segunda-feira, 22 de junho de 2020

Academia Real da História



Gravura de Vieira Lusitano
 alusiva à criação da Academia Real de História Portuguesa


Fundada a 8 de Dezembro de 1720, a Academia Real da História, que teve como descendência directa a Academia Portuguesa de História, celebra a passagem do seu terceiro centenário.

A Academia Real da História Portuguesa foi precursora da Academia Real das Ciências de Lisboa (hoje Academia das Ciências de Lisboa), fundada em 1780, e legou um importante acervo de publicações na sua Colecção dos Documentos e Memórias da Academia Real de História e nas obras individuais dos seus sócios. A instituição extinguiu-se por falta de actividade em 1776, mas a Academia Portuguesa da História, fundada em 1936, reclama-se como sua sucessora.



Continuando o trabalho da sua ilustre antecessora, foi D. João V, reinou de 1706 a 1750, O Magnânimo, que traçou as linhas de organização, num clima favorável às letras e às artes.



D. João V contou desde o início com o trabalho de D. Manuel Caetano de Sousa, religioso Teatino, que traçou as linhas de organização da primeira Academia Real. Na sequência da fundação, foi nomeada uma direção, presidida por D. Manuel Caetano de Sousa e que teve como secretário o Conde de Villamayor. A 22 de Dezembro foram aprovados os estatutos, divididos em dez capítulos.


Conforme afirma Manuela Mendonça, presidente da APH, “a atividade da Real Academia manteve-se com grande dinamismo por mais de meio século. Fundada para escrever a História, a Real Academia haveria de desempenhar também um papel fundamental como editora, com o privilégio de ter os seus próprios censores. O seu último acto público ficou assinalado em 1777, dia do aniversário da Rainha, quando, como era tradição, fez o discurso oficial diante D. Maria. A partir de então, a sua existência é omissa, sem que, no entanto, tivesse sido extinta. Com uma história interrompida ao longo de cento e cinquenta anos, renascia a 19 de maio de 1936, a Real Academia da História Portuguesa sob a designação de Academia Portuguesa da História.

Os selos desta emissão mostram-nos o interior da Academia Real da História, dois pormenores da gravura, Alegoria à Academia Real da História de Vieira Lusitano, uma imagem de D. João V e duas medalhas das comemorações dos 290 Anos da Academia Real da História. A imagem do bloco é uma gravura e pormenor da gravura, da Academia Portuguesa da História, de Martins Barata, da Coleção particular Academia Portuguesa da História.


Esta emissão filatélica é composta por dois selos, um deles com o valor facial de 0,53€ e outro com o valor facial de 1,00€. Ambos têm uma tiragem de 100 000 exemplares cada. É também composta por um bloco filatélico com 1 selo com o valor de 2,00€ e uma tiragem de 35 000 exemplares. O design esteve a cargo do Atelier B2 Design. As obliterações de primeiro dia serão feitas nas lojas dos Restauradores em Lisboa, Munícipio II no Porto, Zarco no Funchal e Antero de Quental em Ponta Delgada.



In: 
Wikipédia
CTT Notícias (texto parcial)

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Convento dos Capuchos





CONVENTO DE SANTO ANTÓNIO DOS CAPUCHOS

(São Bento - Angra do Heroísmo)




O atual convento de Santo António dos Capuchos foi construído no local onde em 1599 se estabeleceu a casa da saúde, à saída leste da cidade, próximo do portão de S. Bento, para fazer face à epidemia de Peste que lavrou na Terceira desde Abril desse ano, até ao ano seguinte.




Esta casa estava implantada numa herdade pertencente ao sargento-mór Gaspar Freitas da Costa. Nos terrenos da herdade e em outros circundantes, foram sepultados milhares de cadáveres, dos mais de 7.000 terceirenses que a Peste matou. Na casa da saúde – refere Maldonado, trabalharam como enfermeiros dois frades capuchos que faziam o que podiam para combater o “mal”, prestando também assistência espiritual e dando sepultura aos que faleciam.




Quando a Peste amainou – refere Frei Diogo das Chagas, os dois frades construiram no mesmo local uma espécie de cabana onde celebravam missa e oravam pelos defuntos. Até que tiveram forçosamente de regressar ao Convento, decidindo a Câmara de Angra construir no local uma ermida que lhe desse dignidade, perpetuando a memória dos mortos e do trágico evento. Mas só em 1610 se deu início à construção da ermida. Nesse ano a edilidade fintou os herdeiros das pessoas que faleceram de Peste. Logo se juntou uma boa soma de dinheiro, proveniente de toda a ilha e se decidiu também construir casa de romeiros, já que o local era muito visitado pelos familiares dos falecido.



O que é certo é que a iniciativa colapsou. Refere Drumonde que o projeto era avantajado e depressa consumiu todo o dinheiro e todos os maçames. O mercador angrense Paulo Oliveira foi um dos depositários das oferendas e condoendo-se do fracasso, resolveu erigir, em alternativa, uma ermida, de invocação de Sao Roque, a qual passou mais tarde a ser cabeça do convento dos recoletos capuchos, com o título de Santo António. Até ao sismo de 1980 se venerou na igreja a imagem da Senhora do Livramento, de grande devoção dos povos, de cuja capela foi fundador André Coelho Martins Fernandes.
Na ilha Terceira, a Província da Capucha decide construir a meados do Séc. XVII, o 3º mosteiro da Ordem de Santo António dos Capuchos, nos Açores. E decide aceitar a oferta do local onde estava instalada a ermida de S. Roque bem como parte do campo santo, transformado em gigantesco cemitério.



O Provincial, Frei Mateus da Conceição, recebe a doação em 15 de fevereiro de 1643, do capitão Roque de Figueiredo (que fica sendo o padroeiro) e sua consorte Maria Rebelo, que herdara de seu tio, o capitão e sargento-mor Gaspar de Freitas da Costa, o local onde então existia a ermida de São Roque. O Capitão Roque de Figueiredo conservou o padroado por pouco tempo, já que renunciou na pessoa do capitão João de Ávvila, de quem, supostamente, era bom amigo e porque este era rico e nãao faltaria com a assistência devida ao convento. Roque de Figueiredo exigiu apenas que lhe fosse reservado lugar para jazigo próprio e de seus descendentes, na capela-mór. E assim aconteceu.




Drumonde afirma que o Capitão João de Ávila, já na qualidade de padroeiro do convento, reclamou de Nicolau de Freitas Figueiredo, a entrega de cinco alqueires de terreno, denominado COPIM (hoje conhecido com Copins), onde estavam sepultados milhares de cadáveres da Peste, para que esse terreno fosse respeitado como campo santo e não fosse cultivado, incorporando-se nos bens do covento. Mas em 1635, o Deão Gomes Terra decidiu que o proprietário do terreno podia reutilizá-lo para exploração agrícola. Tal facto foi muito sentido na cidade. Mas não foi único, diz Drumonde, porque centenas e centenas de cadáveres foram também sepultados em cerrados, um pouco por todo o lado que pouco depois voltaram a ser cultivados.



No dia 9 de março daquele 1643, assentava-se a primeira pedra nos alicerces do arco da capela principal, ao mesmo tempo que alguns ossos dos Santos Mártires ali eram depositados como relíquias de grande estima e veneração, assistindo ao ato o mestre provincial que praticou a cerimonia, as autoridades locais, o clero e as corporações religiosas. Tendo este provincial de visitar as outras ilhas de oeste, mandou vir da ilha de São Miguel o Padre Fr. Bernardo de Santa Bárbara, para presidir às obras que se estavam fazendo, conferindo ao mesmo tempo, ao guardião do convento de São Francisco, os plenos poderes para que lançasse os hábitos aos noviços que pretendiam recolher-se no novo convento.



Maldonado afirma que a obra começou com tal fervor “que para ela concorrerão esmolas tão crescidas, assim dos maçames de toda a Sorte, como officiais destes e aquelles officios concernentes a ellas que de graça se offerecião, que no dia 14 de Maio dia d Assenção do Senhor se acharão as offecinas, selas e cerca capazes de asistencia dos religiozos; e de facto neste mesmo dia 14 de Maio foi a comonidade dos frades que ali havião ser moradores em prosissão solenissima, que acompanhou o Reverendo Cabido Sed vacante, e mais religiõens recolher se a dita Recoleta e ficou o Senhor por hora na hermida de São Roche, e no dia de Santo António, 13 de Junho do mesmo ano se passou á Capella mor”. Assim se organizou o novo convento, ficando Santo António como orago da igreja, e os religiosos pertencendo à ordem primeira dos Menores Observantes, guardando-se a disciplina Recolecta.



Moldonado asevera que a brevidade das obras deu mau resultado, de tal forma que em 1668 o edifício foi sujeito a obras de reforço e ampliação, sob a direção do Guardião Padre Frei Manuel do Espírito Santo. Os que lhe sucederam no cargo continuaram a edificação de restante convento, com um belo claustro,
Pelo Decreto de 17 de maio de 1832, e pelo de 28 de maio de 1834, ficou extinto e incorporado nos bens nacionais, até ao atual destino. Em 1830 aquartelou-se neste convento a Companhia de Voluntários Académicos, em plena guerra civil que opunha liberais e miguelistas. Depois da contenda, foi aqui instalado o Asilo de Infância Desvalida, pela carta de lei de 27 de fevereiro de 1858, por especial empenho e zelo do governador civil, o Conselheiro Nicolau Anastácio de Bettencourt.



O sismo de 1980 abalou violentamente o imóvel. Abandonado, sofreu as agruras do tempo, foi espoliado de algumas peças arquitetónicas e vandalizados os túmulos dos fundadores. A tempo, a Irmandade conseguiu salvar as ossadas que repousam agora no cemitério contíguo do Livramento. Há outras peças importantes guardadas no museu de Angra e em armazéns nas proximidades, destacando-se a azulejaria que, a tempo, a Irmandade mandou retirar da capela-mór. Todas estas peças voltarão ao local de origem.
Nesta data está em curso o processo para a reconstrução do imóvel, a expensas da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, cujas obras deverão começar no presente ano de 2020, com orçamento que ronda o milhão de euros. O projeto é da Autoria do Arquiteto Francisco Cunha.

Aguarela do artista terceirense Manuel Meneses Martins (2020)



Texto gentilmente cedido pelo Victor Alves.

Bibliografia:
Maldonado, Pe. Manuel Luís, “Fénix Angrence” - 3º Vol. A.H. 1997 – IHIT

Sampaio, Alfredo da Silva, “Memória sobre a Ilha Terceira”, Imprensa Municipal de Angra do Heroísmo, 1904

Drummond, Francisco Ferreira, “Anais da Ilha Terceira”, Angra do Heroísmo, 1983

Convento de Santo António dos Capuchos

- Imóvel de Interesse Público, Resolução do Presidente do Governo Regional n.º 41/1980, JORAA, 1.ª série, n.º 20 de 11 junho 1980 / Incluído no Núcleo urbano da cidade de Angra do Heroísmo (v. PT071901160035)

- 2004, 09 setembro - publicação da Resolução do Conselho do Governo n.º 126/2004, referindo consumir a classificação anterior do imóvel por inclusão na Zona Central da Cidade de Angra do Heroismo, em JORAA , 1.ª s.c.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Roberto Ivens (1850-1898)




ROBERTO IVENS

O português que ajudou a desbravar o continente africano.

Nascido a 12 de Junho de 1850, em Ponta Delgada, Roberto Ivens frequentaria na sua infância a Escola Primária do Convento da Graça. Faleceu em Oeiras a 28 de Janeiro de 1898.

Inscrito em 1861 na Escola da Marinha, cuja frequência o levaria a integrar a carreira de oficial, é descrito como um aluno inteligente e aplicado, apesar de brincalhão.


Selo comemorativo do Centenário da Morte de Roberto Ivens


Em 1870, com apenas 20 anos, termina o curso com as mais elevadas classificações, partindo no ano seguinte para a Índia, integrado na tripulação da corveta “Estefânia”, iniciando em 1872 contactos regulares com Angola, que o levariam a ganhar grande interesse por este e restantes domínios ultramarinos portugueses em África.




Mapa Cor-de-Rosa representando a pretensão
à soberania sobre os territórios entre Angola e Moçambique

Pelo seu grande conhecimento da região e interesse em servir Portugal é nomeado, por Decreto de 11 de maio de 1877, para integrar a expedição que tinha como objetivo explorar os territórios compreendidos entre Benguela e as Terras de Iaca, juntamente com Hermenegildo Brito Capelo e Serpa Pinto.

Moeda comemorativa dos Exploradores Europeus
Capelo e Ivens


Em 1882, são-lhe concedidas honras de oficial e é nomeado para organizar a carta geográfica do território de Angola. Para defender as reivindicações portuguesas presentes no mapa cor de rosa, a ser apresentado na Conferência de Berlim, é designado juntamente com Brito Capelo para demonstrar a presença portuguesa no interior da África Austral.



Partindo de Porto Pinda, no sul de Angola, em março de 1884, os dois exploradores e respetiva comitiva arriscaram as suas vidas ao longo de 14 meses, enfrentando animais selvagens, doenças, fome e condições meteorológicas adversas para cumprir os interesses superiores de Portugal.




Durante este tempo, Roberto Ivens nunca deixaria de registar por escrito ou por desenho os resultados da expedição. Face à falta de notícias durante um longo período, chegariam a ser dados como mortos ou perdidos, mas acabariam por chegar a Quelimane, em Moçambique, a 21 de junho de 1885.



Roberto Ivens (em pé) com Hermenegildo Capelo


Ao longo da expedição, além de sustentarem a posição portuguesa em África, os dois exploradores realizaram diversas determinações geográficas e colheitas de fósseis, minerais e outros elementos da história natural.


Mapa da expedição de 1877,
 com os percursos de Capelo/Ivens e de Serpa Pinto

Aclamados como heróis na sua chegada a Lisboa, seriam recebidos em pessoa pelo próprio rei D. Luís, tendo a festa sido estendida ao Porto e à cidade natal de Ivens, Ponta Delgada.


A Sociedade de Geografia de Lisboa assinalou em 2000 os seus 125 anos
homenageando Serpa Pinto

Promovido a Capitão de Fragata e feito Oficial da Real Ordem Militar de São Bento de Avis em 1895, Roberto Ivens acabaria por morrer a 28 de janeiro de 1898, em Oeiras, tendo o seu funeral sido realizado com honras de Estado e o seu elogio fúnebre sido proferido pelo próprio Ministro da Marinha.


Por todo Portugal existem ainda hoje dezenas de ruas que homenageiam o explorador que colocou os interesses superiores de Portugal à frente da sua própria segurança e comodidade, encontrando-se estabelecida em Ponta Delgada, junto ao local do seu nascimento, a Escola Básica Integrada Roberto Ivens.


Busto em Ponta Delgada, São Miguel


Miguel Louro in: Nova Portugalidade