quarta-feira, 31 de março de 2021

Francisco Nogueira (Historiador)


 

FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRA



Francisco Miguel Nogueira nasceu a 8 de agosto de 1985, na Ilha Terceira. É Historiador e Investigador.


Licenciado em História pelo ISCTE (Instituto Universitário de Lisboa), tornou-se Mestre em História Moderna e Contemporânea, com especialidade em Relações Internacionais com tese intitulada



 O impacto da presença britânica na Ilha Terceira (1943-1946)




pela mesma universidade. Realizou diversos cursos através do Centro de Conhecimentos dos Açores da Direcção Regional da Cultura em colaboração com o Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores, entre os quais, “História da Arte e do Património Construído nos Açores” e “Portugal, os Açores e o domínio filipino”. Foi auditor no II Curso Intensivo de Segurança e Defesa do Instituto de Defesa Nacional.


É Historiador do Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Património (CECHAP), entre outros, onde apoia no ensino e em pesquisas nas áreas da História dos Açores, da História Moderna e da História Contemporânea.



É sócio do Instituto Açoriano de Cultura e Sócio Correspondente do Instituto Histórico da Ilha Terceira (IHIT).


Consulte todas as suas crónicas em:


Clicar --> CRÓNICAS


É Palestrante em diversas apresentações, tanto ligadas a História Militar, como religiosa, como social, tendo um papel ativo em termos socioculturais como cronista regular em vários meios de comunicação social, tanto regional, como nacional e até internacional.


Foi Prémio Revelação na 1ª Gala do Jornal da Praia/Vitec, a 9 de maio de 2014, pelo seu contributo na divulgação da História dos Açores.


O seu 1º livro.

"O livro não cria a imagem do herói e do vilão"







Qual foi o caminho até ao lançamento deste livro?
Este livro foi escrito durante esta pandemia, por isso teve um processo de desenvolvimento diferente. Depois do convite da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, comecei a ler a bibliografia sobre o tema do liberalismo em Portugal e depois bibliografia sobre o levantamento liberal em Angra do Heroísmo. Li e pesquisei com especial atenção os Anais da Ilha Terceira de Ferreira Drumond e o Arquivo dos Açores de Ernesto do Canto. Depois fui para a Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, procurando investigar e pesquisar no fundo da Capitania-Geral e do Fundo Teotónio Ornelas Bruges. Felizmente, os funcionários foram excelentes para fazer pesquisa em um momento tão complicado como este da pandemia. Depois de compilada a informação, foi escrever, buscando um fio condutor para contar a História do Levantamento e todas as estórias que o rodeiam, de forma simples e acessível a todos os leitores. Depois de escrito, foram as leituras e releituras e inserção das fotografias, com a colaboração do Rúben Quadro Ramos, o responsável pela paginação. A interação com a Câmara Municipal foi sempre fácil e de total apoio. No início deste mês, ao ver o livro em minhas mãos, foi um gosto inenarrável. Já antes tinha sido coautor de dois livros, mas ter este escrito somente por mim, pela minha pesquisa e investigação, é algo indescritível.
O que se pode contar sobre este episódio histórico?
Este episódio é muito interessante e precisa ser mais conhecido entre os terceirenses, sobretudo neste momento, em que celebraremos, no fim-de-semana da Páscoa, os 200 anos sobre o levantamento liberal de dois de abril. É interessante pensarmos que um acontecimento como este que dura pouco mais de 48h tem momentos tão intensos e com vários episódios tão fortes e mesmo violentos, com voltas e reviravoltas inesquecíveis. A obra embora seja sobre o levantamento liberal de dois de abril, acaba por ter dois principais protagonistas, os rivais Francisco António de Araújo e Azevedo, o 7º Capitão-General dos Açores, e Francisco de Borja Garção Stockler, o 8º Capitão-General dos Açores. A rivalidade destes dois homens que governaram os Açores foi essencial em todo o desenvolvimento dos acontecimentos, com aliados de parte a parte a serem essenciais no desenrolar dos acontecimentos da revolta. O livro não procura criar a imagem do herói e do vilão, embora que ao contar-se a História pode parecer que se penda para o lado de um dos capitães-generais em uma parte da obra, e para o outro, noutra parte. Porém a ideia é que o leitor conheça bem o que se passou e quem foram estes homens e o porquê da sua mentalidade ser importante para muita da ação de ambos e, com isso, para muitas decisões contraditórias que vão tomando. Só para abrir o interesse na leitura do livro, posso contar que mesmo com Araújo a ter chefiado o levantamento e ter criado a Junta Provisória do Governo Supremo dos Açores, nunca vai conseguir tirar o real poder de Stockler, que mesmo deposto, vai preparar uma contrarrevolução, com apoio dos locais.
Que histórias de Angra do Heroísmo e da Terceira nos faltam conhecer?
Há muitas histórias ainda por conhecer sobre Angra do Heroísmo e sobre a Praia da Vitória e mesmo as que se conhecem deviam ser mais bem divulgadas. Basta dizer que Mateus Álvares, um praiense, muito esquecido pela nossa terra, foi "Rei de Portugal", porque foi visto pelo povo da Ericeira como o regressado D. Sebastião. Era tão importante que o exército espanhol entrou na Ericeira, foi então feito prisioneiro a 12 de junho, sujeito a tortura, foi levado à presença de D. Filipe II, que mandou cortarem-lhe a mão direita, pela qual assinara alvarás reais. Tantas e tantas histórias por contar por estas freguesias fora. Nós que estamos a entrar num ciclo comemorativo de 2º centenário de vários acontecimentos liberais, devemos aproveitar estes próximos anos, para contar e divulgar estes eventos que marcaram não só a História da Terceira, como a de Portugal.
Como podemos tornar essas histórias mais "visíveis"?
Estas histórias precisam de ser divulgadas, através de eventos, de textos, de recriações históricas. Devemos aproximar os locais da sua História, por exemplo, com a criação de espaços que nos façam viajar no tempo. Há já algum tempo que se fala na necessidade da transformação da Casa da Salga num Centro de Interpretação, onde as pessoas possam conhecer mais da Batalha da Salga, da Brianda Pereira, da Violante do Canto e do Ciprião de Figueiredo, ou seja, conhecer um pouco mais da sua História, dos seus antepassados e da Memória Coletiva da Terceira. A recriação histórica é algo muito utilizado no norte da Europa e que devia ser mais recorrente na nossa Ilha.
O que pensa do ensino da nossa história nas escolas açorianas?
Penso que as coisas melhoraram nos últimos anos, mas o ensino da História precisa de professores que saibam cativar os seus alunos. Não devemos ter medo de ser criativos ao ensinarmos, sobretudo História, disciplina que os alunos têm maior dificuldade de perceber a sua relevância. Devemos mostrar-lhes que conhecer o passado, não é só essencial para o nosso conhecimento, mas primordial para a nossa construção enquanto cidadãos. É essencial que os professores aproximem os conteúdos a realidades que os jovens conheçam. Os professores devem levar os alunos aos monumentos e incentivá-los a fazerem trabalhos sobre o património regional, aproximando-os do meio onde vivem.
in, Diário Insular, 26 de Março / 2021













sexta-feira, 26 de março de 2021

D. Manuel I (1495-1521)

 



D. Manuel I, o Venturoso

D. Manuel I, o Venturoso (1469-1521) foi rei de Portugal e dos Algarves entre os anos de 1495 e 1521, um período de grandes navegações e descobertas, com a chegada à Índia e ao Brasil.


Moeda de Ouro "O Português"
Cunhagem de 2011

Foi o primeiro rei a assumir o título de
 Senhor do Comércio, da Conquista e da Navegação da Arábia, Pérsia e Índia





Ficou conhecido com a divisa "In Hoc Signo Vinces"

(com este símbolo vencerás)




D. Manuel, conhecido como o Venturoso, nasceu em Alcochete, Portugal, no dia 31 de maio de 1469. Filho de D. Fernando, duque de Beja, e de D. Beatriz, era neto do rei D. Duarte I que reinou entre 1433 e 1438.




Em 1495, D. Manuel tornou-se o quinto rei da dinastia de Avis e o décimo quarto rei de Portugal, sucedendo o rei D. João II, que após a morte de seu filho D. Afonso, nomeia em seu testamento o seu sucessor D. Manuel, irmão da rainha, sua esposa, D. Leonor de Lencastre.







Grandes navegações



No reinado de D. Manuel I, que se estendeu por 14 anos, realizaram-se as mais importantes viagens que consolidaram as grandes navegações portuguesas iniciadas no começo do século XV.


O contato direto com o Oriente era um grande sonho de monarcas e comerciantes portugueses uma vez que o país já comercializava um grande número de produtos, como cravo, pimenta, noz-moscada, marfim, tecidos e pedras preciosas.




Os produtos comercializados vinham da Índia, através do Mediterrâneo, por intermédio de comerciantes italianos e mercadores árabes o que elevava enormemente o preço dos produtos.


Em 1497, no reinado de D. Manuel, Vasco da Gama partiu de Lisboa para a grande aventura da descoberta do caminho marítimo para a Índia, contornando a África. Dois anos depois, a frota retornava carregada de especiarias.


Para consolidar o domínio português no Oriente, D. Manuel enviava todos os anos uma armada à Índia, e para poder impor a presença portuguesa, mandou D. Francisco de Almeida para a Índia como vice-rei, tentando manter o monopólio da navegação e do Comércio português naquela região.


Aquando o seu regresso a Portugal, em 1499. o navegador escalou a Angra, ilha Terceira, acabando por sepultar aqui, no Convento de São Francisco, o seu irmão Paulo da Gama.



Figura importante dos descobrimentos portugueses, Vasco da Gama abriu um mar de oportunidades comerciais ao descobrir o caminho marítimo para a Índia.



No reinado de D. Manuel várias outras importantes viagens foram realizadas, entre elas, a de João Fernandes Labrador que chegou à península canadense que recebeu seu nome, a de Gaspar Corte Real que descobriu a Groenlândia 


Desembarque de Cabral em Porto Seguro (óleo sobre tela)
Autor: Óscar Pereira da Silva, 1904.
Acervo do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

e a de Pedro Alvares Cabral que descobriu o Brasil.



Administração de D. Manuel I



Aproveitando a riqueza D. Manuel I deixou marcas na justiça de Portugal ao ordenar a revisão das leis do reino, numa compilação que ficou conhecida como “Ordenações Manuelinas”. A sua difusão foi acelerada pelo uso da imprensa que chegou a Portugal em 1487. Caso os juízes não as aplicassem eram multados.

D. Manuel I fez o levantamento sobre a  prestação de cuidados em todo o país. De acordo com essa contabilidade, existiriam no reino cerca de quinhentas instituições de assistência, entre as quais duzentos hospitais, com um total de dois mil e quinhentos leitos.


A 6 de novembro de 1520, em Évora, o Rei D. Manuel I assinou a nomeação oficial de Luís Homem como o primeiro Correio-mor de Portugal.



Na cultura, o rei procedeu a reforma dos "Estudos Gerais", criando novos planos educativos e bolsas de estudos. Na sua corte surgiu Gil Vicente, o pai do teatro português.




Estilo Manuelino

I
Igreja Matriz da Praia da Vitória, ilha Terceira
Portal principal (Estilo Manuelino)


D. Manuel admirava as artes e a música e era bastante religioso, por isso investiu boa parte da fortuna do país na construção de igrejas e mosteiros, bem como no patrocínio da evangelização das novas colônias através de missionários católicos.


Portais Manuelinos nos Açores








Desenvolveu-se em seu reinado um estilo artístico inspirado nas viagens marítimas e nos símbolos da Coroa, que ficou conhecido como manuelino. Entre suas obras destacam-se o Mosteiro de Santa Maria de Belém, hoje conhecido como  "Mosteiro dos Jerónimos" e a "Torre de Belém".

Mosteiro dos Jerónimos


Torre de Belém


Casamentos


D. Isabel de Castela


Em 1497, D Manuel casou-se com D. Isabel de Castela, viúva do príncipe herdeiro D. Afonso, filho de D. João II e sobrinho de D. Manuel. Filha dos reis católicos, Fernando e Isabel, D. Manuel via no casamento uma forma de algum dia reunir as Coroas de Castela, de Aragão e de Portugal numa só.

Em 28 de agosto de 1498, D. Isabel morre de parto em Saragoça, ficando seu filho D. Miguel com os reis católicos, porém em 1500 Miguel morre, cabendo a sucessão das coroas vizinhas para a filha dos reis católicos Joana, casada com Filipe o Belo.

Viúvo, D. Manuel casa-se com a cunhada D. Maria de Castela, irmã de D. Isabel, em 30 de outubro de 1500, e com ela teve a maior parte de seus filhos, incluindo seis homens, entre eles D. João III, futuro rei de Portugal. D. Maria morre em 1517 de causas naturais.

Casamento de D. Manuel I com D. Leonor da Áustria


Novamente viúvo, em 1519, D. Manuel realiza o mais controverso de seus três casamentos, desta vez em segredo, casa-se com D. Leonor da Áustria, filha de Filipe, o Belo, e de Joana. D. Leonor tinha vinte anos quando se casou, mas o matrimônio dura apenas três anos, pois D. Manuel ficou doente e faleceu. Desse casamente sobreviveu a infanta D. Maria.

Túmulo de D. Manuel I
(Mosteiro dos Jerónimos)

D. Manuel I faleceu em Lisboa no Paço da Ribeira, no dia 13 de dezembro de 1521. O seu corpo foi sepultado no Mosteiro dos Jerónimos.


Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel




Recusando o lugar de tesoureiro da Casa da Índia que o rei D. João III lhe ofereceu, viu-se obrigado, em 1545, perante as insistências do rei, a regressar a Portugal e ocupar o cargo de guarda-mor da Torre do Tombo em 1548. Foi então incumbido, em 1558, de escrever a Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel, que faltava no conjunto dedicado aos reis de Portugal.





Retrato de Damião de Góis

 (óleo possivelmente de Jan Gossaert
).

Historiador e pensador que defendia uma alteração profunda no pensamento religioso e filosófico de Portugal e da Europa, em pleno séc. XVI. Viajante e humanista, foi um homem do Renascimento que sofreu com a Inquisição e terá sido assassinado.



Damião nasceu a 2 de fevereiro de 1502, filho do almoxarife de Alenquer Rui Dias de Góis e de D. Isabel Gomes Limi, descendente de fidalgos flamengos. Órfão de pai em 1513, foi recebido no paço de D. Manuel e aí fez a sua formação.

Aos 20 anos partiu para Antuérpia, onde desempenhou o cargo de Secretário da Feitoria portuguesa. Nos anos seguintes “servio nas partes da Alemanha, Flandres, Barbante e Holanda em negócios de muita importância onde foi tão quisto e aceito que o tinham todos por seu natural”. Após várias missões diplomáticas, em 1533 abandonou as funções e dedicou-se ao que lhe interessava verdadeiramente: os ideais humanistas. Mudou-se para Basileia e viveu com Erasmo de Roterdão. Depois seguiu para Pádua e frequentou a Universidade durante quatro anos. Buonamici, Sadoleto, Lutero e Bembo figuravam entre os seus amigos. Publicou diversas obras humanistas e historiográficas, quase sempre em latim.



Durante a invasão francesa da Flandres, Damião de Góis foi feito prisioneiro, posteriormente libertado graças à ação de D. João III que o trouxe para Portugal. Foi nomeado guarda-mor dos arquivos reais da Torre do Tombo e foi escolhido pelo cardeal D. Henrique para escrever a crónica oficial do rei Manuel I, completada em 1567. Mas o seu trabalho, o que escrevia e o que defendia trouxeram-lhe problemas com a Inquisição e até com famílias nobres. Sem a protecção do cardeal-regente, foi preso, sujeito a processo no Santo Ofício e depois, em 1572, transferido para o Mosteiro da Batalha.

Abandonado pela família, apareceu morto, com suspeitas de assassinato, na sua casa de Alenquer, em 30 de Janeiro de 1574, sendo enterrado na igreja de Santa Maria da Várzea, da mesma vila, que mandara restaurar em 1560.


Fontes: Wikipédia e Bibliografias de D. Manuel I



Emissão comemorativa  dos 500 anos

do reinado de D. Manuel I, o Venturoso