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terça-feira, 23 de julho de 2019

O Teatro Angrense


O Teatro Angrense localiza-se na rua da Esperança, no Centro Histórico de Angra do Heroísmo.

Ao longo de sua história nele se apresentaram diversos nomes da cultura local, nacional e internacional.







1892 - Título de uma acção 

 
 
 
 
 
 
 
 
No local onde se ergue o teatro, na esquina da rampa que dá acesso ao atual Mercado Duque de Bragança, existiu em 1599 um edifício que servia de armazém a mercadorias importadas. Ali, em um caixote de fazendas oriundas da Índia, iniciou-se o foco da epidemia de peste que assolou a cidade naquele ano, fazendo inúmeras vítimas entre a população.

Como medida profilática, a Câmara Municipal determinou incendiar o edifício, que permaneceu em ruínas até 1862, ano em que um grupo de acionistas se constituiu para construir um teatro. O projeto previa 50 camarotes dispostos em três ordens, 152 lugares na plateia, 63 cadeiras, um pequeno salão no pavimento superior, um palco e 14 camarins.

As instalações do teatro ao longo dos anos mostraram-se pequenas e desconfortáveis: o palco era pequeno e os camarins excessivamente húmidos  a arquitetura, exterior e interior, era pobre diante do meio cultural da cidade, que se expandia no início do século XX.

Cogitou assim a direção, com a aprovação da Assembleia Geral, transformar e ampliar as suas instalações. O projeto aprovado era de autoria do então major Eduardo Gomes da Silva, iniciando-se as obras em 1919, sob a direção do mesmo.

A inauguração teve lugar em 19 de Março de 1926, com a apresentação da Companhia Teatral Maria Matos-Nascimento Fernandes.

O edifício resistiu sem danos de monta ao grande terramoto de 1980, demonstrando a sua solidez. Na década de 1990, na posse da Câmara Municipal, passou por uma campanha de remodelação.


Entre os nomes da música nacional, destacou-se a presença de Rita Guerra em 2008. Igualmente no panorama nacional a presença de um dos vultos do fado português, Carlos do Carmo.

Entre os espectáculos mais recentes, é de destacar a "Madame Butterfly" pela Companhia Lírica Siglo XXI, que se realizou nos dias 7 e 8 de Dezembro de 2008.

Já em 2009, mais concretamente a 14 de Março, a banda Deolinda actuaram no Teatro Angrense.



Interior do teatro
Na sua fachada encontram-se elementos do estilo neoclássico e, em por cima da bilheteira, um elemento em arte nova em ferro forjado.

A sua sala no formato de "ferradura", é típica da ópera italiana. Atualmente tem capacidade para 927 lugares sentados, dispostos em quatro pavimentos.





Amália Rodrigues
 no Teatro Angrense




“A relação de Amália Rodrigues com os Açores ficou expressa em vários depoimentos que prestou, quer para os jornais quer para a televisão. Julgo que a primeira viagem ao arquipélago ter-se-á concretizado em 1953, quando o Rádio Clube de Angra teve a audácia de convidar uma artista de tão elevado cachet. A direção de então, presidida pelo dr. João Meneses, com a ajuda do delegado dos espetáculos, José Henrique Castro Franco, conseguiu um acordo com Santos Moreira, representante de Amália, para que ela atuasse no Teatro Angrense. Como condição, ficou estabelecido que o espetáculo não seria radiofundido. 




1953 - Amália na Terceira
 
O sonho tornou-se realidade no início de março de 1953, quando Amália subiu ao palco do Teatro Angrense, com a casa à cunha, e com uma receita que o Teatro, nos seus longos anos de existência, nunca tinha alcançado. 
 
Após umas breves palavras de Castro Franco, o espetáculo foi apresentado por Pinto Enes, então locutor do RCA, com “graça e perfeito domínio”, como referiu a imprensa. E no final, a artista recebeu muitas flores de várias individualidades e instituições, desde o governador civil à Recreio dos Artistas.


Amália cantou e encantou e o espetáculo teve de ser repetido para satisfazer a procura inusitada.

A fadista permaneceu na Terceira, durante 10 dias e acabou por dar um espetáculo gratuito para os soldados doentes no Hospital da Terra-Chã, a pedido do diretor, o capitão-médico João José Varela. O mesmo aconteceu no Salão-Teatro Azoria, onde cantou durante uma hora para os soldados da BA4. Como reconhecimento o comandante ofereceu um gravador de som a Amália e, aos acompanhantes, uma máquina fotográfica e um aparelho de rádio.
 


1953 - Teatro Azoria na Base das Lajes

Na entrevista ao Diário Insular, mostrou o seu contentamento: “gostei imenso do público … foi uma plateia comunicando comigo, numa graduação de aplausos que denotou fina percepção do valor das interpretações. Com um público assim gosto de apresentar o melhor”.

Se, em palco, a artista se sentiu bem na relação com os terceirenses, a letra jocosa que dedicou às meninas da Terceira pode indiciar outros estado de espírito nos 10 dias que por lá andou, com os seus 33 anos de idade a provocar ciúmes. 

Texto parcial sobre Amália de: Carlos Alberto Alves in "Portal Splish Splash"





Amália Rodrigues - As meninas da Terceira
(Aquando a sua actuação no Teatro Angrense em 1953)


As meninas da Terceira
Nem São Miguel agradou!
Vaidade é má conselheira,
Nenhuma lá namorou!
As meninas da terceira
Vão casar ao Continente,
Vejam lá a brincadeira:
Não temos cara de gente!

As meninas da terceira,
Numa cantiga brejeira,
São laranjas sumarentas!
Quem dera saboreá-las,
Se não fossem de más falas,
Azedas e ciumentas 

Nem sequer vê alegria
Nesses pãezinhos sem sal!
Quem foi à Santa Maria,
Esteve já no Faial.
Na Terceira bate a asa,
Quem quiser moça formosa!
É bem melhor fazer casa
Em São Jorge ou Graciosa!

Na Terceira, chamarrita
A ninguém dá namorada!
Meninas, dança bonita,
Não se quer tão deslavada!
À Terceira leva o rico
Noiva rica dos Açores,
O pobre escolhe no Pico
Canção de corvo ou nas flores!

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