terça-feira, 26 de novembro de 2019

Victor Rui Dores

Victor Rui Dores


Victor Rui Ramalho Bettencourt Dores  nasceu em Santa Cruz, ilha Graciosa, a 22 de Maio de 1958.

É um professor, escritor, actor, encenador, poeta, ensaísta e crítico literário açoriano, que também se dedica à etnomusicologia e aos estudos etnográficos e linguísticos.


Biografia

Victor Rui Ramalho Bettencourt Dores nasceu no dia 22 de maio de 1958, na vila de Santa Cruz da Ilha Graciosa, Açores.
Em 1968 mudou-se com a família para a ilha Terceira, onde permaneceu até 1978. Em 1977 concluiu os estudos liceais no então Liceu Nacional de Angra do Heroísmo.
Em 1982, obteve a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Ingleses e Alemães), pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Cumpriu o serviço militar obrigatório na Força Aérea entre 1983 e 1985 nas Bases militares da OTA, Tancos e Lajes, com as patentes de aspirante e alferes.
Possui Certificado de Estatuto de Formador, conferido pela Direcção Regional da Educação e Formação, nas áreas: Didácticas Específicas (Inglês/Alemão) e Expressão Dramática.


Actualmente desempenha a função de professor do quadro de nomeação definitiva da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), na cidade da Horta.


No dia 21 de maio de 2018 foi-lhe atribuída a Insígnia Autonómica de Reconhecimento.

Funções Públicas e Colaborações

Entre Setembro de 1997 e Julho de 2004 exerceu o cargo de Presidente da Comissão Executiva Provisória do Conservatório Regional da Horta.
É representante da Região Autónoma dos Açores, desde 1998, no Conselho Nacional de Educação. Também desde 1998, exerce o cargo de Presidente da Assembleia Geral da "Azórica", Associação de Defesa do Ambiente.
No campo da linguística, pesquisa, há mais de 20 anos, os sotaques, as pronúncias e as variantes dialetais das nove ilhas açorianas.
Colabora frequente com crónicas publicadas em jornais e revistas regionais, nacionais e da Diáspora. É autor e colaborador de vários programas de índole cultural no centro regional dos Açores (RTP Açores), bem como em outros meios de comunicação social e açorianos.


Está ligado à arte teatral como actor, estando integrado no grupo de teatro "Carrocel", ocupando igualmente o cargo de Presidente da Direcção. Desde 1988 é autor de peças e encenador no grupo de teatro "Sortes à Ventura", da Escola Secundária Manuel de Arriaga.


Entre 2004 e 2007 foi membro da comissão editorial do Boletim do Núcleo Cultural da Horta.



Em 2010, escreveu o documentário "Um Idealista Chamado Manuel de Arriaga", produzido pela delegação do Faial da RTP Açores. No documentário que assinalou o centenário da República Portuguesa, Victor Rui Dores interpretou a figura do primeiro Presidente da República Portuguesa.




É frequentemente convidado a escrever, em parceria com Antero Ávila, letra e música de marchas que desfilam nas Festas Sanjoaninas de Angra do Heroísmo. 


Foi o responsável pela introdução da Marcha da Semana do Mar, aquando da realização desta festa que anualmente decorre na cidade da Horta. Assumiu, por diversas vezes, a autoria da letra da referida marcha.

A escrita de Victor Rui Dores

A sua estreia literária fez-se com um livro de poesia. Esta voltaria com Entre o Cais e a Lancha (1990), onde está patente um lirismo construído sobre uma rede de signos de referência insular, e com À Flor da Pele (1991), obra aberta à expressão da vertente erótica.
Na narrativa, Grimaneza revela-se como uma incursão no género contista, com um balanceamento entre a crónica e a ficção à mercê de um universo de pequenos acontecimentos de uma regularidade quotidiana quebrada, às vezes, por inesperadas manifestações de violência. Esses dois registos são também observáveis em Histórias com Peripécias (1999), em que se assiste ao reconto de episódios de cariz anedótico e onde é possível encontrar memórias da infância e da adolescência do autor, mas também elementos de um passado colectivo associado às vivências da Graciosa e de Angra do Heroísmo dos anos 60 e 70. A temática da memorização está presente também em Em Bons Tempos (2000).
Num plano diferente enquadra-se Sobre Alguns Nomes Próprios Recolhidos na Ilha Graciosa, que resulta de uma pesquisa e inventário de uma parte da onomástica graciosense, articulando um pendor arcaizante com uma influência brasileira por via da emigração açoriana dos séculos XVIII e XIX, e cujo declínio começa a manifestar-se a partir de meados do século XX.

Obras

  • Poemas de Fogo e Mar (poesia), 1978
  • Grimaneza (contos), 1987
  • Entre o Cais e a Lancha (poesia), 1990
  • À Flor da Pele (poesia), 1991
  • Sobre Alguns Nomes Próprios Recolhidos na Ilha Graciosa (ensaio), 1991
  • Histórias com Peripécias (crónicas), 1999
  • Bons Tempos (crónicas), 2000
  • Açores, as Ilhas Ocidentais – Azores, the Western Islands (álbum fotográfico), 2000
  • A Valsa do Silêncio (romance), 2005
  • A Graciosa Ilha (álbum fotográfico), 2009
  • O Ouvido que Escreve (poesia), 2017

Antologias

  • Cadernos Colectivos de Poesia – Antologia organizada por Emanuel Jorge Botelho, 1979
  • O lavrador de ilhas, de Santos Barros, 1981
  • Toda e qualquer escrita, de João de Melo, 1982
  • A questão da literatura açoriana, de Onésimo Teotónio Almeida, 1983
  • Antologia Poética dos Açores, 2.º Volume, de Ruy Galvão de Carvalho, 1984
  • Os Nove Rumores do Mar, de Eduardo Bettencourt Pinto, 1999
  • On a Leaf of Blue: Bilingual Anthology of Azorean Contemporary Poetry, tradução e organização de Diniz Borges, 2003
  • Nem Sempre a Saudade Chora – Antologia de Poesia Açoriana sobre Emigração, Seleção, Introdução e Notas de Diniz Borges, 2004
  • “XX3X20” 20 pinturas/20 melodias/20 poemas, 2005
  • Voices from the Islands, an Anthology of Azorean Poetry, John M. Kinsella, 2007



Distinções

  • Cidadão Honorário da Ilha Graciosa (Agosto de 2004)
  • Homenagem pública Câmara Municipal da Horta (Julho de 2006)
  • Insígnia Autonómica de Reconhecimento (Maio de 2018)




Pode ser uma imagem de ao ar livre

*** ARTE DE SER TERCEIRENSE ***

Assim escreveu Victor Rui Dores, in DI (09-SET-2012).
"Um dia saí da Terceira, mas a Terceira não saiu de mim. Gosto incondicionalmente desta ilha, porque foi aqui que dei os passos decisivos da minha vida.
A Terceira é muito mais do que o Monte Brasil, o Castelo de S. João Baptista, o Algar de Carvão, a Serra do Cume, a Base das Lajes, o jardim Público de Angra de Heroísmo ou o vasto areal da Praia da Vitória. Esta ilha não é só a alcatra, a belíssima doçaria conventual ou o delicioso vinho dos Biscoitos. A Terceira é um estado de espírito, um modo de ser, um sentimento. Talvez de amor. Porventura de paixão. Certamente de afeto.
O terceirense cultiva a alegria, é acolhedor e comunicativo, vibrante e afável, sincero e solidário. Ele é a sentinela de atalaia ao seu passado histórico e heroico, revelando um pátrio amor à sua ilha. E é óbvio: o terceirense orgulha-se da sua "muito nobre, leal e sempre constante cidade de Angra", de cunho senhorial e bela traça renascentista, duas vezes capital do Reino, porque aqui já foi só Portugal: na resistência ao domínio filipino, e durante as lutas liberais. Hoje Angra do Heroísmo é património mundial e capital histórica e cultural dos Açores.
Contrariamente ao micaelense, mais afeito à tristeza dos romeiros da Quaresma ou à carga penitencial do culto de Santo Cristo, o temperamento do terceirense é lúdico e dionisíaco.
Com efeito, não conheço povo mais exuberante, festivo e festeiro. A sociabilidade é, na Terceira, uma arte com refinado estilo. O terceirense atira-se de alma e coração ao convívio. Mais do que qualquer outro açoriano, ele tem um espírito festivo. E a alma da Terceira encontrou no toiro embolado e amarrado pelo pescoço o pretexto para a festa, sobretudo o 5º toiro... Sim, a tourada à corda é a festa coletiva da ilha Terceira e é o espaço de todas as conversas, de todos os afetos e de todos os reencontros.
Quem é da Terceira faz a festa não para a interpretar, mas para a viver. Identifica-se incondicionalmente com a festa taurina (touradas de corda, de praça e "espera de gado"), e com as festividades do povo e para o povo: as festas do Espírito Santo, o despique das cantorias, a comicidade hilariante dos bailinhos de Carnaval, o frémito das Sanjoaninas e das Festas da Praia e tudo o que sejam eventos religiosos e profanos. O que ele quer é festa porque a festa está-lhe na alma e corre-lhe nas veias. E o seu amor é "firme e constante", como diz a moda regional. Gosta de música e de teatro popular e, entre folias e folgas, prefere as folgas...
De resto, a Terceira, ilha agropecuária, é a hospitalidade da porta aberta e luz acesa - a casa aonde chego, vou abrindo e entrando: "Dão licença"? Resposta: "É entrar p´ra dentro". Como eu gosto e me identifico com esta brava gente da fraterna simpatia: os Andrades, os Barcelos, os Bettencourts, os Bretões, os Borbas, os Borges, os Coelhos, os Cotas, os Coutos, os Drummonds, os Fagundes, os Fourniers, os Godinhos, os Linhares, os Machados, os Martins, os Mendes, os Menezes, os Monjardinos, os Noronhas, os Pamplonas, os Pains, os Parreiras, os Regos, os Rochas, os Sieuves, os Silvas, os Sousas, os Valadões, os Vieiras, entre muitas outras famílias terceirenses.
Mas o "rabo torto" também tem lá as suas artimanhas: é pagão quando lhe interessa e religioso quando lhe dá jeito... No seu estudo "O Açoriano e os Açores" (1), escreve Vitorino Nemésio: "O que no micaelense é aspereza, índole tenaz mas tosca, no terceirense é amenidade, alguma manha, e principalmente uma bizarria que trai a coabitação com o castelhano durante meia centúria". Ou seja, o terceirense tem as qualidades dos seus defeitos...
Dotado dessa "bizarria", o terceirense é galante, tem um jeito marialva e resquícios de alguma nobreza perdida. Um ditado açoriano muito antigo assim reza: "S. Miguel, burgueses ricos; Terceira, fidalgos pobres; Faial, contrabandistas espertos".
E as terceirenses? São afoitas e literalmente bonitas, aliás, a Terceira tem justa fama de possuir as mulheres mais belas dos Açores. É discutível, mas é verdade. No Verão de 1924, tirando notas para o seu magnífico livro As Ilhas Desconhecidas (2), Raul Brandão fala da beleza da mulher terceirense nos seguintes termos: "Foi aqui que vi as mais lindas figuras de mulheres dos Açores - tipos peninsulares, de cabelos negros e olhos negros retintos".
(Vai para 40 anos que também eu, na "ilha de Jesus", me apaixonei por uns olhos negros, negros...).
Posso estar muito enganado, mas sinceramente continuo a achar que o melhor que a Terceira tem são os terceirenses."
(1) Sob os Signos de Agora, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1995.
(2) Edição de Artes e Letras, Nova Gráfica, 2009.
Ao Victor Rui Dores roubo-lhe as palavras, são minhas também.
Foto de Duarte Diniz. A Memória. O símbolo que exprime o conceito de um povo livre e bravo, não submisso.





segunda-feira, 25 de novembro de 2019

F. d'Athayde M. de Faria e Maya (1876-1959)


Brasão de Armas de Família
Faria e Maya (Séc. XVI)





Francisco d'Athayde Machado de Faria e Maia


Francisco de Ataíde Machado de Faria e Maia (Ponta Delgada, 22 de Setembro de 1876 — Ponta Delgada, 29 de Abril de 1959), frequentemente grafado F. d'Athayde M. de Faria e Maya, foi um intelectual e historiador açoriano. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi inspector escolar, professor liceal e político. Entre outras funções, presidiu à Câmara Municipal de Ponta Delgada e foi senador eleito para o Congresso da República. Deixou publicada uma extensa obra historiográfica.

Biografia

Concluiu os seus estudos secundários no Liceu de Ponta Delgada, matriculando-se no ano de 1896 no curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, formando-se em 1901. Nos seus tempos de estudante conviveu com alguns dos futuros vultos da cultura portuguesa, entre os quais Teixeira de Pascoaes e Afonso Lopes Vieira.
Regressou a Ponta Delgada onde foi nomeado inspector escolar distrital e depois professor do Liceu Nacional de Ponta Delgada.
Viajou com a família por diversos países europeus, com destaque para a Suíça, publicando um interessante relato de viagem que o coloca entre os melhores autores açorianos de literatura de viagens.
Republicano e democrata convicto, na sequência da proclamação da República Portuguesa, em 1910, foi nomeado presidente da comissão administrativa encarregue de governar a Câmara Municipal de Ponta Delgada, iniciando uma carreira política ligada ao campo republicano mais conservador.



Faria e Maia esteve ligado ao 2.º movimento de autonomia, de tendência conservadora e sobretudo oposto à hegemonia do Partido Republicano Português, iniciado em 1918, onde era um dos poucos republicanos, ao lado dos monárquicos Aristides Moreira da Mota e José Bruno Carreiro.




Na legislatura de 1921 foi eleito senador independente no Congresso da República, do qual fez parte em representação do Circulo Eleitoral do distrito de Ponta Delgada, revelando-se um acérrimo defensor da autonomia açoriana.




Apresentou um arrojado projecto de lei para a Autonomia Administrativa dos Distritos Açorianos o mais marcante nessa matéria em todo o período da Primeira República Portuguesa.
Apoiou o golpe de 28 de Maio de 1926, considerando-o uma solução ordeira transitória para a instabilidade da Primeira República, mas rejeitou a institucionalização da ditadura e o Estado Novo. No período imediato ao golpe, quando ainda acreditava no rápido retorno da democracia, publicou diversos escritos retomando as temáticas autonomistas.
Com a consolidação do Estado Novo, passou a aceitar o novo regime, por entender não ser contrário, na sua essência aos princípios e valores democráticos que defendia, procurando justificar a sua posição na palestra radiofónica, depois publicada em opúsculo, Estado Novo - Como o Devemos Compreender, proferida em 23 de Janeiro de 1937. Nesta sua palestra sustenta, de forma comparativa, a compatibilidade dos princípios democráticos, consignados na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, expoente da Revolução Francesa de 1789, com a Constituição de 1933. A sua argumentação desagradou aos adeptos mais anti-democráticos do regime, tendo motivado a um destes, precisamente Armando Cândido, uma demagógica e violenta palestra de resposta, Teatro Anatómico - Dissertando Uma Palestra, também publicada em opúsculo, em que este sustenta a proscrição dos valores da democracia liberal como estando na essência do Estado Novo. Faria e Maria responderia com outra palestra, também publicada em opúsculo, Contenda... em Boa Paz, onde mantém os pressupostos anteriores, citando o próprio Salazar. O exemplar conservado na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada assinala os cortes da censura, manuscritos pelo próprio Faria e Maia.




Foi um dos participantes mais activos no Primeiro Congresso Açoriano, realizado em Lisboa no ano de 1938. Esteve ligado à Sociedade «Terra Nostra», sendo também autor de um relatório da Comissão para o Aproveitamento Turístico da Ilha de São Miguel, que depois de aprovado pelo Ministro do Interior deu origem aos diplomas que enquadraram as primeiras iniciativas no campo do turismo nos Açores.


Em 1943 foi escolhido para o cargo de presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Foi um escritor incansável e jornalista, deixando uma vasta obra publicada, com destaque para o campo da História, embora de forma humilde e conscienciosa. Também deixou importante contribuição dispersa por numerosos periódicos açorianos.

Obras publicadas

  • 1909 - Em Prol da Instrução. Ponta Delgada, Typ. A. Medeiros.
  • 1912 - Kodaks (Impressões de viagem). Lisboa, Ferin.
  • 1927 - Pela Suíça e pelo reino. Paisagens, escolas e aspectos. Ponta Delgada, Tip. de Artes Gráficas.
  • 1931 - Um deportado da Amazonas (Época liberal nos Açores) (1810-1834). Ponta Delgada, Tip. Casa F. D’Alcântara.
  • 1932 - Em Prol da Descentralização. Livre administração dos Açores pelos açoreanos. Colectânea de artigos de propaganda da descentralização administrativa de S. Miguel. Ponta Delgada, Tip. da Casa F. D’Alcântara.
  • 1937 - Estado Novo - Como o Devemos Compreender. Ponta Delgada, Tipografia do Diário dos Açores.
  • 1937 - Contenda... em Boa Paz. Ponta Delgada, Tipografia do Diário dos Açores.
  • 1937 - A minha velha pasta. Tempos de Coimbra gente do meu tempo (1896-1901). Ponta Delgada, Tip. Diário dos Açores.
  • 1942 - Capitães dos Donatários. Subsídios para a história de S. Miguel (1439-1766). Ponta Delgada, Of. Diário dos Açores.
  • 1943 - Capitães Generais (1766-1831). Subsídios para a História de S. Miguel e Terceira. Ponta Delgada, Typografia Regional. [2.ª ed., Instituto Cultural de Ponta Delgada, 1988].
  • 1947 - Novas Páginas Micaelenses (Subsídios para a História de S. Miguel) (1832-1895). Ponta Delgada, Tip. Insular.

domingo, 24 de novembro de 2019

Carreiro da Costa (1913-1981)



Francisco Carreiro da Costa

Faleceu a 29 de Junho de 1981 na Clínica do Bom Jesus, em Ponta Delgada, aos 68 anos de idade, Francisco Carreiro da Costa, professor, intelectual, dirigente cultural e político açoriano.
Nasceu a 6 de Março de 1913 na Lagoa, onde fez a sua instrução primária. Ingressou em 1923 o Liceu de Ponta delgada onde terminou o seu curso liceal em 1932, época em que já era conhecido como dinamizador de várias actividades culturais, incluindo o teatro, e como colaborador dos jornais de Ponta Delgada. Em 1932 iniciou os seus estudos na faculdade de direito da Universidade de Lisboa, no entanto em 1934 transferiu-se para a Faculdade de Letras dessa mesma universidade e onde veio a concluir a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas em 1940, com a tese: O descobrimento e o reconhecimento dos Açores. Durante o seu percurso académico esteve ligado às actividades do Grémio dos Açores, instituição que precedeu a actual Casa dos Açores em Lisboa, onde colaborou com Armando Narciso na organização e condução do Primeiro Congresso Açoriano.
Regressou aos Açores e iniciou uma intensa carreira político-administrativa, científica e educativa, sendo, ainda em 1940, nomeado secretário particular do capitão Rafael Sérgio Vieira, que naquele ano assumiu o cargo de governador civil do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Assim, na área político-administrativa foi vogal (1940-1941), procurador eleito da Comissão Administrativa (1943), integrando a respectiva comissão executiva, e vereador da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada. Foi também presidente da Câmara Municipal da Lagoa (1942-1943), vice-presidente (1952-1955) e presidente (1955) da Câmara Municipal de Ponta Delgada. Foi ainda vice-presidente e, posteriormente, presidente da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores (1944-1972), para além de muitos outros cargos e comissões de menor relevo.

Para além das actividades de carácter oficial e associativo, dedicou-se apaixonadamente ao estudo da etnologia dos Açores, realizando, apesar dos vários cargos que ocupou, uma obra exaustiva de descoberta, recolha e coordenação dos valores da tradição regional, que trabalhou com método e pertinácia e que divulgou largamente. Neste sentido, foi co-director e editor do semanário «A Ilha» (1940-1941), director do jornal «Correio dos Açores» (1941), colaborador assíduo nas revistas «Açoreana» e «Instituto» e co-director do Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores, do qual foi redactor principal e editor, desde a sua fundação em 1945.
Na área científico-cultural, foi membro fundador do Instituto Cultural de Ponta Delgada (1943), direcção da qual fez parte até à sua morte, e do Instituto Açoriano de Cultura (1956), sócio-fundador da Sociedade de Estudos Afonso Chaves (1941), do Núcleo Cultural da Horta (1956), e do Instituto Açoriano da Cultura, sócio do Instituto Histórico da Ilha Terceira e presidente da delegação da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, em Ponta Delgada. Paralelamente, foi ainda, nomeado, em 1959 pelo Secretariado Nacional de Informação, para o cargo de presidente da Comissão Regional de Turismo das ilhas de São Miguel e Santa Maria. Exerceu estas últimas duas funções durante 10 anos, ocupando-se, principalmente, da propaganda e do apetrechamento turístico das duas ilhas.
No âmbito das suas funções como presidente da Comissão Regional de Turismo entre Abril de 1945 e Maio de 1974, produziu semanalmente uma palestra aos microfones do Emissor Regional dos Açores, publicando-as no dia imediato na imprensa local. Efectuou 1528 palestras, subordinadas ao tema geral Tradições, Costumes e Turismo nos Açores, nas quais divulgou múltiplos aspectos da etnografia, história, geografia e história natural dos Açores, e proferiu conferências em Ponta Delgada e em Lisboa. Participou no simpósio sobre Tradições Orais Luso-Espanholas que se realizou em Los Angeles, Califórnia, e na 1ª, 3ª e 4ª Semana de Estudo dos Açores, eventos realizados nos anos de 1961, 1964 e 1965 respectivamente. Nestas últimas apresentou comunicações intituladas «Religiosidade do povo açoriano através do seu folclore», «Potencialidades turísticas dos Açores» e «Breve história das manifestações culturais dos Açores». Colaborou na Enciclopédia Verbo e no dicionário de História Portuguesa, manteve correspondência assídua com personalidades e instituições culturais de diversos países e colaborou em diversas obras de referência, fornecendo o conteúdo de verbetes sobre os Açores.
No campo pedagógico, foi professor e director da Escola Industrial e Comercial Velho Cabral, em Ponta Delgada. Foi convidado a integrar a comissão instaladora da Escola Normal Superior de Ponta Delgada, aquando da sua criação em Agosto de 1973, tendo sido um dos seus membros mais activos, chegando mesmo a leccionar naquele estabelecimento universitário, quando este se transformou em Instituto Universitário dos Açores, a disciplina Sociedade e Cultura Açorianas, cujas lições autorizadas foram editadas e publicadas em 1978 com o título «Esboço Histórico dos Açores».
Cultivou as artes, fazendo estatuetas em barro que cozia na Lagoa, e desenhos de temática etnográfica. Deixou também um pequeno livro de poesias intitulado «Confidências», publicado ainda enquanto estudante, e um de contos regionais com o título «Contos Largos».
Em 1973 foi condecorado com a insígnia de comendador da Ordem Infante D. Henrique, durante a presidência de Américo Tomás. O seu nome permanece ainda hoje na toponímia das cidades de Ponta Delgada e da Lagoa, como homenagem a um incansável e meticuloso professor, político, dirigente cultural e etnógrafo açoriano.


sábado, 23 de novembro de 2019

A Ilha de São Miguel


A Ilha de São Miguel

Descoberta e povoamento



Acredita-se que a ilha tenha sido descoberta entre 1426 e 1439 já se encontrando assinalada em portulanos de meados do século XIV como "Ilha Verde". O seu descobrimento encontra-se assim descrito:

"O Infante D. Henrique, desejando conhecer se haveria ilhas ou terra firme nas regiões afastadas do Oceano Ocidental, enviou navegadores. (...) Foram e viram terra a umas trezentas léguas a ocidente do Cabo Finisterra e viram que eram ilhas. Entraram na primeira, acharam-na desabitada e, percorrendo-a, viram muitos açores e muitas aves; e foram à segunda, que agora é chamada de S. Miguel, onde encontraram também aves e açores e, além disso, muitas águas quentes naturais."

Constituiu uma capitania única com a Ilha de Santa Maria, tendo como primeiro Capitão do Donatário Gonçalo Velho Cabral. O seu povoamento iniciou-se em 1444, a 29 de Setembro, dia da dedicação do Arcanjo São Miguel, então patrono de Portugal e santo da especial devoção do Infante D. Pedro, então Regente do Reino, e que dá o nome à ilha.



Os primeiros povoadores desembarcaram entre "duas frescas ribeiras de claras, doces e frias águas, entre rochas e terras altas, todas cobertas de alto e espesso arvoredo de cedros, louros, ginjas e faias". Trouxeram consigo gado, aves e sementes de trigo e legumes e outras coisas necessárias. Fundaram então, a primeira "povoação de gente" na ilha que, mais tarde, ficaria conhecida apenas por Povoação Velha de S. Miguel, onde se ergueu a primitiva Igreja de Santa Bárbara, no local onde foi dita a primeira missa seca. Posteriormente, percorrendo a costa para oeste, encontraram uma planície à beira e ao nível do mar, que lhes agradou e onde decidiram fixar-se. A povoação ficou conhecida como "do Campo", e em pouco tempo receberia o estatuto de "vila franca" (isenta de tributos exceto o devido à Coroa de Portugal), o que contribuiu para atrair mais povoadores.


Entre os nomes destes primeiros povoadores registam-se os de Jorge Velho, Gonçalo Vaz Botelho, o Grande e Afonso Anes, o Cogumbreiro, Gonçalo de Teves Paím e seu irmão Pedro Cordeiro


Visando atrair mais povoadores para esta ilha, de maiores dimensões e características geológicas mais dinâmicas do que Santa Maria, foi necessário oferecer maior incentivo ao povoamento, o que veio a ser expresso por carta régia de 20 de Abril de 1447, pela qual se isentam os moradores desta  ilha da sdizima de todos os géneros nela produzidos:

"Dom Afonso, etc. A quantos esta carta virem (...). Temos por bem e quitamos deste dia para todo sempre a todos os moradores que ora vivem e moram, ou morarem daqui em diante em a dita ilha de todo o pão e vinho e pescados e medeiras e legumes e todas as outras coisas que nela houverem e trouxerem a estes nossos reinos por qualquer forma. (...)"


Aos primeiros povoadores juntar-se-ão outros, oriundos principalmente da Estremadura, do Alto Alentejo, do Algarve e da Madeira. Posteriormente, alguns estrangeiros também se instalam, nomeadamente Franceses, e minorias culturais como judeus e mouros.

A posição geográfica e a fertilidade dos solos permitiram um rápido desenvolvimento económico, baseado no setor primário, voltado para o abastecimento das guarnições militares portuguesas no Norte de África e na produção de açúcar e de urzela, um corante exportado para a Flandres. O sobrinho de Gonçalo Velho Cabral, João Soares de Albergaria, sucedeu-lhe no cargo. À época de Albergaria, anteriormente a 1472, receberam foral de vilas as localidades de Vila do Porto e de Vila Franca do Campo, as mais antigas dos Açores.





Por motivo de doença de sua esposa, D. Brites Godins, deslocou-se com ela para a Ilha da Madeira, em busca de clima mais favorável, sendo acolhidos pela família do capitão do Funchal, João Gonçalves da Câmara de Lobos. Aí foi decidida a venda da capitania de São Miguel, por 2.000 cruzados em espécie e 4.000 arrobas de açúcar. Este contrato teve a anuência da Infanta D. Beatriz, tutora do donatário, D. Diogo, Duque de Viseu, conforme carta de 10 de Março de 1474, sendo ratificada pelo soberano nestes termos:


"Fazemos saber que Rui Gonçalves da Câmara, cavaleiro da Casa do Duque de Viseu, meu muito amado primo, e prezado sobrinho nos disse como lhe per a Infanta Dona Beatriz, sua madre e tutor, em nome seu, era feita a doação da capitania da ilha de San Miguel para sempre aprovamos e confirmamos a dita doação.".
Ficaram assim definitivamente separadas as capitanias de São Miguel e Santa Maria.

Vila Franca do Campo, mais importante porto comercial da ilha, considerada sua primeira capital, e onde esteve localizada a alfândega até 1528, foi arrasada pelo grande terramoto de 22 de Outubro de 1522, em que se estima terem perecido 4000 pessoas. Após a tragédia, os sobreviventes transferiram-se para a povoação de Ponta Delgada, logrando obter do soberano os mesmos privilégios de que gozava cidade do Porto, conforme já o gozavam os de Vila Franca do Campo, iniciando-se o seu desenvolvimento, de tal modo próspero, que Ponta Delgada foi elevada a cidade por Carta-Régia passada em 1546, tornando-se capital da ilha.


No contexto da crise de sucessão de 1580, aqui tiveram lugar lutas entre os partidários de D. António I de Portugal e de Filipe II de Espanha, culminando na batalha naval de Vila Franca, ao longo do litoral sul da ilha (26 de Julho de 1582), com a vitória dos segundos. Após a batalha, D. Álvaro de Bazán, marquês de Santa Cruz de Mudela, desembarcou em Vila Franca do Campo, onde estabeleceu o seu quartel general e de onde fez supliciar por enforcamento cerca de 800 prisioneiros franceses e portugueses, no maior e mais brutal massacre jamais ocorrido nos Açores.

Pelo apoio dispensado à causa de Filipe II, a família Gonçalves da Câmara, na pessoa de Rui Gonçalves da Câmara, capitão do donatário, recebeu o título de Conde de Vila Franca por alvará de 17 de Junho de 1583.





O século XVII





Entre os ataques de corsários à ilha no período, destacam-se o da armada inglesa sob o comando de Robert Devereux, 2º conde de Essex, no Outono de 1597, que ascendia a cem velas, na sequência dos ataques às ilhas do Faial e do Pico. Mais tarde, um outro ataque deixou como testemunha a marca do impacto de um projétil de artilharia no alçado da torre sineira voltado para o mar da Igreja de São Miguel Arcanjo em Vila Franca do Campo, tendo abaixo dele sido inscrita a data: 1624.

Com a Restauração da Independência Portuguesa (1640), a ilha recuperou a sua posição como centro comercial, estreitando contatos com o Brasil, para onde enviou muitos colonos.

  


O século XVIII


  




Datam deste período muitos dos edifícios históricos da ilha, nomeadamente solares e igrejas, exibindo elaboradas cantarias, delicados azulejos e ricas talhas que podem ser apreciados até aos nossos dias. Essa expansão arquitectónica é justificada pelos lucros obtidos com a produção de laranjas para exportação, cujo principal mercado era a Grã-Bretanha.

 

 

 

 




 O século XIX


No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), após o desembarque das forças Liberais no Pesqueiro da Achadinha (concelho de Nordeste), sob o comando do 7º Conde de Vila Flor (1831), as forças miguelistas foram derrotadas no combate da Ladeira da Velha (2 de Agosto de 1831).

Em 1832, partiu de Belle-Isle, na Inglaterra, a expedição militar sob o comando de D. Pedro, rumo aos Açores (10 de Fevereiro), e que chegou a São Miguel a 22 de Fevereiro. Após organizar o governo regencial na ilha Terceira, em Angra, D. Pedro retornou a São Miguel, para embarcar as suas forças (20 a 22 de Junho) que partem (27 de Junho) rumo ao Desembarque do Mindelo (8 de Julho).


Após o fim do conflito registou-se a chamada Revolta dos Calcetas (1835). No mesmo ano, foi fundado o primeiro periódico em São Miguel. Com a paz foi retomada a anterior expansão económica da ilha.

No contexto da Revolução da Maria da Fonte em 1846 foi formada uma Junta Governativa no Distrito de Ponta Delgada.



A prosperidade trazida pela produção e exportação da laranja veio a ser abalada quando, em 1860, uma doença exterminou os laranjais. Essa crise foi superada com a introdução de novas culturas como o tabaco, o chá, a espadana, a chicória, a beterraba e o ananás, a que se juntaram, com o passar dos anos, indústrias ligadas à pesca e à pecuária. Na década de 1860 foi construído o porto de Ponta Delgada.


A 8 de Junho de 1893 foi apresentado ao Parlamento Português uma proposta para ligação telegráfica com os Açores. Autorizada, o Estado Português contratou a companhia inglesa Telegraph Construction and Maintenance Company Limitedpara o lançamento e exploração do cabo submarino. A 19 de Agosto desse mesmo ano, pelas 11:40h tocava em Ponta Delgada a ponta do cabo que ligava à estação de Cascais, sendo os serviços oficialmente inaugurados em 27 de Agosto de 1893.





O século XX

No contexto da Primeira Guerra Mundial a cidade de Ponta Delgada e seus arredores foram bombardeadas por 50 obuses de 125mm do "Deutschland", um submarino do Império Alemão, classe U-115 (4 de Julho de 1917). Além dos danos materiais, o ataque causou a morte de uma jovem de 16 anos (Tomásia Pacheco) e alguns feridos na Canada do Pilar, na Fajã de Cima. A unidade naval alemã foi repelida pelo fogo de artilharia (15 tiros) do navio carvoeiro estadunidense "Orion" estacionado na doca, apoiado pela artilharia portuguesa em terra, na Madre de Deus (4 tiros).

A partir desse ataque, foi instalada uma base naval estadunidense em Ponta Delgada, que se manteve em operação até Setembro de 1919. Nesse período, cerca de 2.000 navios demandaram o porto. O abastecimento a essas embarcações e a milhares de militares em trânsito, preservou a economia da ilha das dificuldades da guerra e permitiu a formação de algumas pequenas fortunas. A circulação de dólares e de libras em abundância permitiu que, entre 1914 e 1924 o número de casas bancárias passasse de 6 para 20, em paralelo à abertura de diversos cafés, restaurantes e outros espaços de diversão. Do mesmo modo, registaram-se investimentos de capitais em fábricas de maiores dimensões e na criação de companhias de transporte marítimo.



A ilha, de natureza vulcânica, sujeita a atividade sismíca, apresenta relevo montanhoso, sobretudo no seu interior, dominado pelo Pico da Vara, sendo recortada por vales, grotas e ribeiras - únicos cursos de água. A origem vulcânica é presente na tipologia das rochas e terrenos de "biscoito" (produzidos por camadas onduladas de lava) e "mistérios" (por lavas esponjosas, onde proliferam os musgos e as ervas) - típicos no arquipélago -, e fumarolas-sulfataras permanentes, como as do Vale das Furnas e na Ribeira Grande. O fundo de crateras de antigos vulcões extintos servem de leito a belas lagoas como a Lagoa das Sete Cidades, a Lagoa do Fogo e a Lagoa das Furnas. Essa combinação de fatores propicia a que no Vale das Furnas sejam reputadas as suas águas minero-medicinais.




As formações de relevo, na ilha são complementadas ainda pela presença das chamadas "lombas" - formas de relevo ligeiramente aplainadas - e de picos - formas de relevo relativamente aguçadas.

Como as demais ilhas do arquipélago, o clima de S. Miguel é temperado oceânico. O Atlântico e a Corrente do Golfo funcionam como moderadores da temperatura - a maritimidade - conferindo a ilha e ao arquipélago em geral uma pequena amplitude térmica. A pluviosidade distribui-se regularmente ao longo do ano, embora seja mais abundante na estação fresca.

No Inverno, também como as demais ilhas do arquipélago, é assolada por fortes ventos que sopram predominantemente do sudoeste, enquanto que no Verão se deslocam para o quadrante Norte. O céu apresenta-se geralmente com nebulosidade, o que causa insolação variável.

Graças ao seu clima temperado e húmido, a ilha recebeu bem as mais variadas espécies introduzidas pelos povoadores ao longo dos séculos. A obra "Flores", de Erik Sjogren regista cerca de 80 plantas vasculares, das quais apenas 56 endémicas, algumas referidas por Gaspar Frutuoso, que relatou:
"Estava esta ilha, logo que se achou, muito cheia de alto, fresco e grosso arvoredo, de cedros, louro, ginjas, sanguinho, faias, pau branco e outra sorte de árvores; (…)" (in: Saudades da Terra, Livro IV, vol. II. Ponta Delgada, 1931. cap. LV, p. 25.)
A densa cobertura vegetal que caracterizava a ilha à época do seu descobrimento, deu lugar, com o povoamento, à abertura de campos de cultivo, consumida históricamente como fonte energética e de material de construção das populações. Paralelamente foram sendo introduzidas novas espécies conforme os interesses económicos da Coroa portuguesa, como o trigo, o linho e o pastel, entre tantas outras.

A Lagoa das Sete Cidades, com as suas duas lagoas - azul e verde - limitadas por uma caldeira, o ilhéu de Vila Franca, reserva natural, assim como o vale das Furnas, com as suas fumarolas, de águas e lamas quentes e medicinais, são apenas alguns exemplos dos inúmeros pontos atractivos que São Miguel apresenta.

Outro dos pontos de interesse da ilha é a Lagoa do Fogo, que se situa na Serra de Água de Pau, bem como a Lagoa do Congro, localizada a poucos quilómetros da Vila Franca do Campo.

Na zona Este da ilha, fica o Pico da Vara - a maior elevação da ilha - com 1103 metros de altitude. Na zona central, a serra de Água de Pau com 940 metros de altura e na zona Oeste situa-se a Caldeira das Sete Cidades com 850 metros de altitude.

A cidade de Ponta Delgada mantém ainda as suas igrejas e palácios dos séculos XVI ao XIX. Aqui tem lugar a maior festa religiosa do arquipélago, aonde acorrem milhares de pessoas anualmente: as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, no quinto Domingo depois da Páscoa.

Outra manifestação religiosa desta ilha são os Romeiros. Por altura da Semana Santa, grupos de algumas dezenas de homens percorrem a ilha a pé, durante oito dias, rezando e cantando em todas as Igrejas e Ermidas que se deparam pelo caminho.

O Centro de Monitorização e Investigação das Furnas (CMIF) integra uma intervenção mais alargada que articula, num único projeto e de forma transversal, os programas e ações do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da Lagoa das Furnas (POBHLF), nomeadamente a requalificação das margens.

Inaugurado a 1 de Julho de 2011, o CMIF assume, desde logo, um papel importante na tradução da linguagem científica para formas de disseminação de conhecimento, capazes de cativar os visitantes para uma melhor compreensão da Natureza, assim como para atividades lúdicas e de recuperação ecológica numa paisagem em constante transformação.

Situado na margem sul da Lagoa das Furnas, este projeto, da autoria do arqt.º Manuel Aires Mateus veio, numa outra perspetival, dar visibilidade à Lagoa das Furnas, desta feita numa vertente arquitetónica, além da ambiental/natural que lhe é normalmente atribuída. Nas palavras do próprio “foi concebido como uma escultura de pedra colocado na paisagem, tendo por base o enquadramento da matéria-prima no verde circundante e a capacidade de relacionar o basalto vulcânico da região com o ambiente natural que é a Lagoa das Furnas.” Esta relação entre materialidade e natureza foi recentemente distinguida com a atribuição do "Premio Internazionale Architetture di Pietra 2011 – XII edizione", na cidade italiana de Verona, que premiou a qualidade espacial e arquitetónica do projeto e a sua execução em pedra local, neste caso concreto o basalto.

O CMIF dispõe de uma área de acolhimento ao visitante onde é disponibilizada informação sobre a missão e objetivos do projeto, capaz de despertar a curiosidade e interesse em conhecer, de uma forma mais aprofundada, a recuperação do ecossistema do vale das Furnas. Este espaço contempla um pequeno bar e loja na qual, através dos produtos de merchandising, promovemos a flora e fauna nativas.

A área destinada a exposição permite-nos “viajar” ao património natural que é o vale das Furnas e à sua lagoa, através de mecanismos interativos, ferramentas acessíveis aos utilizadores, plataformas multimédia e visitas guiadas. O visitante é conduzido à descoberta do ecossistema da lagoa através da caracterização da sua geologia e vulcanismo, ecossistemas lacustres e limnologia, hidrópole, fauna e flora nativas.

No auditório é possível visionar um pequeno documentário sobre o património natural das Furnas, a sua história e vivências, bem como o projeto que está em curso para a sua recuperação. Este espaço está também vocacionado para workshops, seminários, ações de formação, de educação e sensibilização ambiental.


Paralelamente, o CMIF dispõe de uma área de investigação, monitorização e desenvolvimento de projetos, da qual fazem parte, uma sala de trabalho,


pequenos gabinetes de apoio e laboratórios de monitorização preparados para acolher os seus convidados. Estas áreas são dedicadas à implementação e gestão do Plano de Ordenamento da Bacia Hidrográfica da lagoa das Furnas que pretende, de um modo regrado e coerente, compatibilizar os usos e atividades com a proteção e valorização ambiental da bacia hidrográfica, sendo que o principal objetivo é a melhoria da qualidade da água da lagoa.

Complementarmente a este pólo principal de atividades, a zona envolvente engloba um conjunto de áreas exteriores, nomeadamente, zona de merendas e estadia, instalações sanitárias, parque de estacionamento e um amplo espaço verde com vista privilegiada sobre a Lagoa, onde os visitantes podem contemplar a paisagem e desenvolver atividades de lazer.



1845 - Mapa da Ilha de São Miguel