terça-feira, 29 de junho de 2021

Santos Populares - São Pedro



São Pedro


Segundo a Biblía, seu nome original não era Pedro, mas Simão. Nos livros dos Actos dos Apóstolos e na Segunda Epístola de Pedro, aparece ainda uma variante do seu nome original, Simão. Cristo mudou seu nome para כיפא, Kepha (Cefas em português, como em Gálatas 2:11), que em aramaico significa "pedra", "rocha", nome este que foi traduzido para o grego como Πέτρος, Petros, através da palavra πέτρα, petra, que também significa "pedra" ou "rocha", e posteriormente passou para o latim como Petrus, também através da palavra petra, de mesmo significado.

A mudança de seu nome por Jesus Cristo, bem como seu significado, ganham importância de acordo com a Igreja Católica em Mt 16, 18, quando Jesus diz: "E eu te declaro: tu és Kepha e sobre esta kepha edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão nunca contra ela." Jesus comparava Simão à rocha. Desta forma, Cristo, de acordo com a tradição católica, foi o fundador da Igreja Católica, fundada sobre Simão Pedro e sendo-lhe concedido, por este motivo, o título de Príncipe dos Apóstolos. Esse título é um tanto tardio, visto que tal designação só começaria a ser usada cerca de um século mais tarde, suplementando o de Patriarca (agora destinado a outro uso). Pedro foi o primeiro Bispo de Roma. Essa circunstância é importante, pois daí provém a primazia do Papa e da diocese de Roma sobre toda a Igreja Católica; posteriormente esse evento originaria os títulos "Apostólica" e "Romana".

Antes de se tornar um dos doze discípulos de Cristo, Simão era pescador. Teria nascido em Betsaida e morava em Cafarnaum. Era filho de um homem chamado João ou Jonas e tinha por irmão o também apóstolo André. Simão e André eram "empresários" da pesca e tinham sua própria frota de barcos, em sociedade com Tiago, João e o pai destes, Zebedeu.

Possivelmente Pedro era casado e tinha pelo menos um filho. Sua esposa era de uma família rica e moravam numa casa própria, cuja descrição é muito semelhante a uma vila romana, na cidade "romana" de Cafarnaum.

Segundo o relato em Lucas 5:1-11, no episódio conhecido como "Pesca Milagrosa", Pedro teria conhecido Jesus quando este lhe pediu que utilizasse uma das suas barcas, de forma a poder pregar a uma multidão de gente que o queria ouvir. Pedro, que estava a lavar redes com Tiago e João, seus sócios e filhos de Zebedeu, concedeu-lhe o lugar na barca, que foi afastada um pouco da margem.


No final da pregação, Jesus disse a Simão que fosse pescar de novo com as redes em águas mais profundas. Pedro disse-lhe que tentara em vão pescar durante toda a noite e nada conseguira mas, em atenção ao seu pedido, fá-lo-ia. O resultado foi uma pescaria de tal monta que as redes iam rebentando, sendo necessária a ajuda da barca dos seus dois sócios, que também quase se afundava puxando os peixes. Numa atitude de humildade e espanto Pedro prostrou-se perante Jesus e disse para que se afastasse dele, já que é um pecador. Jesus encorajou-o, então, a segui-lo, dizendo que o tornará "pescador de homens".

Nos evangelhos sinóticos, o nome de Pedro sempre encabeça a lista dos discípulos de Jesus, o que na interpretação da Igreja Católica Romana deixa transparecer um lugar de primazia sobre o Colégio Apostólico. Não se descarta que Pedro, assim como seu irmão André, antes de seguir Jesus, tenha sido discípulo de João Batista.

Outro dado interessante era a estreita amizade entre Pedro e João, fato atestado em todos os evangelhos, como por exemplo, na Última Ceia, quando pergunta ao Mestre, através do Discípulo Amado (João), quem o haveria de trair ou quando ambos encontram o Sepulcro de Cristo vazio no Domingo de Páscoa. Facto é que tal amizade perdurou até mesmo após a Ascensão de Jesus, como podemos constatar na cena da cura de um paralítico posto nas portas do Templo de Jerusalém.

Segundo a tradição defendida pela Igreja Católica Romana e pela Igreja Ortodoxa, o apóstolo Pedro, depois de ter exercido o episcopado em Antioquia, teria se tornado o primeiro Bispo de Roma. Segundo esta tradição, depois de solto da prisão em Jerusalém, o apóstolo teria viajado até Roma e ali permanecido até ser expulso com os judeus e cristãos pelo imperador Cláudio, época em que haveria voltado a Jerusalém para participar da reunião de apóstolos sobre os rituais judeus no chamado Concílio de Jerusalém.

A Bíblia atesta que após esta reunião, Pedro ficou em Antioquia (como o seu companheiro de ministério, Paulo, afirma em sua carta aos gálatas). A tradição da Igreja Católica Romana afirma que depois de passar por várias cidades, Pedro haveria sido martirizado em Roma entre 64 e 67 d.C. Desde a Reforma, teólogos e historiadores protestantesafirmaram que Pedro não teria ido a Roma; esta tese foi defendida mais proeminentemente por Ferdinand Christian Baur da Escola de Tubingen.

Outros, como Heinrich Dressel, em 1872, declararam que Pedro teria sido enterrado em Alexandria, no Egito ou em Antioquia. Hoje, porém, os historiadores concordam que Pedro realmente viveu e morreu em Roma. O historiador luterano Adolfo Harnack afirmou que as teses anteriores foram tendenciosas e prejudicaram o estudo sobre a vida de Pedro em Roma. Sua vida continua sendo objecto de investigação, mas o seu túmulo está localizado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o qual foi descoberto em 1950 após anos de meticulosa investigação.

Alguns pesquisadores acreditam que, assim como Judas Iscariotes, Pedro tenha sido um zelota, grupo que teria surgido dos fariseus e constituía-se de pequenos camponeses e membros das camadas mais pobres da sociedade. Este supostamente estaria comprovado em Marcos 3:18, assim como em Actos 1:13, no entanto, o certo "Simão, o Zelote" é na realidade uma pessoa distinta dentre as nomeações descritas nas referidas citações.

Fonte: Wikipédia





29 DE JUNHO - SOLENIDADE LITÚRGICA DE S. PEDRO E S. PAULO


Todos os Apóstolos sempre foram venerados pela Igreja, como primeiras testemunhas oculares de todos os acontecimentos da vida pública de Jesus, os mensageiros e pastores estabelecidos por Ele sobre a sua Igreja. Foram eles que levaram a mensagem de salvação a todos os povos e construiram as primeiras comunidades cristãs.


Tudo isto se aplica de modo particular a São Pedro, que o próprio Cristo estabeleceu como pedra fundamental da sua Igreja e ao qual confiou individulmente «as chaves do Reino dos céus» (Mt 16, 18s). S. Paulo foi um convertido e de perseguidor da Igreja tornou-se, pela graça de Deus, o maior missionário, que percorreu praticamente o mundo conhecido de então a anunciar O Evangelho


Provavelmente, a partir de meados do século III, começaram a ser celebrados em conjunto, no dia 29 de junho, em Roma, onse se encontram os túmulos dos dois Apóstolos. Pedro, na Basílica do Vaticano e Paulo na Basílica da via Ostiense, já «fora dos muros» da cidade de Roma.


O martirio de ambos deve ter-se dado entre os anos 54 e 58, durante a grande perseguição do Imperador Nero.


Esta Solenidade tem duas Missas, a da Vigília, no dia 28 à tarde e a do dia 29. Nesta Missa a 1ª leitura é de Act12, 1-11 que nos relata a prisão de Pedro, em Jerusalém, mas na noite em que estava para ser apresentado ao juiz, foi libertado prodigiosamente, A 2ª leitura é da 2ª Tim 4, 6-8.17-18 e mostra-nos o Apóstolo Paulo cheio de confiança em face ao martírio que se avizinha: «Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé...». No Evangelho de Mt 16, 13-14, ouvimos a confissão de Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo... » O Senhor converteu-o em fundamento da sua Igreja com o poder de ligar e desligar.


A Igreja sempre considerou S. Pedro e S. Paulo, com «os Principes dos Apóstolos»


Nota: Texto e imagem do Cónego Ângelo Valadão.





quinta-feira, 24 de junho de 2021

Santos Populares - São João

São João


O cristãos há muito interpretam a vida de João Batista como uma preparação para o Advento de Jesus e as circunstâncias de seu nascimento, relatados no Novo Testamento, são também milagrosos. O único relato bíblico sobre o nascimento do profeta está no Evangelho de Lucas.

Os pais de João, Zacarias - um sacerdote judeu - e Isabel não tinham filhos e já haviam passado da idade de tê-los.

Durante uma jornada de trabalho servindo no Templo de Jerusalém, ele foi escolhido por sorteio para oferecer incenso no Altar Dourado no Santo dos Santos. O Arcanjo Gabriel apareceu para ele e anunciou que ele e sua esposa iriam dar à luz uma criança e que ele deveria chamá-lo de João. Porém, por não ter acreditado na mensagem de Gabriel, ele ficou mudo até o nascimento de seu filho. Os seus parentes quiseram então dar-lhe o nome do pai e Zacarias, sem poder falar, escreveu: "Seu nome é João" e sua voz voltou .

Depois de ter obedecido o comando de Deus, ele recebeu o dom da profecia e previu o futuro de João. O cântico que Zacarias profere em seguida, chamado Benedictus, é utilizado até hoje nos serviços litúrgicos de diversas denominações cristãs.

Na Anunciação, quando o Arcanjo Gabriel apareceu para a Virgem Maria para informá-la que ela iria conceber seu filho Jesus através do Espírito Santo, ele também a informou de que Isabel, sua prima, já estava grávida de seis meses, Maria então viajou para visitar Isabel.

O Evangelho de Lucas relata que o bebê "chutou" no ventre de Isabel quando ela cumprimentou Maria.

O Dia de São João é um dos mais antigos festivais do cristianismo, já aparecendo no concílio de Agde, em 506 d.C., como um dos principais festivais da época, um feriado e, como o Natal, era celebrado com três missas: uma pela manhã, uma ao meio-dia e outra no pôr-do-sol.

O nascimento de João Batista no dia de 24 de junho ocorre três meses depois da celebração da Anunciação, em 25 de março e seis meses antes do Natal, que celebra o nascimento de Jesus. Obviamente, o objectivo das festas não é marcar a data exacta destes eventos, mas sim comemorá-los de forma interligada.

O nascimento de São João Batista é um feriado importante no calendário dos santos, mantido pelas Igrejas Católica, Anglicana e Luterana.

O dia da morte de um santo é geralmente comemorado na sua festa, com exceção de Jesus, da Virgem Maria e de João Batista, embora a morte deles também seja celebrada no calendário litúrgico (Jesus na Sexta-Feira Santa, Maria na Assunção de Maria e João na Decapitação de João Batista). A razão - na doutrina católica - é que São João, como Jeremias e a Virgem, foi purificado do pecado original antes de seu nascimento, embora o nascimento de João não seja imaculado como no caso da Virgem.
A festa do Batismo de Jesus comemora o batismo realizado por João em Jesus.



Na Igreja Ortodoxa e em outras Igrejas Orientais, São João Batista é geralmente chamado de São João, o Precursor, um título utilizado também no ocidente (em grego: Πρόδρομος e em latim: Precursor). Este título indica que o objetivo do seu ministério era preparar o caminho para o advento de Jesus. No oriente também, o dia de São João é celebrado em 24 de junho. É uma festa maior e é celebrado como uma vigília de noite inteira e com uma pós-festa de um dia.

A questão naturalmente surge sobre o motivo da celebração se realizar no dia 24 ao invés do dia seguinte, se o objectivo é cair precisamente seis meses antes do Natal. Já foi por vezes alegado que as autoridades da Igreja queriam cristianizar as celebrações pagãs do solstício e, por isto, colocaram a festa de São João como substituta. Esta explicação é questionável, pois durante a Idade Média o solstício acontecia no meio de Junho por conta da inacuracidade do calendário juliano. Foi apenas em 1582, com a introdução do calendário gregoriano, que o solstício retornou ao dia 21 de Junho como acontecia no século IV.

Portanto, uma explicação mais provável do motivo pelo qual a festa cai em 24 e junho está no modo de contagem romano, que procedia de trás para frente a partir das "calendas" (primeiro dia) do mês seguinte. O Natal era "o oitavo dia das calendas de janeiro" (Octavo Kalendas Januarii). Consequentemente, o nascimento de São João foi colocado no "oitavo dia antes das calendas de Julho". Porém, como Junho tinha apenas 30 dias, a festa caiu finalmente no dia 24 de junho.

Igreja de São João Batista
em Angra do Heroísmo
De qualquer forma, o significado da festa caindo por volta do solstício é considerado como significativo, relembrando as palavras do próprio João Batista sobre Jesus: «É necessário que ele cresça, e que eu diminua» (João 3:30).

Junto com a Festa de São Pedro e São Paulo e a Festa de Santo António, a Festa de São João é celebrada por todos os países lusófonos como parte das festas juninas, onde o sincretismo do significado religioso e pré-cristão é mais evidente.

Fonte: Wikipédia







 MUSEU EM EXPOSIÇÃO

Santos com história: São João Baptista


Em 1642, depois de ter mantido um cerco que obrigou as forças castelhanas confinadas no então Castelo de S. Felipe, a renderem-se, o povo da ilha Terceira, reunido na Câmara de Angra, solicitou a D. João IV, que mudasse o nome desta fortaleza de S.Felipe para S. João, em honra ao recém-aclamado rei, e que autorizasse a construção de uma igreja com evocação a S. João Baptista. O monarca acedeu e, por alvará de 1643, autorizou a edificação da nova igreja, concedendo o título de "sempre leal" à cidade de Angra, bem como outros privilégios e mercês aos seus cidadãos. Esta imagem, que pertence à Unidade de Gestão de Belas-Artes do Museu de Angra do Heroísmo, terá sido uma das primeiras a ocupar o altar mor da igreja então edificada, integrando agora o altar da Capela de Luiz Gonzaga da Igreja de Nossa Senhora da Guia.

S. João Baptista é o primeiro mártir da Igreja e o último dos profetas. O seu prestígio justifica o fato de, no calendário hagiológico, se ter feito coincidir o seu nascimento com as ancestrais comemorações do solstício de verão e de ser muito valorizado como padroeiro e protetor. Deve o seu cognome a ter batizado Cristo cujo nascimento e sacrifício anunciou. Daí ser representado ostentando um bastão em forma de cruz e segurando o “Cordeiro de Deus que tira os pecados do Mundo”. As suas vestes de pele de camelo, animal de temperamento hostil e capaz de resistir por longo tempo à sede no deserto, seguras por uma tira de couro, remetem simbolicamente para a renitência dos homens em aceitar a palavra de Deus e para a sua subjugação ao pecado.

 

domingo, 20 de junho de 2021

A Ilha do Corvo



Descoberta e povoamento

Vista da Vila do Corvo
Nos mapas genoveses do século XIV, nomeadamente no Portulano Mediceo Laurenziano (1351), é mencionado a "Insula Corvi Marini" (Ilha do Corvo Marinho) entre as sete ilhas que compunham o arquipélago, mas é improvável que esta designação se refira especificamente a esta ilha, apesar de ter sido a origem do nome. É provável ser uma designação para ambas as ilhas do Grupo Ocidental do Arquipélago dos Açores, como parece ser o caso no chamado Atlas Catalão (1375).

Na fase de exploração portuguesa do Atlântico sabe-se que foi Diogo Teive quem achou as ilhas do Grupo Ocidental dos Açores, no regresso de sua segunda viagem de exploração à Terra Nova, em 1452. Terá sido descoberta em simultâneo com a Ilha das Flores, já que as ilhas se avistam mutuamente. A sua designação henriquina é Ilha de Santa Iria, mas foi também chamada de Ilhéu das Flores, ilha da Estátua, ilha do Farol, ilha de São Tomás e ainda de Ilha do Marco, tendo este nome persistido durante alguns séculos em razão, de para alguns servir o monte do Caldeirão servir como uma referência geográfica para os marinheiros ou, e mais provavelmente, pelo facto de existir um pequeno promontório a que foi dado o nome de Ponta do Marco, local onde possivelmente terá sido afixado algum padrão como era hábito fazer-se nas novas terras descobertas.




Caldeirão




A caminho do Caldeirão

Apesar da incerteza quanto à data do achamento português da ilha, é seguramente anterior a 20 de Janeiro de 1453, data em que Afonso V de Portugal fez doação da ilha, e da vizinha ilha das Flores, a seu tio, Afonso I, Duque de Bragança.

A primeira tentativa de povoamento do Corvo foi empreendida por um grupo de 30 pessoas, lideradas por Antão Vaz de Azevedo, natural da ilha Terceira, no início do século XVI, que entretanto culminou com o seu abandono.


Caldeirão
O mesmo sucedeu com um grupo de povoadores, também oriundos da Terceira, liderados pelos irmãos Barcelos. Mais tarde, em meados do século, a 12 de Novembro de 1548, Conçalo de Sousa, capitão donatário das ilhas das Flores e do Corvo, foi autorizado a mandar para ilha escravos - provavelmente mulatos, oriundos da ilha de Santo Antão, arquipélago de Cabo Verde - de sua confiança como agricultores e criadores de gado.
Em 1570 foi construída a primitiva igreja. Por volta de 1580, colonos das Flores fixam-se no Corvo, que, a partir de então passou a ser permanentemente habitada, dedicando-se a população à agricultura, à pastorícia e à pesca.




Piratas e corsários

Apesar de seu isolamento, a ilha sofreu diversas incursões de corsários e piratas. Os corvinos, entretanto, souberam impor-se, muitas vezes aliando-se aos incursores e participando activamente na sua actividade. Em troca de protecção e dinheiro, a ilha fornecia água, alimentos e homens, ao mesmo tempo que permitia tratar os enfermos e reparar os navios.

Em 1587, o Corvo foi saqueado e as suas casas queimadas pelos corsários ingleses, que haviam atacado as Lajes das Flores. No ano de 1632, a ilha sofreu duas tentativas de desembarque de piratas da Barbária, no local do actual cais Porto da Casa, que na altura ainda era apenas uma baía. Duzentos corvinos usaram tudo ao seu dispor para repelir os atacantes que acabaram por desistir com baixas. A imagem de Nossa Senhora do Rosário foi colocada na Canada da Rocha e daí, diz a lenda que ela protegeu a população das balas disparadas.

Foi o segundo pároco da ilha, o florentino Inácio Coelho, irmão do cronista frei Diogo das Chagas. Foi ele quem conseguiu que D. Martinho de Mascarenhas, 2.º capitão do donatário, assumisse o sustento do pároco, bem como a ele se deve a presumível redacção e divulgação dos factos e atribuição à Virgem Maria do milagre da vitória dos corvinos sobre os piratas. A partir de então, a imagem passou a ser chamada de Nossa Senhora dos Milagres.

Interior da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Em 1647 o lugar do Corvo foi elevado a paróquia, sendo o seu primitivo orago Nossa Senhora do Rosário.

Antes dessa data, a ilha era visitada anualmente por um padre de Santa Cruz das Flores por ocasião da Quaresma. O primeiro pároco foi o faialense Bartolomeu Tristão.




O século XVIII



No século XVIII, com a chegada dos barcos baleeiros norte-americanos à Ilha das Flores para recrutar tripulação e arpoadores, uma vez que os corvinos eram apreciados pela sua coragem, iniciou-se uma estreita relação com a América do Norte, que passou desde então a ser o destino de eleição para a emigração corvina e de onde chegaram praticamente todas as novidades à ilha, a qual manteve durante muito tempo uma relação mais estreita com Boston do que com Lisboa.

A emigração clandestina era uma constante da vida da ilha, apesar dos esforços repressivos das autoridades portuguesas, preocupadas com a fuga ao serviço militar obrigatório e com a perda de mão-de-obra.

Os corvinos tinham de pagar tributo aos seus capitães do donatário e, a partir de 1759, com morte a 8.º duque de Aveiro e conde de Santa Cruz, à Coroa. 

Foi Mouzinho da Silveira, impressionado pela quase escravidão em que vivia o povo do Corvo, obrigado a comer pão de junca para poder pagar o tributo a que se encontrava obrigado, quem propôs a redução, para a metade, do pagamento em trigo e anulou o pagamento em dinheiro, fazendo assim a felicidade dos corvinos. Manuel Tomás de Avelar foi o chefe delegação de corvinos que foi a Angra do Heroísmo fazer a petição, despertando, pela sua sabedoria e maneiras, o espanto da liderança liberal da Regência de Angra.


1832 - Mouzinho da Silveira

A impressão foi tal que Mouzinho da Silveira, hoje homenageado como patrono da Escola Básica Integrada do Corvo, anos depois escreveria no seu testamento que gostaria de estar sepultado na ilha, "cercado de gente que na minha vida se atreveu a ser agradecida".

O decreto, datado de 14 de Maio de 1832, e assinado em Ponta Delgada por D. Pedro IV, reduziu à metade (20 moios) o pagamento em trigo que os corvinos faziam a Pedro José Caupers, então donatário da Coroa, e eliminou o pagamento em dinheiro de 80 000 réis. Em contrapartida, a Coroa assumiu indemnizar o donatário. O tributo apenas foi completamente abolido em 1835.



O século XIX


No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), quando da ofensiva liberal do 7º conde de Vila Flor (1831), a ilha reconheceu espontaneamente o governo liberal. Pouco depois, Pedro IV de Portugal elevou a povoação do Corvo à categoria de vila e sede de concelho (20 de Junho de 1832). O decreto determinou que a nova vila se chamasse Vila do Corvo, e não Vila Nova como por vezes aparece grafado. Antes disso, esteve sob jurisdição de Santa Cruz das Flores, sendo uma das freguesias daquele concelho. Atualmente o dia 20 de Junho é feriado municipal.

Em 1886, o Governador Civil do Distrito da Horta, Manuel Francisco de Medeiros, quando visitou a Vila do Corvo indagou quais eram as suas aspirações. Foi-lhe pedido apenas uma Bandeira Nacional para saudar os barcos que por aqui passavam.

Durante as suas expedições oceanográficas ao Atlântico, o príncipe Alberto I do Mónaco visitou demoradamente a ilha no seu iate Hirondelle, recolhendo imagens fotográficas de extraordinário interesse, hoje no Museu Aceanográfico do Mónaco e apenas parcialmente publicadas.

A ilha foi também visitada em 1934 pelo escritor português Raul Brandão, que com a sua obra Ilhas Desconhecidas muito contribuiu para a mitificação das vivências dos habitantes do Corvo, criando a imagem de uma idílica república comunitária que persistiu até quase aos nossos dias.

A partir do início do século XIX assistiu-se ao crescimento constante da emigração para os Estados Unidos e Canadá, com um interregno entre 1925 e 1955, num processo que se prolongou até meados da década de 1980.


Do século XX aos nossos dias


Em 1938 o Corvo teve pela primeira vez um médico residente, o dr. João Rosdrigues Ferreira da Silva, que ali permaneceu até 1945. O actual centro de saúde da ilha ostenta o nome daquele médico.

De 1950 a 1954, O Corvo teve um outro médico residente, Álvaro de Sousa e Brito, que ali viveu com a sua mulher e duas filhas, uma das quais ali nasceu com a assistência do seu próprio pai. O Dr. Álvaro de Sousa e Brito, para além da sua actividade clínica onde de inclui a sua preciosa contribuição para erradicar as epidemias de tifóide na ilha, também contribuiu juntamente com o padre Leoneto Melo do Rego, para desenvolver a banda de música já existente. Para ajudar os rapazes da ilha a terem uma actividade desportiva, iniciou a prática do voleibol.




Germinação com Turlock
Na década de 1960 a população da ilha viveu em constante oposição ao regime florestal imposto sobre o baldio da ilha, regime esse que levou ao fim da produção de lã, fazendo desaparecer totalmente as ovelhas da ilha, e com elas as tradições ligadas à tosquia, cardagem, fiação e tratamento das lãs, antes aspectos centrais da cultura corvina.













Vista aérea do Corvo
(Aeródromo)
Em 28 de Setembro de 1983, foi inaugurado o Aeródromo do Corvo, com uma pista de 800 metros de extensão. De início, as ligações aéreas entre o Corvo e a Terceira (Lajes) eram asseguradas por um avião CASA C-212 Aviocar da Força Aérea Portuguesa. A partir de 1991 esta aeronave foi substituída por um Dornier 228-212 da SATA, fazendo as ligações com Santa Cruz das Flores, Horta e Terceira (Lajes). O aeródromo é servido quatro dias por semana no período do Verão, e três dias por semana no de Inverno, podendo o número de voos ser alterado se a quantidade de passageiros assim o demandar.


Vila do Corvo

Vila do Corvo

A Vila do Corvo, também chamada erradamente de Vila Nova do Corvo, é a mais pequena dos Açores, com 425 habitantes (em 2001). A única povoação da ilha é constituída por um aglomerado de casas baixas com ruas estreitas e tortuosas que sobem as encostas, conhecidas localmente por canadas. Sofreu devido à emigração, principalmente para os EUA e Canadá.. 

A superfície do seu concelho corresponde a toda a superfície da ilha. O concelho mais próximo é Santa Cruz das Flores, tornando este o local habitado mais isolado de Portugal.

Medalha da Ilha do Corvo
(Caldeirão)
Durante o Inverno, as ligações marítimas, apesar de regulares, são fortemente condicionadas pelo estado do mar e pelo vento já que o Porto da Casa, o pequeno molhe que serve a ilha, não fornece abrigo que permita a operação com tempo adverso. No entanto, durante o Verão, chega a haver várias ligações por dia, usando barcos rápidos que fazem o trajecto entre o Corvo e Santa Cruz das Flores em cerca de 30 minutos.




Monumentos e museus

Do património arquitectónico existente, destaca-se a Igreja de Nossa Senhora doa Milagres, construída em 1795, que veio substituir a primitiva ermida. No seu interior, podem admirar-se a estátua da padroeira, obra flamenga do século XVI da escola de Malines, um Cristo em marfim e uma imagem em madeira de Nossa Senhora da Conceição, entre várias outras imagens existentes na igreja.

Além da igreja, é digna de ser visitada a Casa do Espírito Santo, no típico Largo do Outeiro, fundada a 1871, seguindo a traça simétrica típica das Casas do Espírito Santo das ilhas das Flores e Corvo.

Junto ao aeroporto existem os interessantes moinhos de vento típicos do Corvo, classificados como imóveis de interesse municipal. Dos cerca de 7 moinhos que existiram na ilha, apenas 3 moinhos se mantêm em funcionamento, embora já não sejam utilizados para o fim para que foram construídos.

O casario da vila é um verdadeiro museu vivo, também classificado como conjunto de interesse público, onde as pessoas mais antigas preservam no falar expressões arcaicas únicas com uma evolução linguística muito própria.

Em duas casas tradicionais cuidadosamente recuperadas foi instalado em 2007 um moderno centro interpretativo cultural e ambiental da ilha, com espaço museológico e galeria para exposições temporárias.

Um local a não perder é o Miradouro do Pão de Açúcar localizado na elevação do Pão de Açúcar, infelizmente desfeiteado por uma lixeira a céu aberto. O troço ascendente da estrada que conduz ao interior da ilha também proporciona vistas de grande beleza sobre a vila, a fajã onde ela se situa e a vizinha ilha das Flores.

O Caldeirão, a cratera central da ilha, com as suas lagoas e turfeiras, é uma das mais belas paisagens dos Açores. Foi ainda constituída ao abrigo da Directiva Habitats e da Directiva Aves o Sítio de Importância Comunitária Costa e Caldeirão do Corvo e a Zona de Protecção Especial da Costa e Caldeirão, hoje integrados no Parque Natural da Ilha do Corvo criado pelo Decreto Legislativo Regional nº. 56/2006/a, de 22 de Dezebro.

A ilha possui dois farolins para ajuda à navegação: um na Ponta Negra (desde 1910); o outro no Canto da Carneira, nas coordenadas geográficas 39º 42,98’ N e 031º 05,15’ W (desde 1965, agora inactivo).







sábado, 19 de junho de 2021

Tenente-Coronel José Agostinho (1888-1978)

 Tenente-Coronel José Agostinho

Nasceu na cidade de Angra do Heroísmo a 1.3.1888 e faleceu na mesma cidade em 27.7.1978.


Foto de 1945
Fez estudos gerais em Angra do Heroísmo e Lisboa. Alistou-se como voluntário no Grupo de Artilharia de Guarnição. Foi incorporado em 8.6.1904 e serviu até 31.8.1911, sendo promovido a alferes. Após ter concluído o curso de Artilharia, foi sucessivamente tenente (1913) e capitão para o Estado-Maior da sua arma (1916). Mobilizado, fez parte do Corpo Expedicionário Português em França, para onde embarcou em 21.2.1917, comandando, em 1918, a Bateria n.º 1 de Artilharia de Montanha. Desmobilizado em 1919, atingiu os postos de major em 1920 e tenente-coronel em 1931. Entretanto, concluiu o curso de Engenheria Civil (1924). Ainda antes de partir para França esteve colocado no Faial onde, pela sua cultura, despertou o interesse de Afonso Chaves, passando a ser seu colaborador.

Quando regressou da guerra, foi convidado por aquele director do Serviço Meteorológico dos Açores para um lugar no observatório em S. Miguel, iniciando assim o seu trabalho na meteorologia e geofísica, tendo, em 1926, com a morte de Afonso Chaves, sido nomeado director do Serviço Meteorológico dos Açores. Em 1956, com a nova orgânica, passou a desempenhar as funções de chefe de Divisão Regional dos Açores do Serviço Meteorológico Nacional, cargo que ocupou até atingir o limite de idade em 1958.

Carta circulada em 1928 de Ponta Delgada
para os Estados Unidos da América

Foi cumulativamente chefe do serviço meteorológico da Base Aérea n.º 4 das Lajes desde a sua criação até 1946. A sua actividade foi considerada pelas Forças Aliadas da maior utilidade para as missões. Em 1937 foi o delegado oficial do Governo à reunião em Salzburgo da Organização Meteorológica Internacional e, em 1939, delegado de Portugal à Assembleia da União Geodésica e Geofísica Internacional realizada em Washington. Tornou-se um especialista de renome internacional na meteorologia e geofísica, estando em contacto com alguns dos maiores cientistas nacionais e estrangeiros do seu tempo. Era poliglota, o que lhe facilitava muito esses contactos, que manteve até ao fim da vida. Inventou um nefoscópio de reflexão (o nefoscópio José Agostinho) e introduziu aperfeiçoamentos em alguns instrumentos de precisão. Interessou-se pelo estudo de várias áreas do saber como aerologia, magnetismo, climatologia, sismologia, vulcanologia, tectónica, ornitologia, botânica, linguística, literatura, história, geografia, etc.

Em 1928, foi nomeado pela Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo para a Comissão de Instrução, iniciando a sua carreira administrativa, quase toda ao serviço dessa instituição, tanto na Comissão Executiva, como na Presidência. Foi professor eventual do Liceu de Angra do Heroísmo entre 1923 e 1936, onde leccionou várias disciplinas.

Fundou e foi, por muitos anos, director da Sociedade Afonso Chaves, dirigindo e editando a revista *Açoreana (1934), onde publicou notáveis estudos de climatologia.

Em 1942, foi um dos sócios fundadores do Instituto Histórico da Ilha Terceira, liderado até 1955 por Luís Ribeiro. Com a morte deste, assumiu nesse ano a presidência da instituição até 1975, quando passou a presidente honorário. No Boletim do Instituto publicou estudos de história dos descobrimentos portugueses em direcção à América do Norte.

 
Foi um dos fundadores do Instituto Açoriano de Cultura, em 1956, e colaborador das Semanas de Estudo, tendo escrito um célebre trabalho sobre as dominantes histórico-sociais do povo açoriano, considerado um clássico da *açorianidade.

Colaborou na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira e na Enciclopédia Britânica, nomeadamente com o artigo «Azores», em muitos jornais do arquipélago, como A União, de Angra do Heroísmo, o Correio dos Açores, de Ponta Delgada, e em inúmeras revistas nacionais e estrangeiras. A sua bibliografia é extensa e muito diversificada, reflectindo a grande variedade dos seus interesses. Colaborou intensamente com o Rádio Clube de Angra, principalmente com palestras de divulgação científica, acessíveis ao grande público, sendo por isso um extraordinário divulgador da ciência.


O seu espólio científico e literário, bem como a epistolografia, estão depositados na Biblioteca Pública e Arquivo de Angra, existindo um roteiro de grande utilidade, publicado no vol. XLVI (1988) do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira.

Condecorado com o grau de Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada de Valor, Lealdade e Mérito com palma, Cruz de Guerra da 1.ª classe, Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada, comendador da Ordem Militar de Avis, oficial da Ordem Militar de Cristo, oficial da Ordem do Império Britânico.

O município angrense concedeu-lhe a Medalha de Ouro com colar. O Observatório Meteorológico Nacional, em Angra do Heroísmo, tem o seu nome. Foi durante a maior parte da sua vida uma das grandes referências culturais nos Açores e o mais conhecido açoriano no mundo da ciência internacional.

J. G. Reis Leite (Jun.1997)



 
Obras principais: (1924), Um novo modelo de nefoscópio. O Instituto, Coimbra, Outubro, 71, 10: 459-463. (1927), Francisco Afonso Chaves. Bolletim Della Societá Sismologica Italiana, 27, 2. (1929), Le cyclone du 7-8 Janvier 1929 aux iles Açores. La Metereologie, Paris, V: 271-274. (1930), Aves dos Açores - um estudo de fauna ornitologica açoriana. Correio dos Açores, Ponta Delgada, 20 de Outubro. (1931), The Volcanos of The Azores Islands. Bulletin Volcanologique de l?Association de Volcanologie de l?Union Geodisique et Geophysique Internacional, 8, 27-30. (1938-42), O clima dos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, I-III. (1942), Quem descobriu os ventos alíseos? O Instituto, Coimbra, 100: 44-46. (1943), Diogo de Teive, povoador da Terceira, descobridor das ilhas das Flores e do Corvo, explorador dos mares do ocidente, não foi o responsável pelo desaparecimento de Jácome de Bruges. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1, 1: 50-59. (1944), Sobre a necessidade de se desenvolver os estudos do movimento do mar, em especial da Houle e da Calema. Associação Portuguesa para o Progresso das Ciências, 4.º Congresso, Porto, 3, 2.ª secção. (1954), Notas ornitológicas. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 2: 184-186. (1960), A actividade vulcânica nos Açores. Açoreana, Angra do Heroísmo, 5, 4: 362-479. (1963), Dominantes histórico-sociais do povo açoriano. In Livro da II Semana de Estudos dos Açores. Angra do Heroísmo, Instituto Açoriano de Cultura: 141-163.
 
Bibl. Afonso, J. (1985), Bibliografia Geral dos Açores. Angra do Heroísmo, Secretaria Regional de Educação e Cultura, I: 75-102. Azevedo, M. S. (1981), Dados bibliográficos do tenente-coronel José Agostinho. Açoreana, 6, 2: 105-106. Carita, R. (1988), O tenente-coronel José Agostinho. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLVI (dedicado à memória de José Agostinho): 41-47. Belém, V. (1988), Inventário do tenente José Agostinho, Ibid.: 5-40. Leite, J. G. R. (1988), José Agostinho Autonomista, Ibid.: 49-59. Machado, W. (1955), Perfil de um grande intelectual açoriano. Pensamento, supl. de A União, Angra do Heroísmo, 18 de Junho. A União (1958), Angra do Heroísmo, 1 e 3 de Março. Diário Insular (1958), Angra do Heroísmo, 1 de Março. Catálogo da Exposição sobre José Agostinho (1991), Biblioteca Pública de Angra do Heroísmo (policopiado).