terça-feira, 19 de março de 2024

Alfredo Luís Campos (1856-1931)



ALFREDO LUÍS CAMPOS


A 19 de março de 1856, nascia o terceirense Alfredo Luís Campos, um professor, escritor e jornalista reconhecido, que teve uma carreira impressionante como dramaturgo.

Alfredo Luís Campos nasceu em Angra do Heroísmo, filho natural de Frederico Ferreira Campos e de Maria Carlota Martins. Foi colocado na roda dos expostos, sendo apenas legitimado em 1859. O pai, Frederico Ferreira Campos, foi um importante político que fez carreira em Angra do Heroísmo.



Frederico Ferreira Campos, um liberal de convicções, foi para a Terceira com o posto de alferes conferido por D. Pedro (IV) em nome de sua filha, a rainha D. Maria II. Esteve sob o comando do Duque da Terceira, D. António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha, tendo estado ao lado de D. Pedro na Guerra Civil (1832/1834). Participou num dos corpos nacionais do exército comandado pelo Duque da Terceira que, a 24 de julho de 1833, “libertou” Lisboa do Miguelismo/Absolutismo. Ferreira Campos foi agraciado com a medalha nº 2 das Campanhas da Liberdade.

Depois do fim das lutas liberais, Ferreira Campos regressou a Angra, onde fez carreira, primeiro como delegado da Real Companhia dos Tabacos, depois como político ativo, sendo então Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e, posteriormente, Governador interino do Distrito de Angra do Heroísmo (1 a 26 de junho de 1891), substituindo António da Fonseca Carvão Paim da Câmara, barão do Ramalho. Foi durante estes anos que Ferreira Campos conheceu Maria Carlota Martins, com quem teve o filho Alfredo Luís Campos. Frederico Ferreira Campos faleceu em Angra do Heroísmo, terra que adotara como sua, a 9 de dezembro de 1892, já o seu filho se distinguia na Cultura açoriana.


Alfredo Luís Campos teve uma educação voltada para os valores do Liberalismo, que o pai sempre defendera. Todos estes valores vão marcar para sempre a personalidade de Ferreira Campos. 


Preocupado não só com a Cultura, mas também com a Educação, Alfredo Luís Campos foi Professor de Português na Escola de Desenho Industrial do Distrito de Angra do Heroísmo. Em termos políticos, Alfredo Luís Campos foi vogal da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, sendo um forte apoiante de Teotónio de Ornelas Bruges Paim da Câmara e do seu filho Jácome de Ornelas Bruges de Ávila Paim da Câmara, respetivamente o 1º e o 2º Condes da Praia.




O lado jornalístico de Alfredo Luís Campos foi desenvolvido ao longo dos anos, com a fundação de jornais como O Heroísmo (2ª versão), ao lado de Alfredo Pamplona Machado Corte Real, O Lutador, conjuntamente com Casimiro Mourato e João José de Aguiar, O Industrial e depois o Ateneu, ambos com o apoio de vários jornalistas. Dirigiu, em substituição de José da Fonseca Abreu Castelo Branco, o jornal Angrense. Teve importantes colaborações em variados jornais locais: Artista; Voz do Artista; Luís de Camões; União; Gazeta de Notícias; Terceira; Imparcial e Liberal, além de ter escrito para o jornal micaelense Diário dos Açores. Foi diretor do "semanário São Miguel e Terceira", em 1895, ano em que se comemorava a Confraternização da Autonomia proclamada pelo governo do açoriano Hintze Ribeiro, procurava-se assim aproximar os habitantes das diferentes Ilhas dos Açores e consequentemente incentivar a fraternidade entre açorianos.



Alfredo Luís Campos notabilizou-se, indelevelmente, como dramaturgo, um nome essencial no Teatro terceirense, com uma longa obra, da qual destacamos apenas alguns títulos (embora haja muitos mais e outros que nem foram editados): Fidalgos e Plebeus (1892), uma comédia-drama em quatro atos; Cenas da Vida (1917), comédia-drama em quatro atos; Alda, a Filha do Sargento (1897), comédia-drama em quatro atos; O Segredo de Albertina, comédia ornada de música com versos do jornalista e poeta António Casimiro Mourato, com quem trabalhou no periódico O Lutador; Em Família, comédia em um ato, ornada de música com versos de Azevedo Cabral; Um Quarteto de Amor (1928), comédia em um ato; O Dominó Vermelho, comédia em um ato.



Há um título na obra de Alfredo Luís Campos que é essencial a quem quiser estudar a História dos Açores, o livro "Memória da Visita Régia à Ilha Terceira" de 1903, pois além de contar os episódios da visita régia do rei D. Carlos e da Rainha D. Amélia à Terceira em julho de 1901, faz uma excelente síntese da História do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo (ilhas Terceira, Graciosa e São Jorge). Alfredo Luís Campos foi também um membro ativo de várias associações e da preparação de vários festejos locais, sendo, por isso, um dos organizadores da visita dos Reis de Portugal à Ilha, que contou, entre vários momentos, com a realização duma feira agropecuária no Paúl, na Praia da Vitória e a participação dos Reis em uma tourada à corda, em Angra do Heroísmo, na zona de São João de Deus, onde as ruas se encheram de gentes, vestidas a rigor, com os seus trajes domingueiros, procurando mostrar a popularidade das touradas à corda na Ilha. No ano seguinte, foi um dos organizadores das festas liberais realizadas a 22 de junho de 1902 com o objetivo da perpetuação da Memória Liberal da luta contra o absolutismo na Ilha, celebrando a revolta liberal de 22 de junho de 1828.


Segundo Gervásio Lima, Alfredo Luís Campos fundou um Museu regional, que os seus inimigos políticos acabariam por destruir e apagar da memória local, para que o seu feito em prol da Cultura fosse esquecido. Apesar da indicação de Gervásio Lima, não encontrei mais nenhuma informação sobre este Museu. Algo a estudar e a investigar mais a fundo, mas é possível que tal tenha acontecido, pois os traços e a vida de Alfredo Luís Campos foram de alguém que sempre defendeu as suas convicções.
Alfredo Luís campos foi casado com Carlota Augusta de Sousa Pinto. Morreu na sua terra natal a 13 de janeiro de 1931.


São as Histórias de vida de homens como Alfredo Luís Campos que nos dão a certeza que lutar pelo que acreditamos é essencial, que mesmo que se caía ao primeiro obstáculo, se tivermos força, aprendermos com a queda, conseguimos arranjar forma de ultrapassar o obstáculo. Os terceirenses têm de continuar a ter a garra, o ADN de bravos, que sempre marcou os nossos egrégios avós e que é um traço da personalidade de todos nós. Não nos esqueçamos disso. Defender o que acreditamos, mesmo que se navegue contra a maré.


Texto de: Francisco Miguel Nogueira

segunda-feira, 18 de março de 2024

Duque da Terceira (1792-1860)




 *** DUQUE DA TERCEIRA ***

~ António José Severim de Noronha ~

A 18 de março de 1792, nascia o 1º Duque da Terceira, símbolo da luta liberal contra o Absolutismo e comandante dos liberais. Foi o grande responsável pela preparação das tropas na Terceira e pelo desembarque no continente português. Foi nomeado Capitão-General dos Açores por carta régia em abril de 1829, por D. Maria II, ainda exilada, para defender o único baluarte liberal no país. Não sendo terceirense, acabou por abraçar o povo local, que se rendeu aos seus ideais e apoiou-o na luta pela Liberdade.
D. António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha nasceu em Lisboa e com apenas dois anos de idade perdeu o pai, sucedendo-lhe, então, como Conde de Vila Flor. A Europa absolutista caía e os ideais franceses de Liberdade, Igualdade e Fraternidade ecoavam por todo o lado. Assim, o futuro Duque da Terceira cresceu em plena difusão dos ideais liberais e participou nas Guerras napoleónicas, tendo sido agraciado pelo seu empenho e bravura.



Durante os anos seguintes, desempenhou vários cargos, sendo nomeado Par do Reino, aquando da promulgação da Carta Constitucional de 1826 e depois Governador das Armas da Província do Alentejo, tendo logo de reprimir algumas insurreições militares que se levantaram a favor do Absolutismo. Começava a sua luta pelo Liberalismo. No Alentejo, Vila Flor comandou o exército, repelindo os absolutistas em várias zonas do país. As vitórias valeram-lhe o título de Marquês de Vila Flor e a nomeação para governador das armas do Porto. Com a chegada de D. Miguel a Portugal, o Absolutismo ganhou força e Vila Flor foi demitido, saindo de Portugal. Era a época do seu exílio em Inglaterra. Portugal sucumbia ao Miguelismo.


A Ilha Terceira que se tinha tornado o último baluarte do Liberalismo, passou a atrair Vila Flor, que pretendia continuar a sua luta. O Duque de Saldanha, próximo de Vila Flor, partiu para a Ilha e este depois juntou-se a Saldanha. O Duque de Palmela, outro liberal, nomeou-o Capitão-General dos Açores. Vila Flor conseguiu escapar aos britânicos e instalar-se na Terceira. A sua primeira ação foi terminar com as discórdias e divisões locais, aproximando-os para a defesa da causa liberal. A seguir, organizou-se a resistência aos ataques de D. Miguel. Mouzinho da Silveira era nomeado secretário militar, assim como o barão de Monte Pedral, chefe do estado-maior. Eram homens capazes.


Na atual Rua Direita, junto à Praça Velha, foi fixada a residência de Vila Flor. Este começou a reorganizar as tropas.



A 11 de agosto de 1829, na famosa Batalha da Praia, os Miguelistas tentaram invadir a Ilha, Vila Flor conseguiu organizar uma boa defesa, restaurando a linha de fortes da Terceira. Começava um novo ciclo de vitórias, que fariam de Vila Flor um comandante de prestígio. Os meses seguintes foram de criação constitucional, tentando definir-se a política para o futuro.



Foi criada a Regência de Angra, que orientou os destinos dos liberais até à chegada de D. Pedro à Terceira. Angra era a capital da Monarquia Constitucional.




A Regência emitiu várias proclamações e 65 decretos, sobretudo pelas mãos de Mouzinho da Silveira, que depois de 1834, tornar-se-iam nacionais.


Em abril de 1831, a Regência avançou para as restantes ilhas. Era preciso difundir o Liberalismo e trazer o restante arquipélago para a causa liberal, antes de se passar para o continente. Vila Flor esteve ao comando das conquistas, pondo fim às resistências. Com o apoio de D. Pedro IV, que depois de abdicar do trono português e posteriormente do brasileiro, tornou-se Duque de Bragança, chegando à Terceira a 3 de março de 1832. Vila Flor ultimou o desembarque no continente, tendo comandado os “Bravos do Mindelo”. O Liberalismo começava a afirmar-se.



Em nome de todo o seu empenho para a causa liberal, Vila Flor foi elevado, a 8 de novembro de 1832, a Duque da Terceira, ligando-se o seu futuro ao da Ilha que bem o acolhera e que tivera ao seu lado. O 1º Duque da Terceira participou nos principais momentos da Guerra Civil, liderando as tropas que libertaram Lisboa em 24 de julho de 1833, estando também ao lado de D. Pedro aquando da abdicação do trono por D. Miguel. D. Maria II era novamente rainha e o Liberalismo triunfara.



O papel de Vila Flor, depois de 1834, passou pela política, liderando vários governos, além de ter sido agraciado com inúmeras distinções honoríficas e condecorações. Morreu em 1860, sem descendência, mas com uma vida recheada de feitos. E, em nome de todo o seu empenho, foi inaugurada uma estátua em sua homenagem, junto a uma praça que recebeu seu nome, a 24 de julho de 1877, exatos 44 anos depois da libertação de Lisboa do jugo absolutista.



O Duque da Terceira foi um importante comandante e homem do Liberalismo, sendo uma das mais importantes figuras daquele tempo. É um dos heróis das Lutas Liberais e manteve sempre uma forte ligação com a Terceira, onde desenvolveu boas relações e soube manter o apoio em torno da sua figura.


O Duque da Terceira foi um importante comandante e homem do Liberalismo, sendo uma das mais importantes figuras daquele tempo. É um dos heróis das Lutas Liberais e manteve sempre uma forte ligação com a Terceira, onde desenvolveu boas relações e soube manter o apoio em torno da sua figura.



A imagem do Duque da Terceira perdeu-se. Poucos são os terceirenses que conhecem as façanhas deste grande português, que desempenhou um papel relevante na Ilha e na manutenção e difusão dos ideais liberais. Devia haver uma maior homenagem ao 1º Duque da Terceira.

Devemos incentivar a imagem de homens que lutaram pelos seus ideais e que, mesmo em momentos de crise, não se deixaram abater e que fizeram muito pela história da Terceira e de Portugal.

Fonte: Francisco Miguel Nogueira



*** MEMÓRIA INCENTIVA ***

Comandante das tropas de Lisboa em 1827.

Apoia a revolta contra D. Miguel e participa na belfastada em 1828.

Parte do Havre em 5 de Junho de 1829 e chega à ilha da Terceira no dia 22 de Junho.

Faz parte da regência coletiva estabelecida em Angra por D. Pedro em 15 de Junho de 1829.

A 11 de Agosto de 1829 lidera a Batalha da Praia na ilha Terceira.

A partir de 1832, agraciado com o título de duque da Terceira.

Comanda as tropas pedristas que ocupam Lisboa em 24 de Julho de 1833.

Ministro da guerra no governo de Palmela entre 24 de Setembro de 1834 e 20 de Março de 1835, onde é substituído pelo conde de Vila Real.

Presidente do governo e ministro da guerra de 19 de Abril a 10 de Setembro de 1836.

Membro da Associação Eleitoral do Centro que concorreu às eleições de 1838.

Presidente do conselho de 9 de Fevereiro de 1842 a 20 de Maio de 1846, acumulando sempre a pasta da guerra.

Ministro da guerra e da marinha no governo de Palmela, entre 20 e 26 de Maio de 1846.

Presidente do conselho de 26 de Abril a 1 de Maio de 1851.

Presidente do conselho de 16 de Março de 1859 a 26 de Abril de 1860.

Faleceu em 26 de Abril de 1860.


A 8 de abril de 1864 era lançada à água a corveta mista "Duque de Terceira".

A SUA CONSTRUÇÃO FOI ORDENADA, EM PRINCÍPIOS DE 1863, PELO MINISTRO DA MARINHA, JOSÉ DA SILVA MENDES LEAL, JUNTAMENTE COM A DA CORVETA DUQUE DE PALMELA (1864-1913). CONSTRUÍDA EM MADEIRA, TECA E CARVALHO COM FORRO DE COBRE, NO ARSENAL DA MARINHA, EM LISBOA, FOI LANÇADA À ÁGUA EM 8 DE ABRIL DE 1864. ERA SEMELHANTE ÀS CORVETAS SÁ DA BANDEIRA (1862-1884) E INFANTE D. JOÃO (1863-1878), QUE TINHAM SIDO ANTERIORMENTE LANÇADAS À ÁGUA E TAMBÉM CONSTRUÍDAS NO ARSENAL DO ALFEITE.

Entre 1866 e 1867 partiu para Inglaterra a fim de receber algumas alterações. Em 1872 largou para a Estação Naval de Angola, e em 1879 seguiu em socorro da Guiné. Visitou a América do Sul e tomou parte na campanha dos namarrais em 1897 e na Gaza, em Moçambique. Regressou a Lisboa no ano seguinte, e a partir daí apenas efetuou viagens de instrução.

Em 29 de Março de 1906 passou ao estado de desarmamento e em maio ainda foi mandada servir de depósito de praças do Corpo de Marinheiros. Foi vendida em 16 de maio de 1911, em Lisboa, por ser considerada inútil. 


Fonte: CCM - Comissão Cultural da Marinha



sexta-feira, 15 de março de 2024

ANGRA CIDADE CAPITAL



ANGRA, CIDADE
Cidade de Angra num trabalho de scrimshaw (arte baleeira)
 da artista faialense Cláudia Furtado





Em 1534, por carta de 21 de Agosto, D. João III elevou a vila de Angra a cidade, preparando-a assim para sede do bispado que Paulo III criou em 3 de Novembro desse ano. A nova cidade, já então sede do corregedor das ilhas (1503) e com a sua Alfândega elevada a diretora das demais, pelo foral de 1499, ia-se tornando na capital das ilhas e a residência das novas autoridades criadas, como o provedor da Fazenda, a partir de 1536.























História de Angra





O local escolhido pelos primeiros povoadores foi uma crista de colinas, que se abria, em anfiteatro, sobre duas baías, separadas pelo vulcão extinto do Monte Brasil. Uma delas, a denominada "angra", tinha profundidade para a ancoragem de embarcações de maior tonelagem, as naus. Tinha como vantagem a proteção de todos os ventos, exceto os de Sudeste.


As primeiras habitações foram erguidas na encosta sobre essa angra, em ruas íngremes de traçado tortuoso dominadas por um outeiro. Neste, pelo lado de terra, distante do mar, foi iniciado um castelo com a função de defesa, à semelhança do urbanismo medieval europeu: o chamado Castelo dos Moinhos.


Álvaro Martins Homem


Por carta passada pela Infante D. Beatriz em 2 de Abril de 1474, a capitania de Angra foi doada a Álvaro Martins Homem, que ao tomar posse dela deu início aos trabalhos da chamada Ribeira dos Moinhos, aproveitando a forças de suas águas e lançando as bases para o futuro desenvolvimento económico da povoação. A partir da proteção propiciada pelo Castelo dos Moinhos (atual Alto da Memória), o casario acompanhou a Ribeira dos Moinhos até à baía, primitivamente por ruas e vielas sinuosas - ruas do Pisão, da Garoupinha, de Santo Espírito, das Alcaçarias - cuja toponímia conservou a memória de suas actividades económicas. Martins Homem deu início à chamada Casa do Capitão, posteriormente acrescentada por João Vaz Corte Real, que também procedeu à canalização da Ribeira, à construção do primitivo Cais da Alfândega, da muralha defensiva da baía de Angra e do Hospital de Santo Espírito.




Ao mesmo tempo, liberava a área do vale para que, de acordo com os princípios do urbanismo do Renascimento, pudessem ser abertas ruas obedecendo a um plano ortogonal, organizadas por funções, de acordo com as necessidades do porto que crescia com rapidez. Nesse plano ortogonal serão abertas as ruas da Sé e Direita, ligando os principais elementos da cidade: o porto e a casa do capitão nos extremos do braço menor, os celeiros do Alto das Covas e a Câmara Municipal nos do braço maior. Ao longo do século XVI a cidade crescerá até ao Alto das Covas e a São Gonçalo, embora com ruas de traçado mais irregular.


Desse modo, em poucos anos, desde 1478, a povoação fora elevada à categoria de vila e, em 1534, ainda no contexto dos Descobrimentos, foi a primeira do arquipélago a ser elevada à condição de cidade. No mesmo ano, foi escolhida pelo Papa Paulo III para sede da Diocese de Angra com jurisdição sobre todas as ilhas dos Açores.
As razões para esse vigoroso progresso deveram-se à importância do seu porto como escala da chamada Carreira da Índia, centrado na prestação de serviços de reabastecimento e reaparelhamento das embarcações carregadas de mercadorias e de valores. Por essa razão desde as primeiras décadas do século XVI aqui foi instalada a Provedoria das Armadas, com essa função e a de apoiar a chamada Armada das Ilhas. Posteriormente, no contexto da Dinastia Filipina, a estes vieram justar-se os galeões espanhóis carregados de ouro e prata, oriundos das Índias Ocidentais, numa rota que se estendia de Cartagena das Índias, passava por Porto Rico e por Angra, e alcançava Sevilha. Para apoiar essas fainas, foram implantados os primeiros estaleiros navais, na Prainha e no Porto das Pipas, e as fortificações que fecham a baía: o chamado Castelo de São Sebastião e o de São João Batista.



A Cidade, mais de uma vez, teve parte ativa na história de Portugal: à época Agosto de 1580 a 6 de Agosto de 1582. O modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil em 1641 valeu-lhe o título de "Sempre leal cidade", outorgado por D. João IV de Portugal.
Posteriormente, aqui esteve D. Afonso VI de Portugal, detido nas dependências da fortaleza do Monte Brasil, de 21 de Junho de 1669 a 30 de Agosto de 1684.







Angra constitui-se na capital da Província dos Açores, sede do Governo-geral e em residência dos
Capitães-generais, por Decreto de 30 de Agosto de 1766, funções que desempenhou até 1832. Foi sede da Academia Militar, de 1810 a 1832.





No século XIX, Angra constitui-se em centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de D. Maria II de Portugal.
Foi nomeada capital do reino por Decreto a 15 de Março de 1830.

Aqui, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), D. Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque do Mindelo e aqui promulgou alguns dos mais importantes decretos do novo regime, como o que criou novas atribuições às Câmaras Municipais, o que reorganizou o Exército Português, o que aboliu as Sisas e outros impostos, o que extinguiu os morgados e capelas, e o que promulgou a liberdade de ensino no país.

Em reconhecimento de tantos e tão destacados serviços, o Decreto de 12 de Janeiro de 1837 conferiu à cidade o título de "mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo"e condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada.





A cidade sempre teve forte tradição municipalista, e a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita, já em 1831, após a reforma administrativa do Constitucionalismo (Decreto de 27 de Novembro de 1830).











Bilhete Postal comemorativo
do 25º aniversário de Angra do Heroísmo
Património da Humanidade


A classificação pela UNESCO da zona central de Angra do Heroísmo como Património da Humanidade, a 7 de Dezembro de 1983, fará ser a primeira cidade no país a ser inscrita na lista, reflete a sua importância histórica e cultural.









Bilhete Postal comemorativo
do 25º aniversário de Angra do Heroísmo
Património da Humanidade










Bilhete Postal comemorativo
dos 475 anos da elevação de Angra a Cidade




Bilhete Postal comemorativo
dos 475 anos da elevação de Angra a Cidade















Câmara Municipal de Angra do Heroísmo





Paços do Concelho até 1849


O edifício dos Paços do Concelho de Angra do Heroísmo localiza-se no centro histórico da cidade e Concelho de Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira.

Destaca-se por constituir, no país, num dos raros exemplos de um edifício camarário construído de raiz para a função que ocupa.

A sua implantação, na praça principal e mais central da cidade, contribuiu para que sempre houvesse sido o mais importante edifício civil da cidade, aí tendo se mantido ao longo de mais de 450 anos. Considerado o mais belo palácio municipal dos Açores, em suas salas encontram-se peças de inestimável valor histórico e patrimonial.



































Aspecto da Praça e Casa da Câmara primitiva de Angra.
(na carta de João Hugo Linschoten, elaborada em 1589).

 
A Câmara Municipal de Angra ocupou três edifícios ao longo da História. O primeiro Senado de Angra data de 1474, tendo sido estabelecido por João Vaz Corte Real. O seu edifício situava-se sensivelmente no mesmo local do atual, com uma pequena praça defronte, como se pode reconhecer pela carta de Jan Huygen van Linschoten, em fins do século XVI.



O terramoto de 1608 causou enormes prejuízos no casario da cidade e, como consequência, a Praça onde se situava o edifício foi ampliada, e o edifício da Câmara remodelado em 1610. Em meados do século XIX o edifício foi uma vez mais remodelado, tendo sido escolhida a data da comemoração do 20º aniversário da Batalha da Praia, 11 de Agosto de 1849, para o lançamento da pedra fundamental. A inauguração solene ocorreu no mesmo dia, em 1866.












ANGRA DO HEROÍSMO
Capital Histórica dos Açores,
e por duas vezes Capital de Portugal.

Em guisa de guião para quem não esteja muito a par da História dos Açores, e concretamente da sua capital histórica, aqui deixo alguns dos factos e datas mais importantes na vida desta nobre cidade – que a inacção local, o bairrismo estúpido e a falta de visão dos sucessivos governos regionais estão a deixar morrer.
Aceito correcções e sugestões de novas entradas.

1449: Chegada à Terceira dos primeiros povoadores flamengos.
1450: O Infante D. Henrique nomeia o fidalgo flamengo Jacob van Brugge (Jácome de Bruges) Capitão do Donatário na Ilha Terceira.
1452: Fundação do primeiro convento dos Açores (Franciscano), em Angra.
1460-1470: Construção da primeira fortificação dos Açores, o Castelo de S. Cristóvão, de S. Luís ou dos Moinhos, por João Vaz Corte-Real.
1474: Doação da Capitania de Angra a João Vaz Corte-Real (a Capitania da Praia é doada a Álvaro Martins Homem).
1478: Angra é elevada à categoria de Vila.
1492: Fundação do Hospital da Misericórdia de Angra, o primeiro dos Açores. A Misericórdia de Angra é das mais antigas de Portugal, conjuntamente com a de Lisboa e algumas mais.
1499: Paulo da Gama, morto no regresso da primeira viagem à Índia, é sepultado por seu irmão Vasco da Gama na Igreja de Nossa Senhora da Guia (Convento de S. Francisco), em Angra.
1503: Fundada a Corregedoria dos Açores, com sede em Angra.
1516: A topografia e o traçado urbanístico da cidade de Amaurota, capital da ilha de Utopia («Utopia», Thomas More), correspondem quase integralmente aos de Angra registados na gravura de Jan Huygen van Linschoten (1595). Thomas More não conhecia Angra, naturalmente, pelo que é de conjecturar-se que o traçado urbanístico de Angra (razão pela qual foi classificada pela UNESCO) corresponderia ao ideal da cidade marítima renascentista. Registe-se que a personagem de «Utopia» que descreve a ilha Utopia e a sua cidade Amaurota é um marinheiro português (Rafael Hitlodeu); que, segundo este, a ilha de Utopia ficava não muito longe das ilhas dos Macaronésios; e que o conceito actual de Macaronésia engloba os arquipélagos dos Açores, da Madeira, das Canárias e também de Cabo Verde.
1527: Criação da Provedoria das Armadas e Naus da Índia em todas as ilhas dos Açores, com sede em Angra.
1534: Angra é elevada à categoria de Cidade (sendo assim a primeira cidade dos Açores). É criada a Diocese de Angra, pela bula «Æquum reputamus» do Papa Paulo III, abrangendo as nove ilhas dos Açores.
1570: Fundação do Colégio dos Jesuítas, em Angra.
1572-1582: Construção do Forte de S. Sebastião, posteriormente conhecido por «Castelinho».
1581-1583: Sede do governo de D. António I, conhecido por Prior do Crato (período em que Angra foi capital de Portugal).
1581 (25 de Julho): Batalha da Salga, em que os habitantes da Terceira derrotam uma armada espanhola comandada por D. Pedro de Valdez (oito galeões, um pataxo e uma caravela alfamista), com mais de 1000 homens de armas, dos quais apenas 50 terão sobrevivido. Os defensores da ilha recorreram a todos os meios à sua disposição, incluindo o gado bravo da ilha, que foi lançado em manada contra os espanhóis. A memória desta batalha invulgar está registada no Brasão de Armas da Região Autónoma dos Açores, onde encontramos, como suportes, dois toiros negros. 
1582 (13 de Fevereiro): Carta de Ciprião de Figueiredo, Corregedor dos Açores, a Filipe II de Espanha, onde afirma que a população da Terceira, ao contrário do que se passara no continente, nunca se renderia dado que «...As couzas que padecem os moradores desse afligido reyno [Portugal], bastarão par]a vos desenganar que os que estão fora desse pezado jugo [o povo da Terceira], quererião antes morrer livres, que em paz sujeitos. Nem eu darei aos moradores desta ilha outro conselho... porque um morrer bem é viver perpetuamente...». A frase «antes morrer livres que em paz sujeitos» foi adoptada como divisa do Brasão de Armas da Região Autónoma dos Açores.
1583 (27-30 de Julho): Depois de vencida a resistência da Terceira à invasão espanhola comandada por D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela, herói da Batalha de Lepanto (que viera invadir a ilha à frente de uma armada constituída por 10 000 soldados veteranos espanhóis, 1600 alemães, duas companhias de italianos e uma de portugueses), e tendo já D. António I abandonado a ilha, a cidade de Angra é saqueada.
1588: Fundação do Convento de Santo Agostinho, em Angra.
1593: Início da construção, no Monte Brasil, da Fortaleza de S. Filipe (renomeada «de S. João Baptista» após a Restauração). É considerada a maior fortaleza construída por Espanha em todo o mundo.
1595: Data da gravura «A Cidade de Angra na Ilha Iesu Xpo da Terceira que esta em 30 Graos», de Jan Huygen van Linschoten, onde a cidade já apresenta o traçado actual do seu centro histórico.
1608: Fundação do Convento das Concepcionistas, em Angra.
1615: Provável fundação do Hospital Real de Angra (Hospital Militar da Boa Nova), que se crê ser o mais antigo do seu género em todo o mundo.
1643: D. João IV concede a Angra o título de «Sempre Leal Cidade».
1645: É erigida, no interior da Fortaleza de S. João Baptista, a primeira igreja do país na sequência da Restauração.
1669-1674: O rei D. Afonso VI é exilado em Angra.
1766-1832: Criação da Capitania-Geral dos Açores, com sede em Angra.
1809-1816: O jovem Almeida Garrett vem viver com a família para Angra, onde o seu tio era Bispo.
1810: Chegada a Angra da fragata «Amazona», com deportados liberais que viriam a ter um papel fulcral na difusão e adesão dos terceirenses às ideias e valores liberais. [André M. Nicolau]
1810-1832: Sede da Academia Militar.
1821: Eclosão, na Fortaleza de S. João Baptista, do primeiro movimento revolucionário de cunho liberalista nos Açores.
1828: Por Decreto (nunca revogado) de 28 de Outubro, Angra é nomeada Sede da Junta Provisória, em nome de D. Maria II. Aqui organiza D. Pedro IV a expedição que levaria ao desembarque do Mindelo (1832).
1829 (16 de Fevereiro): Desembarque em Angra do Batalhão de Voluntários da Rainha, formado em Plymouth por liberais no exílio, depois de uma viagem atribulada para furar o bloqueio naval miguelista e britânico à Terceira. Integravam-no, entre outros, Alexandre Herculano e Almeida Garrett.
1830: Início da Regência em Portugal, com sede em Angra. Por Decreto de 15 de Março, Angra é nomeada Capital do Reino.
1831: A Câmara Municipal de Angra é a primeira do país a ser eleita na sequência da reforma administrativa do Constitucionalismo.
1832: Desembarque de D. Pedro IV em Angra, onde assume o trono em nome de sua filha D. Maria. Partida dos «Bravos do Mindelo» (que, rigorosamente, deveriam ser os «Bravos da Terceira»). É constituída a Província dos Açores.
1837: Por Carta Régia de 12 de Janeiro, é conferido o título de «Mui Nobre, Leal e Sempre Constante Cidade de Angra do Heroísmo», e a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo é condecorada com a «Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito».
1844: Fundação do Liceu Nacional de Angra do Heroísmo.
1845: Construção da Memória a D. Pedro IV (monumento de inspiração maçónica), no local onde existiu o Castelo de S. Luís ou dos Moinhos.
1852: Fundação do Seminário Episcopal de Angra.
1896-1906: Gungunhana (Ngungunhane), último Imperador de Gaza (Moçambique), é exilado em Angra do Heroísmo, onde morre.
1926 (11 de Julho): O General Gomes da Costa, depois de ter sido demitido da Presidência da República e preso em Belém e em Caxias, é exilado em Angra do Heroísmo; a 30 de Setembro, ainda em Angra, é-lhe conferido o bastão de Marechal do Exército Português. Seria posteriormente transferido para Ponta Delgada (Outubro) e, finalmente, para Lisboa (Novembro de 1927)
1930 (4 de Outubro): Inauguração do Campo de Aviação da Achada, uma obra realizada pelo Corpo de Aviação do Exército Português e pela Junta Geral de Angra do Heroísmo. Pilotou o Avro 504 o tenente piloto aviador Frederico Coelho de Melo, natural da freguesia dos Altares (Angra do Heroísmo). [Manuel de Meneses Martins]
1931 (7 de Abril): Revolta de parte dos presos políticos deportados em Angra do Heroísmo contra o Estado Novo, com apoio de alguns militares (também na Madeira, onde tudo começara, e em S. Miguel e Faial, que adeririam mais tarde). Foi constituída uma Junta Revolucionária em Angra do Heroísmo. Sem apoio popular, a revolta acabaria por ser dominada pelas forças governamentais, com rendição dos revoltosos: a 17 de Abril, na Terceira; a 20, em S. Miguel; e a 2 de Maio, na Madeira. [cfr. Francisco Miguel Nogueira, http://www.jornaldapraia.com/noticias/ver.php?id=2043]
1933-1943: Cerca de 500 presos políticos do Estado Novo passam pelas prisões da Fortaleza de S. João Baptista e do Forte de S. Sebastião (Castelinho).
1941 (12 de Junho): Chega a Angra do Heroísmo a Esquadrilha n.º 2 do Corpo de Aviação (com 90 homens e 9 aeronaves), que desfila nas ruas da cidade e tem alojamento na Fortaleza de S. João Baptista. Depois transita para as Lajes. [Manuel de Meneses Martins]
1943 (8 de Outubro): Chegada do Grupo 247 da Royal Air Force, alojando-se no Forte S. Sebastião, antes de transitar para as Lajes. [Manuel de Meneses Martins]
1944 (17 de Janeiro): O navio americano USS John Clark descarregou 800 homens e 4064 toneladas de carga no Porto das Pipas, em Angra do Heroísmo, com destino à Base Aérea das Lajes. [Manuel de Meneses Martins]
1971: Realização, em Angra, da Cimeira dos Presidentes dos Estados Unidos (Richard Nixon) e de França (Georges Pompidou), no âmbito da crise económica internacional da época.
1980: A 1 de Janeiro, a cidade (e grande parte da Terceira, bem como da Graciosa e de São Jorge) é destruída por um sismo. Cerca de 70% das casas da Ilha foram destruídas, incluindo o centro histórico de Angra, e contabilizaram-se 73 mortos no total.
1983: Depois de reconstruído na sequência do sismo de 1980, o Centro Histórico de Angra do Heroísmo é classificado como Património Mundial pela UNESCO, sendo a primeira cidade portuguesa a receber tal distinção.

Publicado por Luís Fagundes Duarte in FB a 12/08/2019