domingo, 22 de dezembro de 2019

Astronomia em Portugal





A Astronomia em Portugal
(Breve história)

O aparecimento da Astronomia em Portugal não está bem localizado no tempo. Consta que o D. Afonso IV (1291-1357), responsável pela introdução dos estudos matemáticos em Portugal, se interessava por Astronomia. É ainda possível encontrar referências a uma observação da Lua atribuída D. Duarte (1391-1438).

No entanto os historiadores parecem estar de acordo com o facto de ter sido o Infante D. Henrique (1394-1460), filho de D. João I (1357-1433), a introduzir o estudo da Astronomia com o objectivo de apoiar as campanhas de navegação.

Em 1419 o Infante D. Henrique criou um observatório/academia náutica em Sagres com o objectivo de preparar pilotos de navegação. Um dos maiores problemas de então, para o desejo marítimo dos portugueses, era a falta de mestres para a formação de pilotos. Assim durante o séc. XV vários foram os reputados cosmógrafos estrangeiros que ensinaram em Portugal. Entre eles podemos destacar Jácomo de Maiorca, Martim de Behaim e, o mais famoso de todos, Abraão Zacuto que vem para Portugal em 1492.

As descobertas marítimas do séc. XV são assim o resultado do investimento:
  • Cabo Bojador, Gil Eanes (1434)
  • Ilhas de Cabo Verde, Cadamosto (1455-56)
  • São Tomé e Príncipe, João de Santarém e Pedro Escobar (1471-72)
  • Cabo da Boa Esperança, Bartolomeu Dias (1487)
  • Gronelândia e Terra Nova, João Fernandes Lavrador e Pedro de Barcelos (1492-98)
  • Calecute (India), Vasco da Gama (1497-99)
  • Brasil, Pedro Álvares Cabral (1500)
  • etc



E tal como diz Pedro Nunes "Não iam a acertar mas partiam os seus mareantes mui ensinados e providos de instrumentos e regras (…)". Pedro Nunes foi um dos matemáticos mais reputados do seu tempo. Nasceu em Alcácer do Sal em 1502 e as suas contribuições para a cartografia e navegação são muito conhecidas.


Mas foi a sua obra astronómica "De crepusculis" que lhe trouxe definitivamente fama internacional. "De crepusculis" foi escrita com o objectivo de resolver uma importante problema da época relacionado com a duração do crepúsculo num qualquer local da Terra e num qualquer dia do ano. Este obra, onde Pedro Nunes apresenta o Nónio, teria recebido o elogio de Tycho Brahe.


Em 1574 Pedro Nunes foi nomeado cosmógrafo-mor do reino por D. Sebastião (1554-1578). Pedro Nunes morre em 1579 deixando um espólio científico de enorme relevo. O presente ano comemora-se o quinto centenário do seu nascimento e têm sido várias as iniciativas para assinalar a efeméride.

É comum fazer (simbolicamente) coincidir a morte de Pedro Nunes com o início de um período de decadência científica em Portugal que, na opinião de vários historiadores, irá atravessar todo o séc XVII e parte do séc. XVIII. O fim do período expansionista com a morte de D. Sebastião pode explicar este facto, uma vez que as descobertas foram um dos grandes motores do desenvolvimento científico em Portugal. A introdução da inquisição em Portugal em 1531, durante o reinado de D. João III, é também apresentada como uma das razões para esse período de decadência.

No entanto, é possível encontrar, no início do séc. XVII traços de uma actividade astronómica muito interessante desenvolvida no seio do colégio jesuita de Santo Antão em Lisboa onde existia uma cadeira de Astronomia e no Colégio das Artes em Coimbra. Cristovão Borro foi um dos seus mais notáveis professores. Assim, a generalização da ideia de um período de decadência do séc. XVII é actualmente algo no mínimo discutível.

Mas é claramente durante o séc XVIII que se pode detectar um considerável desenvolvimento da Astronomia em Portugal. Antes de mais pela construção de observatórios astronómicos. Segundo J. Pereira Osório, na obra já aqui citada, podem contar-se uma dezena de estabelecimentos deste tipo criados durante o séc. XVIII, embora em alguns dos casos com um tempo de vida efémero

Parece assim clara a vontade de apostar na astronomia observacional. Um bom exemplo disso pode ser encontrado nos Estatutos da Universidade de Coimbra (1772) explicitamente se ordena a criação de um Observatório com uma particular relevância para as aulas práticas:

José Monteiro da Rocha (1734-1819) que, a convite do Marquês de Pombal, participou na elaboração dos estatutos da Universidade de Coimbra, foi um dos nomes maiores da ciência portuguesa. Segundo Gomes Teixeira deveu-se a Monteiro da Rocha a introdução em Portugal das novas doutrinas de Copérnico, Kepler, Galileu e Newton.

Um dos mais interessantes exemplos do valor dado à observação concerne a criação do Observatório Astronómico de Lisboa. Em meados do séc. XIX a Europa da astronomia debatia-se com várias controvérsias relacionadas com diferentes medições de um mesmo objecto. Por exemplo a distância à estrela Groombridgs 1830 medida por distintos astrónomos dava resultados muito diferentes: O. Struve, do Observatório de Pulkovo, encontrava 36 parsecs e M. Faye, do Observatório de Paris, obtinha 0.9 parsecs ! Por volta 1850, Faye teria sugerido que Lisboa seria o local da Europa ideal para fazer a observação necessária para tirar todas as dúvidas.

Este foi o mote para a construção de um novo Observatório em Lisboa em 1878 com uma dotação especial de D. Pedro V, que permitiu a aquisição de instrumentos de grande precisão. Neste processo de criação e estabelecimento do Observatório de Lisboa, tiveram importância maior pessoas como Filipe Folque, Frederico Oom e M. Campos Rodrigues.

Entre 1700 e 1900 pode registar-se uma produtividade científica extremamente relevante, apesar de uma vivência com alguns períodos conturbados como o foram a expulsão dos Jesuítas (1759) ou a transferência da coroa portuguesa para o Brasil em 1807, depois da tentativa de invasão do território nacional pelas tropas napoliónicas.

De acordo com Rudolfo Guimarães (1909, "O Instituto" da Universidade de Coimbra) pode contar-se mais de 300 publicações nos mais diferentes domínios da Astronomia. Eis alguns exemplos:
  • "Observations des Léonides 1898", Campos Rodrigues, 1899
  • "Observations et explications de quelques phénomenes du disque du Soleil observé à l'Hotel de Cluny, à Paris, le 6 mai 1753 et leur application pour la perfection de l'astronomie", Soares de Barros e Vasconcellos, 1753
  • "O novo planeta Eros e a distância do Sol à Terra", Real Observatório Astronómico de Lisboa, 1901
  • "A questão dos planetas intramercurianos", D'Almeida Garrett, 1869
  • "Habitantes do planeta Saturno", Peixoto do Amaral, 1886


Ainda na mesma obra de Rudolfo Guimarães pode detectar-se um conjunto de artigos que podem ajudar a marcar o início do estudo da Astrofísica em Portugal. Eis alguns exemplos:
  • "The alleged changes of colours in Sirius", F. Oom, 1902
  • "Photometric measurment of star near Rigel", Morais Pereira, 1901
  • "Observations of variables stars from january 1894 to january 1896", Morais Pereira, 1894
  • "Dr. Schwabe's algol variable", Morais Pereira, 1901
  • "Observations of Sun spots. Drawings and measurements of position and surface every available day from 1893 to 1898", Morais Pereira, 1894-1900

Já não é só a posição dos astros que interessa, são também as suas propriedades intrínsecas. A Astrofísica sofre em Portugal um novo incremento graças ao esforço de Francisco Costa Lobo, durante os anos 20, que instala no Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra um espectroheliógrafo destinado à obtenção de imagens do Sol, fruto de uma estreita colaboração com o Observatório de Paris.

O séc. XX é a imagem da própria História da Astronomia em Portugal: períodos de claro avanço alternam com épocas mais ou menos longas de aparente inactividade. Hoje em dia a Astronomia em Portugal é uma área em franco desenvolvimento.




In: Portal do Astrónomo

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Varandas e Calçadas de Angra

VARANDAS DE ANGRA



Há matemática debaixo dos seus pés...
e por cima da sua cabeça

ENTREVISTA COM RICARDO CUNHA TEIXEIRA

ENTREVISTA: HELENA FAGUNDES
FOTOGRAFIA: ANTÓNIO ARAÚJO
In di (09-FEV-2014)





Tem-se debruçado sobre a matemática das varandas e calçadas açorianas. Como surgiu esse interesse?



Em 2013, celebrou-se o Ano Internacional da Matemática do Planeta Terra. Muitas foram as iniciativas desenvolvidas um pouco por todo o mundo, em que se pretendeu alertar para o papel central que a Matemática pode desempenhar em questões fundamentais relacionadas com o Planeta Terra e também para a sua presença constante no dia a dia. 

Em Portugal, foi criado um Comité sob a égide da Comissão Nacional da UNESCO. Um dos projetos promovidos por este Comité, no âmbito das celebrações que encerram em junho de 2014, visa precisamente o levantamento matemático da calçada portuguesa. O meu compromisso, no âmbito deste projeto, consistiu no levantamento dos padrões em calçada dos Açores. Por outro lado, já há alguns anos que trabalho o tema das simetrias com os meus alunos da Universidade dos Açores, não só nas calçadas, como talvez nas varandas, no artesanato e na azulejaria.


No caso das calçadas, que trabalho já está feito?






O levantamento dos padrões em calçada dos Açores ficou concluído no final de 2013. Todas as nove ilhas do Arquipélago foram contempladas com pelo menos um roteiro de simetria. Os itinerários de simetria, bem como alguns textos de apoio destinados ao público em geral e diversas notícias que têm sido divulgadas sobre o assunto estão disponíveis 
em http://sites.uac.pt/rteixeira/simetrias


Quais foram as principais conclusões quanto às calçadas de Angra do Heroísmo?



Do ponto de vista matemático, prova-se que existem apenas sete maneiras de repetir um motivo ao longo de uma faixa, recorrendo aos diferentes tipos de simetria do plano, o que conduz a sete tipos de frisos. Daí que um dos objetivos do levantamento realizado nos Açores passou por identificar as cidades açorianas com mais tipos de frisos nas suas calçadas. A cidade da Horta, com seis tipos de frisos, e as cidades de Angra do Heroísmo e de Ponta Delgada, com cinco tipos, lideram a lista. Este resultado é notável, tendo em conta que atualmente Lisboa é a única cidade portuguesa que apresenta os sete tipos de frisos em calçada. Um feito relevante, não só do ponto de vista científico como também turístico, passaria por algumas cidades açorianas alcançarem a totalidade dos tipos de frisos nas suas calçadas. Existem autarquias interessadas em atingir este objetivo. Uma delas é a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. Já reuni com o professor Álamo Meneses e estamos a equacionar algumas iniciativas que visam valorizar o património em calçada de Angra.



De que forma acha que podemos explorar o potencial das calçadas que pisamos todos os dias, mas que podem ser novas para os turistas?

A calçada artística é um marco português no mundo, sendo apreciada por muitos dos turistas que nos visitam. Assim que a cidade de Angra do Heroísmo alcançar os sete tipos de frisos, como se espera, seria interessante disponibilizar roteiros de simetria, em várias línguas, com os itinerários a percorrer e com informação adicional sobre o património desta cidade, por exemplo, através da colocação de códigos QR nas suas calçadas. Mas podemos não ficar por aqui: é possível envolver os artesãos da Ilha Terceira de forma a reproduzir os sete tipos de frisos em diferentes materiais, o que se pode refletir numa articulação interessante com o artesanato local. Em Abril do ano passado, fui coorganizador de um encontro internacional de Matemática Recreativa, promovido pela Associação Ludus, que reuniu em Ponta Delgada cerca de 100 matemáticos de 20 países. O roteiro de frisos em calçada de Ponta Delgada foi divulgado nesse encontro e transformou-se num autêntico sucesso entre os participantes, muitos dos quais fizeram questão de percorrer as ruas de Ponta Delgada e confirmar os padrões em calçada com os seus próprios olhos. A verdade é que hoje em dia temos um turismo cada vez mais exigente que procura ofertas de qualidade. A identificação das simetrias nas calçadas e varandas tem também o dom de ser acessível ao público em geral. O conceito intuitivo de simetria acompanha-nos desde que começamos a ter consciência do mundo em que vivemos. Com uma explicação sucinta dos principais conceitos matemáticos, é possível perceber com facilidade como se classificam as figuras quanto às suas simetrias.


No caso das varandas, como tem sido desenvolvido o trabalho?


Depois das calçadas, estão a ser exploradas outras vertentes em que o tema das simetrias pode ser aplicado. Uma dessas vertentes passa pelo estudo dos frisos nas varandas açorianas. Outros aspetos que estão a ser equacionados têm a ver com o estudo das simetrias na azulejaria e no artesanato. Neste processo, conto com a parceria de Susana Goulart Costa, docente do Departamento de História, Filosofia e Ciências Sociais da Universidade dos Açores e especialista em Património. Pretende-se estabelecer pontes de ligação entre o turismo, a ciência e o património.

Que cidades açorianas estão a ser exploradas?

Por ser património da Humanidade e tendo em conta as bonitas fachadas de muitas das suas habitações, considerei que Angra do Heroísmo devia ter o merecido destaque no estudo das simetrias das varandas açorianas. Por isso mesmo, o Roteiro de Varandas da Cidade de Angra do Heroísmo, que agora se apresenta, é o primeiro itinerário de simetria dedicado às varandas a ser apresentado ao público. Foi desenvolvido com a colaboração de Raquel Mendonça e Vânia Silva, alunas do 3º ano da licenciatura em Educação Básica, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade dos Açores, no contexto da disciplina Aplicações da Matemática, de que sou regente há alguns anos. O próximo roteiro de varandas a apresentar é o da Cidade de Ponta Delgada. Este roteiro foi desenvolvido por Vera Moniz, aluna do Mestrado em Matemática para Professores, do Departamento de Matemática da Universidade dos Açores, e deverá ser disponibilizado em breve.


"A calçada artística é um marco português no mundo, sendo apreciada por muitos dos turistas que nos visitam. Assim que a cidade de Angra do Heroísmo alcançar os sete tipos de frisos, como se espera, seria interessante disponibilizar roteiros de simetria, em várias línguas, com os itinerários a percorrer e com informação adicional sobre o património desta cidade"

O que torna as varandas angrenses ricas do ponto de vista matemático?


A variedade de varandas em ferro fundido de Angra do Heroísmo traduz-se também numa diversidade do ponto de vista matemático. À semelhança das calçadas, foram detetados cinco tipos de frisos nas varandas de Angra. Contudo, apenas quatro tipos são comuns às calçadas e varandas. Há um tipo de friso nas calçadas que não se encontra nas varandas e vice-versa. Posso apresentar em traços gerais um exemplo de cada um dos cinco tipos de frisos detetados nas varandas de Angra e que estão contemplados no roteiro. Ao observar a varanda do Exemplo A, que pertence a uma habitação no Alto das Covas, reparamos que há um motivo que se repete ao longo de uma faixa (a figura apresenta, por isso, simetria de translação numa única direção, propriedade que é comum a todos os frisos). Não existem outras simetrias desta figura.

Na Rua da Sé (Exemplo B), encontramos uma varanda que, para além da repetição do motivo ao longo da faixa, apresenta simetrias de reflexão verticais (se escolhermos uma das retas representadas em B e dobrarmos a figura segundo essa reta, há uma sobreposição completa das duas partes do plano definidas pela reta, facto que também pode ser comprovado se colocarmos um espelho com o bordo assente nessa reta). Por seu turno,


o Exemplo C corresponde a uma faixa de uma varanda na Rua da Guarita que apresenta meia-volta, ou seja, simetrias de rotação de 180 graus (isto significa que, se virarmos a figura de pernas ao ar, a sua configuração não se altera). De notar que o exemplo em B não tem meia-volta, pois ao virarmos a figura de pernas ao ar, a sua configuração é diferente da inicial. Por fim, a varanda do Exemplo D, localizada na Rua Carreira dos Cavalos, e a faixa do Exemplo E, que pertence a uma varanda da Rua do Galo, apresentam ambas meia-volta. Para além disso, também têm simetrias de reflexão verticais (com direção perpendicular à do friso), mas apenas a primeira apresenta simetria de reflexão horizontal (com a mesma direção do friso).


Em D, identificou-se o eixo de simetria horizontal. Os eixos de simetria verticais não estão representados em D e E, uma vez que a sua identificação é em tudo semelhante à análise feita em B.

Há uma grande diversidade de frisos dos 5 tipos mencionados, sendo que algumas varandas apresentam mesmo duas ou três faixas com frisos de tipos diferentes! Trata-se de um património que é importante conservar e valorizar. O leitor interessado poderá consultar o Roteiro de Varandas de Angra do Heroísmo e um catálogo alargado com muitos exemplos adicionais em http://sites.uac.pt/mea/iniciativas/am/13-14 Os itinerários de simetria também estão a ser divulgados no site oficial do Ano Internacional da Matemática do Planeta Terra.

Acha que estamos despertos para a matemática que nos rodeia?

Entendo que o cidadão comum está mais desperto para a matemática e para a sua importância do que há alguns anos atrás. Contudo, ainda temos um longo caminho a percorrer de forma a sensibilizar pais e filhos para a importância de desenvolver bases fortes a esta disciplina. Em tempos difíceis como os atuais, é crucial que se quebre o ciclo em que "a falta de jeito" a matemática passa de geração em geração e é entendida como algo natural, ou mesmo inevitável.






O mercado de trabalho não está fácil e muitos dos empregos disponíveis centram-se na área das ciências exatas e das engenharias, pelo que o "desconforto com a matemática" pode significar atualmente uma redução muito significativa do leque de opções na escolha do futuro emprego. Mesmo nas humanidades e em áreas como as ciências biológicas e da saúde, a importância de aplicação de ferramentas matemáticas tem crescido de forma considerável.

"Considerei que Angra do Heroísmo devia ter o merecido destaque no estudo das simetrias das varandas açorianas. Por isso mesmo, o Roteiro de Varandas da Cidade de Angra do Heroísmo, que agora se apresenta, é o primeiro itinerário de simetria dedicado às varandas a ser apresentado ao público"










Olhar mais para a matemática que está à nossa volta pode ser útil nas nossas escolas?





Para além da vertente turística, o tema das simetrias tem forte presença nos programas e orientações curriculares, pelo que a exploração dos padrões em calçada, bem como dos padrões nas varandas, pode constituir uma excelente oportunidade para que os jovens ponham em prática os conceitos que aprenderam na Escola.

Aliás, muitos dos conceitos matemáticos explorados dentro de quatro paredes têm aplicações concretas no dia a dia. E é este aspeto que tem que passar para a opinião pública, de forma a haver uma maior valorização da importância de aprender matemática e de que é preciso esforço para alcançar resultados positivos a esta disciplina. 

Escrevo regularmente artigos de divulgação que visam precisamente alertar o público em geral para a presença constante da matemática no nosso quotidiano. Desde a matemática dos ananases, passando pelos códigos de barras, pelo número de série das notas de euro e pela matemática do cartão do cidadão, pretendo mostrar um outro lado da matemática, desconhecido de muitos. Os artigos estão disponíveis em http://sites.uac.pt/rteixeira/divulgacao



Pretende "fazer mais contas" nas ilhas açorianas?

O fascínio da matemática e da ciência, em geral, é que está em constante crescimento. Há sempre novas oportunidades de exploração ao virar da esquina!  


Ricardo Cunha Teixeira, professor da Universidade dos Açores,
 tem-se dedicado a perceber a matemática das calçadas e das varandas
 de Angra do Heroísmo e de outros pontos do arquipélago.
 Aprenda a olhar a cidade com outros olhos.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

O Correio "PAQUEBOT" nos Açores





"PAQUEBOT", ou "PAQUETE", ou "NAVIRE" ou outras apropriadas à identificação das cartas transportadas ou entregues a bordo, sejam elas escritas a bordo no alto mar, ou no porto de escala, por vezes identificadas por marcas aplicadas nas mesmas, tais como "POSTED ON THE HIGH SEAS" ou outras indicações relativas ao transporte da correspondência por via marítima.



Desde o século XIX que as normas da U.P.U. têm sido seguidas para alegria de todos nós filatelistas uma vez que cada país cujos portos sejam escalados pelos navios ou barcos estrangeiros, deverão possuir num dos seus Correios uma marca identificadora, com a palavra" PAQUEBOT", que certifica que a carta ou o postal entregue a bordo pelo passageiro ou por um tripulante ou visitante, possa seguir para o seu destino após a anulação dos selos (do país a que pertence a embarcação) com os carimbos datadores e anuladores do país onde foi feita a escala.




Também está previsto que uma carta ou postal (que pode ser entregue em mão por qualquer visitante a bordo do navio) ou por qualquer passageiro que aproveite a paragem num porto, (para escrever sossegadamente à família) possa seguir o seu destino através do Correio do porto escalado, sendo a carta ou postal franquiado com os selos do país de escala e não com os selos da bandeira da embarcação.


1907 - Bilhete Postal circulado de Ponta Delgada
para os EUA, via Gibraltar
1907 - Bilhete Postal circulado de Ponta Delgada
para os EUA, via Gibraltar
1908 - Bilhete Postal circulado da Horta para França.
A marca postal circular de "PAQUETE"

1908 - Bilhete Postal circulado de Ponta Delgada
para França, via Gibraltar


1908 - Bilhete Postal circulado de Velas (São Jorge) para
os EUA, via Gibraltar



1909 - Bilhete Postal circulado de Horta (Faial) para o Porto
Marca do dia com "PAQUETE"

1909 - Bilhete Postal circulado de Ponta Delgada para
os EUA, via Gibraltar.



1910 - Bilhete Postal circulado de Ponta Delgada para os EUA,
via Southampton (Inglaterra).
Marca do dia com "PAQUEBOT"


1927 - Bilhete Postal circulado de
Angra do Heroísmo para Lisboa




1976 - Sobrescrito circulado de Ponta Delgada para Inglaterra
a bordo do navio CANBERRA



EIN - EMPRESA INSULANA DE NAVEGAÇÃO


Foi o mais antigo armador do país, operando a carreira regular entre Lisboa, os Açores e a Madeira desde o ano de 1871. O seu proprietário foi a empresa micaelense Bensaúde & C.ª, operando no ramo marítimo até aos nossos dias como BENSAUDE MARITIMA.




No mês de fevereiro de 1974, a EIN fundiu-se com a Companhia Colonial de Navegação (CCN), originando a “Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos - CTM”.


Consulte a seguinte página: Restos de Coleção
















N/M - HORTA

 O navio misto HORTA - da Companhia de Navegação dos Carregadores Açoreanos, foi construido em 1949 e transferido para a Empresa Insulana m 1972. Possuia 2,647 T. Operava nas carreiras entre o Arquipélado dos Açores, Portugal Continental e a América do Norte. Na foto, a navio encostado ao cais de Seaport - Maine, E.U.A..

1950 - Carta entregue a bordo do N/M "Horta" para ser
circulado nos EUA. Considera-se um "PAQUEBOT".

N/M - PONTA DELGADA


N/M - PONTA DELGADA

O PONTA DELGADA foi construído em Lisboa por NAVALIS – Sociedade de Construção e Reparação Naval SARL. (construção nº 191), por encomenda da Empresa Insulana de Navegação, destinando-se a substituir o ARNEL (1.026 TAB / 1955) no serviço de cabotagem nos Açores. O contrato de construção foi assinado a 10-03-1960 com o Estaleiro Naval da CUF, que em 30-12-1960 deu lugar à NAVALIS. A quilha foi assente a 14-11-1960 e o casco lançado à água em 3-04-1961, sendo madrinha a Sr.ª. Dª. Maria Madalena Pinto Basto Bensaude.

1980 - Carta circulada de Ponta Delgada para Santa Cruz das Flores

O PONTA DELGADA foi entregue à EIN em 27-12-1961, sendo seu primeiro comandante o capitão Armando Gonçalves Cordeiro. O navio foi visitado pelo Ministro da Marinha, almirante Fernando Quintanilha a 3-01-1962 e registado na capitania do porto de Lisboa a 12-01-1962. Em 17-01 saiu de Lisboa para Ponta Delgada (19-01) na sua primeira viagem e em 30-01 iniciou a cabotagem largando de Ponta Delgada para as ilhas do Grupo Central. Em Agosto de 1966 o PONTA DELGADA efectuou um cruzeiro Lisboa – Funchal – Lisboa fretado à Federação Portuguesa de Vela.


1981 - Carta circulada do Corvo para Gerona (Espanha)

Por fusão das empresas Insulana e Colonial em 4-02-1974, foi criada a CTM – Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos SARL, para quem transitou nesta data a propriedade do PONTA DELGADA, ao qual foi então atribuído o nº. oficial I 463. O navio assegurou o serviço de passageiros entre as ilhas dos Açores durante 22 anos.
1981 - Carta circulada de Vila do Porto (Santa Maria) para Gerona (Espanha)

Imobilizado em Lisboa de 5-12-1983 a 14-05-1984, o PONTA DELGADA regressou aos Açores onde operou até 19-10-1984, regressando a Lisboa (22-10) onde ficou imobilizado. A 16 e 17-08-1985 o PONTA DELGADA foi fretado para ser efectuada a bordo a rodagem de um filme, efectuando a última saída para o mar com as cores da CTM.

1980 - Sobrescrito circulado de Madalena do Pico para Caxias
Em 23-09-1985 foi vendido à COMTRAMAR – Companhia de Transportes Marítimos, de Lisboa, por 15.000.000$00, permanecendo imobilizado em Lisboa. Em 5-07-1986 o navio efectuou um cruzeiro Lisboa – Sesimbra – Lisboa, após o que sofreu uma modernização no estaleiro na Lisnave – Rocha, sendo adaptado para cruzeiros costeiros.  Em 8-08 saiu para Portimão para efectuar cruzeiros na costa do Algarve, regressando a Lisboa a 26-09-1986. Funcionou como bar e restaurante atracado na doca de Alcântara até 01-1987.
1981 - Carta circulada de Velas (São Jorge) para Gerona (Espanha)
Curiosidade: Carta expedida pelo próprio Comandante Armando Carvalho

Em 10-1987 o PONTA DELGADA teve a chaminé aumentada e modernizada em Lisboa. Fretado à companhia grega Marine Faith, do Pireu, o PONTA DELGADA saiu de Lisboa a 5-01-1988 com destino a Moçambique, escalou Las Palmas, Tenerife, Dacar e Walvis Bay, entrando no Maputo a 4-02.
Em 9-02 foi entregue ao Governo Moçambicano, iniciando a 17-02 a primeira de uma série de viagens na costa de Moçambique, onde operou até 18-08. No regresso de Moçambique fez escalas em Walvis Bay, Dacar e Funchal, onde esteve de 25-09 a 6-12, entrando em Lisboa pela última vez em 8-12-1988.
Após 13 anos imobilizado em Lisboa acabou abandonado e vandalizado no cais do Poço do Bispo, onde se afundou a 3-06-2001 por alagamento do casco. Em Dezembro de 2007 começou a ser desmantelado no local do afundamento.




BILHETES POSTAIS
Paquetes Açorianos


"FUNCHAL (I)"  NA BÁIA DE ANGRA
Contruído em 1884

"SÃO MIGUEL"  NA BAÍA DE ANGRA
Contruído em 1905


"CARVALHO ARAÚJO"  NA BAÍA DE ANGRA
Construído em 1930

"ANGRA DO HEROÍSMO"
1962 - Edição da Empresa Insulana de Navegação
Construído em 1955


"FUNCHAL (II)"
Franqueado e obliterado com o selo da série Europa
VISITE… Açores em 2012-05-09
Construído em 1961

1992-10-07 - Os Transportes nos Açores
Série filatélica. Emissão dos CTT