quarta-feira, 28 de outubro de 2020

A Atlântida Açoriana

 


Circa 1600, An illustration from an old book published in Germany entitled,
 ‘Land Sila and Air’ showing a map of the island of Atlantis.
 (Photo by Fox Photos/Getty Images)


O mito da Atlântida




Platão (427-347 a.C.) foi um filósofo grego da antiguidade, considerado um dos principais pensadores da história da filosofia. Era discípulo do filósofo Sócrates.

A sua filosofia é baseada na teoria de que o mundo que percebemos com os nossos sentidos é um mundo ilusório, confuso. O mundo espiritual é mais elevado, eterno, onde o que existe verdadeiramente são as ideias, que só a razão pode conhecer.

Segundo o filósofo Platão, quando os deuses dividiram entre si o mundo, Atena recebeu Atenas, e Posídon a Atlântida, uma enorme ilha do Atlântico, localizada em frente das Colunas de Hércules (habitualmente identificadas com o estreito de Gibraltar).



Busto de Platão

Cópia em mármore do busto de Platão feito por Silanião, ca. 370


O deus viveu aí com uma jovem mortal, Clito, de quem teve dez filhos. O mais velho, de seu nome Atlas, dividiu a ilha em dez Estados, que distribuiu por si e pelos irmãos. Com o correr dos tempos, os Atlantes, descendentes dessa primitiva geração divina, foram alargando o seu poder às mais distantes paragens e explorando os recursos naturais da ilha, em cobre, ferro, ouro, e ainda em oricalco, liga metálica de belos reflexos cor de fogo.



As Colunas de Hércules


Com uma terra fértil, uma fauna abundante e um comércio bem desenvolvido, os Atlantes acumularam grandes riquezas e a ilha distinguia-se pelo requinte das suas obras de arte e dos seus monumentos, pela elegância e luxo dos seus palácios, pelas muralhas defensivas de grande porte. Mas, um dia, essa grandiosidade teve o seu fim, imposto pelos deuses como punição pelos vícios a que os habitantes da ilha entretanto se tinham entregado e pelo orgulho desmedido de que davam provas, convencidos da sua invencível superioridade.



As Colunas de Hércules


Por isso, querendo conquistar ainda mais regiões, na África e na Ásia, foram vencidos pelos Atenienses e, pouco depois, na sequência de um violento tremor de terra seguido de maremoto, a ilha foi engolida pelas águas, no espaço de um dia e uma noite, e todas as riquezas pereceram no fundo do mar Atlântico.






A lenda da Atlântida desaparecida tem sido, ao longo dos tempos, uma das que mais curiosidade tem despertado. Os que acreditam que esta história fabulosa tem de corresponder a uma realidade histórica procuram saber qual seria a exata localização dessa ilha fantástica e qual a razão de ela ter desaparecido.


Entre as várias hipóteses de localização contam-se as ilhas dos Açores.






Posidão convocou um concílio dos deuses para travar os atlantes. Nele foi decidido aplicar-lhes um castigo exemplar. Como consequência das decisões divinas começaram grandes movimentos tectónicos, acompanhados de enormes tremores de terra. As terras da Atlântida tremeram violentamente, o céu escureceu como se fosse noite, apareceu o fogo que queimou florestas e campos de cultivo. O mar galgou a terra com ondas gigantes e engoliu aldeias e cidades.

Em pouco tempo Atlântida tinha desaparecido para sempre na imensidão do mar. No entanto, como fora possuidora de grandes montanhas, estas não teriam afundado completamente. Os altos cumes teriam ficado acima da superfície das águas e originado as nove ilhas dos Açores






A Colunária (Patacão)
8 Reales = 960 réis

As Colunas de Hércules aparecem nas moedas de prata espanholas. 
Esta puncionada no Brasil, reinado do PR D. João em 1809.


Quanto às causas do desaparecimento, uma das versões mais correntes é a que associa uma terrível erupção do vulcão da ilha de Tera (hoje Santorini), em finais da Idade do Bronze, de que resultou a perda de uma parte significativa do território da ilha, a esta lenda da Atlântida para sempre submersa. Mas não foi, até à data, possível apurar o que há de fundo histórico (se é que há algum) no mito da Atlântida.

Fonte: Olimpus.net




Colunas de Hércules era o nome dado aos promontórios que existem no estreito de Gibraltar, um em África (conforme as versões, o monte Hacho ou o monte Musa) e outro na Europa (o rochedo de Gibraltar).







O nome provém da mitologia grega, em que se conta que Hércules, para realizar um de seus doze trabalhos, teria necessidade de transpor um estreito marítimo. Dispondo de pouco tempo, resolveu abrir o caminho com seus ombros ligando assim o mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico.


1732 - Filipe V de Espanha
(Medalha com as Colunas de Hércules)




De um lado, ficou um grande rochedo, mais tarde chamado Gibraltar (monte Calpe) e do outro lado o monte Hacho ou o monte Musa (Abília ou Ábila), o primeiro situado em Ceuta e o segundo a alguns quilómetros para oeste.




1816 - Casamento de Fernando VII de Espanha com Isabel de Portugal*
(medalha comemorativa com as Colunas de Hércules)

* Isabel de Portugal era filha de D. João VI, irmã de D. Pedro IV


Os dois montes depois de separados passaram a ser denominados "Colunas de Hércules", ou "Pilares de Hércules".






Este marco foi ultrapassado pelos fenícios e por suas rotas marítimas, quando buscavam matéria-prima para a manufatura de tecidos, vidros e outros produtos para comerciar no Mediterrâneo em geral e no Egito em particular.










Origem atlântida dos índios

Depois das viagens de Colombo, ao comprovar-se que ele não havia descoberto as Índias, mas sim um novo continente, surgiram diferentes hipóteses para explicar a origem de seus habitantes, impropriamente chamados índios. Vários autores europeus afirmaram que eles tinham vindo da Atlântida, antes de submersa. Entretanto, já no século XVI houve quem ridicularizasse semelhante origem, como o cronista jesuíta José de Acosta em sua Historia natural y moral de las Indias (1580).





Embora com pouca aceitação nos meios científicos, continuam a aparecer teorias sobre a origem atlântida do homem americano. Os geólogos, em geral, rejeitam a existência da Atlântida como continente, na época do aparecimento do homem na Terra. Para explicar certas correspondências do relevo, da fauna e da flora entre a África e a América do Sul, preferem outras hipóteses, como a teria de Wegener, da deriva dos continentes.




A Atlântida, apesar disso, permanece como tema de doutrinas esotéricas que descrevem em minúcias a história de seus supostos habitantes. A renovação do interesse pela Atlântida a partir do descobrimento da América motivou a publicação de muitos livros e artigos.






Em Paris foi criada a Société d'Études Atlantéennes (Sociedade de Estudos Atlantianos), que em 1927 deu início à publicação da revista especializada Atlantis.











Lenda das Sete Cidades, Terra de Atlantes


Conta a lenda que na ilha das Sete Cidades vivia uma princesa muito bonita de nome Eufémia, filha do rei Atlas e neta do deus Júpiter. A princesa tinha uma alma bela e pura, como o seu corpo. Adorava a liberdade, e por isso recusou o casamento preparado por seu pai com um dos filhos de Neptuno, monarca de outros tantos reinos na Atlântida.


Neptuno ficou muito ofendido com a recusa da princesa Eufémia e mandou destruir o reino do seu pai, tendo nessa contenda morrido a princesa. No outro mundo a princesa ter-se-á convertido à fé cristã e desejado voltar à Terra para espalhar o bem. O seu desejo foi satisfeito.


Quando voltou à terra para cumprir os seus novos desígnios, foi posta numa ilha a que alguém num passado muito antigo tinha dado o nome de Sete Cidades. Era então um local muito pobre, onde se vivia em grande miséria e dor. Com a chegada da princesa, rapidamente as coisas começaram a mudar e a vida melhorou nas Sete Cidades, levando ao desaparecimento da dor e da miséria.


Actualmente, na ilha de São Miguel ainda há quem acredite que a bela princesa Eufémia habita a ilha. Vive na caldeira do grande vulcão que fez nascer o Vale das Sete Cidades, encarnada numa bela solanácea de frutos de frutos cor de laranja e muito sumarentos, e cujas folhas têm excelente aplicação medicinal. Diz a lenda que "Aquele que beber deste mágico filtro espiritual fica curado das suas mágoas, defendido dos seus infortúnios".



**** CURIOSIDADE ***





1893 - Carta circulada em Chicago


A data 1809, 12 de Fevereiro, refere-se ao nascimento de Abraham Lincoln, 16.º presidente dos Estados Unidos da América, assassinado a 15 de Abril de 1865.

A inscrição superior e inferior do carimbo, são dois versos do poema do poeta Americano Joaquin Miller. Trata-se do poema intitulado Colombo, cuja primeira estrofe é:


"BEHIND him lay the gray Azores, Behind the Gates of Hercules"


"Atrás dele estava os Açores cinzentos, atrás das Colunas de Hércules;

Diante dele não o fantasma das costas, antes dele apenas mares sem costa.

 O bom companheiro disse: 

"Agora devemos orar, por ele! as próprias estrelas se foram. Bravo Almirante, falar, o que devo dizer?

"Por que, dizer, 'Velejar! Navegar!".



*** Bibliografias ***

 Serão mitos ou verdades açorianas ?




 "O Passado Desconhecido das ilhas dos Açores".






 "O Passado Desconhecido das ilhas dos Açores".

Investigações do Dr. Félix Rodrigues

Poderão descarregar os imensos trabalhos de investigação da autoria do Dr. Félix Rodrigues sobre, sobretudo, a presença de outros povos no arquipélago dos Açores.

Para os lerem é só acederem a essas publicações, que se encontram em formato PDF, através do seguinte link:


ACADEMIDA.EDU



domingo, 4 de outubro de 2020

90 anos da Aviação nos Açores (1930-2020)


O artista Manuel Meneses Martins foi o autor desta aguarela
que ilustra o inteiro postal
 


Campo de Aviação da Achada

 

 



Aguarela de Manuel Meneses Martins

                                                           Design de Carla Caraça Ramos


Nos anos vinte do século passado aumentou consideravelmente a pressão sobre o governo Português para que fosse construída uma pista de aviação nos Açores.

 De entre tais vozes assume-se de extrema importância, pela pertinência e carácter quase profético, um artigo a 30 de Julho de 1929, em Lisboa, no jornal “Século”, assinado por um açoriano, “F. B.”, defendendo a construção de uma pista na Terceira, nos seguintes termos: “Por todos os motivos, de lamentar que não se tenha dado execução (...) quase a seguir são dois desastres de aviação estrangeiros, sem que no Arquipélago houvesse os serviços de aviação necessários, para os evitar (...). Tenhamos por assente que o futuro da Ilha Terceira está na Aviação”. 

Realçando-se assim que o pretexto maior para a construção de tal infraestrutura assentava na necessidade de se precaver a recorrente ocorrência de acidentes.

Aos acidentes aéreos o jornal A União, já a tal se referia a 12 de Outubro de 1927, quando amarou a oeste da Ilha Terceira um monomotor tripulado pelos americanos, Ruth Elder e George Haldeman, depois de trinta e cinco horas de voo, com o objetivo de fazer a travessia Nova Iorque – Paris.  Também há referência ao acidente de um avião italiano, o “Santa Maria” que amarou perto das Flores por falta de combustível, sendo rebocado por um navio da mesma nacionalidade para a Horta, tendo voado novamente para as Flores, rumando de seguida para Ponta Delgada a 10 de Junho de 1927 e no dia seguinte chega a Lisboa. Este avião era tripulado pelos pilotos italianos Pinedo, Carlo del Prete e Victale Zacchetti, pertencentes à aviação militar italiana, e pretendiam fazer o reconhecimento da travessia do Atlântico Sul e ligação Roma - Rio de Janeiro.





Já mais tardiamente, em 1929, ocorreu o trágico acidente de um avião polaco tipo Amiot, no lugar de Vitória na Ilha da Graciosa, cerca das dezanove horas de 13 de Julho de 1929 tendo falecido o Major Piloto Idzikowskiew, com trinta e seis anos de idade. O seu colega aviador Kubala, foi salvo por um lavrador da freguesia de Guadalupe, o senhor Jerónimo Correia Picanço, que o retirou dos escombros. Estes aviadores tentavam atravessar o Atlântico.





Estes e outros eventos, suportados por pressões da sociedade terceirense, levaram a que o governo Português, considerasse a viabilidade de se construir uma pista para a aviação numa das ilhas do arquipélago.

Na mesma esteira o Tenente Coronel Aviador Cifka Duarte elabora um estudo em 1928 onde vem precisamente defender a construção de um campo de aviação na Achada, entre a Serra do Moirão e os terrenos dos Cinco Picos. Tal parecer não obteve, contudo, a opinião favorável do Capitão da Aeronáutica Francisco Aragão que em gozo de férias na ilha de S. Miguel, se deslocou à Ilha Terceira a fim de dar o seu parecer.




No entanto o diário terceirense “A União”, único publicado na Ilha Terceira naquela época, continuou a bater-se incansavelmente para alertar a opinião pública para a necessidade da construção de um campo de aviação nos Açores com artigos nos dias 18, 20 e 25 de Julho de 1929 nos quais, para além de  pedir à Administração Geral dos Correios “uns simples pedaços de ebonite” para que a Estação das Faleiras, na Terra Chã, possa receber mensagens, inclusive de aviadores,  questionava-se qual o local onde se poderia “aterrissar” na Ilha Terceira, sendo sugerido que, para além do areal na Praia da Vitória, haveria a planície da Achada aonde a Junta Geral já mandou “limpar de pedras e balizar o campo da Achada que ficará assim mais apto a ser utilizado por um avião como campo de emergência.”.

Nos dias seguintes, na edição de 22 de Julho de 1929 vem dar igualmente conta das medidas do Campo de Aviação da Achada, referindo como tendo 600 metros de comprimento por 60 metros de largura, podendo ser aumentado para 800 metros e “quando se tratar de uma instalação definitiva, preparar-se para outra faixa de cerca de 1000 metros fazendo em ângulo com a primeira”.

Será finalmente um mês depois da publicação do artigo no jornal “A União”, de 18 de Julho de 1929, defendendo como muito importante a construção de um “campo provisório e esse será indicado com a aprovação dos nossos aviadores”, que se anunciará que a Junta Geral irá iniciar as obras de terraplanagem “em faixa de terreno nos baldios dos Borratéus, junto à Estrada da Achada”.




Era então Presidente da Comissão Administrativa da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo o Dr. Manuel de Sousa Menezes, cirurgião e capitão-médico, sendo vice-presidente o Dr. Constantino Menezes Cardoso os quais se debateram arduamente para que fosse construída a pista de aviação da Achada, tendo aprovado em 8 de agosto de 1929, com recurso às verbas da viação, o dispêndio de cinquenta mil escudos nas obras do campo de aviação da Achada.

A Junta Geral e a sua Comissão Administrativa, acreditaram na construção da pista quando receberam um telegrama do Ministro do Interior, para no prazo de trinta dias mandar desfazer as curvas perigosas e tapar rodeiros na “Estrada de Angra-Achada-Praia”.

Na ata de 15 de Agosto de 1929, a Comissão Administrativa da Junta Geral de Angra do Heroísmo, aquando da decisão para a compra dos terrenos para o aumento do campo da aviação,  delibera o seguinte: “(…) quanto vantajosa é a construção de um campo de Aviação para esta terra que infelizmente vem vivendo em regime deficitário, necessitando por todas as formas, promover o seu enriquecimento e ponderando ainda quanto tal empreendimento tem de utilidade nacional, dada a necessidade internacionalmente reconhecida de um campo de Aviação nos Açores”, demonstrando que a Junta Geral reconheceu como sendo de enorme importância apoiar este projeto.




Para tal realizará todos os esforços para o efetivar, em prejuízo das verbas dedicadas ao cuidado das estradas do Distrito de Angra do Heroísmo que incluía, além da Ilha Terceira, as ilhas Graciosa e S. Jorge.

Como os baldios dos Borratéus, não eram suficientes para o Campo de Aviação o doutor Constantino Menezes Cardoso, procurou o Tenente-coronel Francisco de Paula Rego, procurador do proprietário dos pastos contíguos a nascente dos baldios, os quais mediram aproximadamente e propuseram à Comissão Administrativa da Junta Geral na reunião de 15 de agosto o seu arrendamento ou aquisição, tendo sido adotada a compra dos mesmos, para se conseguir “um campo de aviação definitivo com esplêndidas dimensões”.

 Em medidas aproximadas de 2323,20 ares a quinhentos escudos por cada nove ares e oito centiares ou sejam cerca de 128 mil escudos, as quais seriam mais exatas em medição a realizar antes da compra.

O chefe da Secretaria foi então mandatado para realizar a escritura com isenção de sisa, dada a urgência em obter a área necessária para o campo de aviação.

Contudo, era do entendimento da Junta Geral que a despesa com o Campo de Aviação da Achada, dado o interesse nacional e internacional como ficou lavrado em ata da reunião acima citada, fosse da responsabilidade do Governo Central.

A tudo isto acresciam igualmente as dificuldades iniciais de mão de obra pelo que pela ajuda prestada para continuação dos trabalhos, a Comissão Administrativa da Junta Geral de Angra do Heroísmo na reunião de 5 Setembro aprovou um agradecimento ao Governador Militar dos Açores, Coronel Pedro Paula Pinheiro Machado por “ter acedido da melhor boa vontade à solicitação, por esta Comissão feita, de dispensar as praças da guarnição que as exigências do serviço militar permitissem para se ocuparem no serviço de coadjuvação das obras de adaptação do terreno da Achada, para ali ser estabelecido um campo de aviação”.

A referida Comissão deliberou igualmente em 2 de novembro de 1929 permitir à Junta Geral de Angra do Heroísmo que “os terrenos da Achada concedidos ao Ministério da Agricultura por escritura de 11 de Agosto de 1920, para estabelecimento de um posto zootécnico sejam aproveitados na construção de um campo de aeronaves”, podendo a Junta Geral dispor dos mesmos terrenos para entrega ao Estado, à Arma da Aeronáutica ou a outra entidade, revertendo para a Câmara Municipal a propriedade quando os terrenos deixarem de ter o destino de Campo de Aviação. Esta informação é crucial para explicar o fato de esses terrenos serem hoje a Estação Experimental do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores.





Assim, finalmente, em Setembro de 1930 chegou à Ilha Terceira, no navio “Lima”, vindo de Lisboa, o Tenente Coronel Piloto Aviador Cifka Duarte, inspetor da Arma da Aeronáutica e pioneiro da Força Aérea Portuguesa bem como Major Pil. Av. Ribeiro da Fonseca e o Capitão Pil. Av. Frederico Coelho de Melo, este natural da freguesia dos Altares, na Ilha Terceira, onde nasceu a 25 de Abril de 1895, para no local se inteirarem dos trabalhos no “Campo de Aviação da Achada”.  No mesmo navio vinha um avião monomotor Avro 504K, biplano, que serviu ao Capitão Piloto Aviador Frederico C. de Melo, para realizar descolagens e aterragens de teste na nova pista de terra batida.

Esta aeronave tinha como origem a compra que Portugal realizou à Grã-Bretanha 30 aviões Avro 504 K, a 10 de Novembro de 1923, tendo sido feita a entrega a 20 de Maio de 1924.  Além dos três cedidos para a Aviação Naval, todos eles foram usados para instrução de pilotos na Escola Militar de Aeronáutica em Sintra. Estes aviões que foram dos mais importantes usados pela Grã-Bretanha durante a I Guerra Mundial, foram construídos pela A. V. Roe & Co. Ltd e tinham de comprimento 8,91 metros, de envergadura de 10,97 metros e de altura 3,15 metros e eram propulsionados por um motor Le Rhône R-9-J de 9 cilindros radiais rotativos, debitando 110 hp.

 


 


Finalmente a inauguração a 4 de Outubro de 1930.

 

Nesse dia o povo ocorreu à Achada para assistir à inauguração do Campo de Aviação, com seiscentos metros de comprimento e 70 metros de largura, o qual foi benzido, como também o avião, pelo Bispo dos Açores D. Guilherme Guimarães, acompanhado pelo Vigário-Geral Dr. Almada.

 

 

 A aeronave Avro 504 “Açor” em exposição no Campo da Achada


 A inauguração do Campo da Achada aguardava uma previsão meteorológica que permitisse um bom dia de sol o que veio a acontecer nesse 4 de Outubro de 1930, um sábado.




 Segundo o jornal “A União”, tal contribuiu para que uma multidão de milhares de pessoas, a maioria a pé, se deslocasse para a Achada a fim de, pela primeira vez, verem uma aeronave levantar voo e voar à volta da Ilha Terceira, como também efetuar voo baixo que, como se pode facilmente adivinhar, surpreendeu imenso os espectadores. Se, e embora, a 13 de Outubro de 1924, dois dirigíveis Zeppelin com 200 metros de comprimento por 28 de largura tivessem já sobrevoado Angra do Heroísmo o que foi uma enorme surpresa para a população terceirense, mas ver uma aeronave levantar de terra e sobrevoar a ilha voltando a aterrar no mesmo sítio foi um espetáculo que deve ter perdurado na memória de todos quantos o presenciaram.

 



  Dirigível Zeppelin voando a 13 de Outubro de 1924 sobre Angra do Heroísmo

 na sua viagem da Alemanha para os Estados Unidos. 


Os convidados oficiais foram recebidos pelo Dr. Manuel de Sousa Menezes, cirurgião e capitão-médico, na sua condição de Presidente da Comissão Administrativa da Junta Geral de Angra do Heroísmo, para uma tenda colocada junto ao hangar construído perto da Estrada da Achada, em meados de setembro, logo após da vinda do Capitão Piloto Aviador Frederico Coelho de Melo. O resto da multidão foi disposta ao longo da estrada e no Pico do Ginjal, a mando dos soldados do exército sob as ordens do Major José Agostinho, Diretor do campo de aviação.





Antes do meio dia procedeu-se à bênção da aeronave “Açor” pelo bispo da diocese D. Guilherme Augusto da Cunha Guimarães de mitra e capa de asperges, acompanhado pelo vigário geral dr. Almada e o mestre de cerimónias padre Marques como também pelos sacerdotes que acorreram ao evento.

 


 



A menina Maria Cristina filha do Major José Agostinho, Diretor do  Campo de Aviação da Achada, quebra uma taça de champagne no Avro 504 durante a cerimónia de batismo com o dr. Manuel de Sousa Meneses, fardado de capitão-médico, observando à esquerda da fotografia.




Autoridades militares, religiosas e civis na cerimónia de batismo d “Açor” estando na primeira fila o Capitão-piloto-aviador Frederico de Melo e o Major José Agostinho que observa a fila Maria Cristina com um ramo de flores que irá entregar a Frederico de Melo.

 

 


 

 Capitão-Piloto-Aviador Frederico de Melo e o “Açor”.

 

 



 

  Depois da Banda Regimental ter tocado, ocorreu ao local “a menina Maria Cristina, gentil filha do ilustre Diretor do Campo sr. Major José Agostinho que quebra uma taça de champagne, em frente do Avro, e oferece ao distinto aviador um lindo bouquet de flores naturais”, tal como foi relatado num artigo de primeira página a quatro colunas no jornal “A União” de 7 de Outubro de 1930.

O dr. Manuel Sousa Menezes, fardado de militar, dirigiu-se aos presentes para os saudar e agradecer a todos quantos contribuíram para que o campo de aviação fosse construído, referindo expressamente o Governo Militar dos Açores e ao Delegado do Governo, “quando se tratou do concurso de adjudicação das linhas aéreas nacionais, para a valorização nosso campo”, o que não veio a acontecer por o Governo Central ter optado por outra solução. Como consequência desse facto e por não ter havido procura de aeronaves para aterrarem de emergência no Campo da Achada que se queria que fosse o “Campo de Aviação da Terceira”, a Junta Geral optaria posteriormente por parar o investimento na melhoria e aumento do campo de aviação até que houvesse empenho orçamentado do governo central.






O avião utilizado, o Avro 504K, foi batizado como “Açor” no ato da sua bênção.



Este avião Açor, percursor da aviação militar na Ilha Terceira e o primeiro a agora a levantar e aterrar em pista em terra exibiu para o efeito fuselagem e asas pintadas de alumínio e toda a secção do motor a preto, e apresentava a Cruz de Cristo, sobre círculo branco, nos extremos exteriores das asas superiores e inferiores e a bandeira nacional com escudo cobrindo todo o leme de direção, além do nome e de um açor estilizado pintado a preto nos lados da fuselagem, concebido pelo artista terceirense Maduro Dias.

Ao meio dia o Avro “Açor” foi levado para o centro do campo e o mecânico deu uma volta à hélice para iniciar o motor, para depois “abandonado à direção hábil do seu afamado piloto, desliza suavemente sobre a relva, e, em menos de cinquenta metros já estava suspenso nas suas asas” para atingir a altitude de seiscentos metros, no dizer do articulista do jornal acima citado, “atingida essa altitude, o arrojado piloto, que é um exímio acrobata de fama internacional, aproa o aparelho na vertical ascendente e volta-o sobre si mesmo num arriscado looping”. 

 



Depois de uma série de manobras, incluindo uma passagem de baixa altitude para saudar os espectadores, bem como algumas evoluções no ar para gáudio dos presentes e sobrevoado a ilha distribuindo panfletos alusivos ao ato, o piloto Frederico de Melo aproxima-se pelo ocidente do campo e vem parar junto do público aonde é bastante aplaudido e abraçado.




 

À noite houve uma sessão solene no Teatro Angrense de homenagem a Frederico Coelho de Melo onde discursou o jornalista Miguel Forjaz que frisou a importância do acontecimento.



 Capitão Frederico de Melo junto ao Açor


Estava inaugurado este Campo de Aviação, o primeiro, feito em terrenos públicos e privados da Achada com grande esforço económico da Junta Geral de Angra do Heroísmo em prejuízo de investimentos na sua rede de estradas não só na Ilha Terceira como nas Ilhas de S. Jorge e Graciosa e fruto de continuas pressões da comunidade.

Em 1941 foi novamente usado para acomodar os nove aviões biplanos Glocester Gladiator em virtude de o campo de aviação nas Lajes ainda não estar em condições de os receber.

 

Capitão Frederico de Melo e a sua Senhora



O governo português através do Comando Geral da Aeronáutica Militar, pertencente ao Exército, preparava-se para instalar meios militares aéreos no arquipélago, tendo sido emitido uma ordem que incumbiu, em Maio de 1941, a Base Aérea n.º 3 em Tancos e a Base Aérea n.º 2 na Ota de organizarem duas Esquadrilhas Expedicionárias de Caça equipadas com aviões Gloster Gladiator, as quais tomaram os números 1 e 2, respetivamente. 



Panfleto distribuído à população terceirense no dia 4 de Outubro de 1930


Nos Açores a Engenharia Militar já tinha iniciado a terraplanagem dos novos aeródromos, um em Santana, S. Miguel e o outro nas Lajes, Ilha Terceira, sobre as ordens do “Alto Comando Militar dos Açores” localizado em Ponta Delgada na Ilha de São Miguel, este Alto Comando compunha um Comando de Aeronáutica e um Comando Marítimo de Defesa.

Os Gloster Gladiator MkII foram adquiridos pela Aeronáutica Militar em Setembro de 1938, tendo sido entregues nesta data os primeiros quinze e em Outubro de 1939 os últimos, de uma remessa de 30 aviões de caça, fornecidos pela Grã-Bretanha, e entregues nas Oficinas Gerais de Material de  Tejo, o navio Mirandela zarpou para os Açores na noite de 4 de Junho de 1941, depois de visitado por um emissário do Ministério da Guerra, levando a bordo as Esquadrilhas Expedicionárias de Caça, totalmente equipadas, incluindo os aviões “Gladiators” encaixotados, chegando a Ponta Delgada, S. Miguel, a 8 de Junho. Depois de a Esquadrilha de Caça nº 1, destinada ao Campo de Santana em Rabo do Peixe, ter desembarcado, o navio partiu para Angra do Heroísmo onde chegou na manhã do dia 12 de Junho. Após a receção feita pelo Comandante Militar da Ilha Terceira e pelo Comandante Naval, a Esquadrilha de Caça nº 2 comandada pelo Tenente Machado Barros, desfilou pelo centro da cidade de Angra do Heroísmo, com pompa e circunstância, dirigindo-se ao Regimento de Infantaria nº 17, no Castelo de S. João Baptista, onde aquartelou por uma semana. 

O material foi transportado por carros de bois e por um camião, este vindo de Lisboa, que carregaram os nove aviões “Gladiator” e mais material para as Lajes, onde a equipa de engenharia militar a cargo do Capitão Romão concluía uma faixa de terraplanagem para permitir a atividade dos aviões.  Enquanto não terminavam as obras de expansão do Campo de Aviação nas Lajes os Glocester Gladiators tiveram que ficar no Campo de Aviação da Achada sob a guarda do cabo-piloto Carpinteiro. Depois desta função o Campo da Achada ficou sem outra utilidade relacionada com a aviação. O que foi ditando a sua lenta morte, através de sucessivos parcelamentos, que inevitavelmente levaram ao esquecimento da sua própria localização exata. 

A localização exata do campo ter-se-á perdido, face à inexistência, após aturadas pesquisas e dos quais não fomos os pioneiros, dos documentos que documentassem, como mapa, as suas dimensões exatas. Contudo estamos em condições de identificar claramente a sua localização original, bem como da sua pista. Teremos, contudo, de deixar alerta para o facto de que, se de início, foram sendo acrescentados terrenos até se atingir a sua máxima área, depois, em fase de declínio marcado pela construção da pista das Lajes, foram sendo, sucessivamente, desafetadas partes do mesmo. Por isso, algumas referências tardias, já na segunda metade do seculo XX, podem induzir em erro quanto à sua original localização, pois trata-se apenas de resquícios da grandeza de outrora.

Assim, pela ausência de um mapa com a localização exata do campo de aviação socorremo-nos das fotografias para, através de uma triangulação entre a aeronave “Açor” e as montanhas representadas, se obtivesse no local a localização do lugar aonde a aeronave foi apresentada ao publico. Foi assim concluído que a mesma estacionou na confluência da Canada do Ginjal com a Estrada da Achada. Seria o então denominado o “largo do campo”.

 Também há referência no Jornal a União para que no dia da inauguração do campo com o primeiro voo, os visitantes usassem-se essa canada para se dirigirem ao Pico do Ginjal para assim verem melhor as manobras do voo.

As referências montanhosas utilizadas foram a ponta Este da Serra do Morião, o Pico do Ginjal e o Pico do Areeiro a partir de três fotografias com o Avro 504 “Açor” em primeiro plano. 



 

 Localização do Campo de Aviação da Achada. 

 

A partir das atas da Junta Geral dos Registos Prediais e da observação no terreno, concluímos também que o campo se estendeu da Canada do Ginjal até perto do início da Zona Industrial de Angra do Heroísmo e da Estrada da Achada até ao Pico Areeiro como está referenciado nas imagens que acompanham este artigo, onde atualmente, em parte desta área, se situa a Estação Experimental do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores. Seria nesta estação que ficaria a pista, de 600 metros de localização, reforçada a convicção inicial com o facto de existir uma parcela de terreno que, em terreno plano, mantem tal distância exata entre extremos (figura 1).

No “The American Foreign Service Journal” Vol. VII, Nº 7 de Julho de 1930, publicado em Washington D.C. o cônsul dos Estados Unidos da América, na Ilha de S. Miguel, Açores, William H. Hunt, escreveu que numa investigação feita por ele, o Campo de Aviação da Achada na Ilha Terceira tem a forma de um V, cobre uma área de 118 acres e que o custo total, incluindo a compra dos terrenos, foi de 98 000 dólares. Também informou que os soldados da guarnição do exército em Angra trabalharam no nivelamento de terreno. 

Ao consultar o processo da Arma da Aeronáutica no Arquivo Histórico Militar no Museu do Exército verificamos que faltavam documentos cruciais para a história do campo da aviação e suas características, denominado de Processo do Campo da Achada os quais, conforme anotação nos referidos arquivos, foram entregues em 1932 ou 1933 ao Tenente-Coronel Brito Pais, o qual era inspetor da aviação, sendo ele que em 1924, como Comandante do avião Pátria, que fez o Raid Aéreo Lisboa-Macau.  Por ter falecido precocemente em 1934 tais documentos nunca foram devolvidos. Após pesquisas em diversos arquivos não nos foi possível a sua recuperação, antevendo-se a sua eventual perda permanente, visto não fazer parte do restante espólio doado. 



Em 2020 fará 90 anos que o Campo da Achada foi inaugurado e seria justo que houvesse uma homenagem com um memorial a colocar no local e sugerimos o início da atual Canada do Ginjal, para que não se caia no esquecimento o esforço de todos os que lutaram para que o primeiro aeroporto fosse feito na Ilha Terceira e na planície da Achada.

Recordemos e saibamos honrar a frase de 1929 que presidiu não só à construção do campo de Aviação da Achada, que reconhecendo a importância estratégica de tal caminho, adivinhou igualmente as consequências económicas, sociais e políticas, que daí adviriam não só da Ilha Terceira, não só para os Açores, mas de toda uma civilização Ocidental.

 

Tenhamos por assente que o futuro da Ilha Terceira está na Aviação”. 

 

Deverá ser esta frase a inscrever num urgente monumento que toda a comunidade lhe terá que erguer, norteando o verdadeiro sentido da homenagem que se fará ao Campo de Aviação da Achada.

 

 Manuel Martins, autor de “História da Base Aérea das Lajes”.

 Pedro Horta, Capitão da Força Aérea Portuguesa.

 

 

Fontes documentais:

- Atas da Comissão Administrativa da Junta Geral de Angra do Heroísmo.

- Jornal “A União” de 1929 e 1930.

- Documentos da Arma de Aeronáutica do Exército Português no Arquivo    Histórico Militar, Caixa 796.

- “Aeronaves Militares Portuguesas no Século XX”, Adelino Cardoso.

- “The American Foreign Service Journal” Vol. VII, Nº 7 de Julho de 1930, publicado mensalmente em Washington D.C.

- Arquivo fotográfico da Direção Regional de Cultura/Museu de Angra do Heroísmo.

- Gabinete de Desenho da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.

 


ÁLBUM FOTOGRÁFICO DO EVENTO


Clique aqui -> "O VOO DO AÇOR"


  


 Cerimónia do lançamento do Inteiro Postal

no Museu de Angra do Heroísmo


Dr. Jorge Paulus Brunos, Director do Museu

Sr. Manuel Meneses Martins, autor da aguarela do IP

António Armindo Couto, Presidente do Núcleo Filatélico de Angra do Heroísmo