quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Cimeira dos Açores (50 anos)



Medalha comemorativa
Autoria de Paulo Mendonça
Emissão da CMAH




Carimbo comemorativo
Oferta dos CTT


Selo personalizado
Emissão do NFAH






Bilhete-postal
Edição do NFAH






Programa das comemorações



Catálogo da exposição
Edição da CMAH



Revista Atlântida
Reedição do IAC (1971)

Sr. Paulo Mendonça - Autor dos desenhos
Dr. Álamo de Meneses - Presidente da CMAH
António Armindo Couto - Presidente do NFAH
Sr. Raúl Castro - Representante dos CTT



Reportagem fotográfica 
Clicar aqui -> Cimeira Atlântica


Reportagem da RTP Açores
Clicar aqui -> RTP Açores


A CIMEIRA DOS AÇORES
(13 de Dezembro de 1971)




Sobrescrito de 1º dia comemorativo
da Cimeira das Lajes





Estalagem da Serreta - Terceira

A Cimeira dos Açores Lajes, em dezembro de 1971, na ilha açoriana da Terceira foi o centro do mundo.

Foi numa estalagem hoje abandonada que Marcelo Caetano recebeu os presidentes americano e francês, Nixon e Pompidou, numa cimeira para enfrentar a crise económica da altura.








Bilhete Postal de Boas Festas comemorativo
da chegada do Presidente George Pompidou
à Ilha Terceira a bordo do Concorde

O presidente francês Georges Pompidou chegou aos Açores debaixo de uma chuva torrencial que deixou os anfitriões e dezenas de repórteres e operadores de câmara à sua espera na pista com água pelos tornozelos. Mas naquele domingo, 12 de dezembro de 1971, os presentes tiveram o privilégio de ser dos primeiros mortais a verem a aterragem do avião mais avançado do mundo: o supersónico Concorde, então ainda em voos experimentais, usado por Pompidou para exibir o prestígio de uma França que então se assumia como líder da Europa. 






Chegada à Terceira do Presidente Nixon
a bordo do Air Force One

Horas depois, já de noite, Richard Nixon teve mais sorte com o tempo: ele e o seu inseparável conselheiro de segurança, Henry Kissinger (que em breve seria promovido a secretário de Estado), desceram do Air Force One saudados por um céu limpo. Marcelo Caetano ainda tinha o sobretudo cinzento-escuro encharcado mas exultava de alegria. Há muito que um chefe de governo português não aparecia na alta-roda da política mundial como naqueles três dias, entre 12 e 14 de dezembro de 1971.  





Saudando o povo na janela do
Palácio dos Capitães-Generais
em Angra do Heroísmo
A Europa e a América estavam a braços com uma profunda crise económica e financeira que os especialistas não hesitavam em classificar como a mais grave desde a Segunda Guerra Mundial. O inimigo público número 1 do sistema monetário internacional era a inflação - um monstro alimentado pelas despesas astronómicas da guerra do Vietname, nos EUA, e do Estado-providência nos seis países do Mercado Comum (como era então conhecida a Comunidade Económica Europeia, antecessora da União Europeia) e em Inglaterra, que entraria para a CEE em janeiro de 1973.  




Aerograma comemorativo da
Cimeira dos Açores

Para aliviar a pressão inflacionista, em agosto desse ano, Richard Nixon tinha abandonado o padrão-ouro e, enquanto se preparava para desvalorizar o dólar - o que fez poucos dias depois da cimeira dos Açores - tentava convencer os parceiros europeus a valorizarem as respetivas moedas.
 
Mas não era fácil. Primeiro precisava de vender a ideia ao presidente francês. Georges Pompidou sucedera apenas dois anos antes ao general De Gaulle, que usou o Mercado Comum para mostrar ao mundo que era a França quem liderava a Europa. Por isso, o velho general vetou repetidas vezes a candidatura britânica e aproveitou a fragilidade política da Alemanha dividida. Pompidou abriu as portas à Inglaterra, mas insistia em apresentar a França como a «locomotiva» europeia.  



Sobrescrito de 1º. dia comemorativo
da Cimeira das Lajes
A cimeira para negociar as alterações no sistema monetário internacional foi preparada pelas diplomacias americana e francesa com cuidados cirúrgicos. Para não dar vantagem a qualquer das partes, o encontro devia ocorrer a meio caminho e em terreno neutro. Portugal, aliado de ambos os países na NATO (embora, nessa altura, a França não participasse na estrutura militar da Aliança Atlântica), tinha o arquipélago dos Açores precisamente a meio caminho entre a França e os EUA - que acabavam de renovar o contrato de arrendamento da base das Lajes, na ilha Terceira. 

Para Marcelo Caetano, a oportunidade de aparecer perante a comunidade internacional no papel de anfitrião de dois dos homens mais poderosos do mundo era uma autêntica dádiva divina. Desde o início da guerra em Angola, dez anos antes, que o decadente regime autoritário do Estado Novo sofria um isolamento cada vez maior. Não eram só as votações humilhantes que sucessivamente derrotavam Portugal na ONU. As visitas de chefes de Estado estrangeiros a Lisboa - Isabel II de Inglaterra em 1957, Hailé Selassié da Etiópia em 1959, Eisenhower dos EUA, Sukarno da Indonésia, Kubitschek do Brasil e o rei Bhumidhol da Tailândia, todos em 1960 - eram recordações do passado.   


1967 - Paulo VI em Fátima
Paulo VI visitara Fátima em 1967, mas fizera questão de sublinhar a dimensão puramente religiosa da viagem ao recusar-se a passar por Lisboa (aterrou no aeródromo de Monte Real, perto de Leiria, de onde também descolou). O mesmo papa, em 1970, recebeu no Vaticano os líderes dos movimentos nacionalistas que combatiam contra Portugal em África. O Estado Novo deixara o país «orgulhosamente só», como dissera Salazar. Mas agora, com a cimeira dos Açores, as coisas iam mudar... pelo menos, Marcelo, que sucedera a Salazar em setembro de 1968, assim o esperava.  




O presidente do Conselho chegou ao aeroporto das Lajes às 12h40 de domingo, dia 12. Depois dos cumprimentos da praxe, dirigiu-se em cortejo automóvel aos palcos da cimeira: a estalagem da Serreta (onde ficou alojado Pompidou) e a Junta Geral do Distrito de Angra do Heroísmo. Nixon instalou-se na residência do comandante da base americana das Lajes. Marcelo Caetano ficou no Palácio dos Capitães-Generais, residência oficial do governador do distrito. 



O Concorde com o presidente francês chegou pelas 16h40, fustigado por bátegas de água. A aterragem não foi isenta de percalços: o avião teve mesmo um pneu furado, mas Pompidou desembarcou sem incidentes. A comitiva francesa, de que faziam parte o ministro das Finanças (e futuro presidente da República) Giscard d"Estaing e o ministro dos Negócios Estrangeiros Maurice Schumann, seguiu logo para a estalagem da Serreta. Depois de todos mudarem de roupa - estavam molhados até aos ossos -, Pompidou teve uma primeira conversa, de cinquenta minutos, com Marcelo Caetano.

 

Este voltou logo a seguir ao aeroporto, a tempo de dar as boas-vindas a Nixon. O Air Force One aterrou às 21h45 - mas o desembarque do presidente americano do Boeing 707, perante centenas de jornalistas e apesar do show off do aparato da segurança, foi ofuscado pela estrela da ocasião: o Concorde que, a curta distância, dominava a pista.  



Carta circulada em Angra do Heroísmo
O episódio foi alvo de um braço-de-ferro diplomático travado com punhos de renda, daqueles incidentes que dão picante ao cinzentismo destes encontros, como conta o então responsável dos serviços de imprensa do governo português, Pedro Feytor Pinto, nas suas memórias no livro Na Sombra do Poder: «Os americanos não queriam que o Concorde ficasse em frente da aerogare pois, chegando o presidente Nixon já de noite, com transmissão direta em todas as televisões dos Estados Unidos, seria uma evidência do atraso americano a presença espetacular do avião francês. Não é fácil discutir com norte-americanos mas compreenderam que a parte da base onde se procedia às cerimónias era portuguesa e seríamos nós a decidir. Assim, o Concorde ficou bem visível, como seria normal. » E lá ficou até terça-feira seguinte, quando, já terminadas as conversações, Pompidou convidou Caetano e Nixon para uma visita guiada ao interior do avião de passageiros mais moderno do mundo.



Bilhete Postal circulado com vista da Estalagem da Serreta.
Ao fundo a Ilha de Sao Jorge
Nixon e Pompidou conversaram muito ao longo dos dias 13 e 14 de dezembro. Não chegaram a um entendimento sobre o futuro do sistema monetário internacional mas acertaram agulhas para novo encontro, alargado aos outros cinco países do Mercado Comum, à Inglaterra, ao Canadá e ao Japão (o Grupo dos Dez), daí a quatro dias, na Smithsonian Institution, em Washington, de que resultaram os «Acordos de Smithsonian», de 18 de dezembro de 1971 - e a inevitável desvalorização do dólar.

Marcelo Caetano não chegou a participar na cimeira de que foi anfitrião. As suas conversas foram sempre a dois, quer com Nixon, que o pôs ao corrente das suas próximas visitas - essas sim, de importância histórica - à China de Mao Tse-tung e à URSS de Brejnev, quer com Pompidou. Pouco depois da viagem aos Açores foi revelado publicamente que o presidente francês sofria de cancro, a doença que o matou em 1974. O mesmo ano em que Marcelo Caetano foi derrubado por um golpe de Estado em Lisboa e em que Nixon pediu a demissão por causa do estrondo do escândalo Watergate.








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