, com a nova orgânica, passou a desempenhar as funções de chefe de Divisão Regional dos Açores do Serviço Meteorológico Nacional, cargo que ocupou até atingir o limite de idade em 1958.

Carta circulada em 1928 de Ponta Delgada
para os Estados Unidos da América

Foi cumulativamente chefe do serviço meteorológico da Base Aérea n.º 4 das Lajes desde a sua criação até 1946. A sua actividade foi considerada pelas Forças Aliadas da maior utilidade para as missões. Em 1937 foi o delegado oficial do Governo à reunião em Salzburgo da Organização Meteorológica Internacional e, em 1939, delegado de Portugal à Assembleia da União Geodésica e Geofísica Internacional realizada em Washington. Tornou-se um especialista de renome internacional na meteorologia e geofísica, estando em contacto com alguns dos maiores cientistas nacionais e estrangeiros do seu tempo. Era poliglota, o que lhe facilitava muito esses contactos, que manteve até ao fim da vida. Inventou um nefoscópio de reflexão (o nefoscópio José Agostinho) e introduziu aperfeiçoamentos em alguns instrumentos de precisão. Interessou-se pelo estudo de várias áreas do saber como aerologia, magnetismo, climatologia, sismologia, vulcanologia, tectónica, ornitologia, botânica, linguística, literatura, história, geografia, etc.

Em 1928, foi nomeado pela Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo para a Comissão de Instrução, iniciando a sua carreira administrativa, quase toda ao serviço dessa instituição, tanto na Comissão Executiva, como na Presidência. Foi professor eventual do Liceu de Angra do Heroísmo entre 1923 e 1936, onde leccionou várias disciplinas.

Fundou e foi, por muitos anos, director da Sociedade Afonso Chaves, dirigindo e editando a revista *Açoreana (1934), onde publicou notáveis estudos de climatologia.

Em 1942, foi um dos sócios fundadores do Instituto Histórico da Ilha Terceira, liderado até 1955 por Luís Ribeiro. Com a morte deste, assumiu nesse ano a presidência da instituição até 1975, quando passou a presidente honorário. No Boletim do Instituto publicou estudos de história dos descobrimentos portugueses em direcção à América do Norte.

 
Foi um dos fundadores do Instituto Açoriano de Cultura, em 1956, e colaborador das Semanas de Estudo, tendo escrito um célebre trabalho sobre as dominantes histórico-sociais do povo açoriano, considerado um clássico da *açorianidade.

Colaborou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e na Enciclopédia Britânica, nomeadamente com o artigo «Azores», em muitos jornais do arquipélago, como A União, de Angra do Heroísmo, o Correio dos Açores, de Ponta Delgada, e em inúmeras revistas nacionais e estrangeiras. A sua bibliografia é extensa e muito diversificada, reflectindo a grande variedade dos seus interesses. Colaborou intensamente com o Rádio Clube de Angra, principalmente com palestras de divulgação científica, acessíveis ao grande público, sendo por isso um extraordinário divulgador da ciência.


O seu espólio científico e literário, bem como a epistolografia, estão depositados na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra, existindo um roteiro de grande utilidade, publicado no vol. XLVI (1988) do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito com palma, Cruz de Guerra da 1.ª classe, Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada, comendador da Ordem Militar de Avis, oficial da Ordem Militar de Cristo, oficial da Ordem do Império Britânico.

O município angrense concedeu-lhe a Medalha de Ouro com colar. O Observatório Meteorológico Nacional, em Angra do Heroísmo, tem o seu nome. Foi durante a maior parte da sua vida uma das grandes referências culturais nos Açores e o mais conhecido açoriano no mundo da ciência internacional.

J. G. Reis Leite (Jun.1997)



 
Obras principais: (1924), Um novo modelo de nefoscópio. O Instituto, Coimbra, Outubro, 71, 10: 459-463. (1927), Francisco Afonso Chaves. Bolletim Della Societá Sismologica Italiana, 27, 2. (1929), Le cyclone du 7-8 Janvier 1929 aux iles Açores. La Metereologie, Paris, V: 271-274. (1930), Aves dos Açores - um estudo de fauna ornitologica açoriana. Correio dos Açores, Ponta Delgada, 20 de Outubro. (1931), The Volcanos of The Azores Islands. Bulletin Volcanologique de l?Association de Volcanologie de l?Union Geodisique et Geophysique Internacional, 8, 27-30. (1938-42), O clima dos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, I-III. (1942), Quem descobriu os ventos alíseos? O Instituto, Coimbra, 100: 44-46. (1943), Diogo de Teive, povoador da Terceira, descobridor das ilhas das Flores e do Corvo, explorador dos mares do ocidente, não foi o responsável pelo desaparecimento de Jácome de Bruges. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1, 1: 50-59. (1944), Sobre a necessidade de se desenvolver os estudos do movimento do mar, em especial da Houle e da Calema. Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, 4.º Congresso, Porto, 3, 2.ª secção. (1954), Notas ornitológicas. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 2: 184-186. (1960), A actividade vulcânica nos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 4: 362-479. (1963), Dominantes histórico-sociais do povo açoriano. In Livro da II Semana de Estudos dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura: 141-163.
 
Bibl. Afonso, J. (1985), Bibliografia Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, I: 75-102. Azevedo, M. S. (1981), Dados bibliográficos do tenente-coronel José Agostinho. Açoreana, 6, 2: 105-106. Carita, R. (1988), O tenente-coronel José Agostinho. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLVI (dedicado à memória de José Agostinho): 41-47. Belém, V. (1988), Inventário do tenente José Agostinho, Ibid.: 5-40. Leite, J. G. R. (1988), José Agostinho Autonomista, Ibid.: 49-59. Machado, W. (1955), Perfil de um grande intelectual açoriano. Pensamento, supl. de A União, Angra do Heroísmo, 18 de Junho. A União (1958), Angra do Heroísmo, 1 e 3 de Março. Diário Insular (1958), Angra do Heroísmo, 1 de Março. Catálogo da Exposição sobre José Agostinho (1991), Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo (policopiado).